Olhar no espelho
163 anos
Essa era a sua idade, mas sabia que devido aos Nano Medicins, sua vitalidade era a de um homem de pouco mais de 40 anos quando a expectativa de vida humana era de 90 anos.
Olhar no espelho e conseguir focar sua própria face, sem ter que ajustar palhetas de graduações visuais. Era estranho, pois estava tão acostumado aqueles losangos nos cantos do campo de visão. Agora tinha que se acostumar a olhar as formas e objetos de forma mais suave, seus músculos oculares ainda estavam estressados pela mudança brusca de não se inclinarem a todo instante para darem os comandos mecânicos. Seus olhos já estavam "operacionais", algumas cores ficaram mais suaves, outras mais intensas, mas o que mais chamou a atenção foi a luz ambiente. Como era forte e ao olhar no espelho notou que suas pupilas contraíram, deixando um pequeno orifício o suficiente para a luz passar, algo que não ocorria, pois com o protocolo de acuidade visual lentes artificiais faziam as vezes de olhos e transmitiam para o cérebro as imagens. Era estranho olhar o próprio rosto. Perceber as pequenas rugas surgindo, as falhas epidérmicas que mesmo os Nano medicins não conseguem recompor. Barba feita, recortada automaticamente durante o banho. Cabelos sedosos, escuros, lisos. Correções genéticas realizadas que evitam calvície, e cabelos brancos. Ao menos até os 250 primeiros anos. Perceber os raios e nervuras de seus olhos verdes com pontinhos castanhos perdidos, como se fosse uma nebulosa estelar. Já desenhara íris de olhos antes, fora premiado por isso. era fascinante a individualidade expressa nessa característica. Mesmo entre androides de mesma série, as ranhuras das íris são diferentes. Mesmo possuindo mesma cor e textura, ao se aproximar, as ramificações e nervuras são diferentes. Por essa razão que era o caráter biométrico por excelência. Os dentes brancos perfeitos, sem nenhum vestígio, nem da vez que sofrera o acidente ao escalar o Kilimanjaro quando passeou na reserva florestal na terra. Em três dias recompôs seu maxilar e os três dentes perdidos. Percebeu que seu nariz era um tanto comprido, mais do que se fazia notar pela correção. mas já tinha percebido isso pelo tato.
- O'Brian, que estás fazendo encarando o espelho? perdeu algo do outro lado "Alice"?
- Não me aborreça Sawyer, estou aproveitando meu brinquedo novo- comentou dando uma risada marota.
- Brinquedo novo O'Brian? Me fale a respeito disso - Perguntou seu colega de artes.
- Solicitei a retirada do protocolo de acuidade visual.
- Você é louco? Como permitiram? Hiper realidade?
- Sim... Por isso estou me olhando tanto... Deixa eu ver o seu rosto agora Sawyer.
-Nem pensar, vou é sair daqui antes que você perceba algo que eu não queira ou que você invente e eu tenha que aturar suas piadas pelos próximos 50 anos- Disse Sawyer saindo apressado do banheiro.
Hum... acho que vou fazer uma surpresa para Sara e venda-la. Afinal ela é 30 anos mais nova que eu. Saiu pensando galhofeiramente O'Brian do banheiro.