Relatos reais de um dia qualquer
É apenas mais um dia normal de segunda-feira, ou pelo menos era o que eu pensava. Acordei cedo, o que já não é tão normal, mas isso foi por causa de um barulho estranho de algo batendo na janela, o que é ainda pior já que meu quarto é no terceiro andar. Fui ver o que era, mas nunca descobri. Aproveito que acordei cedo e resolvi pegar as moedas do meu cofrinho recém feito, em vão pelo jeito, já que não tinha dinheiro nenhum outro, para então, poder ir comprar Coca-Cola escondida da minha mãe.
Ela meio que tinha me proibido devido ao que ela chama vicio em refrigerante. Embora eu esteja completamente no controle e sempre fale que posso parar quando eu quiser, ela insiste que estou viciada e me proibiu, uma verdadeira blasfêmia! Como sou rebelde vou mesmo assim.
Estou saindo de casa, já com as minhas moedas contadas e o meu casaco com compartimento estratégico ultrassecreto para esconder a Coca-Cola preparado. Tive que me adaptar para caso fosse flagrada chegando em casa, já que infelizmente mamãe descobriu o esquema do telhado!
Logo percebo então que a rua está deserta. Na verdade, algo bem normal já que moro a infinitos quilômetros do centro da cidade, onde nada de interessante ocorre, mas continuando, está tudo deserto e eu estou indo partir em minha longa e difícil jornada, já que odeio o sol e neste dia em particular ele está brilhando como se não houvesse amanhã, afim de poder comprar minha Coca-Cola de todo dia.
Estou saindo de casa e tcharaaaaaammm, estava lá, percebo logo, a placa que informava o nome da minha rua tinha mudado. Primeiro que ela deixou de ser tão enferrujada e torta como antes e além disso, está com um nome diferente e definitivamente impronunciável. Também tinhas uns números e uns símbolos indescritíveis, o qual nunca via antes, do lado. Logo imaginei que a placa sofrera algum vandalismo durante a madrugada, mas sinceramente, quem diabos viria praticar vandalismo aqui, logo em na rua Kikakikanakukika? Absolutamente ninguém de qualquer outra parte do mundo se não essa, se lembraria desse lugar pra qualquer coisa que seja! Só pode haver uma explicação! Aliens! Porém nada disso importa agora, nada impedirá minha jornada em busca da minha Coca-Cola, além disso, tenho que voltar antes que mamãe acorde. Prefiro evitar perguntas e suspeitas.
Noto que em cada rua que eu passo, ocorreram as mesmas mudanças. Mais um ponto para os aliens, são esforçados, talvez eles administrem melhor a cidade. Só não entendi um pequeno detalhe, tudo bem que eu não sou lá muito boa em gravar caminho e nem de direção e tal, porém todo o dia eu vou a padaria e por isso posso dizer com toda a certeza:
– Essas ruas estão invertidas!!!
Superando todas as dificuldades impostas em minha nobre missão, chego a rua da padaria. Diferente da minha rua Kikakikanakukika que é absolutamente deserta, a rua da padaria costuma ser bem movimentada, mesmo nesse horário. Parece até ponto de encontro, ou que é a única padaria do bairro, embora não seja de fato! Mas, diferente do que é regular, e disso eu sei pois venho todo dia comprar Coca, hoje não havia uma alma viva. Bom, pelo menos não havia ninguém morto também. Ok, por um instante fico perplexa com minha piadinha sem graça digna de programa de comédia de sábado à noite.
Voltando ao que interessa, a padaria está fechada e não só o nome das ruas como qualquer coisa escrita que estivesse visível estava trocado para o atual “padrão alien”. Já que tiveram tanto trabalho, esses aliens deviam pelo menos tentar tapar os buracos das ruas, estes continuam os mesmos, completamente inalterados. Alguns tem até nome e data de aniversário. Mas nada desse mundo ou de qualquer outro poderá impedir minha jornada em busca da bendita Coca. Dane-se, já que os aliens invadiram, mudaram os nomes das ruas e aparentemente sequestraram as pessoas, me sinto no direito legal de arrombar a padaria!
Procuro então por uma maneira de entrar nela, talvez uma porta dos fundos. E eis que encontro, e para minha sorte, está sem cadeado. Entro e então escuto um barulho estranho, quando vou ver era apenas a minha irmã Sarah que surgiu do nada e estava com um chapéu estranhíssimo. Aparentemente ela teve mesma ideia que eu de comprar Coca-Cola. Como ela sempre usou essas coisas estranhas nem dou importância para o tal chapéu. Vou logo perguntando:
– O que você está fazendo aqui e que horas saiu de casa que eu nem vi?
– Nada demais, imaginei que você viria aqui – responde ela como se nada estranho estivesse acontecendo.
– Sim, e você notou algo de estranho nas ruas? – pergunto enquanto pego minha Coca-Cola e umas barras de chocolate. Me arrependo momentaneamente de não ter trazido a mochila.
– Nada, tudo normal – ela responde na maior naturalidade. Tudo bem que sempre achei a Sarah meio autista, mas estava estranho demais para não notar. Pensando bem, não me lembro de ter visto ela ontem à noite em casa após eu chegar da faculdade.
Nisso Laura Gabrielle, uma amiga que arrumei no ensino médio, aparece do nada também no meio da padaria. Ela também usava o tal chapéu e carregava outro nas mãos. Sarah diz algo em uma língua indecifrável para ele e no mesmo instante Laura corre para tentar pôr o chapéu em mim. Nunca usaria algo tão cafona e esquisito desse jeito. Sarah até tenta bloquear meu caminho mas sem qualquer sucesso. Posso até estar um pouco acima do peso, mas Sarah nunca conseguiria tal coisa.
Peguei minha Coca-Cola, minhas barras de chocolate e sai correndo. De repente, uma multidão surgiu do nado na rua, aliás, tudo hoje está surgindo do nada hoje. Estava todo mundo com o tal chapéu. Será que isso é a nova moda “alien 2017”? Bom, mesmo que seja, de jeito nenhum eu uso aquilo.
No meio da correria, minha Coca-Cola cai no chão. O compartimento do meu casaco pode ser secreto, mas não é muito seguro e agora vou ter que lidar como todo o gás que vai sair quando eu for abrir. Porem jamais a abandonarei, até porque, na correria foi a única que consegui pegar. Até roubei uma padaria por causa dessa bendita.
Tento me livrar da multidão pegando um atalho por um beco que não faço ideia se existia antes. Desço para a rua de baixo. Nesse momento já não faço sequer ideia de onde estou. Eis então que surge uma van rosa do nada, tinha a Hello Kitty estampada e tudo mais. Tudo que me faltava era ser mais um bando de gente com chapéu estranho. Mas na boa, o que diabos tem com esse chapéu? Nada disso importa, a van abre a porta lateral e de lá saem soldados armados, e graças a deus nenhum chapéu a vista. Em pensar que tudo que eu queria era tomar uma Coca-Cola sem minha mãe saber...
Fico abismada com a quantidade de soldado existente dentro dessa van. Deve haver uma espécie de dimensão especial dentro dela, só pode... não tem como caber tanto soldado aí dentro. Da forma mais insensível o possível, eles me nocauteiam e me levam pra dentro da van. Por pouco minha Coca-Cola não cai no chão de novo e fica perdida para sempre, mas na correria tinha amarrado a sacola ao casaco então isso não foi problema dessa vez.
Quando acordo estava dentro de uma base militar muito bem equipada, estou cercada de soldados e tem armas para todo o lado. Pelo menos acredito que são armas, o design é meio estranho daquele que estou acostumada nos meus jogos. Tem também umas pessoas que assim como eu não fazem ideia do que está acontecendo. Quer dizer, como eu não, porque eu tenho certeza que é culpa de aliens, então eu tenho uma certa ideia. Vou procurar onde botaram minha coca-cola, espero que esteja em alguma geladeira e ninguém tenha tomado. Nisso vem um cara alto e careca vestido com uma armadura estranha, sobe em uma espécie de palco mais a frente, pega um microfone e começa a falar:
– Sei que muitos de vocês não fazem ideia do que está acontecendo e que talvez tenham sido trazidos aqui de uma forma meio brusca, mas saibam que tudo isso foi para a sua própria segurança
Continuo minha busca pela coca enquanto o careca continua seu discurso.
– Seres desconhecidos com uma tecnologia superior invadiram tanto nossa cidade, como também outros lugares. Fizeram mudanças sem propósitos, implantaram sua língua estranha em nosso mundo, sequestraram nossos entes queridos e de alguma forma transformou-os em seus escravos. E tudo isso nessa madrugada de segunda-feira...
Na boa, quem diabos escolhe uma segunda-feira para ter esse trabalhão todo, enquanto continuo procurando minha coca, o careca continua o discurso, porem agora com uma informação que me abate profundamente:
– Ao que parece, única coisa a que esses seres estranhos parecem temer são os refrigerantes da Coca-Cola e por isso estaremos estocando e utilizando os mesmo como nossa atual forma de defesa...
Depois dessa informação chocante tive certeza, roubaram minha coca para seus objetivos obscuros e muito menos importantes. Armei um escândalo, comecei a gritar que queria minha coca que não iria permitir tal atrocidade. Sofri muito para poder encontrar ela. Me nocautearam de novo e agora me trancaram em uma sala que mais parece uma solitária. Mas não importa, agora só tenho um pensamento em mente, quando eu consegui arrumar um jeito de fugir daqui, irei me juntar a causa alien contra esse bando de humanos mal-educados e mentirosos. Tenho certeza que eles irão deixar eu tomar toda Coca-Cola que eu quiser! Só não uso aquele chapéu de jeito nenhum porque é muito feio.
The Fim!