Viagem a Andrômeda - Capítulo III - Sinal de rádio

CAPÍTULO III

Sinal de rádio

A nave seguiu seu curso e bem-humorados os três passageiros viajaram por aproximadamente oito dias, eles estavam cheios de expectativas e quando o assunto parecia perder força, receberam a mensagem da planeta Álack.

- Controle Oriental, possível nave de transporte B17E5, na escuta? - ecoou dentro da nave a voz de uma jovem garota pelo rádio, deixando todos animados dentro da nave.

- Nave de transporte B17E5, navegador Martin, positivo, na escuta.

Após a frase ouviu-se apenas estática no rádio, o que deixou os integrantes da nave extremamente apreensivos. Ficaram com aquela dúvida no ar, será que eles tinham recebido a resposta? Porém, algumas horas depois receberam o retorno, ainda era a mesma garota.

- Correto, meu nome é Louise e verifico que vocês estão utilizando um protocolo de comunicação muito antigo em seu transponder, não consigo abrir conexão de tempo real e isso gera um delay de aproximadamente nove horas e meia em nossa comunicação, mas precisamos confirmar a origem do veículo – pediu informações de forma educada a jovem garota pelo rádio.

- Louise, essa dificuldade provavelmente é por que estávamos fora dessa galáxia por quase dois mil e quinhentos anos, estamos retornando da galáxia de Andrômeda.

Passaram-se longas horas até que receberam o retorno da mensagem.

- Senhor Matin, peço-lhe a gentileza de não brincar com isso, estou no meio do meu turno, verifiquei as ocorrências do turno anterior e não estamos localizando em nosso banco de dados essa unidade, fiquem sabendo que se julgar necessário enviarei imediatamente uma nave de suporte para averiguação e veracidade dos fatos, além claro da prisão da tripulação – alertou uma voz masculina.

- Escutem, realmente estou retornando de Andrômeda, nossa nave faz parte da composição da nave Röntgen, código B17E1 – informou pacientemente Martin, tentando trazer a conversa para lado racional. O delay de comunicação entre a nave e o centro de controle oriental do planeta Álack, deixava cada vez mais apreensivos os tripulantes. Começa a pairar o sentimento que após todos aqueles anos talvez não existissem mais registros da missão.

Na sala de controle da Estação Oriental, Louise havia iniciado do seu novo turno, aprofundando-se em sua pesquisa no sistema, ela identifica a composição de naves, ela espia a sala toda e aproveitando a ausência de seu superior para fofocar sobre o assunto com os outros dois colegas.

- Nossa! Garotos, vocês não vão acreditar nisso – murmurou perplexa.

- O que aconteceu Louise? - Perguntou o outro controlador entediado.

- A expedição que foi a Andrômeda a milênios atrás está retornando.

- Fala sério! Não pode ser verdade! Ouvimos falar disso na escola, já acreditava que isso era uma lenda, garota de sorte! – falou animado o controlador levantando de sua cadeira e correndo para o monitor da colega.

- Psiu! Olha o comportamento, estamos sendo monitorados, volte para sua cadeira – advertiu o outro controlador.

- E quem se importa, não acontece isso todo dia. Ninguém vai me mandar embora por sair do meu posto por segundos para ver algo histórico – respondeu o controlador retornando a seu posto de trabalho.

- Meu Deus! Estou até emocionada, estávamos aguardando isso a mais de dois mil anos, não posso acreditar que eu terei a honra de recebê-los, mesmo que por rádio – se manifestou a jovem.

- Vai logo! Diz alguma coisa para eles. Aposto que estão aguardando – alertou o controlador acenando com a mão.

- Nave de transporte B17E5, identificamos o seu registro, vocês estão autorizados a desembarcar no portão A76, pelo que meu sistema indica, o portão possui as configurações adequadas para esse tipo de veículo – um momento se fez, a garota respirou fundo e completou a frase – E é com muito orgulho e em nome da nossa civilização que lhes dou as boas vindas.

Christian após ouvir a confirmação, e verificar que a situação estava pacificada diz:

- Em nome da tripulação, agradeço as boas vindas. É sempre bom retornar para a casa.

Passaram-se mais alguns dias para a nave se aproximar da estação espacial, todos estavam com muitas expectativas, até uma festa de recepção foi planejada, porém, apesar do esforço hercúleo não houve tempo para elaborá-la com as honras necessárias. Além disso existiam os complicados processos de segurança. Que iniciava com a necessidade do desembarque da nave de transporte na estação orbital e depois por todas as checagens de segurança biológicas.

Os convidados se agruparam nas janelas, apesar de comum o desembarque de naves na estação espacial, ninguém queria perder a oportunidade de postar nas redes sociais que estava participando do retorno do homem da galáxia de Andrômeda. Ainda mais agora que todos os planetas estavam interligados pela rede de entrelaçamento quântico, a informação simplesmente alcançaria a galáxia toda instantaneamente.

Enfim, a nave de transporte começou a manobrar e se aproximar do portão de desembarque, todos se afastaram das janelas e procuraram a melhor posição, quando se ouviu um ruído e uma leve vibração na estação, a nave de transporte acabara de atracar no portão. Após alguns instantes a porta da estação se abriu, e era possível ver através do corredor a porta da nave se abrir também. Como medida de segurança, a tripulação se vê obrigada a parar no meio do corredor, então o sistema de segurança biológica, confirma a presença apenas de corpos cibernéticos, a tripulação segue o desembarque pelo corredor, os convidados podiam ver todos os escâneres trabalhando, e efetuando a liberação da tripulação ao saguão, como todos eram androides, não seriam obrigados a ficar de quarentena.

Ao chegarem no final do corredor a porta de acesso é novamente selada, e o comandante Garcia dá as boas vindas ao grupo.

- Sejam bem-vindos, é com grande satisfação que lhe recebemos Dr. Christian.

- A honra é toda minha, não víamos a hora de retornar para casa, ou o mais próximo dela – respondeu Christian estendendo a mão para o comandante Garcia.

O comandante Garcia, achou estranho o gesto, porém achou melhor fazer o mesmo movimento, então Christian pega na mão do comandante e completa o tradicional e antigo aperto de mão e percebe que até os pequenos gestos estão diferentes da sua partida.

A tripulação é recepcionada por um pequeno grupo, todos queriam saber como era a galáxia de Andrômeda, se eles já haviam visitado algum outro planeta, se haviam indícios de outras civilizações entre outras coisas.

Foi uma pequena mas intensa recepção, eram cerca de trinta pessoas, as maiores autoridades de Álack, todos militares. Mark, provavelmente o mais perspicaz dos três logo notou e comentou com os outros dois integrantes da missão.

- Vocês observaram que só existem militares aqui?

Em uma breve observação do ambiente, Martin confirma a com a cabeça para Mark e fala aos colegas – Realmente, e as boas vindas foram dadas pelo comandante Garcia, normalmente são feitas pela maior autoridade. Pensei que ele fosse a maior autoridade aqui na estação, mas pensando bem, é possível que ele administre o planeta ou essa região.

- Verdade, mas é estranho, quando saímos para nossa missão, os militares não tinham o papel administrativo ou cargos de chefe de estado – comentou Mark.

- Estou curioso com isso, o pessoal está perguntando sobre Andrômeda, mas acho que eles tem mais a nos contar do que ao contrário – comentou Martin.

- Vocês têm razão, mas mantenham a discrição, não vamos sair perguntando sobre isso, vocês lembram como os militares eram sistemáticos e desconfiados, deixem que eu converso com o comandante Garcia, ele propôs uma reunião comigo. Deixem comigo isso, não vamos despertar qualquer sentimento negativo, ainda tenho a intenção de retornar para Andrômeda. Conto com vocês meus caros colegas – finalizou Christian indo na direção do comandante Garcia.

Os dois se entreolharam e tacitamente concordaram com as observações de Christian.

Christian, atravessa o pequeno saguão e se aproxima do comandante Garcia e outros três militares com quem ele conversava.

- Senhores, com licença, desculpem a minha intromissão, porém preciso me reunir com o comandante Garcia, temos que organizar nosso retorno a galáxia de Andrômeda. Teria algum problema fazermos a nossa reunião agora, comandante? - Questionou Christian.

- Claro que não Dr. Christian, realmente já estava na hora, mas como o senhor sabe, festas e bebidas sempre nos atrasam, certo? - respondeu o comandante Garcia.

- Realmente, mas infelizmente essa vida não me pertence mais. Esse meu novo corpo não permite exageros. Afinal, mesmo hoje sendo um androide, tenho que me socializar e passar a sensação que vocês estão com outro ser humano ao lado – respondeu Christian.

- Deve ser uma sensação estranha ou não? - Questionou um dos convidados.

- Um pouco, principalmente no começo, as sensações palatáveis não são transmitidas para meu cérebro, quando eu coloco qualquer coisa na minha boca é sempre aquele monte de informações, Acidez, textura, valor nutricional, composição química, entre outras – informou Christian.

- Nosss! Deve ser entediante - disse o convidado concordando com Christian.

- Bom senhores, como o Dr. Christian disse, temos que tratar assuntos importantes com relação ao retorno a galáxia de Andrômeda – disse o comandante Garcia aos outros três convidados apontando com o braço para Christian em qual direção eles deveriam ir – por aqui Dr. Christian.

Os dois atravessaram o saguão, durante a travessia o comandante Garcia trocou a taça de espumante vazia por uma cheia com um dos garçons. Os dois andaram por cerca de dez minutos por um corredor onde haviam diversos portões semelhantes ao que eles desembarcaram, o comandante Garcia foi explicando a diferença entre os portões, aparentemente não havia mais um padrão de acoplagem. No final do corredor haviam várias salas, o comandante Garcia abriu uma delas e entrou, Christian seguiu logo atrás.

O Comandante Garcia deixou a taça em um aparador próximo a entrada da sala e se sentou em uma das cadeiras.

- Sente-se Dr. Christian, me conte sobre a viagem e os ocorridos na galáxia de Andrômeda – disse o comandante apontando para o conjunto de cadeiras.

Christian escolheu a cadeira que tinha a melhor vista para o planeta Álack.

- Comandante Garcia, sobre a viagem não tenho muita coisa para mencionar, pois estava em estado de hibernação durante a maior parte do tempo. Em relação a Andrômeda, temos algumas expedições programadas, a primeira deve ocorrer nos próximos dias. Existe um pequeno planeta a aproximadamente trinta dias luz da aportagem do PTE, começaremos por ele, afinal, o planeta apresenta uma atmosfera compatível com a nossa e existem indícios da existência de água em estado líquido, apesar de apresentar temperaturas de 50°C na zona equatorial.

- Foi identificado algum sinal de vida na superfície?

- Não, o planeta está a uma distância muito grande, porém, identificamos possíveis zonas de florestas. Como expliquei, não podemos ter certeza, a distância é muito grande além de muitas nuvens em sua atmosfera.

- Certo, e com relação a captação de sinais de rádio por alguma civilização desenvolvida? Vocês conseguiram identificar alguma coisa? - disse o comandante com certa expectativa na voz.

- Infelizmente não comandante, estávamos envolvidos cem por cento na calibragem do PTE. Porém, acho pouco provável conseguirmos localizar algo rápido. Não podemos esquecer que a galáxia de Andrômeda é muito grande, algo em torno de 110.000 anos-luz de diâmetro, e dificilmente as transmissões terão nosso padrão de comunicação.

- Realmente, a distância é um problema sério na exploração espacial. Bom, pelo menos o PTE está funcionando, podemos nos deslocar rapidamente para Andrômeda, sem o hiato de dois mil e quinhentos anos.

- Exatamente comandante, a distância é um problema sério, mas estamos conseguindo contornar com os avanços que tivemos com a propulsão, viajar com velocidade acima da luz foi fundamental para a exploração da galáxia e agora além da galáxia.

- Dr. Christian, você não imagina os avanços que tivemos durante esses dois mil e quinhentos anos. Nossas naves apesar de ainda viajarem com velocidade de dobra nove, foram optimizados, assim, o tamanho é menor; além é claro temos o domínio total de toda a tecnologia, o que resultou em uma simplicidade maior do sistema. Hoje nossos técnicos efetuam a manutenção em um equipamento desses mais rápido e com menos pessoas.

- Fantástico, claro eu não esperava menos. Tinha certeza que ao chegar aqui, haveriam avanços em todas as áreas.

- Sim, é claro, mas o maior avanço que fizemos foi com relação a comunicação, há cerca de mil anos terminamos a implementação de nossa rede por entrelaçamento quântico, além de...

- Uau! - Falou Christian sem perceber, interrompendo a frase do comandante.

- Pelo visto o senhor conhece bem a teoria?

- Sim, fantástico. Nossa uma rede galáctica em tempo real. Meu Deus, conte me mais? - Perguntou Christian, empolgado.

- Bem que eu gostaria, porém não conseguiria lhe dizer mais detalhes, afinal o meu conhecimento não é amplo em física e muito menos em mecânica quântica – respondeu o comandante de forma envergonhada por não ter todo o conhecimento necessário, porém continuou após uma pequena pausa – que tal vocês irem até o planeta e verem com os próprios olhos nossos avanços.

Apesar dos olhos de Christian serem de um Androide, a expressão de Christian foi de euforia e era possível identificar o que Christian sentiu naquele momento.

- Obrigado comandante, não vejo a hora de pôr meus pés em um planeta – disse Christian com extremo alívio.

- Vou avisar o pessoal prepararem a decida de vocês pelo elevador espacial.

- Ficaremos muito gratos, comandante Garcia. Não vejo a hora de podemos ver novamente a civilização. Tantas coisas devem ter mudado. E por falar em mudanças, qual o nome do nosso atual imperador?

- Imperador? Bem Dr. Christian, como o senhor expressou, aconteceram muitas mudanças nesses dois mil e quinhentos anos, uma delas foi a fragmentação do grande império que existia.

- Fragmentação? - perguntou Christian perplexo.

- Exatamente, há cerca de oitocentos anos, começaram a surgir alguns movimentos ideológicos pela galáxia. Nossos antigos líderes já imaginavam isso, afinal por mais diversificados que fossem os grupos de colonizadores, haviam pessoas com maior poder de persuasão, que acabavam contaminando um grupo com uma determinada ideia. Algumas colônias eram mais religiosas que outras, as religiões eram diferentes, os ideais políticos entre outras coisas.

- Bem, isso é normal, como as ilhas no oceano propiciam a evolução de ecossistemas diferentes, o tempo e o isolamento deixariam as colônias com uma diversidade cultural maior.

- Sim, é claro. E notamos que os aglomerados de planetas mais próximos, haviam laços culturais parecidos que pressionavam o estado a tomar alguma medida que beneficiasse aquele conjunto de planetas, cada planeta ou grupo de planetas fazia mais força, alguns dependendo do tipo de recurso que fornecia ao estado, muitas vezes tinha um poder de barganha tão grande que deixava o estado sem opções, que acabava cedendo. Isso fez com que o estado perdesse força; surgiram algumas rebeliões e pressões políticas o que foi suficiente para que a unidade governamental ruísse e surgissem várias federações planetárias.

- E esse processo de divisão, ainda existe – questionou Christian curvando seu corpo no sentido do comandante.

- Não Dr. Christian, a cerca de trezentos e cinquenta anos a última federação foi criada. Existem quatorze federações em nossa galáxia, de diversos tamanhos. Estamos coexistindo de maneira pacífica, por sorte nunca houve uma batalha entre as federações e o comércio segue tranquilamente entre elas.

- Certo, então o padrão diferente que notei nos decks são as particularidades que cada federação foi construindo ao longo do tempo.

- Exatamente, algumas federações primam por um tipo de comércio específico, ou simplesmente tem alguma convicção diferente em relação a forma de acoplagem nos decks, o que resulta essa diferença nos portões.

- E toda a tecnologia que o antigo governo criou, todas as federações compartilham sem problemas? - Questionou Christian.

- Sim, o que aconteceu foi que apesar de independentes, as federações mantiveram o planeta Terra administrando essas questões. Além de funcionar como mediador e responsável pelo julgamento de processos que envolvam mais de uma federação.

- Realmente as coisas voltaram a ser muito parecidas com a era pré-colonização espacial.

- Com certeza, mas vamos preparar a descida de vocês ao planeta Álack.

- Claro, vamos, estou realmente ansioso – disse Christian levantando-se da cadeira.

Ismael Paraiso
Enviado por Ismael Paraiso em 27/08/2017
Reeditado em 27/08/2017
Código do texto: T6096546
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.