Viagem a Andrômeda - Capítulo II - O retorno a Via Láctea

CAPÍTULO II

O retorno a Via Láctea

Como previa Harvin os humanos realmente estavam aportando sua nave no local pré estabelecido. A distância para aportarem o PTE era 30 dias luz da borda da galáxia de Andrômeda. Os preparativos para o desacoplamento dele haviam sido feitos durante a desaceleração e a tripulação estava toda pronta para o momento histórico. O líder da Missão Dr. Christian conduzia o desacoplamento da sala de controle com seu subordinado direto Mark e o chefe de engenharia Émerson.

- Mark, a equipe de controle do portal já está toda aposta no PTE? - Questionou Christian.

- Verificarei. - disse Mark efetuando os comandos no painel de comunicação e concluindo - PTE Andrômeda II, na escuta?

- Nave Röntgen, aqui é o piloto Charles, PTE Andrômeda II na escuta - Disse o piloto.

- Gostaríamos de saber se está tudo certo para efetuar o desacoplamento - questionou Mark.

- Sim, todos os procedimentos de segurança testados e aguardando confirmação para desacoplamento - confirmou o piloto.

- Martin, você está autorizado a iniciar o processo de desacoplamento. - Disse Mark fazendo um sinal de positivo.

- Iniciando processo de desacoplamento em três... dois... um... travas liberadas, desacoplamento iniciado - disse Martin arrastando um dos dedos pelo painel de instrumentos.

Um pequeno clarão pôde ser observado na sala de comando, era o sistema de propulsão do PTE. Em poucos instantes toda a tripulação da nave ficou de pé e ficaram maravilhados em contemplar o primeiro objeto humano na galáxia de Andrômeda.

Algumas horas se passaram, o PTE se deslocava de forma vagarosa pelo espaço, até que o piloto avisa sobre o aportamento.

- Nave Röntgen, fico contente em informar que estamos aportados nas coordenadas estabelecidas, o PTE encontra-se em modo de estacionamento espacial absoluto, não está sofrendo interferência gravitacional da Galáxia de Andrômeda. Solicito nave de retorno.

- Charles, ótimas notícias, nave de retorno a caminho - respondeu Mark que procurou se conter, mesmo sendo um androide, a mente ainda era humana.

- Émerson, você já pode dar início a calibragem do PTE - solicitou Christian.

- Procedimento de calibragem iniciada - disse Émerson.

- Certo agora precisamos aguardar e torcer para tudo estar certo... parabéns senhores... vamos aguardar a calibragem, acredito que em alguns dias poderemos abrir o PTE - Informou Christian.

Toda a equipe inicia uma salva de palmas.

Os humanos cumpriram seu primeiro objetivo, a nave e o PTE estavam aportados nas coordenadas previstas, a calibragem foi iniciada e aguardavam ansiosamente, durante esse período o líder da missão Christian e os demais integrantes da missão fizeram a manutenção nas naves de monitoramento e transporte.

Durante 17 dias a tripulação trabalhou exaustivamente, estava tudo pronto, as naves de transporte já estavam funcionando e também as duas naves de monitoramento que ficariam checando a integridade da abertura do PTE, elas ficam aportadas próximas das entradas dos portais e verificariam qualquer anomalia gerada e auxiliariam as naves e objetos que tenham a necessidade de transpor o portal. Martin estava na sala de comando com Charles. Quando as luzes do painel mudaram gradativamente de vermelhas para verde.

Martin olha para Charles, a missão estava chegando ao fim, logo o caminho estaria aberto para que outras pessoas também pudessem explorar e pesquisar a galáxia de Andrômeda. Então Martin efetua os comandos de habilitação no painel da nave e em segundos um clarão toma a sala de controle, era o vórtice de abertura do portal, rapidamente Martin entra em contato, por rádio, com o líder da missão.

- Dr. Christian, você poderia comparecer na sala de controle - Informa Martin pelo sistema de comunicação.

Christian, que estava com Mark e Émerson, falando sobre o estilo de vida que eles levavam na Via Láctea, fica intrigado com o chamado.

- Será que é algum problema, está tudo muito quieto esses dias por aqui - comentou Christian a expressão pertubada.

- Aposto que não, Dr. Christian. Você gostaria que o Émerson e eu lhe acompanhássemos até a sala de comando - disse Mark tentando acalmar Christian.

- Claro, seria um prazer - respondeu Christian de forma acolhedora.

Após alguns minutos, andando pela enorme nave, eles chegam a sala de controle.

- O que houve Martin? Algum problema? - preguntou Christian abrindo os braços ao entrar na sala de comando.

- Não, ao contrário tenho boas notícias - respondeu Martin apontando para a janela da sala de controle, onde podia ser visto o portal aberto.

- Meu Deus, conseguimos! Completamos a missão. Libere imediatamente as naves de monitoramento dos PTEs - solicitou Christian empolgado.

- Mark e Émerson, tomem seus postos, vamos iniciar o processo de lançamento das naves de monitoramento. - disse Martin.

Rapidamente os dois androides tomaram seus lugares. Christian sentou em sua cadeira no centro da sala de comando.

- Sistema das naves de monitoramento estão ativados e aguardando ordens - disse Émerson se ajeitando na cadeira.

- Sistemas de protocolos e comunicação entre as três naves estão em pareamento - disse Martin entregando o "pad" de controle das naves para Charles.

- Quanto tempo para concluirmos o pareamento, senhor Charles - Perguntou Christian.

- Alguns segundos - respondeu Charles olhando fixamente para os gráficos do "pad".

- Émerson trace as rotas para as duas naves, mande uma para Via Láctea e mantenha a outra a frente do portal - Solicitou Christian, apoiando a mão sobre o ombro de Mark.

- Pareamento, realizado - informou Charles olhando para Émerson.

- Rotas atribuídas para as duas naves de monitoramento - disse Émerson liberando o sistema de lançamento para Christian.

- Decks de lançamento abertos - Informou Martin.

- Lançar naves a meu comando - disse Christian posicionando a mão próxima do ícone de lançamento - em três... dois... um.

Uma série de informações e gráficos foram observados pelo "pad" de controle de Charles, em instantes as naves de monitoramento estavam viajando no espaço. A tripulação acompanhou atenta as telas com as imagens das câmeras das naves de monitoramento; rapidamente alcançam a entra do portal. Conforme configuração atribuída por Émerson para as naves, uma delas para a frente do portal, enquanto a outra nave de monitoramento entra no portal, após alguns segundos de estática a câmera da nave captura a imagem que a tribulação da nave Andrômeda não via a mais de dois mil e quatrocentos anos, era a imagem da Via Láctea. Finalmente as duas galáxias estavam ligadas, agora a viagem entre Andrômeda e a Via Láctea podiam ser feitas de forma instantânea.

A tripulação ficou paralisada por alguns instantes, não que fosse uma novidade a utilização PTEs, porém, havia muito tempo que eles saíram em sua missão, e não tinham ideia de como estariam as coisas na Via Láctea, talvez ela estivesse tão alienígena quanto a própria galáxia de Andrômeda. Então que Christian faz um comunicado a toda a tripulação.

- Senhores, é com grande prazer e entusiasmo que informo a todos que nossa missão foi cumprida com êxito. Gostaria de recrutar dois integrantes da tripulação para irem comigo a nossa galáxia natal e informar a nossa civilização, se ela ainda existir, que o PTE está funcionando. Alguém se habilita?

- Senhor seria uma grande honra - disse Mark levantando-se, ficando ao seu lado.

- Senhor pode contar comigo também - Era Martin, que se colocava em pé ao lado de Charles.

- Certo senhores, estou me dirigindo ao deck com Martin e Mark, Charles prepare tudo para nossa partida. Senhor Émerson, assuma o comando da nave enquanto estiver ausente.

- Efetuarei os preparativos - disse Charles.

Então, com a pressa guardada por dois mil e quatrocentos anos, dirigiram-se apressados Martin, Mark e Christian em direção ao deck.

Mark embarcou algumas caixas que já estavam separadas e verificou todos os instrumentos da nave. A nave teria como destino o planeta de Álack, que ficava em um sistema planetário no final do braço de Orion. Era uma viagem de aproximadamente quinze dias.

Minutos após seu discurso Christian embarca na nave de transporte com Martin e Mark.

- Mark, tudo certo para nosso lançamento? - perguntou Christian embarcando na nave de transporte.

- Sim, tudo pronto como solicitado - respondeu Mark, já posicionado em uma das cadeiras de controle.

Martin sentou ao lado de Mark, enquanto Christian se ajeitava em uma cadeira mais elevada, logo atrás deles.

- Charles, está me ouvindo - disse Mark.

- Sim, em alto e bom som.

- Solicito liberação do deck para partida da nave de transporte B17E5 com destino ao planeta Álack, Via Láctea - disse Mark, terminando de ajeitar o headset ao seu rosto.

- Atenção toda a tripulação, desocupem o deck de lançamento imediatamente - Informou Charles pelo sistema de som da nave.

Então em poucos minutos, Charles informa a tripulação da nave de transporte:

- Deck liberado e despressurizado, catapulta posicionada no tubo de lançamento B5, tudo pronto para decolagem, boa sorte e aguardo vocês em alguma semanas - disse Charles, liberando o deck a partir do painel de controle da nave.

- Lançando nave de transporte, disse Émerson da cadeira de comando da nave.

Então a nave partiu com destino à Via Lactea. Ao se aproximar do portal a nave de monitoramento faz a leitura da aproximação da nave de transporte da equipe e sinaliza que está tudo certo com o PTE, a nave atravessa o portal sem problemas e segue em curso para o planeta Álack.

Os três tripulantes cruzam o portal e se dirigem ao planeta Álack.

- Nossa é indescritível a sensação de cruzar o PTE, como faz tempo que não cruzo um desses. Se não fosse por esse cérebro eletrônico, provavelmente já teria esquecido a sensação - disse Mark.

- Esse corpo cibernético é mais sensível que o nosso corpo original, é muito engraçado algumas sensações. Parece que consigo determinar com exatidão tudo. Se estou em uma sala climatizada, por exemplo, sinto o fluxo de ar passando no meu corpo e posiciono na melhor posição para me refrescar.

- Além de não sentir mais sono e fome - complementou Christian.

- Realmente, mas, sinto falta de algumas sensações. Por exemplo, quando sentia um determinado cheiro, vinham várias lembranças na minha memória. Hoje é diferente, não tem lembranças, só têm analise. Analiso a existência de umidade, composição química e não vem nenhuma lembrança associada. Que saudade de sentir sono e fome. Sinto falta de comer pizza - falou Martin.

- Acho que é questão de costume. Inicialmente esse corpo era programado para ser um robô, a transferência de nossa mente para cá, na época, foi uma adaptação técnica, muitas questões éticas foram discutidas. Precisávamos que a tomada de decisões fosse feita de forma menos técnica, por isso transferiram nossas memórias. É engraçado dizer isso, dentro de um corpo cibernético; mas a decisão tinha que ser humana, amparada com experiências e não em regras atribuídas e armazenadas por ordem de prioridade - complementou Christian.

- Então você acha que com o tempo, alguns softwares de apoio, que já estavam integrados nesses androides serão moldados e passaremos a sentir esse corpo de forma mais humana? - Perguntou Mark.

- Da mesma maneira? Acho pouco provável, afinal algumas coisas eram respostas a estímulos hormonais. Dentro de um androide realmente é impossível. Mas com certeza nossa mente irá se opor ao software padrão desse corpo cibernético e com o tempo eles serão substituídos - respondeu Christian.

- Mas... ainda sinto falta de comer pizza - falou Martin em tom nostálgico.

Todos caíram na gargalhada, e após alguns segundos voltaram a seriedade, afinal ainda a viagem estava no início, eles tinham mais quinze dias até o planeta mais próximo, Álack. E outras medidas precisavam ser tomadas

- Mark, estamos abaixo da velocidade da luz? - Questionou Christian.

- Sim, estou usando os propulsores iônicos, estamos a seis por cento da velocidade da luz - respondeu Mark.

- Poderíamos utilizar o GPA? - Questionou Christian.

- Não, estamos muito próximos a borda do sistema planetário, Existem diversos detritos e dentro da bolha não conseguiríamos identificar esses corpos, seria como um voo as cegas - respondeu Mark.

- E o que isso impede a utilização do GPA? Não temos um campo protetor? - Insistiu na pergunta Christian.

- Quando estamos navegando, o vórtice de energia em volta da nave, pulveriza qualquer partícula que se aproxime. Se a velocidade for muito alta e o número de partículas e pedaços de rocha for grande, o vórtice não terá potência para desintegrar todos. Além disso, existem outros grandes fragmentos, que precisamos desviar. Quando viajamos pelo espaço, a probabilidade de colidirmos com algo que destruiria a nave e muito pequena, porém, dentro de um sistema planetário, essa probabilidade, apesar de pequena, sobe muito e não estamos dispostos a correr esse risco - respondeu Mark.

- Resumindo para você Dr. Christian, com velocidades abaixo da luz, nossos sistemas conseguem detectar esses objetos e desviar - completou Martin.

- Certo, seus dois sabichões, agora tenho certeza que estou em boas mãos. Vamos em frente, e já comecem a enviar a mensagem de saudações. Não queremos ser confundidos com uma nave de contrabandistas ou algo parecido - disse Christian, envergonhado e afundando em sua cadeira de comando em silêncio.

Ismael Paraiso
Enviado por Ismael Paraiso em 20/08/2017
Reeditado em 27/08/2017
Código do texto: T6089670
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