Viagem a Andrômeda - Capítulo I - A Humanidade chega a Andrômeda

CAPÍTULO I

A Humanidade chega

a Andrômeda

A tripulação de androides é despertada de sua hibernação, eles se aproximam da borda da galáxia de Andrômeda, em algumas semanas estarão no ponto exato para aportar o PTE Andrômeda II.

Dr. Christian, líder da missão, efetua a checagem de seu sistema e caminha para a sala de controle, da nave Röntgen, logo atrás Mark o acompanha.

Ao chegarem na sala de controle, se aproximam de uma das janelas, Christian se vislumbra com a inumerável quantidade de estrelas e com as possibilidades que se abrirão para a humanidade.

- Como é bela – disse Dr. Christian, com aquela sensação de alívio na voz.

- Realmente belíssima – concordou Mark, subordinado imediato, procurando a melhor calibragem de sua visão.

Após alguns instantes de contemplação e aproveitando as vantagens de seus olhos artificiais, observaram-na em todas as faixas de espectros de luz ou composições delas, Christian deixa o espírito humano de lado e trabalha com o lado frio e racional de um androide.

- Mark, algum membro da tripulação sofreu avarias durante a viagem? - Questionou Christian, mesmo efetuando a leitura de dados de todos os tripulantes.

- Sim, dos dez tripulantes três deles estão enfrentando problemas entre os sistemas lógico e físico, porém os outros membros da tripulação estão efetuando as intervenções necessárias. Acredito que estaremos com todos os tripulantes ativos até o momento do desembarque do PTE.

- Ótimo, realmente tinha dúvidas em relação ao funcionamento desse corpo durante tanto tempo de hibernação. Vamos em frente, precisamos de todos os tripulantes funcionando plenamente para a instalação do PTE – disse Christian movendo-se em direção ao deck.

- Fique tranquilo, o senhor terá todos os tripulantes funcionando - respondeu Mark ainda impressionado com a galáxia de Andrômeda.

- Venha Mark, teremos muito tempo para contemplar Andrômeda. Precisamos conferir o funcionamento do PTE, em poucas semanas a nave deve começar a desacelerar, se nesse corpo que possui sistemas mais rústicos houveram pequenas avarias durante a viagem, imagine o PTE.

- Realmente, o senhor tem razão, vamos – disse Mark virando-se imediatamente e acompanhando Christian.

Algumas semanas terrestres, após a nave Röntgen sair da velocidade de dobra, ela é detectada pelos instrumentos de monitoramento do planeta Munchkin, que foi colonizado há cerca de cento e cinquenta anos, pelos Goswani. Nesse posto diversos cientistas trabalham, principalmente com observações astronômicas e desenvolvimento de propulsores.

Na sala de pesquisas gravitacionais estavam dois cientistas - Apesar de grande massa muscular, herdada pelo aprimoramento genético de centenas de gerações que viveram sobre a grande gravidade do planeta natal, são extremamente aplicados e disciplinados – eles iniciam um diálogo.

- Que estranho... – indagou em voz alta, a forte criatura, de pele marrom acinzentada e de aproximadamente 2 metros de altura.

- O que é estranho? - Questionou o outro cientista, com voz anasalada, típica da raça Goswani.

- O meu instrumento de captação está apontando uma distorção gravitacional no perímetro 67 – disse a criatura, observando a imagem holográfica, com seus pequenos olhos amarelos.

- Perímetro 67? Mas, não existe nada lá.

- Eu sei, a distorção surgiu de forma rápida e muito linear, o que é mais estranho, normalmente verificamos trajetórias elíptica ou circulares e com velocidade de curso muito menores.

- Não perca tempo – disse o outro cientista tentando se concentrar em suas tarefas e concluindo a frase de forma ríspida - não temos instrumento adequados para determinarmos o que realmente é essa distorção. Solicite ao departamento de observação alguma imagem.

- Não há necessidade, posso verificar aqui mesmo! Nesse momento ninguém está utilizando uma das câmeras de profundidade, instalada no espaço.

- Mas ela consegue fornecer uma imagem clara? - Disse o cientista perdendo novamente o foco de sua pesquisa.

- Acredito que sim, com essa distorção gravitacional deve se tratar de um objeto muito grande.

- Quando você fala de distorção gigante qual a proporção, me mostre as imagens que você captou.

- Calma... Nossa, como não havíamos observado nada assim antes? - Comentou de forma proposital, apenas para aguçar a curiosidade do companheiro de pesquisa, porém se espantou - Como assim! A distorção sumiu?! Que estranho... quase não observo mais distorções gravitacionais – comentou a criatura expandido a imagem holográfica.

- Amplie mais essa imagem, eu não estou vendo – disse o companheiro com clara excitação na voz e se aproximando com extrema curiosidade.

- Pela imagem parece um cometa, você não acha?.

- Cometa? - Questionou o colega de forma hilária.

- Por Perack, eu sei que pela distância de Ziks não existe a menor possibilidade de se formar um cometa lá. Porém pela imagem da câmera estou vendo uma pequena cauda e um grande objeto escuro.

- Hum! Intrigante, tem algumas características de um cometa, porém a cauda não possui a angulação correta. Peça para o departamento de observação verificar mais detalhadamente o Perímetro 67, essa imagem está muito imprecisa. Essa câmera não foi feita para captar pequenos objetos a essa distância e nesse comprimento de onda.

Então o analista movimenta a mão em frente a imagem holográfica e solicita para o sistema central do posto avançado que entre em contato com o departamento de observação.

Houve um breve momento até o retorno, enquanto isso os dois cientistas observam espantados a imagem.

- O que será isso? - Se questionam os cientistas concentrados nas imagens.

As duas criaturas de queixos proeminentes e pequenas mandíbulas ainda estavam perplexos quando o silêncio é quebrado.

- Pois não? - Disse o chefe do observatório com sua voz senil e cansada. Era possível notar o descontentamento dele, o que abalou a dupla de cientistas que estavam eufóricos com sua descoberta.

- Olá... estamos com uma imagem de um provável cometa em nossa tela, no perímetro 67 – disse o cientista.

- Cometa! - Disse espantado o chefe do observatório que continuou seu comentário - Impossível, não há objetos nesse setor – respondeu o chefe do observatório de forma incrédula.

- Vimos pela imagem da câmera de profundidade, é possível até ver uma cauda!

- Cauda? - questionou irritado com a observação feita - Menos provável, não há nenhuma fonte de calor por lá. Mas, aguardem um momento, vou direcionar o coletor de luz e verificar as imagens para ver do que realmente se trata.

Passaram-se intermináveis minutos quando a voz pôde ser ouvida novamente, só que dessa vez era possível notar que o descontentamento e irritação haviam ido embora.

- Meus caros colegas, trata-se de uma provável nave alienígena, estou encaminhando para vocês as imagens do objeto. Ela é diferente de tudo que vi. Vocês deveriam entrar em contato com o departamento de defesa, é uma nave muito grande.

- Mas ela é de qual tamanho? A primeira distorção gravitacional anotada foi muito grande, ela é do tamanho de uma estrela ou planeta? - questionou o cientista.

- Não, de maneira alguma, é maior que nossos cruzadores, mas menor que um planeta ou satélite natural... muito menor – respondeu o chefe do observatório enfaticamente.

- Certo? Obrigado pelas imagens. - finalizou o cientista.

- Disponha. Dedicarei uma de nossas câmeras de profundidade exclusivamente para acompanhar esse objeto.

Após receber as imagens os dois cientistas olharam-nas perplexos, nunca haviam visto uma nave com aquele formato e tamanho.

- E agora, o que devemos fazer? Não existe nada e em nenhum lugar que fala de qual procedimento deveremos tomar. - disse o cientista confuso com a situação - Não acredito que os Tarl conseguiram chegar até aqui.

- Realmente! - Disse perplexo - Desde os primeiros contatos entre as civilizações sempre tive a impressão que estávamos a frente em conhecimento, há poucas gerações e com muito custo chegamos nessa estrela vizinha e eles estão a pelo menos 40 vezes essa distância.

- Certo. Mas vamos tirar essa responsabilidade de nós e enviar uma mensagem de alerta para o departamento de defesa.

- Tenho medo da possível ação hostil que nosso departamento de defesa possa tomar. Imagine o quão longe esses seres viajaram até aqui. Quais problemas enfrentaram para simplesmente serem alvejados por nossos projéteis e raios de íons.

Houve um silêncio interminável entre os dois, apenas o olhar de dúvida entre eles; mas os dois cientistas verificaram que não teriam como fazer nada e nem como ocultar a descoberta. Então enviaram a mensagem ao departamento de defesa com as fotos e o vídeo que eles captaram da distorção gravitacional linear gerada pela dobra espacial.

Foi o suficiente para que em poucos minutos a cúpula do departamento de defesa do sistema planetário de Munchkin se reuni-se.

Zacky, líder do departamento de defesa daquele sistema planetário, foi o último a chegar, ainda ajustava seu uniforme quando entrou na sala de reunião.

- Olá senhores - disse Zacky, ainda com a voz de sono.

Os demais membros gesticulam a cabeça em sinal de reverência a Zacky, que efetua o mesmo gesto para os demais membros. Porém, Zacky fica incomodado ao notar a presença de Stan junto aos outros três conselheiros.

- Convoquei-os para compartilhar essas imagens que me deixaram realmente preocupado – Disse tentando focar no problema principal e ignorando a presença de Stan.

As fotos foram exibidas e todos os quatro membros na sala olharam espantados as imagens, principalmente quando foram comparadas com as naves que compunham a frota da nação Goswani.

- Como vocês podem observar essa nave é muito grande, não sabemos a sua origem, se faz parte da frota dos Tarl ou não e qual o seu objetivo, vale lembrar que não conhecemos grande parte da nossa galáxia. O estranho é que todas as civilizações que mantemos contato nenhuma delas foi mais longe que o seu próprio sistema planetário. - Disse Zacky virando-se para os demais membros da cúpula. Ele pôde notar o espanto e admiração estampada na cara de cada membro.

- Quando essas imagens foram tiradas? Questionou Lurrny, o mais velho dos conselheiros de guerra de Goswani.

- A poucos instantes, meu caro colega Lurrny – Respondeu Zacky.

- Por Perack. E quais providência você está pensando em tomar Zacky? - questionou mais uma vez Lurrny.

- Lurrny, essa é uma decisão que não devo tomar sozinho, apesar de ter todo o direito como líder do departamento de defesa, mas você é um experiente conselheiro, definiu diversos confrontos em solo. Além de contar com a presença de outros três conselheiros que conhecem como ninguém nossa frota e esse setor. Porém, sabemos de nossas responsabilidades, ninguém enviaria uma nave desse porte apenas para entrar em contato conosco. É claro que essa civilização veio nos colonizar.

- Zacky, acho que deveríamos manter cautela – disse Harvin, líder de esquadra – uma civilização dessas pode ter uma força descomunal e também não sabemos as suas intenções.

- Harvin, não podemos arriscar nessa situação, embora estejamos fora de nosso sistema planetário original, temos uma grande colônia nesse planeta e se formos destruídos aqui nosso sistema planetário natal será o próximo – disse Lurrny.

- Lurrny tem razão Harvin – disse Zacky se aproximando dele – Foi com muito custo material e de vidas que chegamos a esse sistema planetário, colocar em risco essa conquista é deixar para trás tudo que fizemos.

- E nosso sistema planetário é muito próximo daqui, não podemos colocar em risco nosso planeta natal – Enfatizou Lurrny com veemência.

- Não consigo concordar com vocês. E se essa raça estiver aqui para compartilhar tecnologia e conhecimento – Contestou Harvin.

- Você arriscaria a vida de sua família? - Disse Zacky de forma hostil.

- Não – Respondeu Harvin, intimidado.

- Harvin, você como líder de esquadra, me diga, a que distância estão nossos cruzadores daqui? - questionou Zacky virando-se para a grande tela na sala.

- Eles estão a cerca de 20 quadrantes de distância em curso orbital – respondeu Harvin.

- E quantos quadrantes são necessários para interceptar nossos visitantes? - Questionou Zacky voltando-se e olhando fixamente nos olhos de Harvin.

- Bom... a velocidade atual da nave é muito próxima da luz – respondeu Harvin de forma insegura, pelo pouco tempo de análise, porém continuou – aparentemente ela está desacelerando por algum motivo, nossos cruzadores precisaram de pelo menos 2 quadrantes para igualarem a velocidade – disse Harvin de forma lenta, como se estivesse efetuando vários cálculos junto com a sua resposta, porém, mesmo com aparente dúvida de suas palavras concluiu seu pensamento - ... e outros 86 quadrantes... aproximadamente... para interceptarmos a nave, desde que ela não altere seu curso e desaceleração – Apesar de todo o esforço hercúleo, Harvin não se sentiu confiante com sua resposta e com a reação de seus colegas.

- Harvin, você tem certeza dessa sua resposta? Questionou Tittie, que até o presente momento não havia se manifestado.

Harvin baixou sua cabeça, procurou não olhar nos olhos de seus colegas. Foi então que ele levantou sua cabeça, e olhou de maneira dura seus colegas e disse:

- Certamente, eu sou o maior especialista nesses cruzadores. Ninguém nesse sistema planetário e nem em Goswani conhece nossa frota tão a fundo como eu.

- Houve um certo silêncio entre os conselheiros, todos sabiam da capacidade técnica de Harvin e da veracidade de suas palavras, porém, nenhum deles havia visto Harvin responder com soberba e ser tão enfático em suas qualidades.

- Certo Harvin. Então envie uma mensagem aos cruzadores para que eles abatam a nave. Do que sobrar podemos aprender mais sobre nossos convidados. Reunião encerrada – disse Zacky apressadamente ao ver que Stan se preparava para falar.

Então ele faz uma reverência com a cabeça para seus colegas que devolvem a reverência imediatamente. Zacky sabia que Stan era amigo de Harvin desde a época acadêmica. E que se ele tivesse a oportunidade de se manifestar e ficasse ao lado de Harvin naquele momento, os outros dois conselheiros poderiam se sentir intimidados. Não era sempre que um conselheiro de guerra da alta cúpula de Goswani estava fora de seu posto, Zacky sabia que apesar de sua patente ser imediatamente superior à de Stan, ele sempre estava em contato com o líder de defesa da federação e era bem-visto junto a cúpula administrativa. Além de seu avô pertencer a cúpula política da federação.

Rapidamente, deixaram a sala o Zacky, Tittie e Lurrny. Harvin e Stan ainda permaneceram no local e custavam a acreditar no que estavam vendo.

- Como uma civilização pode construir algo tão diferente – disse Stan perplexo.

- Não é justo destruirmos essa nave sem ao menos tentarmos algum contato com a civilização que estiver a bordo da nave.

- Harvin, você recebeu ordem explícitas de destruir a nave.

- Eu sei, mas ele disse que poderíamos aprender mais com o que sobrar da nave, certo? Como não aprender tudo sobre nossos convidados com ela intacta? - Questionou de forma irônica.

- Você é doido, muito doido, além de insubordinado – respondeu Stan acenando de forma positiva para Harvin.

- E com relação ao período para interceptar a nave, você está crente dos seus cálculos? Questionou Stan incrédulo com a resposta dada por Harvin.

- Estimativa... claro... Vou efetuar os cálculos corretamente, mas posso garantir que sim. Eu só não mencionei que a nave está há 100 quadrantes daqui. O que torna nossas imagens e aferições defasadas, é como se fosse um vídeo de vários dias atrás. E pela desaceleração que foi observada pelos nossos instrumentos nossos convidados já estão quase parando sua nave.

- Quer dizer que quando nossos cruzadores chegarem lá eles já estarão parados?

- Exatamente, assim poderemos ter uma ideia mais precisa do que eles querem realmente aqui.

- Harvin, mas qual mensagem você enviará aos nossos cruzadores.

- Bem... que eles iniciem a aproximação com cautela e tentem efetuar algum contato, e lógico que eles não naveguem em formação, precisamos ter o máximo de cobertura possível. Precisamos dar um jeito de que nossos convidados, se tiverem olhos e bocas, falem mais sobre eles, precisamos saber de onde eles vêm, precisamos saber se essa não é apenas uma nave de exploração e se outras já não estariam se dirigindo para cá.

- E se ele agirem de forma hostil?

- A princípio tentaremos desativar os armamentos deles e se não for possível. Teremos que abatê-los.

- É muito arriscado, algo pode dar errado... - disse Stan quando foi interrompido por Harvin.

- Stan, estar aqui nesse sistema planetário já é muito arriscado, nossa civilização existe a muito tempo como sociedade. Estamos explorando o espaço. Imagine o quanto poderemos aprender com essa outra civilização. Como eles devem ser diferentes socialmente. Será incrível. Você não acha?

- Sim... mas... é tão estranho... sempre imaginei nossa civilização na vanguarda tecnológica, mesmo as civilizações que mantemos contato estão com relativa defasagem em relação a nós, e de repente surge uma nave que nunca nem havíamos ouvido falar. E aparentemente mais avançada que as nossas... Isso é muito estranho – disse Stan olhando estarrecido para a imagem da nave humana.

- Fique tranquilo Stan, tenho certeza que tudo dará certo. Bom, tenho uma mensagem para enviar ao comando dos cruzadores, você gostaria de me auxiliar nessa tarefa?

- Acho melhor não, afinal apesar de concordar com sua opinião, o quanto menos eu souber do seu plano, será melhor. Até posso ser conivente com você, mas, se você for descoberto terei que inventar alguma história. Portanto, digamos que eu apenas estou suspeitando de suas ideias e que ainda não era o momento oportuno para interferir. Se algo der errado, ainda posso lhe entregar para a alta cúpula de Goswani, tenho certeza que seu problema será menor do que o atribuído por Zacky.

- Certo, você tem razão – finalizou Harvin reverenciando Stan.

Stan, faz a mesma reverência e saiu da sala, enquanto Harvin analisava o que seria dito para os líderes da frota.

Ismael Paraiso
Enviado por Ismael Paraiso em 12/08/2017
Reeditado em 27/08/2017
Código do texto: T6081826
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.