A Era Eólia

A ERA EÓLIA
Miguel Carqueija


Naquela tarde de sábado eu pratiquei uma imprudência: fui até a esquina apenas para comprar pão e queijo, sem levar correntes, e o vento começou subita e furiosamente. Não cheguei até a padaria: fui arremessado pelos ares, indefeso, e atravessei dezenas de metros, dando muita sorte em não me espatifar contra alguma parede. Por fim, aproveitando uma diminuição da ventania, consegui me agarrar num poste de concreto e ali fiquei esticado como uma bandeira, enquanto várias pessoas passavam por mim aos gritos.
Aos poucos fui descendo até o chão, lamentando a minha temeridade por sair à rua sem me munir de lastro. O vendaval diminuíra e agora armava-se o temporal. Tudo consequência, é claro, dos distúrbios na alta atmosfera em consequência das explosões atômicas, da destruição da camada de ozônio e outros fatores que haviam desestabilizado o clima em nosso planeta.
Cheguei em casa esfolado e abatido. Pensei em pegar as correntes e retornar, mas desisti logo: no momento em que entrei avistei ao longe a tromba negra do tornado que se aproximava...


Rio de Janeiro, 18 de agosto de 2006.


imagem pixabay
Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 10/08/2017
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