SAGA DE FAMÍLIA.

O Coronel Francisco Ivo não conseguia se livrar daquele cheiro de podre, de sangue, e de vingança que ficará guardado em sua mente, desde o dia que ao abrir a porta de sua casa, quando ainda era menino, encontrou colocado dentro de um saco o corpo de seu pai esquartejado. Aquela lembrança ele tinha toda manhã ao se acordar. O açougueiro Celio Mansueto levou duas horas costurando e ajeitando o corpo do Major Câmara, até por fim conseguir formar algo parecido com um homem. Mesmo assim foi vetado durante o velório a abertura do caixão, por motivos óbvio. O caixão do Major era todo de cedro e tinha as alças de prata, exigência da sua esposa, dona Anita Farias Câmara

Dona Anita era uma mulher calada, não costumava trocar palavras com ninguém, de uma coragem a toda prova, comentava-se que tinha participado do levante do Rio das Onças, onde tinha lutado com seu pai para defender suas terras por dias, chegando ao ponto de ter matado dois invasores com um bacamarte vindo do Acre, trazido por seringueiros amigo de seu pai. Ela agora tinha que cuidar dos negócios do Major, para poder criar seus oito filhos, seis mulheres e dois homens. Francisco era o mais velho e também o escolhido do Major, passava horas e horas ensinando a arte de atirar, primeiro com revólver, depois com espingardas e por fim com bacamarte, o que tornou Francisco um exímio atirador. Também ensinou a arte de usar faca e fação, além de luta e montar à cavalo. Por vezes passava dias e dias na Serra, dormindo na Mata, ensinando a arte de viver na natureza, para ele apreender o tato e olfato da vida. Ensinou a arte de se camuflar e ficar invisível ao inimigo. O jovem Francisco queria naquela hora ficar invisível e sumir para não ir ao enterro do pai, notando a sua franqueza, sua mãe o chamou ao canto e disse: --Francisco, meu filho, agora é hora dos homens, você agora tem que assumir seu papel nas nossas vidas, minha e de suas irmãs, então vista seu paletó, coloque a cartucheira de seu pai na cintura, pegue seu revólver com munições e vamos lá enterrar seu pai, daqui pra frente somos nós dois os responsáveis pela nossa família.

Assim fez Francisco, sem cair uma só lágrima foi ao enterro de seu pai. A noite, quando foi dormir, a saudade do pai bateu no peito e ele jurou a ele mesmo que mataria um a um os assassinos do seu pai.

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 19/07/2017
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