É tudo ficção

     O espaço cósmico, como limite do infinito, é o cenário deste conto sideral vivido numa galáxia distante chamada Arret, um lugar lindo, belo, fora da Via láctea, desenvolvido n’ uma grande parte territorial, com outra porção em desenvolvimento e outra bastante subdesenvolvida.

     Os vários planetas de Arret são ativos, se comunicam intensamente, trocando experiências, vivências... um verdadeiro intercâmbio planetário onde interesses múltiplos orbitam na galáxia.

     Dentre os vários planetas tem um em especial, gigante, esplendoroso, possuidor de metais preciosos, de diversidade biológica de espécies cobiçadas pelos outros habitantes da galáxia, localizado numa longínqua porção de Arret chamada de Acirema, este planeta chama-se Lisarb.
     
     Justamente por ser muito cobiçado, Lisarb sofreu várias incursões de outros habitantes alienígenas, até que em 0051 na idade pré-moderna, foi invadido por Lagutrop dominando e colonizando toda a sua extensão, escravizando seus moradores nativos, chamados de Soidni, que relutaram, mas foram dominados.

     A conquista de Lisarb por parte de Lagutrop causou movimentos de conquistas entre os planetas da galáxia, onde vários povos planetários também tentaram invadir outras porções de Lisarb, promovendo confrontos entre os exércitos de Lagutrop e os invasores.

     Com a colonização de Lisarb, Lagutrop ocupou em definitivo as terras conquistadas mandando para a colônia anexada o seu rei Ordep I com toda a família real, iniciando-se assim a ocupação permanente do território anexado.

     Lagutrop então passou a desenvolver as novas terras, implantou poderes políticos, constituição e escravizou habitantes do distante planeta de Arret chamado Acirfa, até que fruto de conflitos familiares esses povos foram libertados pela Princesa Lebasi, iniciando-se assim um novo ciclo de fatos e de períodos políticos no planeta.

     Os anos em Lisarb passavam depressa, conflitos internos, luta pelo poder, até que a sonhada independência de Lagutrop aconteceu, daí em diante após muita luta também veio a República, que hoje no distante ano de 7102 perdura de forma caótica, triste, nojenta, fazendo com que os habitantes de Lisarb sintam vergonha de habitar seu território.

     O espaço temporal entre a independência de Lisarb e os tempos atuais foi marcado por inúmeros episódios, muitas batalhas de conquistas por liberdade, de períodos turbulentos fazendo com que a órbita do planeta balançasse buscando uma queda fragorosa, no entanto, a luta de seu povo fez com que Lisarb sempre se reerguesse, surgindo cada vez mais forte.

     Hoje Lisarb vive momentos terríveis, servindo de tapete voador para todos os povos da galáxia pisar, ridicularizar, onde a chacota prevalece nas ondas das comunicações avançadas e aceleradas praticadas no mundo sideral presente.

     Os protagonistas desse teatro macabro de ausência de moral, de falta de vergonha na cara, são justamente os seus governantes que eleitos pelo povo, passam a praticar todo tipo de negócios obscuros, de falcatruas, de desculpas cada vez mais escusas que asseguram uma medida de dignidade desses, beirando ao zero.

     O movimento histórico recente em Lisarb caracteriza-se por episódios de excrementos poluidores do ambiente democrático, onde os socitilop navegam em naves e em embarcações pelos mares galáticos da corrupção, da sujeira generalizada, da cara deslavada, insossa de valores, de virtudes e muito bem temperada com especiarias do cinismo, da vagabundagem, da ladroagem e acima de tudo pregam a defesa da honra e da dignidade de forma veladas, como se algum dia as tenham possuído.

     A deusa materialista pagã dos socitilop em lisurb é Aniporp, insaciável, com uma capilaridade nos meios do poder dominante impressionante, ela é mágica, estonteante, galante, provoca paixão em suas vítimas pelo desapego do reto, do correto, do óbvio, do sensato, dominando seus seguidores e fiéis.

     Lisarb possui sua capital instalada no meio do território galático, mais precisamente em Ailisarb, lá o Poder Central dominado pela deusa Aniporp irradia as decisões por meio dos poderes constituídos da fétida república, todos estão inscritos na circunferência delimitada por Aniporp, se não de maneira direta, se não de maneira indireta.

     Em Ailisarb, recentemente a partir de 5891 da era cósmica moderna, vários ocupantes da presidência se revezaram no Poder Central, dentre eles, talvez mais compulsivos e fiéis à deusa Aniporp, temos: Alul, Amlid e Remet; este último, apresentando-se como douto dos códigos praticados pela ciência do otierid no planeta.

     Os episódios de descompasso com a ética e com a moral acontecem de forma proeminente, repetida, semelhante na forma de agir, ou seja, sempre invocando à deusa Aniporp, onde fielmente os crimes praticados por esses socitilop são aliviados e acochambrados pelos tribunais de Lisarb, via de regra, patrocinados por escusas escusas, advindas dos praticantes e mentores dos delitos.

     A minha estória de ficção alimentada por acontecimentos históricos de Lisarb, termina pobre, morna, murcha, solícita com o seu povo, vendo em Remet o apogeu, o vértice negativo máximo da parábola, o corolário irrefutável da corrupção, do discurso falado não do Presidente de Lisarb, mas de um douto do otierid, de uma crença inabalada à deusa Aniporp, onde os habitantes do planeta, paralisados e perplexos ouvem de sua boca que tudo que estamos vivendo “é uma ficção”, uma “ilação”, quiçá resida aí, a explicação para sua existência como presidente de Lisarb; Remet é uma verdadeira peça e obra de ficção, justificada pela total inversão de princípios e de valores praticados em Lisarb, principalmente quando se presencia cotidianamente o hiato abismal entre o discurso e a atitude dos socitilop.

     Por fim, como estamos falando de ficção, quem sabe como solução do problema vivido em Lisarb, talvez se construíssemos um grande crematório galático, colocando Lisarb por pelo menos duas vezes para queimar, obtendo-se daí uma cinza cintilante, fazendo com que o espaço outrora ocupado na galáxia seja visível e, posteriormente entregando essas cinzas ao seu povo primitivo, os Soidni, tudo isso na esperança de que renasça probo, justo e feliz.