AO RESGATE...!
Ainda em 14 de novembro de 2022 (221114)
A bordo da Hércules, os capitães e oficiais estavam em conselho de guerra, discutindo os próximos passos a seguir.
O Lorde do Espaço, Martin Sarrazin estava com a palavra:
–Não acho que a troca vai funcionar.
–Por qual motivo?
–Porque não vai ter troca, Alan, sinto isso. Não o teriam trazido vivo tão longe se não tivessem um plano para ele e o confederado.
–Então vamos planejar e fazer uma operação de comando como nos velhos tempos Milorde! Vamos pousar lá e resgatar os dois!
–Seria uma loucura fazer um pouso em Alakros porque todos nós somos cegos naquele mundo, Syves. Não conhecemos o planeta, não sabemos em que lugar, que país, que cidade, que prisão, em qual cela Aldo está, se é que está numa cela, e nem sabemos quantos guardas o vigiam – disse Martin.
–Verdade – disse Lilla Henna.
–Não é bem assim – disse Alan.
–Não?
–Não Lilla Henna, Aldo está no palácio imperial. Huáscar soube disso quando leu as notícias do império num tablete com telejornal... Como é o nome mesmo?
–Pask – disse Huáscar.
–Pior então! – disse Martin – No lugar mais inacessível do planeta! Não podemos ocultar nossa condição de estranhos nem nossa cegueira. Deveríamos usar aqueles óculos que meu velho amigo Valerión e seus engenheiros conseguiram duplicar e que dificultariam nossa mobilidade, porque todos saberiam da nossa condição de alienígenas, ainda que talvez seja um mundo cosmopolita.
–É claro – disse Nahuátl.
–E não poderíamos agir numa operação sigilosa como costumávamos fazer lá na Terra, em nossos anos de guerra e espionagem. Seria absolutamente impossível nos esconder uma vez que estejamos no chão, ninguém nos daria cobertura, esconderijo, ajuda... Até as pedras do planeta seriam contra nós!
–Tem lógica – disse Huáscar – mas tive que posar na superfície algumas vezes e conheço bastante. Posso ser útil lá embaixo.
–Mas você será cego lá, meu marido! – disse Lilla Henna.
–Tenho óculos alakranos fabricados para mim pelos engenheiros humanos.
–Então você pode ser nosso espião no solo – interveio Alan – precisamos saber como trocar os prisioneiros, caso exista essa possibilidade.
–De acordo, está claro que irei Mestre Alan! Mas como chego lá? Uma nave de guerra estrangeira não pode se aproximar da metrópole sem autorização especial, a não ser que seja convidada por algum motivo...
–Motivo que nós não temos – disse Lilla Henna – e muito menos a Desafiante.
Após pensar um momento, Martin disse:
–A Desafiante pode se aproximar numa distância segura e soltar você num caça CH-III, Huáscar, numa distância que o caça possa chegar, digamos uns vinte milhões de quilômetros terrestres, umas vinte horas padrão.
–Nunca pilotei um desses, só as patrulheiras.
–Alex pode lhe deixar onde for preciso O caça é indetectável.
–Então pode ser feito, Lorde Martin. Como será a aproximação?
–A Desafiante sairá de dobra no momento certo de lançar o caça, numa distância que ele possa chegar rápido ao planeta e entrará em dobra de imediato. Tudo deverá ser feito em menos de um minuto padrão, para não sermos percebidos.
–E muito arriscado – disse Huáscar – a nave estará em impulso máximo, um quarto da velocidade da luz na hora em que sair de dobra no espaço normal. O caça poderia desintegrar-se pelo atrito com a micro poeira e seu escudo não poderia ser levantado no momento do lançamento pela proximidade com a nave maior. Não é uma manobra fácil. Por esse pequeno detalhe até a Desafiante poderia ser afetada pelo choque dos campos de ambos os escudos e desviar-se ligeiramente do curso no momento da separação e pode ser que a Desafiante entre em dobra num subespaço paralelo e se perder no multiverso.
–E isso pode acontecer? – perguntou Syves.
–Pode sim – interveio Lilla Henna – há precedentes. Também é bem possível que o pequeno avião de caça seja arrastado junto com a nave maior, se não for destruído na manobra.
Até então sem pronunciar palavra, a Ilustre Dama Ingeborg, de Germânia III, de Marte e da Terra, acompanhada de Alvim, seu filho mais velho, de sete anos, ouvia a conversa com atenção, com uma lágrima começando a deslizar pelo seu belo rosto.
Martin percebeu. Então disse:
–Senhora Reverenda; estou disposto a assumir o risco de me perder nos mundos paralelos do multiverso com minha tripulação e nunca mais conseguir voltar para esta realidade. Meu piloto Alex também sabe do perigo que vão correr nesse frágil CH–III, impossível de ser freado na velocidade em que ingressará no espaço normal. Então você acha muito arriscado, capitão Huáscar?
Silêncio.
Os pelos do tigre arrepiaram-se, as orelhas abaixaram-se e as pupilas verticais estreitaram-se como se de repente fosse atacar o Lorde do Espaço. Sua voz foi um rosnado:
–Huáscar Linx, Baharnum de Amaru Xel, não tem medo de nada! Já disse que vai encarar essa missão!
No silêncio que se seguiu, Huáscar foi acalmando-se. Então Alvim, o pequeno príncipe das Terras Frias de Titã, disse timidamente:
–Se você não pode trazer meu pai de volta, capitão, ninguém pode. Não é que ninguém aqui tenha coragem. É que você sabe o que deve ser feito.
Huáscar pensou um pouco. Logo disse:
–O que deve ser feito é descobrir se o capitão Aldo pode ser resgatado por uma ação de guerra ou se há como trocá-lo.
–E o único que pode fazer isso é você – disse o menino.
–Sim. Quando começamos?
–Enquanto a Hércules e a Amarna voltarem para Lican-4 – disse Alan.
–A troca poderia ser feita aí? – perguntou Inge – São dez meses de viagem até a anomalia e depois chegar a Lican-4 e esperar?
–Seria o melhor lugar, Reverenda – disse Alan – no caso que eles aceitem a troca. Isso, é claro, vai depender do que Huáscar consiga descobrir, então saberemos como agir, entretanto as duas naves podem ficar em Ankor-3.
–E qual o papel da Desafiante depois de soltar Alex e Huáscar? – disse Inge.
–Esperar notícias nas imediações de Alakros Prime – disse Martin.
*******.
20 de novembro de 2022 (221120)
–Aí está Alakros – disse Huáscar.
–Pode abordar o CH-III, capitão – disse Nahuátl – Alex já está a bordo.
Huáscar retirou-se rapidamente enquanto o Lorde do Espaço e Nahuátl Ang manobravam no painel de comando a quatro mãos.
–Um minuto para sair de dobra – disse Martin.
–Pronto para lançamento – disse a metálica voz de Alex.
–Entrando no espaço normal! – disse Nahuátl.
–Abrir hangar! – disse Alex.
–Hangar aberto! – disse Martin.
–Caça lançado! – disse Syves.
–Escudo desligado – disse Nahuátl.
–Prontos para entrar em dobra? – disse Martin.
–O caça não se separa! – disse Isis que monitorava – Está à par!
–Tem que separar-se! – disse Nahuátl – Será destruído ao entrarmos em dobra!
–Somos nós que estamos diminuindo, Milorde?
–Não Syves, são eles que vão rápido demais!
–Eles têm que diminuir – disse Nahuátl – senão cairão como pedra no planeta!
–Em um minuto seremos descobertos – disse Isis – temos que entrar em dobra!
–Aí eles morrem – disse Martin.
–Eu sei senhor, mas algo falhou.
–Nós falhamos – disse Isis – lançamos o caça cedo demais, não poderá parar nem manobrar com seus motores comuns.
–Vamos recolhê-los – disse Nahuátl – raio trator!
–Vamos todos para o inferno se algo falhar, Milorde!
–Eu sei.
–Senhor, temos que entrar em dobra AGORA, ou nos faremos pó na rua principal da capital do planeta! – disse Isis.
–Caça em posição! – disse Syves.
–Por um triz – disse Nahuátl – ligando a dobra.
–Mais um segundo e estaríamos mortos – disse Isis – O que falhou?
–Não sei – disse Martin – Precisamos ver onde estamos e depois sair de dobra.
–Estamos a um parsec além do planeta do outro lado do sol infravermelho.
–Eles podem nos descobrir aqui?
–Não senhor.
–Sair de dobra.
*******.
Huáscar vinha pelo corredor bufando e rugindo como um... Um tigre.
–Quase nos matamos todos! Quase acaba nossa caçada antes de começar!
–Sim.
–Eu avisei Lorde Martin!
–Avisou sim. O que foi que falhou Huáscar? O que?
–Vocês nos soltaram cedo demais!
–Isso eu sei. Porque não se separaram?
–Apesar do atrito, devíamos ficar lado a lado com o escudo levantado, entendeu? Se o tivesse abaixado ANTES de soltar, nos teria deixado livres, embora na velocidade absurda em que estávamos, teríamos nos esborrachado em Alakros ou em qualquer objeto que estivesse na nossa frente. Alex ficou vendo os danos no CH-III.
–Foi por isso que não se separaram?
–Por isso e porque nos lançou a uma velocidade absurda!
–Eu lancei vocês a 74.940,62 quilômetros por segundo...!
Huáscar não entendeu os termos terrestres então Martin disse:
–Quero dizer que íamos a um quarto da velocidade da luz.
–Por isso! Quase nos matou!
*******.
Segunda tentativa.
–Andei pensando e estudando sua tabela de velocidades e a capacidade do avião de caça, Lorde Martin – disse Huáscar mais calmo após algumas horas – vai repetir a manobra. Deverá nos lançar a um oitavo de impulso em direção tangente ao sol negro de Alakros.
–Qual é seu plano?
–Como isso excede a velocidade máxima de manobra do caça, não poderíamos manobrar nem parar, mas vamos usar a inercia, e a gravidade do sol primeiro vai nos acelerar e depois vai nos parar aos poucos até chegar a velocidade que nós queremos, que é a de cruzeiro do caça. Alakros está a uma distância de noventa milhões de quilômetros do sol negro nas suas medidas terrestres.
–Como quiser capitão Huáscar. Alex já examinou o caça?
–Sim, não houve danos.
–Tem certeza?
–Tenho. Deve ser bem preciso senão a caçada acaba para mim e Alex.
–Programe o curso tangencial ao sol negro, Syves, já ouviu o capitão Huáscar, um oitavo de impulso deve dar a velocidade da luz dividida trinta e duas vezes.
–Sim, Milorde – disse Syves passando a ordem para o robô astro mecânico:
–Já sabe o que tem que fazer R-7.
O robô confederado R-7, que tinha sido reprogramado por Nahuátl para aceitar o idioma espanhol e os sistemas de dados terrestres, limitou-se a bipar “9367,575 quilômetros por segundo”, conectando-se logo ao painel de navegação, que em seguida começou a piscar com as telas mostrando o curso.
–Isso excede mais de trinta vezes a velocidade máxima do CH–III, Milorde, vai dar 33.723.270 quilômetros por hora! Eles vão se esborrachar no solo do planeta em menos de três horas nessa velocidade! Como vai diminuir?
–O CH-III é o mais avançado em sua categoria – disse Martin – foi projetado pelo meu velho amigo Valerión. Claro que isso excede muito da velocidade de cruzeiro dele de 1.000.000 de kms por hora. Mas ele vai conseguir. A gravidade do sol negro vai ajudá-lo a diminuir, segundo o plano de Huáscar.
–Mas noventa milhões de quilômetros são noventa horas a bordo do caça, Milorde! Vão precisar alimentar-se e descansar!
–Sim, Alex já previu isso – disse Huáscar – temos alimento e água suficiente, além de sistemas para as necessidades fisiológicas. E não serão noventa horas padrão, serão menos de vinte, diminuindo a inercia com a atração do sol negro.
–Tem certeza?
–Tenho.
–Então vamos! – disse Martin.
–Todos aos seus postos! – ordenou Nahuátl.
Huáscar voltou para o hangar onde Alex o esperava já a bordo do CH-III.
*******.
A Desafiante deu meia volta e entrou em dobra em direção ao sol negro, uma estrela que emitia poderosa radiação infravermelha só percebida pelos olhos facetados dos alakranos ou por humanos providos de óculos infravermelhos.
No momento certo, saíram de dobra quase encima do astro negro, a mais ou menos noventa milhões de quilômetros de Alakros Prime.
–Agora, R-7! – disse Syves.
O robô bipou e desacelerou a nave a menos de um terço da velocidade da luz.
Logo a velocidade foi diminuindo e o robô anunciou:
–18.735,15 por segundo!
–Ainda não. – disse Nahuátl.
–9367,575 por segundo!
–Agora! – disse Syves.
–Baixar escudo! – disse Nahuátl.
–Escudo abaixado! – disse Isis.
–Soltar caça!
–Caça solto, capitão!
–Deu resultado – disse Isis – eles estão no curso!
–Entrar em dobra! – disse Nahuátl.
–Vamos voltar para Ankor-3 para esperar os acontecimentos – disse Martin.
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A Desafiante desapareceu no subespaço enquanto o caça CH-III com Huáscar e Alex encaminhava-se ao planeta das trevas.
–A micro poeira está ajudando a diminuir, Huáscar!
–Manter o escudo ao máximo, Alex. A estrutura do caça não pode suportar o atrito com micro poeira nesta velocidade.
–De acordo.
–Mantenha o rumo tangencial.
–Temos o sol a bombordo perto demais, está nos acelerando!
–Calma! Ligar manobradores de bombordo ao máximo, um grau a estibordo para aproveitar a velocidade de escape.
–Certo. Mas está quente demais, pensei que um sol negro seria frio...
–Nunca. Seu calor não se vê, mas sua radiação infravermelha é quente.
–Escapamos!
–Sim, vamos ver o curso.
–Não o vemos, mas o planeta está bem na frente!
–Perfeito, Alex.
–Lá vamos!
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Continua em: O SECRETO DO IMPERADOR
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O conto AO RESGATE! - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume V, Capítulo 41; páginas 62 a 66; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:
http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html
O volume 1 da saga pode ser comprado em:
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