A ESPADA DE ALAKROS
A lenda da Espada
Alan nunca tinha estado a bordo de um explorador confederado.
Era uma nave armada, de 24 metros em forma de paralelepípedo de pontas arredondadas e do meio para trás tinha duas nacelas de dobra extensíveis.
O explorador era uma nave ligeira de guerra, sumamente manobrável, capaz de atingir dobra 6.5; tinha espaço para quatro tripulantes, dez comandos de assalto com todo seu equipamento e um robô astro mecânico para navegação e pilotagem, mas de momento estava pilotada por Martin, o Lorde do Espaço e seu fiel Syves, como copiloto e o capitão Nahuátl como passageiro.
Havia sido modificada bem ao gosto do seu dono, Martin, um exigente cavaleiro; como uma nave auxiliar alternativa. Tinha um banco de dados conectado à Desafiante, uma despensa bem provida de alimentos finos, bebidas variadas e outras sofisticadas comodidades, adequadas para ele e seu valete.
Assim que chegaram à órbita, encontraram a Desafiante com o hangar aberto e esperando o pouso.
Logo da abordagem, Martin e seu filho Alan entraram no elevador e foram para a cabine privativa do Lorde do Espaço, onde logo Syves preparou e serviu o chá.
–Sente-se coronel – disse Martin – gosta de chá?
–Não tenho costume...
–Este chá você vai gostar, Earl Gray, é aromatizado com óleo essencial de bergamota. Não precisa açúcar.
Alan bebeu um gole e gostou.
–Muito bom!
–Sabia que gostaria coronel. O Earl Gray é uma das variedades de chá mais consumidas e apreciadas no Reino Unido. Aliás, era, quando o Reino Unido existia.
–Claro.
–Aprendi a gostar de chá por causa do meu fiel amigo escocês Syves, colega de armas na Legião Negra e no Esquadrão Shock, grande piloto, cozinheiro, valete e às vezes capanga pessoal. Conhece tudo de chá e de outras bebidas inglesas. Tenho a bordo muitas provisões terrestres que deu tempo de coletar antes do colapso.
–Fascinante.
–Bom, chega de banalidades e vamos ao que interessa – disse Martin.
–O senhor dirá.
–Primeiro quero que saiba que estou feliz de lhe encontrar em pessoa depois de vinte e quatro anos de separação. Tenho acompanhado sua trajetória de aventuras no sistema solar sempre que me foi possível, mas andei muito envolvido em guerras e de algumas coisas não fiquei sabendo. Mas já haverá tempo para falar disso.
–Eu também fiquei sabendo das suas aventuras nas guerras do século passado, sua participação na terceira guerra mundial, sua captura pela ditadura quando ficou prisioneiro em Guantánamo e da sua fuga espetacular. Outras vezes achei que tinha sido morto em batalha.
–Faltou pouco, devo admitir.
–Eu também fiquei prisioneiro e quase fui morto em Vênus, escapei, fiz uma rebelião planetária e expulsei os invasores alakranos. Isso nos leva direto ao assunto mais urgente. Aldo está prisioneiro em Alakros e precisamos resgatá-lo.
–Sim. Consta-me que você tem dois capitães alakranos a bordo.
–Os que me prenderam em Vênus.
–Eram esses? Não sabia.
–Sim, pretendo fazer uma troca, dois por um.
–Dois por dois, se pensamos no capitão confederado.
–Sim, Shiram Zagor. Se o resgatamos poderá ser útil para nós, se pensarmos nos aliar à Suprema Confederação. Seu resgate será considerado um ato honroso pelos confederados.
–Entendo. Boa estratégia.
–Estratégia é o que devemos planejar agora.
–Concordo. Vamos fazer um conselho de guerra com os outros capitães.
*******.
04 de novembro de 2022 (221104)
Alakros Prime.
Conta a lenda do espaço,
Que em remoto planeta
De cujo nome não há memória...
–Claro que ouvi falar da Espada de Alakros – disse Aldo – eu achei a cantilena numa enciclopédia alakrana que ganhei de um antigo colono solitário.
Zorkala Alak 201 pareceu sorrir se é que os alakranos sorriem, e com ar concentrado continuou recitando a cantilena:
...Está enfiada na rocha
Poderosa espada mortal
Forjada de duro metal
Que de branco sol foi extraído.
–Sabe que metal é esse?
–Sem dúvida o mais duro e pesado do universo – disse Aldo – “de branco sol foi extraído”, só pode ser uma estrela anã branca, muito quente e pesada. Um metal desses deve ser indestrutível e pesado. Ninguém poderia empunhar uma espada assim, supondo que existisse tecnologia para extrair e forjar esse metal de uma das estrelas mais quentes do universo.
Tudo ela corta
Metal, carne, tempo,
E nada a detém
Nem os deuses
Pois quem foi seu dono
Deus foi de Alakros.
O grande Zorkala Um
O Impiedoso...
Que os mundos dominou
Quando o Universo nascia.
–Foi meu antepassado remoto – disse Zorkala com vaidade mal contida.
–Conheço o resto da cantilena – disse Aldo e recitou:
Mas um dia
A Morte veio buscar o herói
Que com sua espada
A feriu sem poder
Causar a morte da Morte.
Os Grandes Deuses
Com isso se revoltaram
Ordenando o herói desistir
Por isso ele fugiu da Morte
Pelos lugares mais longínquos
Do Universo
O Deus Universo
Apiedou-se do herói
No seu mais profundo seio
Seu corpo escondeu
Mas a Espada ficou
Por ordem de Universo
Fincada para sempre na rocha
Onde nunca ninguém
A poderia tirar.
–Uma lenda interessante. No meu mundo há uma lenda parecida – disse Aldo pensando na lenda do Rei Arthur e sua Espada Excalibur.
–Não é uma lenda, humano – disse Zorkala – a espada existe realmente.
–E onde ela está?
–Há muitas gerações estudamos essa lenda, humano, frase por frase, letra por letra. A pista está nas frases finais. A cantilena é um mapa cifrado.
–Lembro-me de quase toda a cantilena – disse Aldo e recitou:
Hoje a Espada repousa
No mundo de Universo...
–Que raio de planeta é esse?
Zorkala recitou:
...O Deus magnânimo,
Onde o espaço tem limite
E as estrelas tem fim.
–Parece ser no limite de uma galáxia – disse Aldo – pode ser na orla exterior. Desconfio que você saiba qual é o planeta de Universo.
–Sim. Sabemos desde bastante tempo atrás, desde cinco gerações.
–E porque não foram? Está longe demais para vocês?
–Para nós não, apesar de que é difícil de chegar lá.
–Então alguém do seu povo já foi lá – disse Aldo – qual a dificuldade?
–Trata-se de um mundo que orbita um sol amarelo, brilhante demais, seco, quente, instável, perigoso para nós. Não suportamos tanta luz. Para piorar, como você logo pôde deduzir pela cantilena, está situado na orla exterior, num braço da galáxia na última camada de estrelas. O que não está mencionado na cantilena, mas soubemos depois; é que há um buraco negro, que engole os pilotos mais desavisados.
–Entendi. E onde eu entro nisso tudo?
*******.
O Escolhido.
Aldo Santos estava mais à vontade, sentado nos degraus da escadaria do trono de Alakros, quase aos pés do imperador Zorkala Alak 201; com o qual agora chegava quase a simpatizar, já que o considerava um ser de cultura superior.
–Onde eu entro nisso tudo? – tinha perguntado o terrestre.
–Você ainda não percebeu?
–Confesso que isso me escapa.
–Recite a continuação.
Os braceletes e a armadura
Estão no fim de Alakros.
–Parece-me num mundo na fronteira do império... – disse Aldo intrigado.
–Recite a última parte – insistiu o imperador.
Aventureiro!
Se desejar a Espada encontrar
A armadura deverá vestir
O bracelete deverá calçar
Para a Espada empunhar.
Aldo parou.
Zorkala pareceu sorrir de novo:
–Continue.
Muitos heróis tentarão
Mas a Espada não pegarão
Agora Aldo considerava uma ideia fantástica demais, mas continuou recitando a parte final da cantilena:
Quem o fará
Ainda não nasceu
Mas nascerá
No coração de Ran.
Fez-se o silêncio na sala do trono. Zorkala não tirava seus olhos facetados como dos insetos do rosto do terrestre.
Aldo então pareceu compreender:
–Eu?
–Você.
*******.
14 de novembro de 2022 (221114)
Capitães e oficiais reuniram-se a bordo da Hércules para debater o que fazer a seguir. Nahuátl tinha uma ideia arriscada; sua nave era a única em condições de aproximar-se de Alakros Prime.
–A Desafiante é a melhor nave para invadir o espaço imediato ao planeta Alakros – disse Nahuátl – foi atualizada na Lua e Marte, conforme padrões milkaros e xawareks que os técnicos ranianos tinham na época em que o Lorde do Espaço a levou em impulso desde a Terra. Seus sistemas podem ser detectados pelos sensores confederados, mas não pelos sensores alakranos.
–Tem razão – disse Huáscar – a Hércules e a Amarna são naves xawareks, e seus padrões estão na base de dados deles.
–A Desafiante possui duas bobinas de contra oscilação defletora dos canais de subespaço-tempo-energia, com equilibrador de pulsação, o mesmo sistema da nave de Pru atol 7752, o milkaro.
–Mas e a energia para isso tudo? – perguntou Huáscar.
–Aí é que está, capitão. Tirei fora um núcleo de reposição para fazer espaço na engenharia, já que há outros dois de reserva, além do principal e coloquei um gerador Shiba, cedido pelo milkaro, com seus quatro acumuladores.
–E como alimenta o gerador?
–Com o gerador de energia cósmica que pegamos da nave raniana naufragada em Pomona, que funcionava quando o capitão Aldo e eu chegamos por primeira vez, quando a Hércules original nos encontrou na sua jornada para Júpiter. Podemos pensar em...
–Ainda assim devemos ser cautelosos, capitão Nahuátl – interrompeu Alan.
–Sim, é logico.
–Eu bolei vários planos alternativos.
–Diga.
–Um deles é trocar Aldo e Shiram pelos dois capitães alakranos, incluindo a belonave alakrana e os tripulantes que deixamos em A’Harghel, Lican-4.
–Pode funcionar – disse Boris.
–Eu não acho – disse Martin, silencioso até então.
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Continua em: AO RESGATE...!
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O conto A ESPADA DE ALAKROS - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume V, Capítulo 40; páginas 57 a 61; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:
http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html
O volume 1 da saga pode ser comprado em:
clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1