MEU PAI, EU PRESUMO?

03 de novembro de 2022 (221103)

–Ankor-3 é um mundo de escala de várias rotas espaciais, tanto sejam para Alakros ou não. – disse Huáscar.

Em torno ao luminoso planeta Ankor-3, da classe Etar, orbitavam duas luas rochosas com bases militares alakranas, tropas, belonaves e máquinas de guerra. Além disso, uma base orbital de escala estava entre os recém-chegados e o planeta, mas isso não foi impedimento para Huáscar.

Após uma breve conversa em alakrano com a burocracia alfandegária, Huáscar teve permissão para orbitar o planeta e descer ao solo com naves auxiliares.

–Nunca foi tão fácil – observou Alan – Como conseguiu?

–A Amarna é uma nave registrada, a 8807, lembra? Aqui no centro do império, não há tanto controle como nas fronteiras, Mestre Alan. Por isso a Hércules e a Desafiante também poderão orbitar. Somos uma frota.

–Fascinante. Quero ver para descer em Alakros.

–Dar-se-á um jeito, Mestre Alan – disse Huáscar com seu olhar fixo na tela principal – tudo ao seu tempo.

–Como sabe onde descer?

–Há um sinal guia sendo radiado para nós. Vamos descer no porto de escala, como todo mundo.

–Você já esteve aí?

–Sim.

–Huáscar... Você tem um plano, presumo.

–Presume corretamente.

–Órbita estabelecida! – disse Pacha.

–Entendido. Vamos pegar sua patrulheira, Mestre Alan.

–Vamos.

*******.

Não demoraram em avistar o enorme astroporto-cidade de Ankor-3. Quatro monumentais pistas formavam uma cruz quase perfeita com uma torre de controle do lado. O complexo estava rodeado por uma enorme cidade, que se estendia por muitos quilômetros, vista de cima.

Huáscar pilotou a patrulheira AR-1 com destreza, seguindo a orientação da torre de controle e logo pousou na pista de visitantes na frente do cais de escala, seguido pelo explorador da Desafiante e uma patrulheira AR-2 da Hércules.

No cais de escala havia meia dúzia de naves de formatos estranhos. Mais longe, no setor militar, dois cruzadores de incursão alakranos estavam sendo abastecidos por veículos de pista.

Seres de várias espécies, algumas desconhecidas, se movimentavam sozinhos ou em grupos pelas ruas estreitas no meio das construções, algumas delas reconhecidas por Alan como depósitos ou armazéns.

Mais adiante apareciam construções menores, parecendo hotéis, pousadas modestas, lojas, bares, restaurantes e comércios de tudo o que pode ser imprescindível num porto de escala.

De tanto em tanto veículos flutuantes, suspensos a poucos palmos do chão, passavam rapidamente com carga ou gente em direção às grandes naves pousadas em pistas de carga.

Guardas alakranos de armadura, capacete, óculos protetores contra a forte luz, mortal para eles, com seus fuzis enganchados nas costas, caminhavam em duplas.

A estrela amarela Ankor parecia o sol da Terra. O planeta era luminoso e seco com clima agradável, fazia um calor moderado e a gravitação era de 1,1G. Huáscar e Alan, armados e vestidos com suas armaduras de combate sirianas, desceram da patrulheira.

Logo Nahuátl e Syves desceram do explorador, vestidos com suas armaduras confederadas. Da patrulheira AR-2 desceram Boris e Valerión, ambos de armaduras espaciais antárticas.

Quando todos estiveram juntos, Alan disse:

–Não chamaremos muito a atenção, Huáscar?

–Não Mestre Alan.

–Mas somos seis caras armados; humanos, xelianos e um raniano!

–Não se preocupe, Mestre Alan – Huáscar parecia divertido – neste porto de escala deve haver cem espécies e raças diferentes. A pergunta mais popular em todas as línguas é: “De que planeta é você?”.

–Me convenceu Huáscar. Mas somos seis.

–Será suficiente. Muita gente atrapalharia.

–E agora, Huáscar? Você é o anfitrião.

*******.

Balançando as pistolas, Alan e Huáscar entraram na frente do seu grupo num local concorrido que sem dúvida era algo parecido a um bar boraliano. Havia mesas e cadeiras algumas ocupadas, outras livres. O recinto era bem espaçoso e estava cheio de seres de pé ou sentados. Alguns deles era impossível saber se estavam de pé ou sentados.

As barulhentas conversações em diversas línguas galácticas silenciaram de repente. Todos os olhos ou órgãos equivalentes dirigiram-se aos recém-chegados.

Huáscar avançou por entre os seres que se afastavam, intimidados por esse enorme tigre blindado. Logo encontrou uma mesa livre perto da porta lateral.

–Vamos nos sentar – disse em siriano.

Assim que se acomodaram, uma garçonete xeliana aproximou-se.

–Huáscar...? – disse surpreendida – Você por aqui? Não estava em Boral?

–Estava, mas voltei da minha missão e resolvi passar por aqui para vê-la, querida Rona Henna. Sempre me lembro de você.

–Não há de ser por isso capitão Huáscar! – disse ela, envaidecida.

–Não mesmo. Mas é um grande prazer encontrá-la, Rona Henna. Meus amigos e eu estamos sedentos. Queremos um trago e notícias da civilização. Há muitos ciclos que faltamos de casa.

–Certo. Você bebe júbiks, que eu sei, mas seus amigos... De que planetas são?

–Os quatro humanos bebem vinho e o raniano inferior bebe lod.

– Muito bem – disse a tigresa, e baixando a voz acrescentou:

–Talvez seus amigos humanos queiram vinho confederado...

–Você tem vinho de contrabando?

–Fale baixo. Vinho muito bom do outro lado da anomalia. Há um capitão reptiliano de Brown-1, que de tanto em tanto aparece para vender certos produtos que não se acham por aqui.

–Então sirva. E me alcança um pask, que preciso saber as notícias.

–Pois não.

*******.

–Brown-1?

–Um planeta de uma estrela que vocês conhecem como Kruger-60-A Cephei, Mestre Alan – disse Huáscar em raniano.

Alan e Nahuátl eram os únicos bem fluentes em xeliano e entenderam a conversa de Huáscar com a tigresa, não assim os outros, que apenas conseguiram pegar o sentido.

Adivinhando o pensamento deles Huáscar disse:

–Rona Henna Anahuac, Badra de Amaru Xel, uma amiga muito honrada. Está no quadrante delta há muito tempo, desde sua derrota em combate honrado para acasalar com seu marido, um tripulante xeliano de uma nave de guerra baseada aqui.

–E ele está aqui? – perguntou Valerión.

–Não, ele morreu bem, com honra, numa batalha gloriosa contra ziguelianos que invadiram um planeta deste lado da anomalia – disse Huáscar – e ela não quis mais voltar para Amaru Xel. Já pensei em acasalar com ela. Talvez um dia eu vá desafiá-la para uma luta de acasalamento.

–E pode? – perguntou Boris – você não está casado com Lilla Henna?

–Os xelianos podem ter duas esposas – interveio Valerión.

–Sim, eles podem – disse Alan.

–Mudem de assunto ou de idioma – disse Nahuátl – lá vem ela com as bebidas.

*******.

Os amarelos olhos do tigre percorriam rapidamente os caracteres alakranos que apareciam na tela do pask; um tablete de leitura; enquanto bebia seu júbiks com evidente prazer.

Quando acabou a leitura do telejornal, esvaziou seu copo de dois litros e pediu mais um.

–As notícias chegam rápido – disse em espanhol, que não seria entendido no lugar em que estavam – os alakranos deduziram que Djekal e Hung foram mortos ou capturados pela Suprema Confederação.

–Era obvio – disse Alan – Nem sonham que estão a bordo da Amarna.

–E na metrópole, dois ilustres prisioneiros estão hospedados no palácio de governo. Trata-se de um capitão confederado e um raniano legítimo, o que prova que o império raniano está ressurgindo.

–Achamos! – disse Boris.

–No palácio de governo! – disse Nahuátl apavorado – O lugar mais inacessível do universo, o coração do império.

–Supondo que Alakros tenha coração – disse Syves sem alterar-se.

–Não vai ser fácil – disse Valerión.

–Como tirá-lo de lá?

–De momento não sei, capitão Nahuátl.

–Você me desaponta, Huáscar – disse Alan – só você pode ter uma ideia. Sem seu conhecimento não teríamos chegado aqui.

–É tão difícil assim? – disse Syves, um escocês fleumático que já tinha lutado em guerras na Terra – talvez Milorde tenha uma ideia.

–Milorde?

–O Lorde do Espaço, capitão Huáscar. – disse Valerión.

–Eu quero falar com ele, Syves – disse Alan – até agora não foi possível. Sabe que ele é meu pai?

–Sei sim, coronel.

–E ele sabe?

–Como não saber, depois de tudo o que você fez no outro lado da anomalia nos últimos anos? Você é famoso, coronel Sarrazin.

–Claro. Que bobagem. Mas quero falar com ele.

Logo de pensar um pouco Alan disse:

–Huáscar, estes comunicadores funcionam aqui?

–Funcionam.

–Não será necessário, coronel – disse Syves – milorde está aqui, a bordo do explorador, descansando, mas logo deverei acordá-lo para o chá.

–Descansando?

–Sim, ele já tem certa idade, coronel.

–Paciência, Alan – disse Valerión.

–Não será preciso esperar – disse uma voz em espanhol.

–Milorde! – exclamou Syves ficando de pé.

Alan levantou-se como um raio.

–Meu pai, eu presumo?

*******.

–O que pretende fazer conosco?

A pergunta do capitão Shiram ainda ressoava no ar no meio da escuridão da enorme sala do trono de Alakros.

O imperador Zorkala Alak 201 ainda permanecia silencioso fitando os dois humanos na sua frente com seus olhos facetados como os das moscas, olhos que enxergavam na tenebrosa escuridão.

Seu rosto era quase humano, seu nariz fino poderia ser confundido com o de um humano terrestre, assim como suas orelhas levemente pontudas. Não tinha cabelo e sua boca quase humana, mostrava ao falar seus dentes pontudos e caninos levemente curvados para dentro, como presas de inseto.

Aldo imaginou que com capacete e óculos de proteção, o imperador não se diferenciaria de um alakrano qualquer... A não ser por seu ventre algo avultado.

Depois de um silêncio prolongado, Zorkala disse:

–Não pretendemos fazer nada com vocês dois. Você, capitão confederado não tem nada a temer. Não está aqui como inimigo. Está como Nosso hóspede.

Shiram suspirou aliviado, embora ainda desconfiado. Depois de outro intervalo de silencio Zorkala disse:

–Você, capitão raniano, também é Nosso hóspede. Você é uma raridade, representa um povo que já foi Nosso inimigo no passado distante, cuja extensão Nós não saberíamos explicar nas suas medidas de tempo.

–Serei objeto de estudo, então?

–Não. Você ouviu falar da Espada de Alakros?

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Continua em:A ESPADA DE ALAKROS

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O conto MEU PAI, EU PRESUMO? - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume V, Capítulo 40; páginas 53 a 56; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 03/06/2017
Reeditado em 03/06/2017
Código do texto: T6017249
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