O SENHOR DE TUDO

O Palácio.

Agora, voando por sobre a capital no carro aéreo com o capitão Lang, o capitão Shiram e dois guardas, Aldo ousou perguntar:

–Para onde vamos?

–Para o Palácio Imperial, capitão Aldo. Conseguimos uma audiência com o Grande Zorkala Alak 201, o Senhor de Tudo – respondeu o capitão Lang.

–Eu sou tão importante assim?

–Você é um raniano autêntico, descendente da raça que nos derrotou e representa o ressurgimento do Império Raniano.

–Ah! Sou perigoso! – disse Aldo, sardônico.

–Imagino que isso seja sarcasmo.

–Sim. Tento ser, mas estou preocupado.

–Não precisa se preocupar. A guerra terminou há muito tempo, não estamos pensando mais nisso. O Senhor de Tudo estará curioso para lhe conhecer.

–Mas vocês pretendiam fazer uma guerra contra a Suprema Confederação.

–É verdade, mas muitos de nós não estamos de acordo em combater tão longe de casa outra vez, como no passado.

–Fascinante – disse Shiram.

Aldo então compreendeu. Mas lembrou de algo:

–E o coronel Alan Claude Sarrazin? Por que não está conosco?

–Imagino que seus amigos o resgataram.

–Como?

–Difícil de explicar. Acho que foi uma abordagem subespacial. As naves de Djekal e Hung não retornaram com a esquadra.

–Ah!

Aldo estava mais aliviado. Sabia que Huáscar tinha muitos recursos, e isso o tranquilizava em parte.

–Chegamos. Desçam.

–Diga capitão, você tem ideia de qual será nosso destino? – disse Shiram.

–Francamente não. Está com medo?

–Um pouco. Sempre achei que vocês eram bárbaros.

–Engano seu.

*******.

O palácio de Zorkala era enorme, um edifício piramidal quatro vezes maior do que a maior pirâmide do Egito em altura e superfície.

Um grande número de seres atarefados se movimentava de um lado a outro, em calçadas deslizantes.

Aldo compreendeu que uma esfera de milhares, talvez milhões de planetas, devesse ser governada com astronômica burocracia.

O planeta Alakros Prime devia ser um mundo burocrático por excelência. E agora ele estava entrando no centro nervoso de um império galáctico super poderoso com uma idade superior aos trinta mil anos, pelo menos assim acreditava.

Depois de atravessar inúmeros corredores e antessalas, o grupo chegou até uma enorme porta dupla, custodiada por dois sólidos guerreiros blindados de uniformes diferentes aos dos astronautas.

As portas se abriram lentamente.

Entraram.

*******.

O Senhor de Tudo.

Era um enorme salão.

O chão era de pedra negra polida, ou assim parecia, para Aldo, com aqueles óculos infravermelhos. No extremo oposto à porta, em toda sua magnificência, estava o Trono.

Aldo lembrou esplendor similar quando visitou por primeira vez o palácio do Imperador Tao Rhamn-Sés, O Impiedoso, em Taônia.

Zorkala Alak 201 estava esperando com interesse, sentado no seu trono, rodeado de cortesãos, ministros e puxa sacos.

–Venham mais perto, humanos – disse com um gesto de mão aos outros para que se afastassem.

Aldo e Shiram aproximaram-se do trono.

O imperador os examinou com atenção por um longo minuto com seus olhos facetados em absoluto silêncio.

–Qual de vocês é o capitão confederado?

Shiram adiantou-se.

–Eu... Majestade. Sou Shiram Zagor de D’Har-Minh, capital da Suprema Confederação.

Após um silêncio, o imperador encarou o segundo humano:

–Então você é o raniano.

–Digamos que sim, Majestade. Sou Aldo Santos de Antártica, Terra, mundo conhecido como Ra-3.

Outro silencio.

–Fomos informados que o Império Raniano está ressurgindo. Isso é verdade?

–Sim, Majestade – disse Aldo – Está acontecendo uma Restauração e nosso soberano é o Imperador Tao Rhamn-Sés, O Impiedoso, descendente do último Imperador de Ran, Ramsés XVIII.

–Nosso antigo inimigo.

–Mas a guerra terminou, todos perderam. Ran foi destruído.

–E agora existe a Suprema Confederação.

–Sim. Mas estamos em paz com eles – blefou Aldo, extrapolando que nestas horas, o conflito deveria ter acabado.

Outro silêncio.

–E você, capitão confederado Shiram Zagor... Está em paz conosco?

–Não sei majestade – disse Shiram – fiquei sabendo recentemente que os alakranos Djekal e Hung estavam em Boral... Ra-2, organizando um ponto de apoio para nos atacar. Mas foram derrotados por um humano de Ra-3.

–E onde eles estão agora?

O capitão Lang interveio:

–Acreditamos que foram mortos ou capturados pelos humanos.

Outro silencio.

–Então a ameaça de guerra não existe mais – disse o Imperador.

–Por enquanto – disse Aldo – até vocês começar de novo, já que têm bases na anomalia de Shaula, no nosso quadrante. Ainda considero vocês uma ameaça.

Desta vez o silencio foi mais prolongado.

Finalmente o soberano disse:

–Vamos pensar nisso outra hora.

Shiram, muito nervoso perguntou:

–O que pretende fazer conosco?

*******.

30 de setembro de 2022 (220930)

–Estamos chegando – disse Huáscar – faltam poucos parsecs e estaremos lá. Essa estrela aí na frente é a última luminosa antes de chegar.

Nos dez meses desde que saíram da anomalia, os tripulantes tiveram longas conversas, intercaladas com treinamentos, aprendizados e diversão.

Alan estava curioso sobre como Pacha e Huáscar conheciam tanto sobre o Quadrante Delta.

–Simples Mestre Alan – disse Pacha – nossa Amarna antes era a 8807, nave de incursão e ataque. Viemos ao quadrante delta para escoltar as naves de Djekal e Hung e indicar o caminho a Boral. Eles nunca antes tinham estado no nosso quadrante.

–Claro, devia imaginar.

–Por isso conhecemos alguns mundos que mais adiante podem ser úteis para nossa missão.

–Estiveram no planeta Alakros?

–Brevemente, a maior parte do tempo em órbita – disse Huáscar – para receber alguns soldados.

–Interessante.

Muitas informações sobre o império alakrano Huáscar e Pacha passaram para Alan e agora ele podia elaborar planos.

E agora, dez meses depois, estavam próximos do centro do império.

–Daqui em diante estaremos cegos – disse Pacha – o sol infravermelho de Alakros com seus planetas gira ao redor de uma estrela vermelha de mínima magnitude, numa órbita enorme, e sua luz mal chega a Alakros Prime.

–Isso me preocupa – disse Alan – fora o tempo perdido para nos reunir com a Hércules e a Desafiante.

–Era necessário, Mestre Alan.

–Sei disso.

–Pacha, sair de dobra! – ordenou Huáscar!

Logo as três naves que conseguiam perceber-se no imponderável, mas não comunicar-se, a não ser por sinais luminosos, saíram de dobra quase ao mesmo tempo antes de chegar à estrela à frente.

De repente, Iara, monitorando o reinicio das comunicações disse:

–A Hércules e a Desafiante estão chamando, Alan.

–Na tela.

Logo a imagem na tela foi dividida em dois, com Boris e Lilla Henna de um lado e Nahuátl e do outro.

–Alan, como vai fazer para chegar? – disse Boris – Se desembarcarmos aí todos estaremos cegos, sem contar que eles vão querer nos matar!

–Sou da mesma opinião – disse Nahuátl – Só você tem óculos infravermelhos.

–Calma! Meus óculos não são tão misteriosos assim... Acho até que Valerión pode reproduzi-los.

–Permita-me uma opinião – disse Inge aparecendo na tela – eu tenho mais interesse nisso que todos vocês juntos.

–Não é verdade, Reverenda – disse Alan – todos estamos nisso.

–Desculpe Alan, não foi a Reverenda que falou, foi a esposa.

–Está desculpada. Fale.

–Não acredito que meu marido corra perigo imediato, não sinto isso. Não teriam se tomado o trabalho de trazê-lo aqui se fosse para matá-lo.

–Tem lógica – disse Lilla Henna.

–Claro – disse Inge – Temos bastante tempo de planejar. Temos viajado quase dois anos desde Alfa Centauro para chegar aqui, mas Aldo deve estar lá há poucos dias, conforme os cálculos de nosso piloto.

–Verdade – disse Huáscar.

–Então vamos procurar um planeta classe Etar para descer, abastecer oxigênio e procurar materiais para fazer os óculos, caso não haja a bordo.

–Estamos a dois parsecs de um – interveio Pacha.

–Colônia alakrana; presumo – disse Alan.

–Sim, mas não haverá problema – disse Huáscar – Alakros não é tão fechado assim. Podemos descer como simples viajantes. Estes mundos luminosos são apenas estações de escala... E não esqueça que a Hércules e a Amarna são naves xawareks.

–E como explicamos a Desafiante? – disse Alan – É uma nave confederada!

–Não se preocupe Mestre Alan. Eles devem imitar todo o que nós fizermos.

–Se você o disse...

*******.

Continua em: MEU PAI, EU PRESUMO?

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O conto O SENHOR DE TUDO - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume V, Capítulo 40; páginas 50 a 52; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

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Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 31/05/2017
Código do texto: T6014629
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