ALGO DEVIA DAR ERRADO
29 de outubro de 2021 (211029)
Novamente a bordo da Amarna, Alan foi apresentado ao seu pequeno filho Alan Linx-El, Zenkner Sarrazin, Baharnum de Amaru Xel, belo e saudável bebê de apenas dez meses de idade.
Iara estava que não cabia em si de felicidade.
Depois do efusivo recebimento por parte de todos os amigos, Alan estava bem animado, mas não podia deixar de pensar em Aldo, ainda prisioneiro dos alakranos.
–A esquadra alakrana seguiu em frente, com a Hércules e a Desafiante em perseguição, Mestre Alan.
–A Desafiante? Meu pai está a bordo?
–Sim. Eles não têm como saber que você foi resgatado.
–Vamos atrás, Huáscar. Aldo e Shiram estão na nave de Hung.
–O que vamos fazer com a nave alakrana, Mestre Alan?
–Está muito destruída? Por dentro está um desastre...
–Só por dentro – interveio Atha – ainda pode entrar em dobra.
–Claro – acrescentou Tanaka – os incêndios foram apagados. Capturamos e desarmamos cinquenta e cinco prisioneiros. Estão sendo vigiados pelos xawareks xelianos no compartimento de carga. E também jogamos oitenta mortos ao espaço.
–Tivemos baixas?
–Sim, coronel, apenas onze feridos. Três marcianos, dois samurais e seis boralianos. Mas não se preocupe; nada grave apenas contusão e fraturas.
–A doutora Gates Henna está cuidando deles – disse Iara.
–Que bom. Onde estamos Huáscar?
–Pacha?
–Perto da estrela 539, marco 1.539-0.59 Lican – respondeu o piloto.
–Nunca ouvi falar.
–É a estrela Dschubba, Delta do Escorpião, segundo os mapas terrestres.
–Há mundos?
–Oito planetas, Mestre Alan.
–Podemos deixar os prisioneiros aí?
–Há um planeta habitado da classe Etar, grande e luminoso, a menos de um parsec daqui, Lican-4, com várias luas desertas e sem ar. Os alakranos vão ter que se virar para suportar toda essa luz.
–Habitado?
–Sim, mas atrasado, tipo Zhoropak. Os nativos o chamam de A’Harghel. Eles são hostis com estranhos, mas devem ser inofensivos para estes alakranos durões.
–E a nave?
–Podemos deixá-la numa das luas sem ar. Eles não terão como pegá-la.
–Então vamos nos mexer Pacha! – disse Alan – Ah...! Outra hora eu vou querer saber como é que você sabe tanto sobre esse planeta!
–Sim, Mestre.
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Depois de desembarcar os cinquenta e cinco alakranos em A’Harghel, mundo luminoso e quente; os deixaram com todos os mantimentos de boca estocados na nave, armas brancas e algumas pistolas phaser numa região desabitada, uma região com espessa selva e cursos de água cristalina.
Sua nave foi abandonada na lua mais afastada do planeta, uma lua sem atmosfera com grandes crateras. Em uma delas a nave só seria encontrada por acaso, já que todos os sistemas foram desligados.
A maioria do armamento e as armaduras foram confiscadas pelos terrestres da tripulação comandados por Tanaka. Talvez fossem úteis no futuro.
–Oportunamente voltaremos para resgatá-los – disse Alan.
–Como quiser – disse Huáscar.
Sem mais perda de tempo, a Amarna partiu em perseguição da frota alakrana, muito adiante em seu curso rumo à anomalia de Shaula, na esperança de resgatar o capitão Aldo.
–Será que os alcançamos? – perguntou Alan.
–Fiz algumas modificações no motor de dobra, Mestre Alan – disse o engenheiro chefe Irco Anahuac – poderá atingir dobra nove em pequenos saltos de alguns minutos padrão.
–Vocês todos são maravilhosos – disse Alan com absoluta sinceridade, ainda emocionado por ter conhecido seu filho, tendo chegado a pensar que morreria de velho em Alakros.
–O senhor também é – disseram varias vozes nascidas em mundos diferentes.
*******.
10 de novembro de 2021 (211110)
Com Alan de pé junto à poltrona de Huáscar e o piloto navegador Pacha nos controles; logo conseguiram alcançar com breves saltos em dobra nove à esquadra alakrana quando faltavam apenas horas para entrar na fenda espacial à frente.
Já tinham ultrapassado a Hércules e a Amarna, que ainda assim, prosseguiam em frente em saltos em dobra oito e meio.
–E agora, Mestre Alan? Não há como saber qual é a nave de Hung?
–A terceira do segundo grupo, Huáscar. Eu vi quando Aldo e Shiram eram embarcados. Aquela com salva-vidas em forma de ferradura.
–Ferradura?
–São umas coisas que usam os cavalos lá na Terra, Huáscar.
–Cavalos.
–São uns animais que... Ah! Deixa pra lá...! Alan para Mestre Atha!
–Prossiga.
–Prepare as equipes de abordagem, desta vez irei comandá-los!
–Será uma honra, Mestre Alan!
–Armaduras de combate a todos! – ordenou Huáscar, e acrescentou:
–Pacha! A terceira do segundo grupo! Vamos encima!
–Interpenetrar?
–Não. Vamos pegá-los de surpresa.
*******.
Logo de repetir as manobras empregadas para prender a nave de Djekal, Huáscar e Pacha conseguiram prender firmemente a nave de Hung, na qual já sabiam que era tripulada por mais de cem alakranos.
Apesar de seu maior número, mais fortes e melhor armados, foram pegos de surpresa, já que não esperavam ser abordados.
Assim que o tubo de abordagem ficou preso, os sapadores abriram um buraco à bombordo da nave inimiga e os grupos de abordagem foram entrando um detrás do outro, a sangue e fogo.
Com Alan no comando, os tripulantes estavam confiantes e ferozes.
Os sirianos rugiam, os marcianos entoavam cânticos guerreiros, os samurais davam gritos de guerra, e os boralianos riam deles todos, enquanto iam deixando morte e destruição por onde passavam.
De repente, Huáscar radiou:
–Mestre Alan, complicações!
–O que houve?
–O capitão Aldo não está mais a bordo! Foi levado num salva-vidas, junto com outro prisioneiro!
–Maldição! – gritou Alan no radio – Atenção, tropa! Voltar!
–Agora? – protestou Tanaka – os tigres pegaram o comandante!
–Hung? Levem-no para a Amarna de imediato e ativem a autodestruição!
–Como se faz? – perguntou Tanaka.
–Mestre Atha conhece os procedimentos!
–Ouvi Mestre Alan. Farei o que manda.
–Todos os demais, voltar!
*******.
O poderoso salva-vidas alakrano, com capacidade de dobra, tinha forma de ferradura, para ajustar-se ao contorno da nave, cada uma delas tinha pelo menos cinco, com capacidade para vinte tripulantes.
Apenas voltaram a bordo Alan e seu grupo, quando Pacha anunciou:
–O salva-vidas entrou em impulso máximo!
–Curso?
–Para a anomalia, capitão.
–Vamos atrás antes que entre em dobra!
De repente outra nave se juntou a ele, uma pequena nave de caça, e juntos entraram em dobra.
–Djekal! – disse Alan – Só pode ser ele!
–Pacha! Dobra oito, atrás deles! – disse Huáscar.
Logo os foram alcançando aos poucos, quando estavam chegando perto do último cruzador da esquadra.
–Pretendem abordar – disse Huáscar – estão interpenetrando.
–Mas não podem – disse Pacha – Terão que sair de dobra.
–Atenção! – disse Huáscar – Já vão sair de dobra. Pacha?
–Estou acompanhando.
O cruzador alakrano e o salva-vidas saíram de dobra ao mesmo tempo, e Pacha conseguiu voltar ao espaço normal microssegundos depois.
–Nos viram?
–Não capitão. Ainda estão ocupados fazendo a transferência dos prisioneiros para o cruzador. Mas logo seremos vistos.
–Djekal ainda não conseguiu passar a bordo – disse Alan – ele está ancorado.
–Não deve ter lugar no hangar – disse Atha – vai demorar.
–O que esperamos para abordá-los? – perguntou Iara desde sua cabine.
–Que completem a transferência – disse Huáscar.
–Agora estão distraídos – disse Pacha – soltaram o salva-vidas vazio e vão transferir o caça.
–Vamos, é o momento – disse Huáscar.
Mas algo devia dar errado.
De repente duas naves saem de dobra, com toda a comoção correspondente.
–A Hércules e a Desafiante! – disse Pacha.
Com isso os alakranos assustam-se e entram em dobra, deixando Djekal para trás, no maior desespero.
–Estragaram tudo – disse Atha.
–Não tudo está perdido – disse Alan – vamos pegar Djekal!
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A pequena nave de caça não era rival para o raio trator da Amarna. Após breve luta o caça interestelar estava preso dentro do enorme hangar junto com os aviões de caça da nave.
Djekal rendeu-se perante o grande número de tripulantes armados que o rodearam, assim que desceu da sua navezinha. Logo foi conduzido a uma cela especial, bem escura, onde já o esperava Hung.
Ainda assim, essa semipenumbra era torturante para eles, que foram privados dos seus óculos de proteção.
–Não têm como escapar – disse Huáscar – o corredor está iluminado e eles o sabem. Além do mais sempre haverá duas sentinelas na porta.
–Claro.
–Qual é o plano, Alan? – perguntou Iara.
–Vamos trocar prisioneiros.
–Será que vai funcionar?
–Tarde demais – disse Pacha – a esquadra acaba de entrar na anomalia!
–Droga!
–Só podemos fazer uma coisa, Mestre Alan.
–Sim. Muito bem, Huáscar, vamos para Alakros!
–Pacha! Vamos entrar!
–Sim capitão.
A Amarna entrou em dobra, seguida pelas outras duas em direção à fenda espacial que os levaria para o outro lado da galáxia, para o Quadrante Delta.
Para o coração de Alakros!
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Continua em: O REINO DAS TREVAS.
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O conto ALGO DEVIA DAR ERRADO - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume V, Capítulo 40; páginas 45 a 48; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:
http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-
paralelos-uma-epopeia.html
O volume 1 da saga pode ser comprado em:
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