MERCENÁRIOS DAS ESTRELAS
Taônia. 26 de maio de 2021 (210526)
Vinte enormes naves de transporte de tropas atingiram a última etapa da veloz gira pelo nosso Sistema Solar, conhecido pelos alienígenas como Sistema Ra.
A gira de recrutamento começou em Boral, Antártica, Marte, Hiperbórea e agora em Titã. Havia mais de dois mil soldados, entre humanos troianos, hiperbóreos, taonianos e terrestres; tigres xelianos de Japeto e marcianos, todos impacientes para guerrear nas estrelas.
Hoje se preparavam para partir para Alfa Centauro.
Os antárticos estavam comandados por um velho guerreiro do Esquadrão Shock chamado Ulisses Schmidt, companheiro de armas do Lorde do Espaço em antigas batalhas no século XX, há mais de 50 anos, e posteriores no Esquadrão, em luta contra a ditadura.
Tikal Henna soube disso quando o encontrou em Marte e o convidou a treinar seus filhos nas artes de guerra terrestres. Se ele era um guerreiro tão terrível como seu sogro, então era o mestre indicado para iniciar seus filhotes na guerra.
Apenas faltava a benção do Imperador Tao, o Impiedoso, para que partissem para a Guerra nas estrelas.
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Erspak, 31 de maio de 2021 (210531)
A chegada da frota terrestre com Tikal Henna no comando foi rápida. Ainda que em dobra oito, que exigia demasiado às nacelas; existia o recurso do salto intermitente, que permitia que elas esfriassem dois minutos, o suficiente para serem recarregadas e energizadas para novo salto.
Para não perder tempo nos cinco dias da viagem, os tigres tinham começado o treinamento dos humanos e marcianos nas naves de transporte.
Uma vez na órbita de Erspak, o treinamento tornou-se prático, nas naves de guerra. A tigresa procurava manter-se ocupada na coordenação de todo e de todos para esquecer seu drama.
As cento e cinquenta belonaves confederadas da classe Patrulha e Ataque, de sessenta metros de comprimento e cinco de diâmetro com duas nacelas de dobra eram fáceis de pilotar.
Nestes séculos todos, a tecnologia dos confederados tinha evoluído bastante, eram navezinhas encouraçadas, bem duras, equipadas com escudos duplos bem resistentes.
Estavam armadas com quatro bancos phaser multidirecionais, dois tubos de torpedos fotônicos na frente e dois atrás, totalmente automáticos e só precisavam de um piloto, um copiloto, um engenheiro e um artilheiro.
O reator de dobra era bem seguro, pequeno e simples; fácil de manipular por apenas um tripulante. As naves conseguiam atingir dobra 5.5 em cruzeiro e 8.0 no máximo, em salto intermitente; com raio de ação de 79,75 parsecs, ou 260 anos luz.
A navegação em dobra, telemetria, defesa e diário de bordo, estavam a cargo de um pequeno e funcional robô positrônico astro-mecânico em forma de cilindro, com cabeça, pernas e braços retráteis; embutido num nicho na ponte, mas sempre pronto para agir em emergências, como um tripulante a mais, inclusive para pilotar a nave sem ajuda, até por que podia falar e comunicar-se com o sistema da nave.
Com isso estava facilitada a labor do piloto, permitindo concentrar-se apenas no combate, enquanto o copiloto se ocupava dos manobradores e da antigravitação e o artilheiro do ataque, embora tudo na nave pudesse ser controlado nas emergências apenas com o piloto e o robô astro-mecânico.
Os filhotes de Tikal Henna participaram em todos os tipos de treinos. Jovens e inteligentes, ambos aprenderam rapidamente noções de pilotagem e combate espacial na prática.
Como o pai deles anos atrás, aprenderam logo as nove artes da luta corporal honrada e o manejo das sete lâminas mortais.
Na luta corpo a corpo o já enorme Alan Junior, que herdara a ferocidade da mãe e a truculência do pai, assim como sua irmã; derrotou alguns guerreiros mais velhos; e a belicosa jovem Naia Henna, feroz, apesar de seu menor tamanho, tinha a força de dez humanos e conseguiu derrotar tigresas mais velhas.
Ulisses Schmidt, o humano mais velho, aprendeu a lidar com sua nave de dobra com ajuda da sua nova amiga, engenheira da Empreendimento, a tigresa Belan Henna, que foi contando a ele as novidades dos últimos anos, a medida que o trabalho em conjunto os aproximava.
Logo eles já confiavam um no outro, ainda mais que Ulisses sabia pela própria mãe dos seus jovens discípulos que eram filhos de Alan Claude, e netos de seu velho camarada Martin, o atual Lorde do Espaço, o que o fez se interessar pela educação deles.
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Erspak, 19 de junho de 2021 (210619)
Finalmente, a frota estava pronta para partir à Guerra nas Estrelas.
As cinquenta naves de transporte militar estavam equipadas com quatro carros de combate, mantimentos, munição e quatro batalhões de 90 soldados, armados com todo tipo de armas confederadas, xelianas e terrestres.
Cada uma das cento e cinquenta navezinhas da classe Patrulha e Ataque tinha capacidade para trinta soldados de desembarque, além dos quatro tripulantes.
Desde Erspak, subiam mantimentos, combustível, armas e munição, pagos em ouro marciano pelos terrestres, com o que os nativos, começaram a simpatizar com os alienígenas que um dia chegaram a temer.
Quando estavam prestes a partir, o espaço imediato se convulsionou com uma possante belonave saindo de dobra.
Era a Quetzalek do almirante Chavim.
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–Não é justo deixar você para trás numa batalha gloriosa, capitão Mokvo.
A reunião a bordo da Quetzalek entre Chavim, Kern Mokvo e o capitão reptiliano G’Hekoo; contava com a participação de Ulisses Schmidt e Tikal Henna.
–Portanto – prosseguiu o almirante – você partirá ao mando da frota para Xawarek Amaru e ficará ao seu critério acabar com os focos de rebelião em Xante, onde fui informado que ainda há dominions incentivando os xanthereks.
–Eles têm naves?
–Não. Consta-me que você destruiu todas quando combateu lá.
–Cortei a saída deles. Há tempo ainda para exterminá-los.
–Fica ao seu critério. O capitão G’Hekoo ficará em Erspak, protegendo o planeta no seu lugar.
–Muito bem. Começarei invadindo Xawarek Amaru, acabarei com os traidores e acabarei com a infestação dominion.
–Como desejar.
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Tikal Henna assumiu seu posto na Empreendimento e partiu na frente da frota. Ela confiava que Alan seria encontrado pelos amigos. Isto a confortava.
O combate serviria para fazê-la esquecer de seu drama e descarregar sua adrenalina.
Seus filhotes passaram para a nave de Ulisses, onde receberiam seu batismo de fogo. Até esse momento apenas tinham participado das batalhas em Xante, como simples grumetes a bordo da Empreendimento, desta vez lutariam no solo, em Xawarek Amaru.
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Xawarek Amaru,
30 de junho de 2021 (210630)
A luta no solo começou particularmente violenta. Os terrestres desembarcaram a sangue e fogo em volta das cidades ainda dominadas pelos parasitas dominions. Os nativos, dominados pela propaganda dos parasitas, lutaram bravamente, defendendo seus algozes, enquanto os terrestres combatiam pelas ruas, casa a casa, tomando posições e estabelecendo fortificações.
Os xelianos preferiam usar as lâminas mortais, em detrimento das armas de energia. O sangue vermelho xawarek e o amarelo dominion correram como água pelas ruas das cidades em chamas.
No espaço, as naves da frota combinada mercenária e xeliana derrotaram em pouco tempo a frota de defesa xawarek, que teve que retirar-se da órbita do planeta para reorganizar-se nas luas e nos outros planetas do sistema.
–Se ainda tivessem um mínimo de Honra Xawarek teriam combatido até a última nave, até o último guerreiro – disse o capitão Kern Mokvo, enojado – fugiram como xawas, como covardes!
–Vamos desembarcar os soldados das naves de patrulha e ataque para reforço das tropas de solo, capitão Mokvo – disse o almirante Chavim desde o cruzador Quetzalek – nós vamos ficar em órbita para bloquear o planeta.
–De acordo – respondeu Mokvo desde a Empreendimento.
Logo as pequenas naves foram tomando posições nas zonas dominadas pelos humanos e xelianos, e desembarcando tropas descansadas.
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Batismo de fogo.
Ulisses e seus soldados desembarcaram perto da capital, deixando a nave a cargo do robô e foram em apoio dos taonianos, inferiorizados até pela gravidade 1,5 G do planeta, começando uma barragem de fogo contra os defensores.
No grupo estavam Hans “Rojo” Walther e Arnold Simon, dois pilotos, mercenários terrestres antárticos do Esquadrão Shock, de origem australiana; que anos atrás retornaram de Marte para lutar na guerra contra a ditadura terrestre, assim como seu amigo Ulisses.
Os gêmeos, como um só, lutaram com toda sua selvageria contra o inimigo, correndo e atirando, degolando, queimando; marchando na frente dos trinta tripulantes e do seu mentor Ulisses, cada vez mais surpreso perante a coragem e selvageria dos netos do seu velho amigo Martin, o Lorde do Espaço.
A luta durou vários dias, e finalmente conseguiram tomar a capital.
Desde seu cruzador no espaço, o almirante Chavim, radiava sua propaganda contra os parasitas dominion.
Isto foi suficiente para que o povo, cansado de guerra e cansado da insidiosa dominação dominion, se rebelasse contra o governo e contra os parasitas.
O líder Tupac, fugiu da cidade com um grupo de soldados leais, agora não tão leais, mas com algum resquício de honra.
Os mercenários das estrelas entraram na cidade, festejados como libertadores e levados a um coliseu de lutas, onde mais de três mil dominions sobreviventes dos massacres, foram aprisionados pelos xawareks nativos.
–O que vai fazer com eles? – disse Ulisses ao comandante xeliano – Matá-los?
–Não seria honrado – respondeu o tigre.
–Ao inferno com a honra de vocês! – gritou Rojo, o piloto terrestre – Vamos mata-los todos agora mesmo!
–Não seria honrado – insistiu o comandante xeliano.
–Eu conheço a história dos ariones e os dominions – disse o terrestre – e vocês também conhecem!
–Sim, todos a conhecemos...
–Então sabe que só há uma solução – disse Rojo – Homens! Preparar!
Dito isto ele e seu grupo de humanos começaram a atirar nos prisioneiros com seus phasers em carga máxima.
Arnold e seu grupo logo se somaram aos atiradores com seus phasers e fuzis marcianos, desintegrando cada um dos parasitas pouco a pouco; num massacre que durou quase meia hora, e terminou com um monte de cinzas na arena do coliseu e um cheiro horrível de carne queimada.
–Agora vocês estão livres, por primeira vez em milhares de gerações – disse Ulisses – mas ainda restam muitos no planeta.
–Talvez consigamos apoio dos xawareks – disse o comandante xeliano – agora acabou o medo.
–Vamos conseguir – disse Rojo – ainda temos muita luta pela frente.
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31 de agosto de 2021 (210831)
Nos dois meses seguintes as batalhas estenderam-se por todo o planeta.
A guerra civil, libertadora se prolongaria por cinco anos, e chegaria aos restantes planetas do sistema, inclusive aos planetas e luas do segundo sol, onde lutaram Mokvo e Tikal Henna a bordo da Empreendimento entre 190420 e 210317.
As batalhas no segundo sol ainda continuavam na lua Xantherek do gigante gasoso Xante, onde habitava uma espécie diferente de felinos humanoides, mais parecidos com leopardos, muito pacíficos e agora transformados em guerreiros, para liberar seu mundo da infestação dominion.
Os mercenários logo partiriam para lá, mas antes era preciso liberar o lar dos xawareks. E tudo indicava que seria demorado.
Ao cair a capital e Tupac fugir, os nativos ficaram encorajados a colaborar com os libertadores e entregar os parasitas escondidos.
Cidades e aldeias foram caindo aos poucos e os massacres de parasitas foram repetindo-se com mais frequência.
Os xawareks agora os capturavam e os torturavam no caminho para campos de concentração; campos outrora mandados construir pelos mesmos parasitas para aprisionar e torturar dissidentes de Tupac.
Agora os aterrorizados parasitas dominions, com suas fêmeas e crias, eram prisioneiros desses mesmos campos onde antes torturavam o povo.
E desta vez não apareceria ninguém para defendê-los.
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Continua em: O RESGATE DE ALAN.
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O conto MERCENÁRIOS DAS ESTRELAS - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos® – Fase II - Volume V, Capítulo 39; páginas 34 a 38; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:
http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html
O volume 1 da saga pode ser comprado em:
clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1