ZHOROPAK
Um mundo pós-apocalíptico.
Outrora foi grande e poderoso; na época do Império Raniano; há 10.400 anos terrestres. Sua capital era Zhoro, um centro de arte e cultura; hoje transformada em ruínas vitrificadas, ainda radiativas, por causa dos violentos combates entre Ran e seus inimigos, quando a civilização terrestre ainda não tinha história escrita.
Hoje, Zhoropak é um planeta atrasado, medieval.
Ainda que considerado um planeta da classe Etar, com gravitação 0,95G; é um mundo poeirento e seco em grande parte. Tanto no sul como no norte, há épocas de chuvas, épocas de tormentas de pó, o clima é completamente hostil em boa parte dele, apenas a zona equatorial é mais seca.
O planeta tem duas luas que exercem influencia na sua rotação irregular e pela gravitação dos sóis, o que não acontece com Erspak, mais distante. Os nativos da região desértica usam grossas capas e roupas de tecido rústico para evitar a desidratação, e os rostos cobertos com capuzes.
Humanoides atléticos, brancos de pele bronzeada, montam velozes e fortes asgoths, e alguns, aparentemente guerreiros, em estranhas aves corredoras do tamanho de um cavalo, de pescoços grossos que denominam blenfas, na língua raniana que falam com estranho acento.
Alguns portam espadas.
São nômades que seguem seus rebanhos de woks entre o deserto e alguns oásis espalhados com bastante vegetação e árvores baixos. Pela noite de quinze horas padrão, reúnem-se ao redor das fogueiras para combater o frio de um ou dois graus negativos, contando histórias de caçadas, caravanas, combates e viagens, enquanto uma fina capa de geada cobre tudo.
De cima, Aldo e Alan observaram as ruínas radiativas de Zhoro, viram algumas cidades fortificadas e algumas aldeias na região boreal. Também viram uma cidade amuralhada com um porto de mar, com barcos de vela ancorados, com uma ilha a poucos quilômetros da costa com uma cidadela de pedra e um cais com navios de vela.
De repente, sobrevoando a região equatorial, Aldo indicou um ponto no meio de um deserto com vegetação rala, um oásis onde algumas palhoças espalhadas e um rebanho de woks indicavam que se tratava de pastores.
–Esse é um lugar tão bom como qualquer outro para descer, Alan.
–De acordo. Vamos precisar óculos polarizados, a luz é forte demais.
*******.
Assim que o pó se assentou, os terrestres desceram da patrulheira. Pouco tempo depois se aproximou meia dúzia de nativos montados em asgoths e blenfas, com as capas agitadas ao vento cálido.
Um deles, uma bela mulher; armada de espada e armadura, com aparência de guerreira; desceu da sua blenfa e adiantou-se:
–Saudações, forasteiros! Mim Aruen A'nex, guerreira de Purana – disse em raniano rústico, seguindo o protocolo – O que desejar?
Alan respondeu conforme o protocolo:
–Salve guerreira Aruen A'nex de Purana! Sou Alan, Baharnum de Xel Amarna. Meu amigo Aldo, Senhor das Terras Frias de Taônia e eu queremos saber se vocês viram outras naves voadoras por aqui.
–Noticias mensageiro puraniano chegar Marka. Nave confederação cidadela ilha Apu-Marka, norte. Vinte noites asgoth, cinco noites blenfa. Mim indo lá.
–Não somos da confederação – disse Aldo.
–Usar olhos pretos. Ser Alakros?
–Não – respondeu Alan – não somos Alakros.
–Verdade – disse outro nativo – Roupas diferentes. Não Alakros.
–Sabe onde estão os alakranos?
–Não saber. Querer encontrar confederação em Apu-Marka. Mim partir Marka agora. Não gostar Alakros. Ser sem educação.
Um nativo de barba ruiva, desmontou do seu asgoth e aproximou-se:
–Alakros acampados vale seco além-montanhas altas. – disse, indicando uma direção ao sul – três naves voadoras Alakros.
–Obrigado – disse Aldo – Vamos, Alan?
–Vamos.
Abordaram a patrulheira enquanto os nativos se afastavam e a guerreira nativa, com a sua capa esvoaçante ao vento, partia para o norte na sua blenfa, ave corredora surpreendentemente veloz, quase como um cavalo terrestre.
Após a decolagem, Aldo disse:
–Computador! Ligar a camuflagem!
–Camuflagem ligada.
–Interessante essa guerreira, Aldo.
–Você já não tem esposas demais?
–Só comentei, Aldo.
*******.
Os alakranos.
Os dois terrestres estavam ao borde de uma das montanhas da cordilheira numa espécie de pequeno planalto, espreitando pacientemente com seus binóculos.
O frio da noite levantava uma névoa espessa que cobria todo o vale. Acima, as luas ainda não tinham assomado e as estrelas brilhavam em todo seu esplendor e beleza; que os homens não apreciavam, por estarem habituados ao espaço.
A patrulheira de Aldo estava algumas centenas de metros atrás para não ser vista desde abaixo. Apesar de ocultos pela névoa, três cruzadores de incursão alakranos estavam pousados no meio do vale. Com os binóculos infravermelhos, Alan e Aldo conseguiam ver as atividades dos tripulantes, transferindo carga de uma nave para outras duas.
–Não fosse pela ajuda dos nativos, nunca os acharíamos – disse Aldo – estavam camuflados até para os nossos sensores.
–Parece que duas vão partir – disse Alan – Os tripulantes embarcaram.
Logo as duas naves decolaram e aceleraram rumo às estrelas, enquanto a terceira não dava sinais de atividade, com suas escotilhas abertas e escuras.
–A nave está às escuras, Alan – observou Aldo.
–Normal, Aldo. Seu sol é infravermelho. Eles enxergam melhor no escuro, com seus óculos infravermelhos. A luz queima seus olhos facetados.
–Seu mundo deve ser de trevas.
–Vamos esperar até o amanhecer – disse Alan – de noite eles estão na maior atividade. Se quisermos atacar de surpresa, devemos esperar os dois sóis.
–Entendi. De dia é luz demais até para nós. Ainda temos quase quinze horas de escuridão. A rotação do planeta é de pouco mais de trinta horas.
–Temos umas quinze horas ou menos, para dormir um pouco, Aldo. Faz horas que estamos acordados vigiando.
–Vamos dormir na patrulheira – disse Aldo – o alarme vai nos acordar assim que aclare o dia.
*******.
O despertar foi violentíssimo.
Ainda não tinha amanhecido, e as luas estavam altas, quando a patrulheira foi cruelmente sacudida por explosões.
O sistema anunciou:
–Alerta vermelho! Escudos caíram!
Aldo pulou do beliche com sua pistola em mão.
–Acorde, Alan, às armas! – disse Aldo, enquanto corria já à sala de mandos.
Não chegou. Um disparo de phaser destruiu a proa da nave provocando uma pavorosa detonação no combustível dos freios.
Ambos os homens se salvaram porque dormiam com armaduras de combate completas e capacetes.
–Vamos sair daqui, Aldo, a nave está perdida!
–Vai explodir, Alan! Vou desligar o reator antes que não seja mais possível, senão vamos desaparecer junto com esta montanha!
Aldo correu para a popa no meio das chamas e entrou no compartimento de motores, desligando a antimatéria e o reator atômico. Em seguida os homens pularam fora da nave voando com seus impulsores para enfrentar o inimigo.
No ar, um astro caça alakrano dispunha-se a dar mais uma passada para disparar de novo. Em seguida, o combustível fez a patrulheira explodir.
–Para o vale, Aldo! Temos que atacar os bandidos de qualquer maneira!
*******.
O encontro.
Voaram em direção ao acampamento inimigo armados com suas pistolas, decididos a enfrentar trinta alakranos fortes como rochas.
Na hora, meia dúzia de inimigos voando com retrofoguetes dos cinturões os interceptaram atirando com phasers e, atingidos de cheio, eles caíram. As armaduras os protegeram de maiores danos e logo reagiram.
Após uma desigual luta corpo a corpo, os terrestres foram literalmente arrancados das suas armaduras e levados à presença do comandante alakrano:
–Muito bem, confederados – disse o comandante em raniano – lutaram com valentia. Gosto disso. Vamos conversar.
Alan ficou mudo de surpresa. À luz das luas, as silhuetas dos gafanhotos projetavam-se ameaçadoras. O comandante inimigo cravou seus olhos cobertos pelos óculos pretos no coronel Alan:
–Não podem existir dois iguais! – disse – Coronel Alan Claude Sarrazin, da Suprema confederação!
–Eu mesmo, Governador Djekal – disse Alan.
–Achei que tinha morrido nas garras do tenente Tron, coronel.
–Foi exatamente ao contrário, Governador. A cabeça de Tron ainda deve estar apodrecendo encima do poste onde a espetei.
–Tron sempre foi muito afobado, coronel.
–Sim, concordo. Isso o perdeu.
–Os deuses foram generosos com você; coronel. Estou sinceramente aliviado de saber que sobreviveu... Apesar de que sua rebelião nos custou Boral.
–Às vezes se ganha, às vezes se perde, governador.
–Você é uma criatura valente, coronel, não merecia morrer. Tenho pensado nisso todo este tempo com certo remorso. Agora estou em paz com minha consciência. Como disse antes, estou aliviado com sua sobrevivência.
–Também tenho pensado em você, governador, achando que já tinha retornado ao seu quadrante.
–Tive algumas dificuldades que atrasaram minha partida, coronel. Seu colega confederado, o capitão Shiram me interceptou aqui perto e tive que combater. Ganhamos e ele agora é meu prisioneiro. Sua nave e tripulantes estão orbitando uma dessas luas, tentando consertar os danos. Vão conseguir, mas vai demorar.
–Ainda bem.
–Mas... Coronel, não vai me apresentar seu amigo?
–Claro, Governador! Este é o capitão Aldo... Capitão, este é o governador... Aliás... Ex-governador Djekal de Boral.
–Não digo que é um prazer – disse Aldo, ainda confuso por toda essa conversa de compadres – mas finalmente lhe conheço, governador. Ouvi falar muito de você.
–Espero que não seja algo desabonador.
–Foi sobre sua clemência com o coronel Alan. Você salvou a vida dele.
–Que bom. Sim, foi isso. Ele não merecia morrer daquela maneira... Por isso eu não podia permitir... Mas já teremos mais tempo para conversar a bordo. Minha nave já está esquentando os motores para zarpar.
–Para onde vamos? – disse Aldo estremecendo.
–Para a Metrópole.
–Metrópole?
–Sim. Vamos para Alakros.
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A bordo na nave alakrana, os gafanhotos tiraram seus óculos.
Aldo e Alan nada enxergavam na luz infravermelha. Não estavam confinados na sua cabine que compartilhavam com o capitão Shiram; iluminada fracamente com uma luz amarelada, afinal não havia para onde fugir, no resto da nave escura.
Após a partida, Djekal com seus olhos facetados cobertos com seus óculos pretos, entrou na cabine dos terrestres:
–Meus camaradas providenciaram três pares de óculos para vocês poderem enxergar no nosso mundo quando cheguemos.
–Muita gentileza sua – disse Alan.
–Também resolvi transparentar a frente da sala de comando para que vocês possam enxergar as estrelas adiante.
–Que bom – disse Aldo.
–Estamos indo para Shaula para abastecer e preparar-nos para a longa viagem.
–É um bocado longe – disse Alan.
–Lá nos espera um amigo, coronel.
–Quem?
–O interventor Hung.
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Continua em: SÍRIO DO CÃO MAIOR
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O conto ZHOROPAK - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume IV, Capítulo 36; páginas 169 a 172; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:
http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html
O volume 1 da saga pode ser comprado em:
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