ENCONTRO EM NETUNO
Netuno.
–Em pouco tempo estaremos lá, mais ou menos vinte minutos padrão nesta velocidade – disse Alan.
–A expansão de vocês neste sistema está bem adiantada – disse Huáscar, pensativo – imagino que será interessante... Depois de tanto tempo...
Huáscar ficou em silêncio, com seus olhos felinos fixos nas estrelas. Alan imaginou os mundos que esses olhos já tinham visto, mundos, que ele nunca conheceria no decorrer de toda sua vida.
Netuno estava já nas telas visuais, aumentando de tamanho aos poucos e o terrestre estava prestes a entrar em debate filosófico com o tigre Huáscar.
–Deve ser o destino de todos os seres, de todas as civilizações, expandir-se para não desaparecer.
–Sim – disse Huáscar – é isso mesmo.
–Será que há um limite para isso?
–O universo é grande demais. Algumas raças não o atingirão nunca.
–Alakros, por exemplo?
–Alakros teve sua vez, mestre Alan. E a perdeu há muito tempo. Acho que você conhece história...
–Conheço. Ran sacrificou-se para destruir Alakros... E não conseguiu.
–Em parte. O planeta Alakros foi atacado mas não vencido, a raça não morreu, como sabe. Teve muito espaço lá no quadrante Delta para crescer de novo. Veio o ressurgimento. Eles estão bem à vontade na sua esfera.
–Tendo tanto espaço por lá, e bem tranquilos; ainda quiseram nos invadir há mais de dez mil anos terrestres; persistindo nisso em Boral, na época atual. Isso eu não consigo entender, Huáscar.
–Já falamos sobre isso, mestre Alan. Os seres vivos, as civilizações, as espécies, sempre vão se expandir. A vida sempre procura se espalhar.
–Entendo agora. Não há limites. Nós, da Terra estamos fazendo isso.
–A expansão é lenta, porém firme. Os planetas vão sendo conquistados com menos violência que no passado. Os antigos alakranos eram bárbaros demais. Estes são mais moderados, mas o desejo de expansão é o mesmo.
–Até quê ponto conseguiram se expandir após a guerra com Ran... O Grande Cataclismo, como costuma dizer o Imperador Tao...?
–Sua esfera tem um raio de... 7.600 parsecs mais ou menos. O planeta Alakros está a uns 7.828 parsecs daqui.
–25.000 anos luz, em medidas terrestres – suspirou Alan – é um bocado longe.
–Deve ser. Mas eles têm um posto avançado numa gigante vermelha a 159 parsecs daqui, uma estrela que vocês chamam Antares – disse Huáscar – andei estudando seus mapas.
–Então há perigo... – disse Alan.
–Não tanto, eles não têm aquele poder de antigamente. Suas naves e tecnologia são superiores em qualidade mas não em quantidade.
–Sim, pelo que vi em Boral...
–Seu plano é aumentar sua população, porque embora tenham bastante material de guerra não há suficientes alakranos nativos para usá-los.
–E as raças clientes?
–Não confiam muito em nós.
–Claro.
–Cada vez que uma raça cliente ocupa um mundo, sempre há um grupo de alakranos para comandar tudo.
–Você conhece bastante sobre eles...
–Muito conversei com Djekal. Ele gostava de conversar.
–Sim, já reparei nisso – disse Alan. – Como se reproduzem?
–Diferente de nós. Eles são hermafroditas, cada um deles gera um novo ser quando há determinadas condições, mas o processo é lento. Por isso estão adotando o mesmo sistema dos kholems, dos milkaros e outras potências; clonagem.
–Clonagem... Como nós, em Antártica.
–Sim. E também é um processo lento. Ouvi dizer que os Grandes Galácticos conseguem duplicar um ser em questão de poucos ciclos...
–Grandes Galácticos?
–Sim. Um conjunto de raças que ocupam parte do centro da galáxia e parte do Quadrante Gama... – disse Huáscar e acrescentou, após alguns segundos:
–Infinitamente poderosos; não dão importância para nós. São quase deuses.
Alan estava maravilhado por tudo o que estava aprendendo com Huáscar.
Mas a conversa foi logo interrompida pela entrada em órbita de Netuno.
Suas luas maiores estavam em oposição no momento.
–Vou vasculhar Nereida, essa lua menor, Huáscar. Vou na minha patrulheira, quer vir junto?
–De acordo. Vamos!
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Nereida era uma pequena bola de 320 quilômetros de diâmetro. Nada havia na superfície, pelo menos a primeira vista. Um exame detalhado mostrou uma antena de radio farol em construção.
Huáscar, que já dominava os controles da patrulheira marciana, empurrou os mandos e embicou sobre a rocha, enquanto no lado oposto uma esquadra de CH-3 acelerava ao máximo em formação de combate.
–Parece que nos desconhecem – disse Alan.
–E agora?
–Agora falarei com eles.
O piloto francês, Roland Level, comandante da esquadra, falou em raniano, língua que os antárticos agora aprendiam, junto com o espanhol e o português:
–Quem é você?
–Coronel Alan Claude Sarrazin, ao mando da patrulheira Henna.
–Entendido, coronel, pode nos seguir até Tríton, onde temos a base principal.
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Tríton mede 4.800 quilômetros de diâmetro e sua órbita está situada a 354.000 quilômetros de Netuno. Sua atmosfera não era tão fraca que não acendesse de vermelho os bordes de ataque das asas da patrulheira na reentrada.
O acampamento de Lúcio Cardelino estava situado numa planície do que parecia um lago seco, rodeado, porém, de baixas montanhas. Os iglus estavam dispostos na forma habitual terrestre de acampar, como no ponto de apoio em Marte.
A Vingador, estava na cabeceira da pista, junto com alguns caças e patrulheiras. Huáscar baixou as rodas da patrulheira, pousando verticalmente no meio da pista, rodou logo até as construções onde quase cem pessoas em armaduras espaciais foram se juntando aos poucos para receber os visitantes.
Alan colocou o capacete e Huáscar lhe imitou. Em seguida desceram da navezinha e Lúcio Cardelino adiantou-se para cumprimenta-los.
–Sejam bem vindos.
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Os recém-chegados foram recebidos no iglu do capitão Cardelino com grande emoção. Os filhos do casal eram um menino e uma menina loiros de olhos claros.
–Assim que Leif voltou para Saturno?
–Sim, nós descarregamos suprimentos e ele precisa mais gente e material, vai retornar com uma frota inteiramente taoniana.
–Excelente.
–Você não pensa em voltar, presumo.
–Não, por enquanto ficarei aqui, já estou bem organizado. Virá mais gente e devo ter tudo preparado para receber essas pessoas.
–Vou deixar em órbita os contêineres de suprimentos que o imperador mandou.
–Bom, muito bom – disse Lúcio, saboreando um copo de vinho venusino recém-desembarcado, que Huáscar teve a ideia de trazer como presente.
–Você tem um bom lugar aqui, capitão.
–Sim. Há bastantes recursos minerais, como já encontramos em todas as luas de grande porte. Posso ficar indefinidamente aqui, coronel.
–O quê me diz da nave alakrana que andou xeretando por aí?
–Ah... Era alakrana...? Pensamos que fossem piratas, talvez troianos, que fossem nos atacar, mas não aconteceu nada, só nos espionaram à vontade.
–Tiveram muita sorte, era uma nave de incursão armada, capitão. Vocês não teriam a mais mínima chance contra eles. Nós os enfrentamos e os perdemos no subespaço. Não acho que vão voltar. Este sistema deve estar monitorado pela Suprema Confederação, e se não está, os alakranos não sabem disso.
–Então qual seria o objeto de estar no sistema?
–O que eu disse antes: xeretar. Eles dominavam Vênus e eu os tirei de lá com um estratagema. Em seguida me apoderei do planeta.
–Fiquei sabendo que você é um herói nacional em Vênus, coronel.
–Sim, mais ou menos isso.
–Então essas naves podem ser dos seus inimigos, que estão querendo se vingar.
–É uma possibilidade, mas pelo que conheço deles, essa atitude de vingança não combina com o que eles são. São guerreiros lógicos e honrados.
–Se você o diz...
–Pode ser que Djekal não tenha conseguido sair do sistema aquela vez – disse Alan, elucubrando – pode ser que alguma belonave confederada o tenha descoberto e ele tenha se escondido nesta região...
–Pode ser que as naves confederadas sejam mais possantes que as alakranas...
–Si, capitão. É uma possibilidade. A que encontramos era pequena, menor que a Amarna, embora sei que eles têm naves maiores.
–Imagino, coronel. Conhecendo a nave de Pru, duvido que haja limite...
–Claro que estou apenas supondo... –O eremita de Io disse que em Plutão há um posto de troca dos fazendeiros das luas de Júpiter e que as naves confederadas costumam fazer paradas aí...
–Espere! – Alan pareceu acordar de repente – vou passar por lá. Talvez consiga entrar em contato com os confederados!
–Sim, é possível...
–Gostei do que você fez por aqui capitão. Também gostei da sua hospitalidade, mas já é tempo de partir. Vou seguir adiante. Vou para Alfa Centauro, atrás de Aldo e da Hércules. Depois para Sírio, para trazer uma frota de naves que vão descontaminar a Terra, como o capitão Huáscar prometeu ao presidente Marcos.
–Então boa viagem e muita sorte lá fora, coronel.
Alan e Huáscar abordaram a patrulheira e em minutos estavam no espaço, entrando no hangar na enorme Amarna, que, ancorada na órbita de Tríton, já tinha descarregado em órbita os contêineres de suprimentos.
Seria questão de horas chegarem a Plutão em impulso máximo.
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Continua em: ENCONTRO EM PLUTÃO
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O conto ENCONTRO EM NETUNO - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume IV; Capítulo 35, páginas 147 a 150; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:
http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html
O volume 1 da saga pode ser comprado em:
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