A FESTA DO IMPERADOR
Titã.
27 de junho de 2020 (200626).
Taônia acordava.
–Uma nave não identificada entrou em órbita – disse o operador de sensores de satélites do Comando Espacial Imperial de Taônia.
–Alerta de segurança – disse o comandante – Soltar interceptores.
Esquadras de astro caças Horten decolaram em todo o orbe. Em cinco minutos mais de duzentos astro caças estavam em rota de colisão com a nave desconhecida, cuja silhueta destacava-se frente ao brilho dos anéis de Saturno.
–Você invadiu território restrito. Identifique-se e diga suas intenções – disse o comandante na frente da tela táctica em que se via o movimento dos caças e da nave recém chegada.
–Este é o Supremo Patrono da Força Aero Espacial Taoniana; seu almirante Alan, ao mando da Amarna, chegando da Cidadela. Solicito permissão de pouso... E parabéns pela rápida resposta defensiva. Vejo que fizeram o dever de casa.
No astroporto, um comitê de boas vindas esperava na beira da pista coberta de neve que as eclusas da patrulheira e das naves de cabotagem se abrissem.
A neve caía aos poucos, maravilhando os boralianos que não a conheciam.
Os xawareks não sentiam frio, mas os boralianos estavam vestidos de armaduras para suportar o choque climático de dez graus negativos contra os quarenta e cinco a cinqüenta e cinco graus de Vênus.
O general Byzar em pessoa veio a receber os visitantes, que foram conduzidos em caravana de veículos ao centro da cidade. Taônia inteira vibrou com o retorno de Alan Claude, vitorioso, acompanhado de seus novos amigos.
O dia foi agitadíssimo, os tigres e boralianos foram levados a conhecer a
cidade e a programação incluía um jantar no palácio imperial. Sua Suprema Inteligência, o Imperador Tao, o Impiedoso, preparava-se a receber os visitantes.
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Não seria elegante nem educado usar à noite as quentes armaduras espaciais dentro do palácio. Alan pegou no armário da patrulheira seu uniforme de almirante, agora folgado desde que perdera peso em Vênus e o levou aos alfaiates do palácio que faziam os uniformes à medida de Antar e Kufu; para que o ajustassem. Iara e Lin, mais afortunadas, foram vestidas pelo melhor figurinista de Taônia.
Na hora marcada entraram no salão de festas e aguardaram que o Imperador fizesse sua aparição. Tao apareceu rodeado de crianças; entre elas, Alvin, primogênito de Aldo, seus irmãos e a princesa Alana.
Após as apresentações, entrega de presentes às crianças, os brindes à saúde do Imperador e da Princesa Herdeira; que ganhou um presente especial do seu padrinho, as crianças foram retiradas discretamente pelas babás imperiais e os adultos passaram à sala do banquete.
Após Tao sentar-se à cabeceira da mesa, os mordomos imperiais acomodaram os convidados em seus lugares conforme o protocolo.
Tao mandou que Alan sentasse à sua direita e Iara à sua esquerda.
Os boralianos estavam elegantes nas quentes roupas novas de lã de wok e pele de raposa das neves das Terras Frias; mas sentiam frio apesar de haver duas enormes lareiras acessas a ambos lados do salão.
Alan esperava que o vinho azul das Terras do Sul fosse servido logo.
Os boralianos estavam necessitando.
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O imperador estava diferente, mais jovial, mais alegre. Passaram-se quase três anos desde que a família imperial sofrera o atentado promovido pelo rebelde Suer Dut. Mas agora aparentava estar recuperado.
Um ano antes ele solicitara os filhos de Aldo para serem criados e educados junto com Alana, a última da sua linhagem, no agora triste e solitário palácio.
Aldo relutara de inicio a enviar seus filhos fora da Cidadela, mas aceitou, aconselhado por Regina:
–As crianças vão tirá-lo da depressão. Será tão bom para elas como para ele.
–É do nosso interesse que Tao viva bastante – opinara Valerión – porque o povo o adora. A morte dele atrasaria todos nossos programas em andamento.
–Não há ninguém para colocar no lugar – dissera Boris – Se ele morrer haverão disputas pelo poder entre os candidatos à regência... Alana é um bebê.
–Existe algum deles em que possamos confiar? – perguntara Inge.
–Amir Byzar, mas é só um general e está abaixo de ministros e conselheiros, nunca seria cogitado para a regência – disse Regina.
–Eu estou bem próximo dele – disse Aldo – se o pior acontecer, daremos apoio a ele e traremos Alana para cima, onde estará protegida. Com Suer Dut morto ou não, não vou permitir outra morte no que restou da família real.
–Interferir não seria uma boa idéia, Aldo.
–Se Tao morrer não vou ficar quieto, Valerión. Vou sugerir a ele desde já que Byzar seria a escolha ideal como primeiro na lista dos regentes provisórios.
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O assunto do banquete no palácio foi a destruição do autoplaneta dos kholems; a captura das naves de extermínio e dos cadáveres dos aliens dentro delas.
A senhorita Uio da RTVT estava presente com seus repórteres e câmeras. O piloto boraliano Antar que participou da batalha a bordo da patrulheira como artilheiro com um xeliano como piloto, foi convidado pelo Imperador a relatar seus feitos:
–Guerreiro Antar do segundo planeta, você veio a Nos visitar e antes de chegar teve que lutar por Nós e nossos mundos. Será lembrado pelas gerações futuras.
–Minha participação não foi importante, Sua Alteza... Sua Majestade; apenas destruí algumas naves de caça inimigas – disse o piloto boraliano – quem realmente ganhou a batalha foi a nave Hércules. O capitão Aldo já tinha planejado uma estratégia, que ao final foi executada pelo seu engenheiro.
–E qual era essa estratégia?
–Ninguém melhor do que o comandante... Almirante Alan Claude para contar.
O imperador colocou sua mão sobre o braço de Alan.
–Conversei com Aldo depois, Alteza. Ele tinha um plano que dispensaria a intervenção da Amarna e da Vranara. Apenas as três naves da classe Hércules seriam suficientes. Eram tão pequenas que os aliens confiados no escudo não as considerariam ameaça e deixariam que se aproximassem para estudá-las e depois destruí-las. O que eles não sabiam era que estavam equipadas com decodificadores de escudo dos piratas kholems que Aldo capturou em Júpiter e com o mesmo phaser. A Vingador e a Milenium fariam o escudo cair num flanco onde a Hércules colocaria seus torpedos e abriria um buraco no qual logo entraria e detonaria seu próprio núcleo de antimatéria. Na viagem de sessenta dias Dreisen modificou o reator para produzir mais antimatéria do que o necessário, para no momento certo ser colocado em sobrecarga.
–Quer dizer que a Hércules estava destinada a ser sacrificada de antemão?
–Esse era o plano, alteza – disse Alan – Eram voluntários e deixaram para trás amigos e mulheres. A Vingador e a Milenium são mais novas e deviam ser poupadas na medida do possível. Foram danificadas e estão a ser consertadas em Marte.
–Como sabiam que o plano daria certo?
–Aldo e Valerión tiveram cinco anos dos nossos para estudar a base de dados dos kholems reptilianos que os kholems cinzentos tomaram deles e conheciam o tipo de inimigo que enfrentariam. A coisa mais lógica a fazer era transformar a Hércules num Cavalo de Tróia kamikaze... Antes que pergunte, essas palavras são referências a alguns episódios de guerra históricos mais conhecidos na Terra.
–Que nobres! – disse o Imperador – estavam dispostos a morrer por Nós!
–Morreram trinta e nove voluntários da Hércules na batalha, entre terrestres, marcianos, taonianos e xawareks – disse Alan – mas ao final foi um terrestre quem detonou a antimatéria, fazendo o inimigo desaparecer como se nunca tivesse existido; o engenheiro Dreisen, da Terra.
–Um herói que nunca esqueceremos... Engenheiro Dreisen da Terra!
–Nossa intervenção precipitou as coisas, Alteza. Com a Amarna e a Vranara conseguimos distrair e enfraquecer o inimigo. Demos tempo para que Aldo ordenasse à tripulação abandonar a nave antes da detonação. Ele pretendia detonar a Hércules ele mesmo, mas Dreisen o tirou à força da nave e o resto vocês sabem.
–Queremos que todo Nosso reino saiba desses fatos, senhorita Uio – disse o Imperador – os heróis nunca serão esquecidos. E que isto seja sabido em todos os mundos do sistema. Esse é o Nosso desejo e é assim que Determinamos.
–Vossa Alteza será obedecido – disse a jornalista, com lágrimas nos olhos.
–Nossa querida filha chora numa ocasião tão festiva?
–Peço desculpas, Sua Suprema Inteligência. É a emoção de saber que nossos amigos da Terra... Tão nobres...
–Entendemos, filha. A Restauração começa com bons augúrios, Nós não Nos enganamos ao dar Nossa amizade aos terrestres antárticos e aos gopakis marcianos... E Fomos felizes em trazer os xawareks para Nossa Harmonia e Paz.
Alan levantou sua taça, sendo imitado por todos:
–Longa vida ao Imperador!
Depois do brinde, Huáscar ficou de pé e fez uma reverência ao Imperador.
–Em nome da tripulação da Amarna saúdo o honrado Imperador de Ran e
reverencio sua sabedoria.
–Nós agradecemos suas nobres palavras, honrado capitão. Mas devemos ser justos, além de sábios. Quem promoveu a paz nestas luas foi o capitão Al-Do, que estava disposto... Mais esta vez!... A se sacrificar por Nós, desde que chegou aqui.
–Eu disse que ele era um grande guerreiro numa frágil navezinha! – disse
Huáscar – e a batalha foi gloriosa!
A senhorita Uio enxugou suas lágrimas e perguntou:
–Por quê o capitão Al-Do; Senhor das Terras Frias e seus valentes tripulantes não estão hoje aqui para serem homenageados, Sua Alteza?
–Tem razão, filha. Esperamos o relatório e estranhamos que o capitão Al-Do não tenha vindo da Cidadela para entregá-lo a Nós. Não sabemos porquê o Nosso querido amigo não está presente... Sabe, almirante?
–Ele virá mais tarde, Alteza – disse Alan Claude – disse-me que antes tinha uma missão muito importante nas Terras Frias... Uma missão urgente.
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Continua em: UMA MULHER FORTE
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O conto A FESTA DO IMPERADOR - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume IV, Capítulo 34; páginas 138 a 140; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:
http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html
O volume 1 da saga pode ser comprado em:
clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1