CAPTURADO!
Capturado!
(Depois do XEQUE MATE - já publicado)
Como um boneco desengonçado, o inerte corpo do coronel foi atirado dentro de um veículo blindado alakrano, diferente dos carros de assalto xawareks, e levado para o centro de Tíber á máxima velocidade.
Ao volante estava um tigre e ao lado dele estava Hung.
–Por que não acabar logo com ele? Já está meio morto, mesmo assim...
–Cale a boca e dirija.
–Sim, excelência. Para onde o levamos? Para a prisão?
–Vamos direto ao hospital.
–Entendo, vamos deixa-lo em condições de ser fuzilado.
–É por isso que nós mandamos e vocês obedecem!... Idiota!
–O quê é que eu disse agora? – disse o tigre amedrontado.
–Não percebe que esta criatura não é um boraliano? Lutou como se fosse um raniano... Ou como vocês deveriam lutar, se ainda fossem xawareks de verdade!
–Os ranianos não existem mais – disse o tigre, magoado e ofendido.
–Engana-se. A Suprema Confederação é o último reduto da raça raniana.
–Eles não suspeitam de nossa presença aqui.
–Engana-se de novo.
*******.
Ao chegar ao hospital, o governador Djekal estava esperando. Ao ser avisado pelo interventor Hung; viera com suma urgência em sua nave pessoal.
–Quero vê-lo.
–Aqui está ele, como prometido – disse Hung enquanto os tigres tiravam o coronel Alan Claude do blindado numa maca – cumpri a missão; governador.
–Cumpriu, sim, parabéns.
Djekal aproximou-se de Alan, embarrado, queimado, sangrando de inúmeros ferimentos, com fraturas expostas em costelas, braços e pernas.
–Não parece um agente confederado.
–Não tenho mais dúvidas de que ele é. Matou setenta soldados, derrubou dois helicópteros e destruiu vinte e quatro carros de assalto.
–Um agente e tanto, Hung!
–Dos bons.
–Aplique a sonda mental nele.
–Assim como está não vai adiantar. Está morrendo.
–Administrem os primeiros socorros aqui, antes que morra e depois vamos levá-lo ao hospital de Walhall. Lá há um excelente médico para humanos que pode reconstruir esta criatura célula por célula.
–Vou preparar minha melhor lancha.
–Este é um caso especial. Minha nave está no parque.
–Usou a nave, Djekal? É perigoso; a radiação pode ser detectada...
–Podemos correr o risco, Hung. Se ele for realmente um agente confederado, como imagino, perdemos nosso incógnito. Não fará nenhuma diferença.
*******.
16 de fevereiro de 2020 (200216), ao meio-dia.
Iara e Lin estavam tomando altura para atravessar a cadeia de montanhas que separava o país de Gren do deserto, quando Lin gritou:
–Os peludos nos viram!
Dois helicópteros elevavam-se desde uma base escondida no meio da última floresta antes da cordilheira.
–Não me disse que havia uma base aqui! – gritou Iara.
–É um depósito de armas dos peludos, com uma pequena guarnição!
–Precisamos chegar ao outro lado! – gritou Iara – preciso pegar o fuzil que está na mochila da ave de carga!
–Não dará tempo, eles são mais rápidos!
Iara ainda tinha a pistola xawarek e a pistola do alakrano. Puxou a primeira e gritou, por cima do vento:
–Sabe usar isto?
–Sim!
–Chegue perto!
Lin colocou em seguida sua ave embaixo da ave de Iara, e esta jogou a pistola, que a ex-garçonete prontamente pegou.
–Deixe que cheguem perto!
Por fim ultrapassaram o topo das montanhas e as aves começaram uma descida quase em picado em direção ao deserto, aumentando sua velocidade, antes que os helicópteros conseguissem ultrapassar o topo. Mas logo as aeronaves passaram e retomaram a perseguição, diminuindo a distância. Iara preparou-se para o pior.
O calor das areias provocava uma onda de ar quente ascendente que fez as aves subir rapidamente, diminuindo sua velocidade.
Um dos tigres disparou à ave de carga, que, cruelmente ferida numa asa, soltou um horrível chiado e caiu como uma pedra, morrendo pelo impacto no solo. Iara não esperou mais e atirou.
–Lin! Atire!
As moças atiraram e um dos helicópteros explodiu em pedaços que caíram em chamas. Antes de dar tempo aos outros reagirem, elas atiraram, acertando nos rotores do outro, com o que a aeronave foi perdendo rotação e caiu.
–Precisamos pegar a carga, Lin! Vamos descer.
–Os peludos podem estar vivos!
–Temos que correr o risco. Não podemos deixar a carga com as unidades de dados e o alimento e água para nós e as aves!
As aves desceram junto da nobre ave morta.
Iara pegou o fuzil marciano da mochila e depois correu dando grandes pulos em direção ao helicóptero caído.
Os sobreviventes saíram da aeronave aos tropeções. Eram quatro e estavam feridos. Iara apontou e foi matando um a um, sem dar tempo a se defenderem. Lin chegou correndo logo depois de amarrar as aves ao cadáver da ave de carga.
–Você é uma guerreira! – exclamou admirada e excitada pela adrenalina.
–Sou a mulher de um guerreiro. Ajude-me a revistar o helicóptero, precisamos recolher a água deles e tudo o que for útil. E você se saiu bem, garota!
–Sim, senhora! Obrigada, senhora!
As moças pegaram quatro galões de água e todas as armas dos tigres. Iara achou vários painéis de escrita. A terrestre não lia xawarek, mas mesmo assim pegou todos que havia. Alan saberia o que fazer com eles quando chegasse. Quando voltavam para pegar as aves, ouviram o barulho de um helicóptero.
–Pediram reforços!
–Não dá tempo para fugir! – Lin estava em pânico.
–Calma! Vá para junto das aves para que não se assustem, rápido!
–E a senhora?
–Vou esperá-los aqui mesmo. Mas faça o que digo!
Iara comprovou a carga do fuzil marciano, o regulou ao máximo e esperou.
Os tigres viram as mulheres sozinhas com duas aves, uma ave morta e um helicóptero caído. Isso foi suficiente para que chegassem atirando.
Iara, com uma serenidade que ela mesma nunca pensou em ter; levantou o fuzil com calma e apontou à cabine. Um disparo foi suficiente para fazer a aeronave explodir em pedaços que caíram em chamas. Logo Iara correu até Lin, que segurava as aves pelas rédeas.
–Podemos ir. Vamos ter que repartir a carga entre nós duas.
–Para onde vamos? Para a terra dos Quirions?
–Para a terra dos Oxmecas. A nave está lá. Antes vamos buscar um lugar seguro para acampar enquanto esperamos que Alan apareça. Eu vi um bosque de pedra logo adiante, quando vínhamos para Gren. Parece um bom lugar para esconder as aves. Se os xawareks aparecerem, temos muitas armas e munição.
–E se ele não conseguir passar? Os peludos já devem de saber que viemos para este lado, e devem de ter alertado as guarnições das montanhas.
–Vamos dar uma chance a ele, sim?
–Se ele é tão bom guerreiro como a senhora, merece a chance – disse Lin, com olhar de admiração.
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17 de fevereiro de 2020 (200217).
As duas mulheres estavam acampadas no deserto no meio de um bosque de pedra, alimentando suas aves. Ao sul, as brancas e intermináveis areias escaldantes; ao norte as montanhas que acabavam de transpor; no alto, atrás da espessa barreira de nuvens, percebia-se o sol com o dobro de tamanho que teria na Terra, mas apesar das grossas nuvens, esquentava e queimava tudo em volta, como numa sauna.
–Esperamos um dia, senhora. Ele não vem.
–Vamos esperar uma noite – disse Iara.
–Deveríamos partir agora. Amanhã a água não será suficiente para atravessar o deserto, e não é bom passar outra noite aqui. Há feras carnívoras.
–Até agora não vi nenhuma. E estamos armadas.
–Mas eu já ouvi histórias dos angvim da areia que...
–Você atirou nos peludos e está com medo de umas feras?
–Estou, sim, senhora. Desculpe-me. Os angvim são maiores que os pakajes...
–Está bem. Vamos partir agora. Restou comida para as aves?
–Sim.
As mulheres partiram. Iara estava desolada, mas devia chegar à nave.
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18 de fevereiro de 2020 (200218) ao amanhecer.
Após uma extenuante jornada através do deserto, ultrapassaram as montanhas do sul e o ar fresco da floresta pareceu revigorar as aves, que já estavam esfomeadas.
O voo em descida à aldeia dos oxmecas, perto do mar do sul foi rápido, o vento fresco batia no rosto das mulheres e fazia esvoaçar suas capas. Logo Iara divisou o lago tão familiar e sentiu-se feliz e revigorada.
A aldeia ainda dormia, quando as aves pousaram nos cabides de troncos que os oxmecas construíram para seus amigos quirions.
Iara desmontou e correu até a beira da mata, onde sem mais cerimônia tirou a capa, levantou a saia, baixou sua calcinha e abaixou-se para urinar demoradamente, enquanto Lin se aproximava rindo divertida para fazer o mesmo.
Naxum, como de costume, foi o primeiro em acordar. Levou uma surpresa ao chegar perto do cais. Viu as duas aves carregadas que reconheceu em seguida. Ouviu risadas de mulheres na beira da mata e para lá foi, bem devagar. O que viu o deixou surpreso. Não esperava ver os traseiros de duas mulheres fazendo água no chão. Iara e Lin acabaram de urinar e arrumaram suas roupas. Logo se viraram e...
–Naxum!
–Saudações, deusa Iara.
–Vocês se conhecem? – disse Lin, constrangida.
–Onde está o deus Alan?
–Está para chegar em qualquer momento... Ah, droga! Onde está minha educação? Naxum, esta é minha amiga Lin, Lin este é Naxum, o pescador.
–Saudações, menina Lin.
–Saudações, Naxum. Ah!... Há muito tempo que você estava aí, olhando?
–Eu não vi nada – disse o pescador, muito sério.
–Naxum; vou precisar aqueles objetos que Alan deixou aos seus cuidados.
–Estão na minha cabana. Venha comigo.
–Antes precisamos descarregar os pakakhes.
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Continua em: COMA - (já publicado)
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O conto CAPTURADO! - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume IV, Capítulo 31; páginas 85 a 88; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:
http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html
O volume 1 da saga pode ser comprado em:
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