KHAN E O MUNDO
Ano 35 AR
Desde pequeno já estou acostumado a ouvir o rugido dos canhões no ar. Toda manhã é eles que me acordam, me chamando para o novo dia que acordou. A minha vida é igual ao de qualquer criança de toda a Ivynhir, não importando a nacionalidade. De manhã acordar com o som dos canhões, ir para a cozinha tomar um café e torcer para não haver um ataque a cidade, ir para a escola (claro, só se não houve um ataque oque é a única parte boa dos ataques), torcer agora por um ataque e ser liberado mais cedo. Se até o final da tarde você for tão azarado que não houve nenhum ataque, as vezes ocorrem mais de um, você volta para casa e passa o resto do dia pensando nos saques que faria caso houvesse um ataque. Essa é a vida de qualquer criança do meu planeta, desde que os cinco impérios entraram em guerra.
Mas essa história não se inicia em um dia em que eu tive a mesma experiência das outras crianças. Mas sim no dia 24 de março, o dia em que minha vida se tornou única. O dia em que os ventos da mudança finalmente sopraram sobre a minha vida. E já lhes digo que o vento é muito mais frio e sombrio do que eu esperava, mas ainda assim, incrível.
Nesse dia, como todos os dias, eu acordei com o som dos canhões, até então nada demais. Vou para a sala de estar e sento na mesa para o café da manhã, meu pai estava lá. Um homem de meia idade, cabelos grisalhos, olhos azuis e caídos, cansados dos dias de trabalho sem descanso que ele passa na fábrica de suprimentos para as tropas, seu nariz era ligeiramente torto como se já tivesse sido quebrado tantas vezes que o deformara, era ligeiramente magro e sua voz lhe fazia parecer poderoso.
Neste dia minha mãe não estava em casa, estava no seu trabalho na fábrica de roupas. Era raro de se ver os dois na casa no mesmo dia, mas quando estavam era como se a guerra tivesse acabado e a vida voltasse a florescer. Nesses dias nós sempre vamos a praça da cidade, aonde meus pais participam de brincadeiras comigo, deitamos na grama e ficamos a ver o céu e transformar nuvens em oque nossa imaginação permitir e fazemos piadas, era incrível. Nesses dias meus pais parecem mais felizes. Um dia de alegria onde o medo não nos assola e onde eu não preciso ir a escola.
Eu nunca havia conhecido um mundo sem guerra, mas pelo que o meu pai diz. É um mundo alegre, aonde cada um tem pelo menos uma chance de ser feliz e aonde você pode ser quem você quiser sem o medo de ser preso. É assim que eu vejo esses momentos em família.
Mas agora voltando aquele fatídico dia 24. Eu estava na sala de estar preparando meu café com meu pai a ler seu jornal. Na capa estava escrito, “Morre em combate o famoso assassino Nostromus.”, eu intrigado com a frase pergunto:
- Pai, quem é o Nostromus?
E ele em uma de suas simplificações da guerra me diz:
- É um homem muito mal, mas de espírito nobre. Que jurou se vingar dos impérios por terem matado sua família. Porêm como a todos, a guerra o fez fazer coisas horríveis, coisas que somente demônios poderiam pensar em fazer, e com isso ele acabou se tornando igual a aquilo que ele jurou vingança.
Admito que não foi uma das melhores coisas que meu pai podia dizer a uma criança. Mas é melhor do que dizer que soldados mataram seus filhos, estupraram suas filhas e ainda não satisfeitos violaram os animais que sua família uma vez criou e ainda transformaram sua esposa em uma escrava sexual. Sem dizer que, após isso tudo, eles puseram fogo na casa com as filhas dele dentro. Tudo isso enquanto ele assistia. Isso era o suficiente para qualquer um se revoltar contra os causadores de tais atos, e foi oque ele fez porém da forma errada. No final ele se tornou tudo aquilo contra o qual lutava, e foi pego na sacada de uma casa a estuprar a esposa do prefeito da cidade enquanto a mesma via o seu amado ser queimado vivo. Todos aqueles que um dia lhe foram leais fugiram e ele morreu com uma faca nas costas. Ou seja, oque meu pai me disse foi melhor do que a verdade.
Eu e meu pai ainda conversamos por um longo período, falávamos sobre várias coisas desde o tempo em que meu pai passou na guerra até o último jogo de futebol da liga. Mas, então meu pai teve que reparar em algo que eu torcia para que ele não percebesse. Ele disse:
- Vamos lá Khan. Vai se arrumar ou vai se atrasar para a escola.
Vou correndo para o meu quarto, tinha que parecer o fato de eu ter esquecido da escola. Vou até o meu quarto aonde me encaminho para o armário e o abro. Um sorriso se abre em meu rosto quando ouço o estridente som das sirenes. Um som que me avisava de três coisas. De que primeiro, haveria um ataque. Segundo, não teria de ir a escola e por ultimo, no final dos ataque se teria as recompensas que somente o saque trazia. Quem sabe não teremos carne para a janta de hoje.
Corro para a janela e a abro, queria ver quem nos atacava hoje. Não vi bandeiras, somente bolas de fogo a cruzar o céu. Finalmente alguém havia se interessado em realmente invadir a cidade. Uma das bolas de fogo vem em minha direção e o meu medo me deixa sem reação.
Sou jogado ao chão. Ao tocar no chão me deparo com meu pai em cima de mim e um buraco mais além no teto com algumas partes a pegar fogo. Meu pai se levanta e me ajuda a fazer o mesmo. Ele diz:
- Vamos logo, para o abrigo. Corre!
Corro como um desesperado assustado e confuso, tropeço em um dos degraus que levava ao térreo e rolo escada abaixo. Meu pai passa logo depois e me levanta novamente a me apressar. Volto a correr Atinjo a porta e a abro. A luz do lado de fora invadi a casa e me enche com uma breve cegueira enquanto meus olhos se acostumam. Saio da casa assim mesmo. E lá fora outras pessoas a correr desesperadas, casas parcialmente destruídas, bolas de fogo a rasgar o céu num rompante e os gritos de entusiasmo dos soldados misturado com o do desespero das pessoas, corro. Corro para o abrigo , corro por minha vida.
Bolas de fogo atingem casas a minha direita, as quais caem soterrando as pessoas a andarem próximas a elas, pessoas saem, a minha esquerda, de prédios prestes a ceder. Eles correm em desespero, as vezes com fogo a comer partes do seu corpo. Pessoas as quais corriam implorando por ajuda e que muitas vezes acabam por fazer mais vitimas do fogo.
Uma delas, a sair de um prédio sem o teto, correu em minha direção a implorar por ajuda. Ela iria me agarrar, mas por sorte, meu pai estava lá e lhe deu um soco que a fez cair ao chão, e então cravou a baioneta de sua arma na pessoa. Não me perguntem da onde ele tirou essa arma. Só sei que ele a tinha, e com ela me salvou.
Vejo o abrigo um pouco mais a frente. Ele se encontrava no subsolo. Aonde, através de uma portinhola selada a vácuo que se localizava no meio da rua, poderíamos descer até ele. Eu corro, corro ainda mais do que eu já corria, corro como nunca antes. A diferença entre a vida e a morte estava a uma curta distância e a corrida me permitia chegar mais depressa a vida.
Quando eu estava a um pouco mais de 5m do abrigo, uma bola de fogo atinge um prédio próximo e os escombros caem sobre ele. Com isso o soterrando e trancafiando a todos lá dentro até que alguém finalmente se lembre deles e retire os escombros. Meu amigo Douglas provavelmente estava lá. Eu paro, não tinha para aonde ir. Meu pai se aproxima e diz:
- Vamos
- Para aonde? – Pergunto.
- Para a escola. Lá é agora o abrigo mais próximo da gente.
Pronto, agora teríamos de ir para o local que eu mais odiava a escola, como se já não bastasse o desespero ao nosso redor. Viramos a esquerda e vamos em direção a escola, só precisávamos virar a direita mais a frente e correr por mais 1 quilômetro em linha reta. Começamos a correr com o intuito de virar a direita mais a frente. Mas tropas surgem um pouco antes e apontam para nós. Meu pai pega em minha mão enquanto grita a eles para que não atirem. Olho para trás, mais pessoas nos seguem e mais além as tropas da cidade. Viramos a esquerda, não a direita, estamos nos arrastando em um beco, tiros são disparados atrás de nós e gritos de medo são ouvidos da rua. Meu pai não solta minha mão, viramos agora para o norte, ainda no caminho errado. Direita, caminho certo, esquerda, novamente no caminho errado. Esquerda novamente, ainda no caminho errado. esquerda, errado, esquerda, ainda errado, pera ai, não, caminho certo. Nos arrastamos como desesperados e ouço a voz de soldados a gritarem entre si para aonde tínhamos ido, os despistamos e ainda estamos no caminho certo, eu acho.
Saímos do beco e começamos a correr desesperados para a escola, consigo vela ao fundo, imponente e inatingível, centenas de tropas fazem a sua proteção do lado de fora. Bolas de fogo irrompem o céu novamente atingindo o solo ao nos redor. Meu pai me diz para correr mais depressa. As bolas de fogo só caem próximas a gente, parece que eles querem nos matar. Mas porque matariam a gente, somos civis.
Nesse instante os meus pensamentos vão para além, para minha mãe. Será que ela está bem, e se ela está morta. Não consigo processar isso é muito para minha minúscula cabecinha e paro minha mão escorrega dá do meu pai. Ele para e volta, grita comigo mas não ouço nada, estou em estado de choque, as bolas de fogo atingem cada vez mais próximas de nós. Um som fraco vem de trás são as tropas que finalmente me encontraram. Meu pai me agarra pela cintura e me carrega debaixo de seus braços correndo até próximo do colégio onde é atingido por um tiro. Ele vai ao chão.
Eu estou lá, caído e sem movimento, ainda envolto em meus pensamentos e a observar o rosto de meu pai morto. Não, melhor, a observar o rosto do meu pai que dormia. Ele me ensinou a ver as coisas de uma forma que não fosse tão triste e é assim que me lembrarei dele. Dormindo em um sono profundo.
Sangue começa a surgir e a inundar seu rosto. Cada vez mais sangue surgindo e o afogando em seu próprio sangue, não tinha mais como eu me enganar, ninguém dorme coberto de sangue e com um furo nas costas, meu pai estava morto.
Então eu pensei, será que foi assim que minha mãe morreu, caída na sarjeta de uma rua e com sangue a sair do seu corpo e encharca-la por completo. Eu não sabia, mas de uma coisa eu tinha certeza, eu não queria morrer assim. Comecei a me mexer para me levantar e correr alguns metros até a segurança. Tiros começam a salpicar o chão ao meu redor, tiros vindos dos perseguidores que antes mataram o meu pai, eu ainda não entendia porque eles estavam matando civis. Fico de pé mas então uma bola de fogo cai em um canto próximo e me joga novamente ao chão.
Os tiros não param de atingir o chão próximo, me levanto novamente e com o rosto a vazar água eu caminho rumo a aquela ao qual eu faria de tudo para me livrar. Meu pé esquerdo havia quebrado quando fui jogado ao chão e por isso eu estava a arrastar os pés pela estrada rumo a segurança. De um dos meus braços ainda havia um corte causado por um estilhaço, pelo qual sangue saía escorrendo pelo braço e chegando aos dedos da onde saltava do meu corpo e atingia o chão, para completar ainda havia a chuva que começara, longa e intensa, a qual me ensopava e cujas gotas atingiam o solo se misturando aos tiros lançados pelas armas dos soldados tão distantes e tão covardes que não tinham coragem de dar nem mais um passo a frente com medo de levar um tiro.
Um cansaço começa a pesar na minha vista, e ela começa a ficar turva e aos poucos vou perdendo o equilíbrio, meus passos ficam tortos e desajeitados, vejo uma massa grande e negra se aproximar, algo parecido com a silhueta de um humano. Vou ao chão, mas eu não o atinjo, antes disso alguém me pega em seus braços, algum desconhecido que está a me carregar, digo:
- Papai? - E apago.
Acordo na escola, mais especificamente na ala médica. Me levanto, mas rapidamente vem uma enfermeira para me por deitado novamente. A consigo convence-la de me deixar sentado. Me sento na maca e então, olho ao meu redor, eu só via pessoas. Enfermeiras a correr de um lado para o outro com suprimentos médicos, mas principalmente pessoas feridas. Todas com as mais diversas fraturas, pessoas sem um dos olhos, outros sem os dois, pessoas sem um dedo e outros sem metade do corpo, aquela enfermaria nunca esteve tão movimentada , e ainda se havia um coral de gemidos e gritos de dor, mesmo assim eu ouço uma voz me perguntar:
- Oque que você tem?- Olho para o lado e vejo uma garota, ela parecia ter a minha idade, 12 anos, cabelos negros, os mais negros que já vi, além de longos e lisos. Seus olhos eram grandes e de um castanho tão belos que me fizeram esquecer tudo ao meu redor, o seu olho esquerdo tinha uma atadura que o cobria.
- Do que você está falando? – Digo.
- Se você está na enfermaria é por que tem alguma coisa . Oque é?
- Espera aí. – Vou engatinhando até a outra ponta da cama e pego o prontuário médico o qual eu leio e então volto para perto dela. – Perdi muito sangue, e você?
- Um estilhaço atingiu a lateral do meu olho. – Ela aponta para o olho sem a atadura. – Eles tiveram que retirar o olho e puseram um outro biônico no lugar.
- Que chato.
- Pelo menos eu ainda tenho o outro olho para ver. – ela aponta para o olho com a atadura.
- E por que a atadura está nesse olho? É para não ver os horrores que irão surgir? Acho que também irei pedir uma.
- Não, - Ela retira a atadura do outro olho, mostrando um olho de coloração vermelha, eu nunca tinha visto um olho assim antes. – eu a coloquei porque fiz um voto.
- Que voto?
- Só utilizar esse olho para ver as coisas belas do mundo.
- Entendi, e seus pais que vão dizer quando pode tirar a atadura?
- Não, eles estão mortos. – Lágrimas escorrem pelo rosto dela, lágrimas vindas do seu único olho bom.
- Os meus também. Bom, pelo menos meu pai. Mas como vai saber que a algo belo a sua frente?
- Da mesma forma que soube de você.
- Mas aí você vai perder muitas das coisas belas as quais não sabe que estão ali.
- É um preço a pagar pelo meu voto, e eu o aceito.
- Já sei! Eu irei com você, irei te proteger das coisas ruins e te ajudarei a encontrar as coisas belas. Eu serei o seu guia nesse mundo desolado e destruído. – Em seguida a menina pula de sua cama e me agarra a me agradecer por tudo, mais lágrimas escorrem do seu rosto, agora dos seus olhos. – Não tem oque agradecer, você que irá me ajudar. Odeio ficar sozinho.
Ela o solta limpa o rosto ensopado de lágrimas, lhe estende a mão e diz:
- Eu me chamo, Sofie. – Eu aperto a sua mão.
- Khan.
- Foi um prazer te conhecer Khan.
- Digo o mesmo Sofie. – Neste instante a enfermeira chega para olhar Sofie e ao vê-la a falar comigo e que ela estava com a atadura do lado errado, lhe dá um esporro e fecha a cortina que antes separava a minha cama da de Sofie, mas não antes de me mandar descansar.
No dia seguinte eu tenho alta e a enfermeira queria que eu saísse, eu disse que só sairia se fosse junto com a Sofie. Ela insistiu dizendo que um soldado estava lá fora a me esperar. Eu fui o ver. Era um homem alto, cabelos de tamanho médio e loiros como a cevada pronta para ser colhida, pele branca e um rosto todo reto. Vestia uma calça e camisa negras como a noite, além de um sobretudo também negro mas quase fuligem. A única coisa que dizia ser um soldado era um broche de metal com o desenho da estrela de oito pontas e com o centro da cor azul. Era um cara estranho, nunca tinha visto alguém parecido com ele antes. Com certeza não era desse planeta. Eu não conseguia me aproximar mais, a enfermeira diz que foi ele quem me resgatou do meio dos tiros. Finalmente consigo me aproximar e dizer:
- Quem é você?
- Eu me chamo Vander Stockwood.
- Tá, mas da onde você é? – Meu pai me ensinou a nunca confiar em forasteiros, essa não é a cidade dele então porque ele teria carinho com ela.
- De um lugar muito distante.
- Aonde fica esse lugar muito distante? – Ele solta um sorriso.
- Você faz muitas perguntas, sabia?
- É, eu sei. Mas você ainda não respondeu a minha pergunta.
- Eu não tenho permissão para te informar minha origem. E além do mais você nunca saberia onde fica mesmo.
- Então como poderei confiar que não é um espião.
- Como você insinua isso do seu salvador. – Diz a enfermeira assustada.
- Faz sentido. – Diz o soldado que em seguida faz sinal com a mão me chamando enquanto fala. – Vêm comigo.
- Não. – Digo.
- Oque? Você não quer saber de onde eu venho? Eu irei te mostrar. – Eu comecei a ficar em dúvida, metade da minha mente estava curiosa e queria saber oque seria mesmo sabendo que ele poderia me matar e a outra metade parecia receosa me fazendo lembrar dos ditados que meu pai dizia. A curiosidade estava ganhando, e foi ai que veio o golpe baixo. A metade receosa me fez lembrar da promessa que eu havia feito a Sofie.
- Tudo bem. Eu vou. – Num último instante a curiosidade disse, “e se for algo bonito que você possa mostrar a Sofie.”. Ela venceu nessa hora.
Começo a segui-lo para fora da enfermaria, subimos as escadas e chegamos ao terraço. Sobre nossas cabeças um céu estrelado se formava, dezenas de estrelas. O frio da madrugada dominava e ao longe se era possível ver fogueiras, na verdade eram os focos de incêndio restantes, mas preferia acreditar que eram fogueiras, e nem mesmo elas eram capazes de espantar o frio. Ar condensado se formava ao falar. O Vander aponta para uma estrela no céu e diz:
- Tá vendo aquela estrela ali. É de lá que eu venho. Ela se chama Altair. Nela se têm um único planeta chamado marghatrea-3. Eu cresci nesse planeta. Agora que eu te contei de onde eu venho, você confia em mim? – Eu estava sem reação. Eu não acreditava que ele realmente veio de outro planeta.
- Como você chegou aqui?
- Mais perguntas? – Ele anda de um lado para o outro frustrado e então para. – Olha só garoto. Eu estou me esforçando para que confie em mim. Eu sei que perdeu seus pais e precisa de um amigo, e eu quero ser seu amigo. Mas desse jeito, não dá! Tem coisas que eu não posso te responder e uma delas era dizer de onde eu venho. Oque eu respondi. Quebrar outra regra não dá. Agora é com você. Confia em mim ou não? – Sei lá, tinha algo naquele homem que o fazia diferente dos outros, e eu não sei oque. Mas isso me intrigava e ainda havia algo nele que me dizia para acreditar nele, eu vou confiar nele.
- Tudo bem, eu o aceito como amigo. – Um sorriso surge em sua boca. – Mas, eu só vou sair daquele hospital se for junto com a Sofie.
- Quem é Sofie?
- Uma outra amiga minha. Eu prometi ajudá-la a ver as coisas belas do mundo e cumprirei minha promessa.
- Tudo bem. Pode espera-la. Eu não ligo. Além do mais ela pode ser também minha amiga e eu posso ajudá-los. – Ele estende o braço novamente nesse ritual de amizade. – Amigos. – Eu agarro sua mão.
- Amigos. – Eu podia ter perdido meus pais, mas pelo menos havia ganhado amigos. É incrível como as coisas acontecem.
Algumas longas horas depois a Sofie é liberada, ela com o seu tapa-olho no lado esquerdo. Saímos um do lado do outro e a conversar. Vander estava do lado de fora a nos esperar. Nos encontramos com ele e o apresento a Sofie. Assim como eu ela não pareceu confiar nele de início, mas, depois de alguns minutos, ela começou a confiar mais nele. É isso ou ela fingiu confiar só para me deixar feliz. Ele diz:
- Podemos ir?
- Para que lugar? – Pergunto.
- Para o meu trabalho. – Fiquei animado com a ideia de ver o trabalho que um soldado de outro planeta teria aqui.
- Vamos. – Digo ao que Sofie segura o meu braço e aproxima o seu rosto do meu.
- Tem certeza ? – Ela sussurra no meu ouvido.
- A mais pura certeza.
Seguimos Vander, ao qual me faz caminhar pelas entranhas daquela que um dia pode ter sido a minha escola, pelo menos eu tinha Sofie ao meu lado a saltitar enquanto cantarolava alguma música desconhecida aos meus ouvidos. Andamos por longos minutos, atravessando corredores diversos e virando nas mais variadas encruzilhadas de corredores.
Eu, em minha missão de ajudar Sofie, olhava para todos os minúsculos cantos no caminho na procura de ver algo belo para mostra-la. Mas tudo oque eu via eram pessoas a chorar pela morte de um ente querido, ou a procurar algum parente perdido. As vezes aparecia uma pessoa a sorrir, mas ela fazia isso enquanto observava a mim e a Sofie com um olhar assustador. A cada pessoa pela qual passávamos mais Sofie se aproximava de mim até estar agarrada a mim, mesmo vendo somente sombras ela conseguia sentir o horror nas pessoas. Não encontrei nada para amostrar a Sofie.
Finalmente chegamos no local aonde Vander cumpriria sua missão. Somente uma porta me separava de saber o verdadeiro objetivo de Vander nesse planeta. Uma porta enorme e de metal, toda enferrujada e com limo nas frestas. Um líquido transparente e fétido saia do teto logo acima e escorria pela porta, a qual ainda havia um vidro circular em cima tão sujo que sua coloração era marrom e nada era visível do outro lado. No centro da porta havia um trinco circular, parecido com o timão de um navio. Vander se esforça e consegue abrir a porta. A qual começa a ranger no atrito com o chão e fazendo o solo sob os nossos pés tremer. A porta tinha pelo menos 30cm de espessura, toda feita de metal. Oque for que estivesse lá dentro ninguém queria que saísse. Entramos na sala.
Lá dentro as paredes eram cobertas de canos, das mais variadas cores e tamanhos. Além de um gigantesco motor, que ocupava metade do cômodo e explicava que sala era aquela e o motivo dos canos, uma escrivaninha, a qual não sei o motivo pelo qual ela estava lá ou sua utilidade, e por último, se tinha uma cela a qual se encontrava um homem dentro. Um homem grande e barbudo, com uma cara de poucos amigos e cicatrizes horrendas pelo corpo. O homem estava com algemas e preso mas ainda assim sorria e isso me fazia tremer de medo. Me aproximo de Vander, o qual diz:
- Oque foi?
- Este homem, - Digo a olhar para o prisioneiro. - oque ele faz aqui?
- É o meu objetivo. Vigia-lo, para que não fuja.
- Quem é ele? – Deve ser alguém muito importante para porem um extraplanetário para vigia-lo.
- Ele é nada menos que o Nostromus.
Contrariando a minha lógica fico com mais medo ainda e me agarro a Vander com toda força que tinha na procura de proteção. Sofie ao ver tal cena também fica com medo e me agarra implorando para sairmos dali. Não irei negar que cogitei essa ideia mas ir lá fora sem Vander era pedir para ser atacado pelas bestas no corredor. Vander volta a falar, dizendo:
Não precisam teme-lo. Enquanto eu estiver aqui ele não fara mal nenhum a vocês. Na verdade perto de mim ele é um simples ladrão de frutas. - Isso me acalma e eu o largo.
- Você é mesmo um idiota. – Diz o prisioneiro.
Não , você que é . Foi tão fácil te capturar que até me surpreendi.
- Se você acha que meus homens vão desistir do cerco está muito enganado. Oque vai acontecer é que esse prefeito covarde vai se render em troca de falsas promessas de não agressão. E você, assim como esses bastardos ao qual adotou, irão morrer. E eu farei questão de matá-los com minhas próprias mãos. Mas vocês, crianças, têm uma chance de se salvarem. Basta matarem esse cara e me liberarem. - Vander me afasta dele e saca uma espada.
Não irei mentir que sabendo quem era e ouvindo tais palavras até pensei em seguir suas ordens. Eu não queria morrer. Mas Vander havia confiado em mim o suficiente para me dizer da onde viera, e isso era algo que ele não poderia dizer a ninguém, pois ele era um alienígena e o governo sabia deles até os contratou, já o Nostromus não nos dava nenhuma garantia de que iria cumprir com o trato. Minha mente estava em uma batalha mortal, matá-lo ou não matá-lo, oque fazer? Foi Sofie quem me salvou dela, a dizer:
- Você realmente acha que iremos seguir as suas ordens? Você é o Nostromus, não podemos confiar em você . E se aquela é mesmo sua tropa, então você é o assassino dos meus pais – eu não tinha pensado nisso – e por isso desejo mais que você morra. Assim sendo não iremos seguir suas ordens. - Em seguida ela solta um cuspe na cara dele, e eu respiro aliviado ao soltar toda aquela pressão de mim enquanto Vander relaxa da tensão que estava e embainha a espada.
- Obrigado por confiar em mim. - Diz Vander.
- Sem problemas, eu odeio de mais esse cara para obedece-lo. Mesmo que custe a minha vida. Responde Sofie.
- Amigos? - Vander estende uma de suas mãos para a Sofie.
Ela olha para ele com um olhar assassino e diz:
- Eu ainda não confio em você . A questão é que, com você eu não sei se posso confiar, enquanto com ele eu tenho certeza que não posso. Se que agradecer a alguém, faça ao Khan, é graças a confiança que ele tem em você que cogito também confiar em você . – Vander, assim como eu, fica sem reação. Sofie vai até o outro lado da sala sem apertar a mão de Vander ou dar uma resposta a ele, e se senta com as costas contra a parede.
Olho para Vander. Está em pé, parado, a coçar o seu queixo sem barba como se a tivesse ao mesmo tempo que observava o inofensivo do Nostromus. Ele não precisava de mim. Na verdade ele não estava a me notar ali, perdido em seu devaneio. Portanto eu me aproximo de Sofie e tento a consolar, algo que se mostrou pouco eficaz. Ela parecia querer nutrir uma raiva sobre o Nostromus. E de repente, um grito:
- É isso!
O som havia vindo de alguém as minhas costas. Mas especificamente de Vander saindo de seu devaneio. Eu olho na direção dele, e vejo, um Nostromus confuso e assustado agarrado a parede o mais longe possível de Vander, enquanto Vander olhava para ele com um sorriso assustador no rosto, pergunto:
- Oque foi?
- Eu tive uma ideia.
- E qual é ?
- Nós vamos fazer mais uma caminhada. Irei leva-los para brincar.
E qual é a do sorriso macabro?
- O Nostromus tem medo do escuro.
- Sério? - Digo empolgado.
- Sim, é sério.
- Não, por favor, não. - Diz o Nostromus em tão de suplica enquanto se jogava contra as grandes mais próximas de nós da sua cela. Eu imploro. Façam qualquer coisa menos apagar as luzes.
- E então? Vamos? – Diz Vander.
- Vamos. – Diz Sofie a se levantar em um salto e alegre.
- Olha, olha só. Ou menino. Os faça não apagar as luzes e eu deixo vocês viverem. Eu esqueço todas as ameaças que eu fiz a vocês. Por favor, me perdoa. Please? - Diz o Nostromus a suar de desespero.
Agora, todos estão parados e em silêncio, a novamente olharem para mim. Esperando a minha resposta, e dessa vez eu não teria a Sofie para responder por mim. E como ela estava animada com a ideia de fazer o Nostromus sofrer, eu só queria vê-la assim sempre. Eu tinha minha resposta, digo:
- Vamos!
Então partimos daquele bunker do terror rumo ao corredor do desespero. E enquanto o Vander fechava a porta se era possível ouvir os gritos de desespero do Nostromus em meio ao ranger da porta. Gritos aterrorizantes de pavor, gritos que eu esperava de uma pessoa a ir para um dos interrogatórios da KSM.
A porta se fecha, fazendo um estrondo tão grande que abalou o chão aos nossos pés e nos trouxe o doce silêncio do corredor que logo foi substituído pelos gritos de tristeza e de dor. Atravessamos o corredor, que já não parecia tão assustador e subimos as escadas que nos levavam para fora do porão e ao lugar das pessoas civilizadas.
Na entrada nos encontramos com um soldado magricelo que parecia ter acabado de sair do colégio. Ele estava vindo a correr em frenesi. Mas, ao se deparar conosco, acaba por parar as pressas, fazer uma continência para o Vander e entre berros dizer:
- Senhor, soldado Fernando se apresentando, senhor!
- Oque foi? – Diz o Vander.
- Senhor, precisamos de você imediatamente, senhor.
- Oque é dessa vez? – Disse Vander.
- Em outro lugar, senhor.
- Porque?
- As crianças, senhor. – Disse o soldado a olhar para mim e Sofie.
- Está bem, vamos!
Então os dois saem escola a dentro e a conversar entre cochichos e deixando a mim e Sofie plantados na entrada do porão. Um relógio próximo indicava, já era noite e eu tinha uma ideia. Eu pego a Sofie pelo braço e começo a arrasta-la para lhe mostrar algo belo. Minha primeira contribuição a ela.
A carrego subindo escadas, entrando em dutos de ar pelo chão e nos arrastando por frestas, tudo isso para cortar caminho. E quando finalmente chegamos a última escada, vejo dois guardas a vigia-la. A escada terminava em uma porta, a qual dava no terraço da escola. Era a mesma porta pela qual passei no dia anterior com Vander quando ele foi me mostrou seu planeta de origem. A diferença era que no outro dia não havia guardas.
Eu estava frustrado e irritado. Aquela podia ser a minha melhor contribuição para Sofie, e não conseguia concretiza-la porque guardas estavam a vigiar a porta e dificilmente nos deixariam passar. Aquela era a única passagem que eu conhecia para o terraço e por isso eu decidi arriscar.
Nos aproximamos da escada sem falar nada com eles, como se fosse a coisa mais natural do planeta. Mas quando estávamos prestes a por nosso primeiro pé na escada somos parados por um dos guardas, um homem gordo e baixo, que nos empurra e diz:
- Aonde vocês pensam que vão?
- Nós vamos ver a vista do terraço. – Digo.
- Vocês não podem passar.
- Porquê?
- Não importa. Para vocês basta que não podem passar. Ninguém pode ir ao terraço. – Disse o outro soldado, um homem alto e magro.
- Mas ontem eu consegui subir e porque não posso hoje?
- Ontem é ontem, e hoje é hoje. Hoje você não pode subir e ponto.
Eu já estava desistindo, mas foi quando eu vejo o Vander a vir em direção as escadas. Ele se aproximou perguntou se estávamos bem. No qual eu disse que os guardas não queriam nos deixar subir . Então ele se aproximou dos guardas e diz para abrirem espaço que ele iria subir, oque eles fazem.
Ele começa a subir as escadas, eu o sigo e arrasto Sofie comigo, mas os guardas novamente se põem no caminho impedindo a passagem minha e de Sofie. Chamo por Vander, ao qual olha para trás e ordena aos guardas que nos deixem passar. Eles hesitam, mas dão a passagem. Subimos e nos encontramos no topo dela com Vander. Ele diz que eu o devia essa e então abre a porta. Enquanto ele a abria, Sofie, aproxima a sua boca de meus ouvidos e diz:
- Até que esse Vander é legal. - Atravessamos a porta.
Agora do outro lado eu olho para o céu, está estrelado e tão belo quanto antes. Uma bola de fogo passa voando sobre nossas cabeças e deixando um rastro de fumaça em seu lugar. Vander diz:
- Cuidado. – Me jogo ao chão levando Sofie comigo, mas Vander não faz o mesmo, pelo contrário ele começa a ir na direção em que veio a bola de fogo, ele para no limiar entre o terraço e o solo abaixo. Olho para o céu e a fumaça bola de fogo está se dissipando, criando uma névoa que deixa tudo mais misterioso e belo.
- Pode tirar a venda. – Sussurro para Sofie com a boca tão próxima do seu ouvido que ela provavelmente conseguiu sentir o meu hálito.
Ela tira o tapa olho e vê aquele céu estrelado e esfumaçado. Na mesma hora seus olhos se enchem de lágrimas. Ela me abraça mas seus olhos não saem do céu, ela me diz o quanto aquilo é lindo. Realmente era, as estrelas no céu, as bolas de fogo a passar na nossa esquerda ou direita, foguetes a estourar no céu como fogos de artifício e balas traçantes a passar acima a parecerem estrelas cadentes.
De fato a uma certa beleza na violência. Mas foi quando eu olhei para a esquerda que vi o regente de toda essa beleza, u Vander a fazer movimentos com as mãos e de alguma forma, fazendo os objetos seguirem os seus movimentos.
Nesse momento eu entendi, ele era um dos heróis contados nas lendas. Pessoas com habilidades especiais vindas de outros cantos do universo, ao qual sempre surgiam para salvar algum planeta. Ele era um dos extintos hunters.
Nesse instante, em que eu já havia conseguido oque eu tanto queria, o cansaço começa a me alcançar. Meus olhos se fecham, e o calor vindo do corpo de Sofie contra o meu age como a um cobertor. Tento lutar, eu não queria dormir, não agora. Eu queria os espólios da minha aventura, a beleza da alegria estampado no rosto de Sofie. Sou vencido, durmo nos braços dela. Foi o melhor sono que já tive na minha vida.
Quando eu acordo o dia seguinte já havia chegado. Eu estava em um quarto, o sol a entrar de uma única janela batia em meu rosto para me avisar do novo dia. Olho para a direita e ninguém. Olho para a esquerda e vejo Vander sentado em um canto e a afiar uma espada. Eu me mecho e gemo enquanto expulso a preguiça e ele, ao me perceber acordado, para de afiar a espada e fica a me observar, digo:
- Oque houve?
- Bom dia! - Diz Vander. – Educação por favor.
Bom dia! Oque houve?
- Nós vamos nos render e entregar os prisioneiros. Eles prometeram que não matariam ninguém, mas eu não confio neles. Eles já chegaram atirando sem nem querer saber se eram civis ou não. Mesmo que cumpram a promessa eles ainda assim causaram muitas atrocidades a essas pessoas, talvez piores do que a morte. Por isso eu te peço. Venha comigo! Para o meu mundo. Vamos embora daqui. – Eu só conseguia pensar em uma coisa. Onde está Sofie e por isso oque eu disse foi.
- Cadê a Sofie?
- Está tomando café.
- Tá, traga ela aqui.
- Tudo bem. Mas antes me responda. Se eu for embora desse mundo você vêm comigo?
- Somente se a Sofie for junto.
- Feito. – Ele sai do quarto desesperado a procura de Sofie.
Volta alguns minutos depois com uma Sofie suja, com teias de aranha presas ao cabelo, com as mãos cinzas de tanta poeira, rosto áspero de tanta areia e roupas tão sujas que mais pareciam trapos. Esperamos até que ela tome um banho para então explicarmos tudo a ela, aonde ela aceitou somente quando soube que ficaria comigo, em seguida partimos. Rumo a entrada da escola, na esperança de que consigamos sair do planeta.
Já na entrada estamos na frente de uma multidão que se espreme para estar o mais perto possível da entrada. Se o grupo do Nostromus não seguir o acordo e atirar em todo mundo, os primeiros a correr terão mais chances de sobreviver. Eu, Vander e Sofie ficamos de mãos dadas para que a multidão não nos separe. O portão se abre.
A multidão empurra, mas os guardas impedem qualquer um de sair. Vejo o prefeito a caminhar para a entrada com o Nostromus acorrentado ao seu lado. Ainda assim se era possível ver o medo no rosto do prefeito. Ele diz:
- Aqui está o líder de vocês. - o prefeito esfrega a barba com a mão esquerda e um guarda se aproxima do Nostromus e ergue a cabeça dele mostrando o rosto dele. Não havia dúvidas, era o Nostromus. - Levem no - O guarda solta o Nostromus e o prefeito o empurra na direção deles. – mas cumpram o prometido. Nos deixem viver em paz.
O porta voz do grupo rival agarra o Nostromus, saca uma pistola do coldre e dispara. Ele mata o Nostromus. Seu corpo cai como um saco de batata. Nesse momento todo o medo que algum dia eu já senti dele se esvai e fica só uma indiferença quanto aquele corpo no chão, eu nunca choraria por ele. O assassino diz:
- Vocês acham que somos idiotas? - Não entendo nada. – Vocês acham que não sabíamos a verdade? - Vander fala algo tão baixo que só consegui ver sua boca mexendo e mais nada. - Vocês realmente acham que não saberíamos diferenciar o Nostromus falso do verdadeiro. - Nesse instante sai do meio deles um homem coberto por uma capa. Ele se aproxima do assassino e retira a capa, era o Nostromus . Travei nesse mesmo instante, meu medo havia retornado. Mas uma coisa ainda me intrigava. Como podia haver dois Nostromus. Claro, nunca houve dois, simplesmente um deles era falso. – Esse é o verdadeiro Nostromus. Nos o interceptamos em um comboio a ir para a capital. Vocês realmente acham, que nós não descobriríamos o plano de vocês? Vocês realmente acharam que seríamos idiotas ao ponto de não sabermos identificar o nosso líder? Vocês são ingênuos demais .
- Nos não mentimos esse era o homem que estava conosco. Se esse não é o verdadeiro a culpa não é nossa. O trato era entrega-lo a vocês, oque fizemos. Agora cumpram com o prometido, nos deixe ir em paz. – O prefeito, ao dizer tais palavras, demonstrava nervosismo em seu rosto. Seus olhos não paravam de piscar, suas mãos estavam inquietas e sua boca extremamente seca.
- Vocês são mesmo muito ingênuos, acham mesmo que iriamos cumprir com o prometido? - O prefeito balança a cabeça confirmando. – Idiotas! - Ele dá um tiro na testa do prefeito que o mata na hora. - Matem a todos. – Ele se afasta.
Todos os homens pegam suas submetralhadoras Mk-42, e começam a atirar para todos os lados. Os guardas, pegos de surpresa, não tiveram nem tempo de reagir já estavam mortos. Eles até tentaram fechar o portão mas os renegados não lhes deixaram mover o portão mais que alguns centímetros antes de matá-los.
A multidão em si correu desesperada para todos os cantos na tentativa fugir das balas, corriam cada vez mais para dentro da escola, na procura de algum lugar para se esconderem já que correr para fora era suicídio. Ninguém esperava submetralhadoras.
Quanto a nós, ficamos parados no mesmo lugar sem nos mover com as balas a ricochetear no chão ao nosso redor. Eu bem que tentei correr mas Vander era mais forte e não conseguia arrasta-lo ou soltar minha mão. Eu era o único dos três que tentava fugir e ao juntar isso com o fato de minha tentativa de fuga não estar funcionando. Eu decidi fazer o mesmo que eles. Me aproximei deles, olhei para Vander, ao qual me olhou de volta, e então para os assassinos. Apesar do medo, eu não movia um músculo .
Incrivelmente as balas não nos atingiam, na verdade as que vinham em nossa direção desviavam. Era Vander que as desviava, assim como havia desviado as bolas de fogo no dia anterior. Vander começa a andar em direção aos inimigos, Sofie o segue e eu, com medo de ser atingido, faço o mesmo.
Cada vez nos aproximamos mais deles e cada vez mais balas são atiradas em nossa direção, nenhuma delas nos atinge. Estamos agora a alguns metros do portão, todos os tiros vêm em nossa direção, é visível o desvio das balas. As outras pessoas ao verem os tiros a virem somente em nossa direção começam a correr em direção a saída. O porta voz que antes estava em meio aos soldados e cada vez mais longe da escola, para a sua caminhada e retorna na direção da escola.
Chegamos ao portão, a multidão que está a alguns metros de nós continua a vir na direção da saída. O porta voz deles chega na linha de frente dos soldados e para. Ele olha para nós e diz o nome de Vander, algo que não se dava para ser ouvido mas dava para ser lido.
Em seguida ele saca uma pistola, a mesma com a qual matou o prefeito. Olho para Vander, pela primeira vez na vida o vejo com medo. Olho para o homem e o vejo a sorrir, foi quando ele atira.
Primeiro minha visão fica turva e em seguida eu sinto meu corpo ser esticado em espiral parecendo ser feito de chiclete, era incomodo mas não doloroso. Então o sinto ser comprimido ao tamanho de uma ervilha, e depois mais, até o tamanho de uma célula, e mais, até sumir.
Meu corpo é esticado de novo, até o tamanho original. Minha visão volta, e eu não estou mais na escola, mas sim no alto de um monte coberto por um tapete verde de grama e com vários outros montes verdes envolta. Vander solta minha mão no exato momento em que me curvo para vomitar. Ele anda para atrás de mim. Paro o vômito e me viro em sua direção, vejo um objeto de metal que lembrava em muito um dos destroços da revolução planetária, era grande como uma casa e brilhante como uma estrela. Me aproximo de Vander e digo:
- É a sua nave? – Meus olhos brilhavam de emoção.
Por detrás de Vander vejo Sofie, em pé e a abraçar as próprias mãos. Ela parecia não entender nada e eu, com toda a adrenalina que havia liberado, largo Vander antes de ele me dar uma resposta e corro até Sofie. Quando a alcanço me jogo em cima dela a abraça-la e caímos juntos no chão. Rolamos por alguns metros até pararmos e no fim um sorriso se abria no rosto de Sofie. Digo a ela:
- Tira a venda isso é muito lindo.
É oque ela faz. Logo após se levantar, ela olha ao seu redor, e quando volta a olhar para mim. Em seu rosto era visível a mais bela das visões, mais bela que aquele campo. Uma visão que eu só havia visto uma outra vez. Uma visão de encantamento. O mais belo dos espólios. Seus olhos brilhavam de tão úmidos que estavam, suas bochechas coradas e sua expressão demonstrava uma felicidade descomunal. Ela diz duas palavras, duas palavras a quais nunca mais ouvi numa mesma frase:
- Que lindo!
Uma claridade inunda meus olhos me deixando temporariamente cego, em seguida vem um estrondo como uma explosão. Minha visão retorna, no momento em que surge um vento que faz meus cabelos balançarem, ouço a voz de Vander a dizer:
- Crianças, venham cá!
Dou as costas para a origem da luz e, de mãos dadas com Sofie, começo a subir o monte o mais rápido possível, indo até Vander. Onde, ao chegarmos, com o olhar fixo na origem da luz ele diz:
- Atrás de mim. - Fazemos oque ele disse ao mesmo tempo que ele materializa uma espada na mão.
- Ora, ora, se não é o Vander. – Diz uma voz que eu não assimilava a nenhum rosto mas me parecia familiar. Sua origem vinha de onde veio a luz, para aonde eu olho e vejo 3 homens a vir vagarosamente em nossa direção, entre eles aquele ao qual foi o porta voz do grupo do Nostromus. Foi ele quem falara.
- Yuri, oque vocês vieram fazer aqui?
- O mesmo que você. Viemos por causa da criança. – Vander olha para nós se deparando com nossos olhos de incompreensão, ele volta a olhar para eles. - Agora nos entregue ele e não lhe faremos mal nenhum.
- Eu não sei do que vocês estão falando. – Diz Vander.
- Anda logo Vander, nós sabemos que há uma criança nesse planeta com predisposição a ser Hunter e também vimos o garoto desviar as balas. Nos entregue logo a criança. - Era isso. No dia em que meu pai morrera nenhuma bala me atingiu, eu inconscientemente as havia desviado. Eu era igual a Vander.
- Para isso terá que me matar. - Vander materializa uma segunda espada.
- Será um imenso prazer. - Então ele dá um sinal e os outros dois homens começam a correr em nossa direção. Vander corre na direção deles.
Eu tento correr atrás dele. Mas Sofie, agarra o meu braço e assim me impossibilita de ajudá-lo. Olho para ela com raiva, mas o rosto dela demonstrava medo, um medo que me fez esquecer de toda aquela raiva e só pensar em protegê-la.
- Não vai. - Ela disse numa voz vacilante. Eu olho para ele em sua luta contra os dois aliados do Yuri, ele parecia perder. Eu volto a olhar para ela.
- Eu preciso ajudá-lo. - Digo.
- Mas e eu. - Olho novamente para Vander, ele ainda estava a lutar com os dois caras, ele ainda parecia em desvantagem, as espadas tilintavam ao contato e a força aplicada era tanta que elas produziam faíscas.
- Ele vai morrer. – Olho para ela. - Eu tenho que ir ajudá-lo. Eu, - Novamente para ele. - com os meus poderes, sou o único que posso ajudá-lo .
Sinto o meu braço , antes preso a ela, pender para junto ao meu corpo. Ela havia me soltado. Olho para Sofie feliz por ela ter compreendido oque eu havia dito. Eu queria abraça-la e agradecer por ela ter me permitido ajudá-lo . Mas ao olhar para ela vi algo até então inimaginável , algo que me fez esquecer da batalha nas minhas costas. Eu vi a Sofie chorando. Algo inédito até então. Eu estava surpreso e não sabia oque dizer, então a Sofie tomou a frente e diz:
- Tá, mas e eu. Quem irá me proteger deles, quem irá me mostrar as belezas desse mundo, quem irá me salvar.
Pronto, eu havia perdido toda a vontade de ajudar o Vander. Tudo que eu queria era ficar ali com ela a mimando até aquele medo que ela sentia fosse expelido dela. E então eu a abraço, levo minha boca até o seu ouvido e digo:
- Eu a salvo. – Ela me aperta ainda mais forte enquanto me agradece e me enche de beijos. É nesse momento que um grito, mais parecido vindo de um urso ecoa pelos meus ouvidos me trazendo de volta a batalha.
Eu solto a Sofie aonde ela volta a fazer uma cara de choro, talvez achando que eu iria abandona-la. Eu me viro na direção de Vander e vejo os três, ainda a lutar mas com sangue a se espalhar pelo chão. Fico nervoso com o possível sangue de Vander e a vontade de lutar volta, porém Sofie agarra a minha mão e o sentir da sua mão na minha me fez esquecer novamente a vontade de lutar. Só fico a observar.
Os três estavam afastados e aparentemente exausto, o Yuri de longe só ficava a estimular os seus amigos para atacarem, ele dizia:
- Vamos lá, ele está cansado, não estão vendo? Partem para cima antes que ele se recupere.
Ou se não dizia:
- Qual é, vocês vão bancar os covardes mesmo? O ataquem logo e acabem com essa merda.
Ou então:
- Eu sei que vocês estão perdendo, o Dimitri está ferido, – quando eu ouvi isso um alívio veio em meu peito, afinal aquele sangue não era de Petrick. - mas eu não entro na batalha porque algo dentro de mim diz que ainda posso confiar em vocês para vencerem essa. Por isso não me desapontem.
Isso ainda durou alguns segundos, com o Yuri a dizer frases similares a essas, e só parou por um Vander a rir. Uma gargalhada malévola e sinistra que encobriu a voz de Yuri e o fez se calar até ela acabar, foi então que ele disse:
- Oque foi? Pirou de vez?
- Não. É que eu acho covardes algo muito engraçado e aqui eu tenho três. - Disse Vander.
- Que covardes? Você e as duas crianças?
- Novamente não. Eu estou falando de vocês três.
- Então prove.
Nesse instante Vander ameaça avançar, somente flexionando os joelhos, e os dois capangas até pensam em fugir mais hesitam e param no meio do caminho. Vander ameaça novamente repetindo o movimento e eles também repetem seus movimentos. Vander dá mais uma risada e então, uma última vez ele ameaça. Dessa vez ele dá um salto para frente e os dois correm. Um deles, desesperado, tropeça no próprio pé e vai ao chão. Vander não se segura e cai na gargalhada. O outro capanga, sem se importar com o amigo que caíra, só para quando dobra a distância entre ele e Vander. Enquanto isso Yuri, ainda de longe, fica a dar ordens para que eles não fujam, ou, quando os viu fugir de forma atrapalhada. Ele os condena lhes chamando de covardes por todos os jargões possíveis.
- Viu, três covardes. – Disse Vander.
- Eu só vejo dois. - Disse Yuri.
- Esqueceu de você.
- Eu não sou covarde.
- Então venha me enfrentar.
- Está bem. – Yuri começou a vagarosamente descer o monte enquanto fazia exercícios de aquecimento. – Agora você vai ver quem é covarde. Ele passa pelos dois capangas e lhes faz um sinal para que o sigam. – Venham! Vamos mostrar para esse tal de Vander quem é o covarde. – Ele e os capangas cercam o Vander. Ele materializa uma espada ligeiramente grande e um escudo ainda maior. Primeiro os capangas partem para cima.
O primeiro a ataca-lo estava em um terreno mais alto e da um salto para cima de Vander tentando rasga-lo ao meio. Mas Vander, com certa facilidade, consegue bloquear o ataque. Porêm ele não esperava que esse seria apenas uma distração para o verdadeiro ataque, um chute na costela. A dor é lancinante, mas mal o primeiro capanga dera seu ataque o segundo já vem para enfrenta-lo e assim o forçando a engolir a dor e se concentrar no inimigo.
Esse segundo capanga vêm correndo nivelado a Vander, porém era mais baixo. Esse faz um ataque desajeitado na altura da cintura, era o capanga que havia caído. Vander prevê o ataque dele e se prepara para bloquear, ele iria dar um contra ataque assim que bloqueasse o ataque e o mataria na hora. O tal capanga provavelmente percebeu oque Vander faria mas mesmo assim continuou o ataque, talvez fosse impossível a ele parar o ataque. Ele se aproxima e um sorriso volta a surgir no rosto de Vander. Vander inicia o movimento do contra ataque, agora já era visível a intenção de Vander. Vander iria trazê-lo a morte.
O capanga está a alguns centímetros dele e a alguns segundos da morte. O capanga se agacha, o sorriso se esvai do rosto de Vander, substituído por uma feição de surpresa. Em um segundo o inimigo havia mudado o local de ataque passando a mirar nas pernas.
Vander, com toda a sua habilidade, até consegue bloquear o ataque repentino, mas não foi o suficiente. Com o bloqueio, Vander conseguiu impedi-lo de arrancar a sua perna, mas ainda assim causando um corte superficial em sua perna. O suficiente para faze-lo cair de joelhos e não conseguir se levantar.
Ainda assim o Vander conseguiu dar o seu contra ataque e arrancar a mão do capanga que segurava a espada. Já o capanga, ao ver a mão decepada, vai ao chão e começa a gritar de dor. Um grito idêntico ao que eu tinha ouvido antes. Nesse momento o Yuri volta a se aproximar lentamente, e enquanto caminha ele diz:
- Vander, Vander. Você realmente achou que poderia me derrotar. Você realmente achou que já estava forte o suficiente para finalmente me vencer?
- Não entendi. Pode repetir? - Disse Vander.
- É oque? - Disse Yuri.
O capanga gritava muito alto. E isso os atrapalhava a ouvir um ao outro. Então Yuri parou na frente dele, sacou uma arma, apontou para o capanga e disse:
- Dá para calar a boca. – O capanga não pareceu dar ouvidos e continuou a gritar.
Ele deu um tiro e após o estalo da morte só houve um silêncio. Um silêncio que foi extinto por um Yuri que havia retornado sua atenção para o Vander. Ele estava limpando o sangue na pistola com um pano e um sorriso em seu rosto, enquanto dizia:
-Você deve ser muito idiota sabia? Fica ai se achando o fodão. Pensando que é invencível. Que é capaz de me derrotar com facilidade. Mas eu tenho uma palavra para você. – Ele desaparece , havia dado teleporte.
Enquanto isso o capanga restante que estava até então em silêncio, na esperança de o terem esquecido, se vê sozinho. Vander, sem mais nenhum outro inimigo com o qual se preocupar, se vira para ele e solta um sorriso que mais parecia forçado. Oque assusta o homem e o faz querer correr, porém não o faz. E então um clarão ocorre, que veio seguido de um estrondo ensurdecedor.
Foi um raio, ele havia caído logo atrás de Vander e em seu lugar ficou uma fumaça negra e densa da qual sai um rosto que se aproxima do ouvido de Vander e lhe sussurra algo. O rosto de Vander era puro pavor e sua única reação foi utilizar uma das espadas em um ataque de meia lua em direção a fumaça densa. Ao fazer o ataque um homem sai da fumaça em meio a um salto gigantesco, que o fez voar por metros até alcançar o solo. Era o Yuri, com um arranhão na barriga. Ele olha para a ferida e diz:
- Bom ataque. Gostei! Previsível, mas veloz. Mas agora, você vai morrer. - O Yuri materializa a sua espada e então corre em direção ao Vander.
Eu não conseguia me segurar mais. Soltei a mão de Sofie e a disse que ela ainda teria o Vander, em seguida eu corro. Corro para impedir de que matassem o Vander. Mesmo que morresse, eu pelo menos daria uma chance a Vander de ataca-lo. E se Vander sobrevivesse eu pelo menos sabia que Sofie estaria a salva e longe desse planeta, que transforma os seus maiores medos em realidade assim como suga os seus sonhos e esperanças.
Eu corro, contra Yuri e contra o tempo. Quem chegaria primeiro a Vander. Eu já tinha começado na desvantagem, pois ele estava mais perto de Vander que eu. Mas eu ainda acreditava que conseguiria. Eu corro como um desesperado sem pensar em mais nada além do chão a minha frente e do meu alvo, o Yuri. O mesmo, ainda era meu rival, corríamos sem parar, um contra o outro, somente um sairia campeão.
O tempo foi passando, os segundos pareciam horas, e eu não sabia oque acontecia. Eu parecia estar mais veloz que o tempo, e tudo parecia passar em câmera lenta. Talvez seja os meus poderes a se demonstrarem novamente, ou Vander a tentar ganhar tempo, talvez o cosmos a conspirar a meu favor uma última vez. Eu não sei. Pelo menos eu teria uma chance real de alcança-lo e isso me animava. Corro ainda mais veloz.
Estou a um pouco mais de um metro do Vander e o Yuri, que se encontra a alguns centímetros do Vander, inicia o seu movimento de ataque. Pelo menos o Vander parecia pronto a bloquear o seu ataque. É neste momento, que o Yuri da um salto.
Ele salta dando um mortal por cima do Vander, o mesmo aparenta estar impressionado. Eu salto junto com o Yuri na esperança de impedi-lo de completar o ataque . Um salto que mais pareceu um voo, um salto com mais de 5 metro. Eu o alcanço ainda no ar, quando ele passava sobre a cabeça do Vander. Eu o agarro.
Aquilo me encheu de felicidade, eu acerto o Yuri pela esquerda, me agarrando a sua coluna e o impossibilitando de completar o movimento da maneira que esperava. Mesmo assim ele dá o ataque. Um ataque que Vander conseguiu bloquear com facilidade, mas ao qual Yuri aplicou tanta força que quebrou as espadas gêmeas de Vander em pedaços, assim como a sua própria espada. Uma vitória derrota.
Vou ao chão a esquerda de Vander junto com Yuri, o qual ainda rola no chão por alguns metros. Eu havia caído com a cara virada para o chão e não sabia nada oque acontecia nos meros segundos, até que me levanto. E oque eu vejo é um Vander sobre a mira de um revólver. Eu pensei, “essa vai ser fácil, se ele conseguiu desviar todas aquelas balas no colégio vai ser simples desviar o tiro de um revólver.”, mas não era tão simples. E isso era visível no rosto de piedade do Vander, além de sua boca a implorar por clemencia enquanto o Yuri ficava a ameaça-lo de morte e a xinga-lo de todas as maneiras possíveis.
Enquanto isso eu não entendia nada, como era possível a Vander temer tanto uma pistola se conseguia desviar o tiro de cem pistolas ao mesmo tempo. A verdade é que aquela não era uma pistola comum. Era a mesma pistola que fez Vander faz um teletransporte da escola, e era a mesma pistola com a qual Yuri matara um dos seus capangas, talvez ela tenha algo de especial. Tive uma ideia, era arriscado, mas era uma ideia, a única que eu tinha.
A ideia era simples e consistia em já que o Yuri estava fazendo tudo isso por minha causa, será que ele teria coragem de atirar em Vander comigo entre a bala e Vander. Corro na direção de Vander e me ponho a sua frente. Yuri diz:
- Oque você está fazendo moleque? Acha que conseguira desviar a bala? Desista, ninguém consegue.
- Não é isso. A verdade é que gostaria de saber se você tem coragem de mata-lo sabendo que me perderá junto.
- Ou menino sai da frente.
- Nunca.
- Sai daí Khan. – Diz Vander.
- Você está louco? Se eu sair daqui ele te mata. - Digo para Vander.
- Você é um garoto muito bom Khan.
- Ou garoto! Vamos fazer um trato. Você vêm comigo e eu deixo o seu amigo vivo. Trato feito? – Disse Yuri.
- Não, eu nunca iria com você. - Respondo.
- Aí, aí eu não entendo. Você gostaria que o seu amigo saísse vivo e eu gostaria de tê-lo comigo. Com a minha proposta os dois sairiam ganhando, porque não aceita a minha proposta ?
- É porque, se eu fosse contigo, tudo isso pelo qual o Vander está passando teria sido em vão. Por isso eu nunca irei com você. Eu morreria antes.
- Então se eu não posso tê-lo. Ninguém o terá! - Ele dispara a sua arma.
A bala começa a cortar o ar entre nós, ela vêm em uma velocidade inimaginável, e ,nesse momento, perto da morte, a minha mente começa a pregar peças em minha mente. Eu começo a ver cavaleiros, negros como as sombras, a correr pela colina logo atrás de Yuri. Eles vêm em nossa direção e a empunhar espadas.
Em alguns segundos a visão é substituída por cenas da minha vida, eu com os meus pais a brincar nas praças da cidade em um daqueles momentos de paz, ou senão eu em um dos vários cafés da manhã que eu tinha com o meu pai sempre com uma breve conversa. Uma das frase ecoa em minha mente, meu pai a dizer:
- Filho, a vida é bela. Então nunca a despedisse atoa e principalmente, não deixe nenhuma outra pessoa desperdiça-la, pelo contrário, mostre a ela porque a vida vale a pena. Isso é a melhor coisa que se pode fazer por alguém.
Em seguida foi a vez de ouvir a voz de Sofie:
- Oque que você tem?
- Do que você está falando? – Era a minha voz.
- Se você está na enfermaria é por que tem alguma coisa . Oque é? Em seguida minha visão volta ao normal e consigo ver a cena. Eu estava de volta a enfermaria do hospital, no instante em que conheci Sofie. Eu vi toda a nossa conversa, e quando a enfermeira fechou a cortina que encerrou nossa conversa visão voltou a ficar negra. Eu só conseguia pensar o quanto ela estava bela com aquele roupão de hospital.
Volto a realidade e ainda estou vivo. A bala continua em sua viagem rumo ao meu peito, o tempo parece passar ainda mais lento e os segundos parecem demorar dias. Os cavaleiros de sombra estão a poucos centímetros de Yuri. E então o momento fatídico, fecho os meus olhos. O tempo passa e nada, então abro os meus olhos.
Lá estava Sofie, a minha frente, e com sangue a escorrer pelo seu corpo. Ela se joga para trás e eu a pego em meus braços. Havia um buraco em seu peito. Começo a chorar e ela diz:
- Não chora. Eu vou ficar bem! - Eu sabia que ela estava mentindo.
- Me desculpa. Eu falhei, não consegui te proteger. As lágrimas escorriam do meu rosto e atingiam o dela.
- Posso te pedir uma coisa? – Disse Sofie.
- Qualquer coisa.
- Você poderia tirar a minha viseira eu quero vê-lo uma última vez com meus olhos. – Retiro a viseira e o seu olho de cor carmesim se fixa em mim. Ela, com muito esforço, estica o braço e encosta a mão em meu rosto. – Até hoje eu não encontrei nesse mundo algo mais belo que você .
Eu não conseguia mais me segurar e tinha que dizer para ela antes que ela vá , eu digo:
- Sofie. – Ela parecia perdida.
Oque é? – Ela tenta se concentrar em mim, mas mesmo assim ela ainda está quase inconsciente.
- Eu te amo! – Digo. E um peso enorme se vai das minhas costas.
- Também te amo.
Foi frase mais bela que eu já ouvi em toda a minha vida e eu não aguento. Lhe dou um beijo . Um beijo gélido e sem movimento . Meu primeiro e único beijo verdadeiro tinha sido a um defunto. Meus olhos cheios de raiva.
Eu olho para o Yuri e vejo seu corpo cair ao chão sem ninguém para agarra-lo enquanto os cavaleiros de sombras se esvaiam ao vento logo após estocarem as suas espadas no Yuri. Uma mão se agarra no meu ombro. Era o Vander, ele disse:
- Eu sinto muito por ela. Mas você tem que entender. Ela fez isso, não para impedi-lo de morrer, mas para que vivesse. Então viva a vida da melhor maneira possível. O ódio não fará isso.
Então eu esqueço o meu ódio e me preparo para dar um enterro a Sofie. Cavo um buraco e a enterro ao por do sol. Com as colinas ao longe para fazer sombra. Encima de uma delas estava um homem a nos observar, o encaro e ele da um teleporte. Era o capanga do Yuri.
Termino o enterro com um adeus Sofie e então parto arrastando o Vander até a nave. Sigo as suas ordens e parto com ele daquele planeta cheio de horror e desespero, rumo a um lugar de esperanças e tranquilidade.
Anos depois descobri que eu na verdade não tinha poderes especiais e que aquela bala a atingir Sofie deveria ter ultrapassado o seu corpo e me atingido.
Conclusão, Sofie era a verdadeira Hunter e ela sabia dos poderes, ela havia concentrado os poderes nas costas para que a bala não me atingisse. Era o único jeito de alguém sobreviver. O capanga de Yuri que veio um dia até mim e me contou. Ele disse que um dia Yuri havia lhes dito que uma pessoa sobreviveu ao tiro dessa forma, ele também disse que foi ele a invocar os guerreiros de sombra.
Outro fato é que eu nunca mais amei ninguém como amei a Sofie, meu único e verdadeiro amor nessa vida. É claro que eu me casei, eu até tive uma filha, a qual dei o nome de Sofie. Mas a verdade é que nunca amei alguém como a ela e por isso o casamento não durou muito, eu só queria viver a vida da melhor forma possível. Eu, sempre que estava sozinho, me pegava a conversar com ela enquanto ficava contemplar toda a imensidão do universo e uma vez ao ano fazia uma viagem escondida até o meu planeta natal. Para, no dia de sua morte, visita-la em seu túmulo.
Quanto a Vander, ficou paraplégico devido a um veneno que havia na espada do capanga. Um veneno que modificou o seu DNA e impossibilitou aos médicos fazer uma cópia perfeita dele. Ele teve que desistir da carreira de Hunter e só conseguiu viver graças ao auxílio do governo. Quando ele morreu, eu, o seu único amigo que havia sobrado, o enterrei ao lado de Sofie e comecei a fazer duas viagens ao planeta. Até que eu finalmente morri e fui enterrado entre os dois pela minha filha. Na morte eu voltei a ter doze anos e me reencontrei com meus pais, eles estavam mais jovens e felizes além de nunca mais ficaram longe um do outro. Pelo menos agora eu espero poder finalmente viver em paz e claro que com a Sofie ao meu lado. Para toda a eternidade.
War. War never change.
FALLOUT
NOTAS DO AUTOR
Olá eu sou H.C.SILVA e espero que tenham gostado desse conto. Eu sei que ele é triste e que muito provavelmente eu consegui algumas contribuições para a minha cota mensal de lágrimas. Mas vamos lá, se pararem para pensar tem coisas muito mais tristes que esse conto. Como o filme Sempre ao seu lado, esse sim é triste, um cachorro que sempre ficou a esperar o retorno de seu dono em uma estação de trem acaba o perdendo em um acidente. Mas o cachorro continua a espera-lo na estação por toda a vida, até que ele morre e finalmente reencontra o seu dono.
Isso sim é triste. Também tem o filme Lion, uma jornada para casa ao qual não contarei a história pois saiu a pouco tempo. Mas, voltando ao que interessa, eu espero realmente que tenham gostado do conto. E eu já lhes digo que quando eu tive a ideia pensei, “essa história é perfeita para um livro”. Porêm, se eu fosse fazer isso, iria demorar muito tempo para escreve-la, pois eu tenho um cronograma de livros que pretendo lançar. Então decidi fazer um conto, por isso ele é tão grande. Eu também gostaria de agradecer aos mais de 300 leitores que tenho no recanto das letras, é por vocês leitores que eu escrevo essas histórias. Desde já muito obrigado e esperem pelo novo conto que virá no próximo mês. Uma continuação de um dos três. E quem sabe eu finalmente consiga lançar dois contos em um mês. Adeus, e: Eu não conheci o outro mundo por querer.
Texto escrito, editado e revisado por H.C.SILVA, aquele que por um F não pode ser chamado de FHC.