Capitão Barbosa e as figuras de linguagem


O infatigável Capitão Barbosa, da Frota Espacial Brasileira, insigne Comandante da espaçonave Antaprise, está de volta em outra das suas histórias! Dessa vez o nobre capitão aparece numa trama bem à Isaac Asimov, ou seja às voltas com as Leis de Robótica...



CAPITÃO BARBOSA E AS FIGURAS DE LINGUAGEM
Miguel Carqueija

O famoso Capitão Barbosa, comandante da espaçonave brasileira Antaprise, encontrava-se em seu gabinete, ocupadíssimo resolvendo palavras cruzadas, quando a porta foi aberta de supetão e Arquibaldo, o cozinheiro, entrou intempestivamente:
— Capitão Barbosa! Capitão Barbosa!
— Que foi, homem? Não vê que estou ocupado?
— Desculpe, capitão, mas é que o senhor precisa dar um jeito no Robosildo!
— Como assim? Ele é um produto perfeitamente garantido!
— Mas, capitão... ele está perturbando na cozinha...
— Hein? Isso é impossível, você sabe! O Robosildo é um robô, não sei se você percebeu, e robôs simplesmente não comem!
— Mas podem cozinhar, Capitão Barbosa...
Com um suspiro, Barbosa conformou-se em guardar a revista na gaveta, sem ter encontrado o sinônimo de “estilicídio”.
— Qual é exatamente o problema?
— Simplesmente esse, meu capitão: parece que o senhor se aborreceu com o Robosildo por qualquer razão que me escapa, e mandou-o fritar bolinhos. Ora, é exatamente isso que ele foi fazer na cozinha. Está lá fritando bolinhos de bacalhau, de batata, de carne, até de arroz. E como ele não sabe cozinhar, está queimando tudo!
“Ainda bem — pensou tristemente o comandante — que eu não o mandei catar coquinhos. Como não existem coquinhos a bordo da Antaprise, provavelmente ele iria querer procurá-los lá fora. Só que estamos em pleno espaço e se ele abrisse uma comporta todo mundo morreria...”
Barbosa fitou a baita pança do cozinheiro e observou:
— Mas isso foi apenas uma figura de linguagem!
— O senhor sabe disso e eu também sei, mas o raio do robô não sabe! Robôs entendem tudo ao pé da letra e o pior é que eles não questionam nada!
— Por que você não o manda parar? Afinal, pela Segunda Lei da Robótica, robôs obedecem aos seres humanos.
— Bem, eu tentei. O maldito autômato me respondeu que não pode me obedecer porque eu sou apenas um reles cozinheiro e ele recebeu ordem do senhor, e o senhor é que é o comandante da Antaprise. Quer dizer, quem tem que desfazer a ordem é o senhor.
— Pelo menos é um idiota mecânico que tem perfeita noção de hierarquia. Está bem, eu vou lá e resolvo o assunto. Mas primeiro me diga: você sabe o que é “estilicídio”?



(Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 2017)



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