TAO, O IMPIEDOSO
22 de Abril de 2015. Órbita de Japeto.
–Não eram alakranos. Eram xawareks.
Aldo esperava encontrar os famosos alienígenas que provocaram a destruição de Ran e só encontrou uma das suas raças clientes falando a língua primária alakrana. Ainda assim, o interrogatório foi interessante.
Descobriu-se que ainda restavam dezenas de colônias xawareks com fêmeas e crias nas galerias subterrâneas.
Duas foram atingidas pelo bombardeio; matando centenas de seres. Os terrestres e marcianos fizeram algumas incursões nelas para avaliar seu poder de fogo. Descobriram que até as fêmeas eram tão aguerridas como os machos; dispostas a lutar até a morte honrosa. As duas maiores colônias xawareks sobraram inteiras com mais de oito mil seres.
Aldo desistiu de destruí-las ao perceber que não representariam mais perigo por não possuir naves. Restaram algumas naves de caça inteiras e nenhuma nave-mãe. Sobraram veículos de superfície e subterrâneos, dois engenhos de produção de alimentos e colônias menores. Estavam presos na rocha para sempre.
Talvez um dia fizessem a paz com os taonianos; matá-los seria um crime imperdoável e Aldo já tinha muitas mortes na consciência.
No entanto os rebeldes Yord mereciam morrer e ele queria prender algumas dezenas deles para presentear ao imperador e matar o resto. Ainda sentia na pele as chicotadas de Suer Dut.
Foi feito um acordo. Os terrestres devolveriam todos os prisioneiros xawareks capturados e os xawareks entregariam a localização de todas as bases dos rebeldes Yord que ainda estivessem em Japeto. E eles os entregaram.
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23 de abril de 2015. Taônia, Palácio Imperial.
O trono de Tao era modesto, Tao também. Seu rosto inteligente, porém duro, mantinha-se indecifrável. Seus olhos penetrantes analisavam as mínimas expressões e gestos de Aldo.
Tao estudava o terrestre com dissimulado interesse, ouvindo suas palavras com atenção crescente; à medida que Aldo expunha a situação do Sistema Solar até a data, incluído o relatório sobre o interrogatório dos prisioneiros.
Agora ele estava à par dos fatos relacionados à chegada dos terrestres e troianos a Titã, a exceção, por enquanto, do nascimento de Alvin e da relação com os vurians, para que ele não se interessasse demais pelos pacíficos caçadores.
Em compensação os rebeldes Yord estavam derrotados e os xawareks também, fato que eclipsava tudo o que fosse secundário.
Aldo chegara ao aeroporto de Taônia na patrulheira de Ives com Marnes e Wassermann como escolta. As naves terrestres ainda estavam em órbita de Japeto, pois a resistência de superfície não acabara; embora fosse questão de tempo, já que os xawareks negaram apoio aos rebeldes.
Aldo não queria mais prisioneiros e tinha dado ordem de exterminar os rebeldes humanoides Yord que ainda estivessem por lá.
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Tao, o Impiedoso.
–...E isso é tudo, Sua Suprema Inteligência. Os ataques a Taônia acabaram de vez; resta acabar com os últimos Yord lá encima e será feito em breve. Os xawareks restantes foram pacificados e não representarão perigo.
Tao ficou surpreendido, Aldo dissera: “Sua Suprema Inteligência”.
–Quais são suas opiniões respeito deles? – perguntou.
–Em princípio pensamos que fossem alakranos, baseados em informações sobre a raça Alakros. Mas nossa luz amarela é estranha e fraca demais para eles.
–Então se eles não são alakranos, como não suportam nossa luz?
–Suportam sim. Meus cientistas estudaram os olhos dos mortos e deduziram que o sol deles deve ser uma estrela branca do tipo A1. Eles são raça-cliente de Alakros; recrutados porque seu mundo é perto de nós dentro da esfera raniana.
–Perto como? – Tao não pôde esconder uma expressão de surpresa.
–Meu pessoal deduziu que eles são do quarto planeta de uma gigante branca a 2,67 parsecs daqui; a estrela tipo A1 que nós, terrestres, chamamos Sírio e vocês conhecem como Xawarek ou Amaru.
–E porquê eles queriam nos invadir?
–Precisavam as indústrias taonianas. Querem construir uma nave estelar para retornar para casa. São uns pobres náufragos presos após o Grande Cataclismo...
Um silêncio respeitoso invadiu a sala do Trono. O imperador e seus ministros baixaram os olhos e juntaram as pontas dos seus dedos. Aldo preferiu não interromper e esperou que Tao reiniciasse a conversa:
–Pode trazer esses seres à Harmonia e Paz do Império; senhor capitão?
–Sim, essa é a minha intenção prioritária, mas vai levar tempo até os ódios se acalmarem, se é isso que Sua Suprema Inteligência deseja.
–Sim, é isso o que desejamos.
Os ministros e demais colaboradores presentes, reverenciaram com um gesto a generosidade e suprema bondade do seu Imperador.
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Taônia, 17 de Junho de 2015.
“–... Foram testados hoje os protótipos de astronave e de astro-caça, replicas da Wodan e das suas naves auxiliares. A produção em série será iniciada em breve. As naves originais partiram a reunir-se com seus companheiros. Apenas ficou, temporariamente, o engenheiro Van der Grunn da Wodan, para dar as últimas recomendações, após o qual, será recolhido e levado para o espaço”.
“–Outras notícias. Sua Suprema Inteligência pretende, no dia do Seu Glorioso Aniversário, que coincidirá com o feriado dos Grandes Lagartos, entregar ao terrestre capitão Al-Do comandante da frota terrestre, o grau honorário de Primeiro Almirante do Espaço de Taônia; a Ordem de Cavaleiro do Império e o título de Senhor das Terras Frias, onde – soube-se recentemente – nasceu há alguns ciclos, seu primeiro filho, o Príncipe Al-Vin de Vurians”.
“–Nossa repórter, a Senhorita Uio entrevistou o capitão na tarde de ontem, quando ele saía do Palácio Imperial após a reunião de trabalho com S.S.I.”:
“–... de quê falaram com Sua Suprema Inteligência?”.
–Alguns detalhes da derrota final dos rebeldes Yord.
–Quê detalhes?
–Sinto muito. É confidencial.
–A Terra e Marte estão formalmente aliados a Taônia e ao Gopak Uio?
–Não represento a Terra, senão a Antártica, mas represento Marte, e há marcianos comigo. Marte está aliado ao Gopak Uio, assim como as nações de Júpiter e os Troianos de Enéas-1172, já que o capitão Regert é agora o líder deles.
–É verdade o que foi comentado que será formada uma Federação liderada por Sua Suprema Inteligência?
–Acreditamos que sim, S.S.I e eu.
–Que mundos abrangeria?
–Os mundos de Saturno, Júpiter, Marte, Lua Terrestre e Antártica.
–Por quê o senhor é tão cauteloso quando se refere à Terra?
–Vou dar uma notícia que até agora só S.S.I. sabia: está ocorrendo
uma guerra na Terra, com armas terríveis. Uma só destruiria Taônia em
um segundo.
–O Gopak Uio poderia ser prejudicado por uma guerra tão longínqua?
–Indiretamente. Informei à S.S.I. que Gopak Uio deve organizar-se sob novos padrões, para enfrentar os tempos que virão. Haverá um pronunciamento ainda hoje.
–O quê pode nos dizer sobre as honras que lhe serão conferidas por S.S.I?
–Bem...”
–Zhara! Desligue essa TV! – disse Aldo desde o banheiro.
–Não quer ouvir suas próprias declarações?
–Não. Estou farto. Quero descansar um pouco em minha casa antes de voltar à Hércules. Já estava com um pouco de saudades deste lugar.
–Só um pouco?
–Sim. Só um pouco. Meu lugar não é aqui.
–Você não reparou que a casa está decorada, mudei os móveis de lugar, e...
–Reparei, sim. Já lhe pagaram a indenização pela sua casa?
–Pagaram, sim. Fiz uma nova decoração, pintura, troquei a tubulação do
aquecimento... Você precisa vê-la.
–Hoje não. Quero descansar. Amanhã tenho uma reunião com o professor Wert. Aqui não há condições para equiparar-se à ciência terrestre. Com o material que vocês têm só poderão ser feitas naves um pouco melhores que as dos troianos.
–Por quê?
–Não dominam bem a energia nuclear e estão longe da antimatéria. Se não fosse pelos nossos motores excedentes nunca poderiam ter construído seus protótipos.
–Mas vocês vão nos ajudar, me engano?
–Já expliquei a Tao que nós não podemos ficar para sempre ajudando.
–Pretendem ir embora?
–Não imediatamente. Ainda vamos ficar bastante tempo.
–Então?
–Vocês devem continuar se desenvolvendo sozinhos. Precisa ser construída uma fábrica orbital para fundir metais em zero-g, uma central nuclear... Enfim. Podemos dar o empurrão inicial, mas devem voar com as suas próprias asas.
–Acha que conseguiremos?
–Acho sim, Zhara. Mas isso leva tempo, e eu tenho mais o que fazer lá encima.
–Tempo é o que sobra, Al–Do.
Aldo pensou um pouco e disse:
–Tem razão.
Enquanto isso, os Mundos Paralelos entravam em colisão no lado de dentro do Cinturão de Asteroides nas imediações de Marte e da conturbada Terra, assolada pelos Cavaleiros do Apocalipse...
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Continua em: A CIDADELA
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O conto TAO, O IMPIEDOSO. - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase I - Volume III, Capítulo 23; páginas 88 a 90; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:
http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html
O volume 1 da saga pode ser comprado em:
clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1