O DESPERTAR DO PRÍNCIPE
(Depois de: DEPOIS DO INCIDENTE - já publicado)
Pomona – 15 de fevereiro de 2014.
A cripta foi hermeticamente fechada. Havia nela uma cálida atmosfera vinda do iglu. Os ranianos furaram a rocha com raios de luz concentrada e construíram uma rede de túneis pressurizados para movimentar-se sem capacete; cuja saída era a bolha-laboratório.
A idéia era fazer uma pequena cidade subterrânea, o que era mais seguro do que construções externas para morar. Estas precisavam manter o escudo levantado para defender-se dos possíveis meteoros, não totalmente descartáveis.
Um desses túneis levava à câmara mortuária, onde o professor e o capitão Nahuátl ultimavam detalhes técnicos para devolver a vida ao príncipe Angztlán.
O sistema de apoio, montado pelo engenheiro Karapsias e o eletricista "Cables" Torres, funcionava perfeitamente.
O local estava iluminado com luzes que sobraram da Analgopakin, mortiças, como devia ser a luz diurna de Ran, quando este existia.
–A câmara está programada para abrir-se ao despertar o hibernado.
–Bem pensado; Herr Nahuátl.
–Tudo a ponto, senhores – disse o eletricista Julián "Cables" Torres.
–Certo. Vamos começar. Pode ligar, Julián – disse Nahuátl.
Pouco a pouco se acenderam luzes da máquina e os circuitos do sarcófago ativaram-se. O gelo do interior começou a derreter.
–Isto demora um pouco – disse Nahuátl.
–Esperaremos – disse o professor – se ele já esperou dois mil cento e oitenta ciclos ou dez mil e quatrocentos anos... Aliás, como você sabia disso?
–Comparei seu calendário ao meu, professor. Ran completava a órbita em 260 dias ranianos. Um dia raniano equivale a 7,3 dias-padrão terrestres. O ano raniano equivale a 1898 dias-padrão terrestres. Consta-me que isso seja 5,2 anos terrestres.
–Ach! Isso é o calendário maia! As coisas começam a fazer sentido!
O abafado zunido dos aparelhos podia-se ouvir. Von Kruger, sentado numa cadeira de lona, parecia um arqueólogo do século XIX. Apenas faltava-lhe o chapéu. Não conseguia ocultar sua impaciência, e para fazer alguma coisa com as mãos, puxou um lenço e começou a limpar seus óculos de leitura.
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Nesse meio tempo, em Marte...
...Esperava-se a chegada das naves.
Tudo funcionava, as fábricas produziam, os produtos eram armazenados; as naves da classe Hércules, quase acabadas nos hangares à espera de componentes da Terra, já a caminho.
Os novos depósitos subterrâneos, à espera de mais mercadorias, assim como também o satélite-armazém. Construíram-se depósitos no subsolo das luas, a salvo de meteoros e ataques.
O ambiente social do Ponto de Apoio era saudável, como o da Antártida, com a vantagem de que não existia o perigo imediato de ataque por parte do inimigo mundialista, o inimigo da raça humana.
Marte tornava-se um mundo próspero e rico. Os nativos eram Respeitados, a consigna dos terráqueos era interferir o mínimo possível: viver e deixar viver.
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Ponto de Apoio, Marte, 15 de fevereiro de 2014.
Chiyoko Terasaki, a navegadora japonesa, à espera de uma vaga para Júpiter, caminha com agilidade na gravitação marciana, em direção ao iglu hospital, onde o que mais se faz são exames de rotina, porque não há casos de acidentes ou doenças.
A saúde dos antárticos; principalmente as crianças, nascidas eugenicamente em Antártica; é excelente.
O Dr. Klinger, médico chefe da base que agora é quase uma cidade; ocupa-se pessoalmente da saúde de todos.
E foi nesse dia 15, que Chiyoko Terasaki entrou no consultório, tirando o capacete e dizendo em espanhol:
–Bom dia, doutor. Vim ver o resultado dos meus exames. Nos últimos dias não tenho me sentido muito bem.
–Bom dia. Vejamos...
Nico dedilhou rapidamente no seu terminal. Em seguida, apareceu na tela o resultado, que o doutor imprimiu.
–Sua saúde é excelente – disse Nico, assinando embaixo após uma pausa.
–Mas como já lhe disse, não tenho me sentido bem...
–É natural, garota, que os deuses te abençoem, estás grávida.
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Ainda no mesmo dia 15...
...A milhões de kms, em Antártica; dias após a partida da frota de mantimentos para Marte; no edifício da matriz terrestre da Rádio e TV Venceremos (RTVV), a emissora mais austral e mais livre do mundo; ao mesmo tempo em que, nos asteróides, o capitão Nahuátl e o professor von Kruger tentavam reviver o príncipe Angztlán; e ao mesmo tempo em que em Marte, Chiyoko Terasaki descobria que estava grávida; o locutor
antártico abria a boca para anunciar:
–Atenção Antártica; atenção colônias da Lua; atenção colônias de Marte; atenção asteroides e demais colônias do espaço exterior; esta é a RTVV, transmitindo desde Antártida, território livre no planeta Terra!
(...)
–Nas próximas duas horas, transmitiremos o programa de notícias em espanhol, português, inglês e marciano, pelas seguintes frequências, para cada um dos idiomas:
(...).
–Os dirigentes do P.T.A. (Partido Terceirista Antártico), que no último dia 30 reuniram-se na posse do presidente, Capitão do Espaço Marcos e participaram do 14º Congresso do Partido, anunciaram acordos feitos com filiais do Partido de Argentina, Brasil, Chile, Uruguai, Paraguai Austrália e África do Sul. Estas nações enviaram membros permanentes ao Congresso Antártico para concretizar nossa união em bloco, o que significa que estas nações formam parte efetiva de Antártica, com voz e voto.
–O Presidente Antártico tem plenos poderes nas nações que formam este bloco para enfrentar a suposta guerra que querem nos impor os mundialistas. O recentemente empossado Presidente Marcos discursou para o novo parlamento em tom duro contra o mundialismo. Reproduzimos alguns trechos do seu discurso ao novo parlamento, onde
Antes deu as boas-vindas aos parlamentares estrangeiros:
"– Dou as boas-vindas aos estimados representantes dos países aliados, que honram o Partido com a sua presença; e o Partido, em sincera amizade; também dá boas-vindas especiais aos representantes das Forças Armadas das quatro armas."
O Presidente; mencionando a descontrolada poluição ambiental, disse:
"–A contaminação ambiental é irreversível, o mundo está condenado se não tomarmos providências. Mas a ecologia não interessa ao mundialismo materialista e mercantilista. Querem preservar a Amazônia brasileira, mas não para os brasileiros, senão para roubar minérios, madeira e demais recursos para eles mesmos! Eles dizem que o mundo todo deve se unir contra nós e dizem que nosso Estado é um estado criminoso, um estado fora da lei, uma nação pirata, mas são eles que atacam nossos aviões e navios, são eles que sancionam, boicotam e bloqueiam nosso comércio. E foram eles que torturaram e mataram nossos pais...! Agora só falta que digam que comemos criancinhas!"
A voz do locutor da RTVV atravessava o cosmos à velocidade da luz; transmitida pela enorme antena do Pólo Norte da Lua, dos estúdios de emergência e os transmissores principais; alcançando o comboio de mantimentos para Marte:
O Presidente falou sobre a necessidade de manter a paz:
"–O mundo não pode existir em meio a guerras e os países não podem existir em meio a discórdias. Não há nada neste planeta que durasse milênios e que haja sido criado em décadas. A árvore mais alta tem o período de crescimento mais longo. O que perdura séculos necessita séculos para ser forte."
–O Presidente criticou a imprensa estrangeira, a serviço do mundialismo:
"–A verdade é a base sobre a qual a Imprensa deve descansar; nossa única exigência da Imprensa estrangeira, é que diga a verdade sobre a Antártida."
–O Presidente não esqueceu de mencionar as obras de base na nossa jovem Nação, a nação mais austral e gelada do planeta:
"–Vejam as obras e melhorias. Novos valores são criados. Há uma atividade laboriosa, estendida ao planeta Marte; como antes nossos maiores fizeram na Lua; e persistirá ao conquistarmos as luas de Júpiter, para o qual já estamos trabalhando."
–O Presidente ressaltou e elogiou enfaticamente os méritos dos Antárticos e a nossa superioridade moral sobre as outras regiões da Terra:
"–Que a chama do nosso entusiasmo nunca se apague, ela dá luz e calor à arte criativa da nossa jovem Nação. Pode parecer bom ter o poder baseado nas armas; mas é melhor e mais gratificante conquistar o coração de uma nação e mantê-lo."
–Por último o Presidente disse:
"–O mundialismo está armando-se e naves de guerra mundialistas estão em órbita; mas nossas naves permanecem em suas bases, embora a guerra esteja às portas. Antártica não matará a paz, senão que o inimigo o fará, cedo ou tarde."
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Em vinte minutos de atravessar o cosmos à velocidade da luz, a voz do locutor chegou à antena parabólica de Dheimos, onde um sonolento radio-operador escutou:
–Atenção, Antártida; atenção, colônias da Lua; atenção, colônias de Marte; atenção, asteroides e demais colônias do espaço exterior; esta é a RTVV, transmitindo desde Antártida, território livre no planeta Terra!...
Depois, a voz escutava-se no gabinete do governador de Marte:
–Nas próximas duas horas, transmitiremos nosso programa de notícias em espanhol, português, inglês e marciano, pelas seguintes frequências, para cada um dos idiomas:
(...).
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O comboio deslocava-se em inércia rumo ao planeta vermelho.
Na frente, a Prometeo devorava distâncias, rebocando seus contêineres de mil metros enquanto a tripulação descansava. No relógio biológico dos tripulantes era noite como em Antártica. O corredor estava à meia luz.
O capitão Tom Silveira, de Brasil, pilotava, se pilotar é sentar na poltrona e olhar a tela com sonolência. De repente abriu-se a porta do corredor e um forte aroma de tabaco holandês invadiu a ponte, sendo absorvido prontamente pelos exaustores do teto.
–Permissão para entrar na ponte, capitão – disse o Dr. Valerión, em português carioca excelente, com sotaque russo – não consigo dormir e decidi andar pela nave.
–Permissão concedida, doutor. Preocupações?
–Sim. Escutou a transmissão da RTVV?
–Escutei. Parece impossível, mas chegamos inteiros ao século XXI.
–Estará de acordo comigo que, para nós, a Terra já deixou de ser saudável.
–Aquele mundo deixou de ser saudável há quase setenta anos, doutor.
–Tem razão, capitão. Marte deve ser melhor, estou impaciente para chegar.
–É sim. Há meses que moro no Ponto de Apoio, doutor.
–Deve ser um lugar e tanto, considerando os informes do último ano.
–Cada vez o encontro melhor ao voltar de minhas viagens...
–Consta-me que trabalham sem parar. Já deve ser uma cidade...
–Cidade? Precisa ver as obras de Nova Chile, a 500 quilômetros ao noroeste do Ponto de Apoio... O governador a quer pronta para daqui a no máximo dois anos.
–Vai se mudar para lá quando estiver concluída?
–Não, doutor; Nova Chile é mais para colonos. O pessoal do espaço prefere o Ponto de Apoio. Eu vivo com decência e conforto num iglu sólido de dois andares com porão de segurança; TV holográfica, terminal do sistema e um auto-N na garagem para passear no deserto a 300 quilômetros por hora. Há alimento saudável para minha família, cultivado
com carinho pelos camaradas dos jardins hidropônicos; há uma boa escola para meus filhos; que falam marciano melhor do que eu; há um templo para reverenciar os deuses; comando uma nave com uma tripulação fiel e terei uma história de pioneirismo para contar aos meus futuros netos marcianos. Tenho um futuro de aventuras e muitas realizações ainda por fazer. O quê mais se pode pedir?
–Capitão, você é um homem feliz.
–Sim. Se ficasse em Brasil ou em qualquer outro país... Qual seria o futuro dos meus filhos? Guerra? Doenças provocadas pelos alimentos mundialistas, ou fome?
–Você está coberto de razão, capitão.
–Em Marte temos o mundo ideal, doutor...
–É isso que nós, os velhos pioneiros; queríamos para nossa gente, capitão; mas o mundialismo não admite nossa existência; que vá de encontro com esse mundo demoníaco, materialista, degenerado, injusto e cruel que eles criaram. Por isso estamos em estado de quase guerra; e a guerra virá, acredite. O pior é saber disso.
–Minha esposa e eu abandonamos o Brasil; recém casados em 2004 e fomos morar na Antártida. As crianças, como sabe, são antárticas de nascimento...
–Como os filhos de quase todos os nossos capitães; a geração antártica...
–Ao me designarem para a Prometeo, minha esposa quase pediu o divórcio.
–Não diga.
–Na segunda viagem peguei meus filhos e disse-lhe que ia levá-los para Marte, onde estariam em segurança, com ou sem ela. Mas ela entendeu, aceitou a idéia e veio comigo. Agora terminou o estresse; comando minha vida sem pensar que alguém pode provocar uma guerra sem importar-se com as pessoas.
–E você acha que os dominadores alguma vez se importaram, capitão?
–Claro que não, doutor. Consideram-nos animais de duas patas; como não se cansam de repetir em seus círculos privados.
–Essa é uma das razões que me levaram a trabalhar para a Causa Antártica. Poderia ter ficado na Rússia ou ido aos Estados Unidos, mas não era esse o caminho.
–Se não fosse pelo senhor, doutor; Antártica não existiria.
–Não, capitão. Antártica teria existido, sim, mas não teria durado mais do que durou a posse Argentina nas Falklands em 1982; apenas setenta dias.
–Claro. Foi o senhor que nos deu a tecnologia de que dispomos...
–Essa glória sim, eu a quero toda para mim.
–O senhor a merece, doutor.
–Mas não fosse o Esquadrão Shock sequestrar a Atlantis em órbita; a bordo do meu avião espacial Ataque-1; não teríamos construído a Selene I, nem chegado à Lua, onde encontramos os cinzentos; dos que surrupiamos o resto da tecnologia que fez nossa frota espacial possível, capitão.
–A história seria bem diferente, doutor.
Reclinado na cômoda poltrona do co-piloto, Valerión fumava tranquilamente seu cachimbo aromático, enquanto Silveira digitava alguns comandos, consultando a posição e radares. Ficaram mudos, admirando o espetáculo à frente, o negro vácuo do espaço que ainda deviam percorrer.
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16 de Fevereiro de 2014 – Ponto de Apoio, Marte.
Ao aumentar a produção de alimentos na base; todas as moradias vazias foram solicitadas para estocagem. Chiyoko, que morava sozinha desde a partida da Ikeya-Maru, cedeu sua casa. O seu irmão Maya e sua cunhada Hiroko acolheram-na com carinho, com mais razão ao saberem que estava grávida. Ninguém mais sabia da novidade. O doutor Nicholas Klinger era discreto e não comentou o assunto nem com a sua esposa, apesar de tratar-se de uma gravidez histórica, a primeira em Marte.
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–Quero o conselho de meu querido irmão e minha querida cunhada – disse Chiyoko, bem cedo naquela manhã – o professor Cabot pediu-me em casamento.
–Minha querida irmã tem um imã irresistível para os ocidentais – disse Maya Terasaki em tom irônico.
–Bakayaro! – cuspiu a jovem com fúria.
–Deixe-a em paz! – disse a professora Hiroko, abraçando à cunhada.
–Desculpe, minha querida irmã – disse o piloto de provas, arrependido da sua leviana observação – Não quis ofender.
O rosto de Chiyoko suavizou-se, arrependida de pronunciar aquele insulto.
–Está desculpado, meu querido irmão. E eu também peço desculpas.
–Eu mereci, querida irmã.
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Patrick Cabot, sempre amara em silêncio à cunhada da colega Hiroko. Decidira pedi-la em casamento; agora que os pais e avós da moça; severamente contrários a casamentos inter-raciais, sem mencionar também a diferença de idade; não estavam no planeta.
Fazia algum tempo, algumas semanas após a partida da Hércules, que Chiyoko e Cabot saíam juntos aos locais onde se podia ir num fim de semana marciano. Costumavam frequentar o cinema e o clube, onde se bebia vinho novo de uvas transgênicas da Terra, nascidas em solo marciano, ou a cerveja pasteurizada feita com cevada terrestre, cultivada em solo marciano.
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–Ele me ama e não desejo machucá-lo.
–Pense em você. O outro foi embora e muito longe. Nunca será seu.
–Isso é verdade. Não me iludo.
–E este não sabe que você está grávida do outro – interveio Maya.
–Se lhe contar a verdade – disse Hiroko – e ainda assim ele lhe quiser, acho, querida cunhada, que está com tudo ao seu favor. Pense bem.
–Disse a ele que pensaria.
–Aproveite a pensar bem agora, querida irmã. E rápido, porque depois terá que esperar que ele pense – disse Maya, realista.
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O Clímax.
24 horas antes – Pomona, cinturão de asteroides.
–A temperatura está no ponto correto – confirmou Nahuátl.
–O coração está funcionando – observou o professor von Kruger.
–Está respirando – informou Julián Cables, monitorando o suporte de vida.
–Ach! Vejam, senhores! Está se mexendo! – chiou o professor.
–Conseguimos – disse Nahuátl, secretamente orgulhoso, como um terrestre.
A cabeça moveu-se devagar e ouviram um gemido. O ferrolho afrouxou-se e a tampa levantou-se. A múmia moveu-se, respirou e despertou do seu longo sono.
–Julián, abaixe a luz, está muito forte – disse Nahuátl – Vou tirar o pano.
–Mein Gott! – exclamou o professor von Kruger, na beira de mais um colapso nervoso, ao ver o rosto do Príncipe Angztlán Pachacuti.
–É um raniano superior – confirmou Nahuátl.
–Não há dúvida quanto a isso – disse Cables – Tem feições nobres.
–Ja, é um príncipe, apesar da barba e os cabelos compridos.
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Apesar de quase morto, cabelo e unhas cresceram um pouco. O cabelo era quase branco de tão loiro e a barba chegava à metade do peito. Na testa tinha um rubi polifacetado, como usavam os marcianos e os ranianos inferiores.
Von Kruger lembrou agora que nunca perguntara aos marcianos para que servia esse enfeite... Se fosse realmente um enfeite.
Sua pele era branca, quase rosa, através da qual se insinuavam veias azuis onde seu sangue nobre circulava de novo, depois de dez mil e quatrocentos anos. Nessa enormidade de tempo; civilizações surgiram e sumiram; poderosos impérios espaciais foram fundados e destruídos como se nunca tivessem existido; e a raça humana da Terra chegara ao clímax, representado neste momento e lugar.
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–Está abrindo os olhos – disse Nahuátl, emocionado.
Seus olhos eram azuis como o céu da Terra. Olhou as paredes, as luzes e a aparelhagem. Viu os seres como sombras, Nahuátl não era totalmente estranho para ele.
Tentou levantar-se, murmurou palavras em raniano, mas calou-se. Nahuátl falou no seu idioma e ele deitou de novo.
–Devemos dar-lhe alguma coisa para beber? – perguntou o professor.
–Ainda não – respondeu Nahuátl.
O príncipe reparou em von Kruger, um ser bem estranho e falou no seu idioma, mas estava ainda meio tonto, e suas palavras eram difíceis de entender.
–Mas por quê será que ele veio parar aqui?
A pergunta do professor era a de todos, mas... Quem poderia contar o que acontecera?
Apenas o próprio príncipe Angztlán Pachacuti poderia contar o quê o levou a ser hibernado por mais de dez mil anos...
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Continua em: DEPOIS DO FIM DO MUNDO - já publicado)
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O conto O DESPERTAR DO PRÍNCIPE - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase I - Volume II, Capítulo 13, páginas 56 a 62; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:
http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html
O volume 1 da saga pode ser comprado em:
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