A JAPONESA

20 de junho de 2013.

Leif e Inge estão reunidos com Aldo e seus irmãos.

–A Antares está pronta – disse Elvis – Qual será nossa missão?

–Phobos e Dheimos.

-Não sei se vale a pena gastar tempo, naves, gente e material nessas pedras...

–Não há nada lá – disse o irmão de Inge.

–Sei disso – concordou Aldo – mas nosso dever é vasculhá-las.

–O quê devemos esperar encontrar por lá? – perguntou Elvis.

–Procurem minério. Phobos é maior, está mais perto e é um local estratégico para construir uma base permanente de embarque e depósito, além de uma usina, se tiver minério.

–E Dheimos? – perguntou Marcos.

–Montem uma estação transmissora nele, que está mais longe. Nossos satélites domésticos deixam a desejar quanto à potência. Servirá para monitorar a Terra.

–Vou levar gente da Ikeya-Maru. Estou só com cinco tripulantes.

–Claro Elvis. Quem?

–O filho de Fuchida e o professor Terasaki, com suas esposas.

–Yoko é geóloga, será útil. Como se entenderá? Não falam em espanhol...

–Falaremos em inglês. Quando parto?

–Hoje mesmo.

Ao anoitecer a Antares partiu para as luas e foi vista da base marciana por Lon Vurián e Danai, que sentados no teto do carro admiravam o céu estrelado.

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24 de junho.

A geóloga japonesa encontrou minério de titânio em Dheimos, a pequena lua que os nativos chamam em sua língua Uio. A bordo da Antares há uma festa na sua honra, os antárticos nunca pensaram que teriam tanta sorte, já que consideravam que a exploração das luas era perda de tempo.

Depois de marcar o local, eles prosseguem, pois o que se procura é urânio ou similares, para gerar energia vital.

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25 de junho.

Boris resolveu organizar uma expedição sobre rodas.

–Seis caminhões de areia com reboques, o Cascavel para escolta e o Auto-N.

–O Auto-N é rápido demais, Boris. Além do mais preciso dele aqui.

–Não importa, Aldo. Tenho bastante transporte.

–Quantos irão? Não me deixe com pouca gente.

–Comigo 38. Vurián me empresta dois carros e oito guias.

–Para onde vão?

–Para o noroeste, onde caiu a Viking I, se é que caiu aí, e depois virar para o sudoeste, rumo a fenda de Vallis Marineris, que dá de cem a zero no Grand Canyon. Segundo o pai de Lon Vurián, lá está Angopak, um reino interessante, subterrâneo.

–Tenha cuidado, Boris. Não faça loucuras. Precisamos de todos os amigos que possamos conseguir.

–Confie em mim.

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26 de junho. De manhã.

Numa segunda visita a Phobos, conhecida como Vuro, pelos nativos; detectam urânio. Elvis pede oito homens e mais alojamentos. À tarde, Aldo escolhe os homens e embarca-os na Antílope; com mais equipamento de mineração.

É a oportunidade de levar Chiyoko como co-piloto, já que Inge e Regina estão no acampamento Vurián, com Marcos e Bárbara, onde ficarão vários dias com Lon e Danai, fazendo pesquisas com os nativos.

Ao anoitecer, a nave eleva-se. Após meia hora de vôo tranqüilo, chega à pequena lua, onde está a Antares ancorada; a pouca distância do acampamento.

O equipamento é descarregado e Aldo parte rumo ao grupo de contêineres para buscar mantimentos e uma perfuratriz. Os homens trabalham rápido, habituados ao trabalho no espaço. Logo a nave retorna a Phobos. Por fim desembarcam para ajudar na montagem da colônia mineira.

Horas depois, tudo está organizado e fazem uma pausa para jantar e dormir, conforme o relógio biológico dos antárticos; que em todos eles funciona diferente, embora por conveniência tenham adotado a hora marciana do Ponto de Apoio como se fosse um Meridiano de Greenwich marciano. Aldo e Chiyoko resolvem jantar essa noite em Phobos.

–Excepcionalmente, não tenho nada que fazer nas próximas 24 horas.

–Isso deve ser celebrado, Aldo – disse Elvis, pegando uma garrafa de vinho velho na adega da Antares.

–O que é isso?

–Liebfraumilch 1992, uma delícia – interveio Leif.

–O quê significa esse nome?

–Leite dos peitos da mulher amada, Aldo. Veio entre a bagagem de Nico.

–E nós o roubamos – disse Mara.

–Então vamos beber. Roubado deve ser mais gostoso – disse Aldo.

Jantaram alegremente, beberam e contaram piadas.

Por fim, os tripulantes da Antares dirigiram-se aos alojamentos da nave para dormir. Amanhã teriam muito trabalho. Aldo e Chiyoko saíram ao vácuo, caminhando devagar para não voar numa gravitação onde pesavam gramas. O alojamento lunar reforçado, já estava funcional e dentro dormiam os oito astronautas de serviço.

Em seguida entraram na Antílope.

–Estou cansado, Chiyoko.

–Eu também, meu senhor.

–Vamos decolar e ficar em órbita junto aos contêineres.

–E o que faremos na órbita?

–Dormiremos. No Ponto de Apoio é noite e quero descer com luz.

–Como o senhor mandar.

Decolaram no silêncio do vácuo com mínima energia e atravessaram o espaço entre Phobos e a órbita de serviço, onde estavam os contêineres estacionados juntos, unidos por cabos. Aldo deteve a nave e soltou um cabo de agarre magnético.

–Vou tomar um banho e dormir já mesmo – disse Aldo visivelmente cansado, levantando-se da poltrona de comando e dirigindo-se para sua cabine.

Tirou a roupa espacial e a roupa de baixo, entrando no chuveiro de vácuo. A água quente lhe fez bem. Dois minutos depois, desligou a água e ligou o secador. O vento quente e agradável secou sua pele em segundos e ele saiu do banheiro. Colocou uma muda de roupa branca e um par de meias soquetes. Em seguida atirou-se no beliche.

Uma batida na porta lembrou-lhe que não estava sozinho.

–Entre!

–Con permiso – disse Chiyoko em espanhol.

A jovem sentou-se no beliche. Seu cabelo ainda estava úmido e vestira um kimono vermelho com flores brancas e amarelas. Seu perfume era exótico, envolvente, como um perfume que Aldo sentira, mais que cheirara em Oriente, há anos, quando ele e seus irmãos eram crianças e seus pais viajavam pelo mundo fazendo o bem...

Antes do desastre em que o mundo foi tomado pelos servos do demônio, antes que seu pai, um intelectual, cientista e político; por suas idéias, por ser um Homem Verdadeiro; fosse perseguido; preso, torturado e assassinado pelos mundialistas dos chamados direitos humanos; antes que sua mãe; uma Mulher Verdadeira, bonita como uma deusa; uma intelectual, uma cientista, uma médica ao serviço da Raça Humana; por ser esposa de um “subversivo” inimigo do mundialismo; fosse presa, torturada, estuprada, e assassinada pelos lacaios da nefasta Nova Ordem Mundial.

–Meu senhor ficou triste...! Seus olhos derramaram lágrimas! Por quê?

–Ah?... Não é nada, Chiyoko. Lembrei de uma coisa triste.

–Olhe para cima – disse ela, sorrindo.

–Por quê para cima?

–Para que as lágrimas não caiam – respondeu a jovem.

Em seguida entoou, baixinho, com a sua voz de menina, uma velha e bonita canção japonesa, de suave melodia:

Ue o muite arukou

Namida na kobore nai yoo ni

Omoi dasu haru no hi

Hitori botchi no yoru.

Ue o muite arukou

Nijinda hoshi o kazoete

Omoi dasu natsu no hi

Hitori botchi no yoru

Shiawa se wa kumo no ue ni

Shiawa se wa sora no ue ni

Ue o muite arukou

Namida na kobore nai yoo ni

Naki nagara aruku

Hitori botchi no yoru

Omoi dasu aki no hi

Hitori botchi no yoru

Kanashimi wa hoshi no kage ni

Kanashimi wa tsuki no kage ni

Ue o muite arukou

Namida na kobore nai yoo ni

Naki nagara aruku

Hitori botchi no yoru

Hitori botchi no yoru.

–Quê bonito Chiyoko! Quê significa?

–Vou tentar traduzir ao seu idioma, meu senhor:

Vamos caminhar olhando para cima

Para que as lágrimas não caiam

Lembro-me do dia de primavera

Aquela noite completamente sozinho.

Vamos caminhar olhando para cima

Nesse caminho contando as estrelas

Lembro-me do dia de verão

Aquela noite completamente sozinho.

A felicidade em cima das nuvens

A felicidade em cima do céu

Vamos caminhar olhando para cima

Para que as lágrimas não caiam

Enquanto eu te acolho eu caminhava

Aquela noite completamente sozinho.

Lembro-me do dia de outono

Aquela noite completamente sozinho

O sofrimento fica atrás das estrelas

O sofrimento fica atrás do céu

Vamos caminhar olhando para cima

Para que as lágrimas não caiam

Aquela noite completamente sozinho.

Aquela noite completamente sozinho.

–Adorei a música.

–É do século XX. Cantada por Kyu Sakamoto há mais de 50 anos, escrita por Rokusuke Ei e Hachidai Nakamura.

–Sabes Chiyoko? Estamos no espaço, a milhares de kms de qualquer pessoa, completamente sozinhos, como diz essa música.

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Sexta Feira, 28 de junho de 2013. Ao amanhecer.

Os antárticos do acampamento marciano viram descer a Antílope e resolveram voltar.

Além dos astronautas de serviço, técnicos e cientistas, sobrou pouca gente no Ponto de Apoio, apenas Aldo e Inge, Lúcio e Eva, Marcos e Bárbara, Nico e Tama; e Regina sem Boris; que em missão, partira à frente da caravana de veículos e a viagem seria demorada.

Testavam um novo tipo de roupas de abrigo e por primeira vez a pele seria exposta à inclemência da atmosfera marciana. Os trajes eram similares aos usados em Antártica; com aquecimento e capuzes com máscaras em vez de capacetes completos. O ambiente era semelhante ao do Himalaia e precisavam aclimatar-se.

Além do mais, os novos trajes (aproveitando os jocosos comentários de Regina na expedição anterior), permitiam urinar e defecar no chão, economizando água e energia da latrina dos carros.

Ao partir, no dia 25, Boris dissera:

–Agora sim poderemos demarcar nosso território, Regina. De trinta em trinta quilômetros, paramos e damos uma boa urinada!

–Levem bastante cerveja, machões – respondera a bem-humorada psicóloga.

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Eram as nove da manhã e tomavam café. Agora tudo estava parado, quieto na base, até que chegassem os 400 colonos; aí sim, tudo seria agitação.

–Devemos aproveitar o tempo livre – disse Aldo.

–Estou de acordo – disse Regina – o que podemos fazer para divertir-nos?

–Tenho vontade de conhecer a Ikeya-Maru por dentro – disse Eva.

–Pediremos a Chiyoko que nos mostre a nave – disse Aldo – há tempo que desejo conhecê-la. Dos nossos, o único que entrou nela foi Andrés.

–Andrés disse que está decorada ao estilo japonês – comentou Lúcio.

–O saberemos logo – disse Regina – olhem pela janela.

Lá fora, aproximava-se a pequena figura de Chiyoko. Apesar do traje e a pouca gravitação, ela não perdeu o seu encanto oriental de caminhar.

Logo se abriu a eclusa.

–Buenos días para todos – disse a jovem em espanhol.

–Tomou café? – perguntou Regina.

–Tomei chá. Gracias – disse Chiyoko pendurando o capacete.

–Falávamos de conhecer sua nave por dentro – disse Lúcio.

–Quando queiram.

–Hoje é sexta-feira e temos o fim de semana inteiro para vadiar – disse Eva.

–Sexta-feira...? Até perdi a noção do tempo. Vamos?

–Não contem comigo – disse Marcos – nem com Bárbara nem Tamara; temos muito que fazer. Vamos para o canal com Lon Vurián e Danai.

–Nem comigo – disse Nico – há exame médico mensal e trabalho até anoitecer.

–Ficarei com você – disse Eva.

–Não, Eva. Vá passear, precisa descansar. A Dra. Yashuko fica no seu lugar e de passo aprendo um pouco de medicina oriental.

–Iremos... Eva, Inge, Lúcio e eu – disse Aldo.

–Também quero ir – disse Regina – desde que Boris foi viajar ao outro lado do mundo estou mais entediada do que uma ostra.

–Seremos seis – disse Aldo – os únicos desocupados do Ponto de Apoio.

–Atingimos o máximo, querido – disse Regina – o luxo da preguiça!

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Continua já publicado e ilustrado com fotos em:

http://sarracena.blogspot.com.br/2011/12/mundos-paralelos-capitulo-7-74.html

E depois continua em: O SERMÃO DO PADRE CASELLI (já publicado)

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O conto A JAPONESA - forma parte integrante da saga inédita Mundos

Paralelos ® – Fase I - Volume I, Capítulo 7; páginas 103 a 107; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 07/12/2016
Código do texto: T5846269
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