OS ANTÁRTICOS

Extremo sul do Planeta Terra – 13 de fevereiro de 2013

Os verdes olhos da capitã Olga Marina Mara Santos moveram-se com vivacidade no seu rosto bronzeado, demarcado pelo seu longo cabelo castanho escuro; primeiro ao termômetro e depois ao altímetro.

–Setenta graus negativos e estamos a mil metros de altitude.

–Entramos em território antártico – disse a loira engenheira Ingeborg "Inge" Stefansson, sacerdotisa odínica norueguesa, na poltrona do co-piloto.

–Falta pouco para ver as luzes da cidade, Inge – Mara já demonstrava um pouco de cansaço pela tensão da pilotagem.

–Não vejo a hora de chegar – interveio a jovem psicóloga italiana Regina

Lúcia Cardelino, desde o compartimento posterior, onde estavam às engenheiras gêmeas chilenas Bárbara e Linda Blanes.

Embaixo delas a branca paisagem passava a mil quilômetros por hora. Estavam aquecidas. A temperatura a bordo do avião antártico ainda era a do cálido Brasil, onde poucas horas antes as cinco moças tomaram seu café da manhã no restaurante da Faculdade de Eletrônica e Cibernética de Blumenau.

No dia anterior terminaram os cursos e passaram com louvor. Estavam no restaurante quando sua colega Marília Mendes e entregou-lhes um e-mail recém chegado da Antártida:

“–Parabéns, meninas estudiosas, precisamos de todas aqui. Temos surpresa. Há um avião disponível no lugar discreto de sempre, para que venham hoje mesmo. Esperamos vocês. Aldo. – Ao final venceremos!”.

–Finalmente! – Inge estava feliz – Voltamos para casa!

–Você verá o meu irmão de novo – disse Mara.

–Já era tempo – suspirou Regina – um ano sem nossos homens é demais!

–Também terminaram os cursos em Cidade Lunar – acrescentou Bárbara.

–Então seu marido virá logo, Marília – disse Linda em português – parece-me que o vejo com sua farda da Força Aero Espacial Brasileira.

–Capitão Breno Mendes, futuro herói do espaço – disse Inge, sonhadora.

–Terá uns dias de folga antes de ir para Antártida.– disse Marília esperançosa.

–Claro – garantiu Mara – mas agora precisamos ir ao esconderijo, abastecer o avião e fazer um plano de vôo para furar o bloqueio.

–Eu não vou com vocês desta vez – disse Marília.

–Por quê?

–Vou esperar Breno aqui mesmo, Inge, para irmos juntos até Porto Seguro.

–Lua de mel no paraíso, então?

–Mas é claro! Em Antártica, não haverá sol nem praia, garotas!

–Bom proveito; amiga! – disse Regina com um sorriso malicioso.

Ao entardecer todas foram de carro para uma fazenda no oeste, propriedade de um amigo da Causa, onde o poderoso avião Martelo-I estava oculto dos satélites de vigilância, embaixo de árvores ainda não desfolhadas pelos venenos vindos do Norte.

Protegidas pela camuflagem, decolaram rumo sul e sobrevoaram os ainda verdes campos do Rio Grande do Sul e depois, sobre o oceano, observaram à direita as pradarias do Uruguai, as luzes de Montevidéu e parte da Argentina.

No estreito de Magalhães, elevaram-se rapidamente para ficar por cima de dois aviões F-117 chamados “invisíveis” do Governo Mundial que surgiram de repente. No rádio escutou-se a voz de um dos pilotos inimigos:

–Undentified ship! You are invading restricted aerial space! Changue your course or it will be abated!

–Segurem-se todas! – ordenou Mara – Inge, ligar escudo, manobras evasivas!

–Last warning! – disse o piloto inimigo.

–Devemos chamar reforço?

–Não se preocupe, Inge. O escudo aguenta.

Como uma resposta às palavras de Mara, os inimigos atiraram contra elas sem resultado, devido ao escudo. Logo apareceram dois caças antárticos.

–Ora! Ora! – disse Mara – olhem quem vem em nosso auxílio!

Mara radiou sua senha e passaram, enquanto os dois pilotos livres do Pólo Sul enfrentavam o inimigo.

–Aqui o capitão Caravaggio da FAECS; o matador de lacaios! Cessem o fogo ou serão abatidos! Nem tentem reagir! – disse, petulante, o Líder da esquadrilha.

–Já o tenho na mira – disse o segundo piloto.

–Fique atento. Acho que eles vão tentar algo – disse Caravaggio.

–They do not know with who are working– disse o líder inimigo – To open fire!

–But there is a thing it finds strange – disse o segundo piloto inimigo – I am see a reflex in mine...

–But the something...?

Um disparo laser de 25mm fez o F-117 explodir e seus restos espalharam-se em chamas, caindo nas águas geladas do mar antártico.

–Exatamente – disse Caravaggio – se não quer ter o mesmo destino do seu amigo, suma de nosso céu... Agora!

Isso era corriqueiro, cada vez que um avião antártico retornava ao lar, os inimigos partiam da sua base nas Falklands para interceptá-lo; mas sempre os pilotos da linha de defesa antártica os enfrentavam com êxito. Normalmente os antárticos abatiam dois ou três inimigos para intimidá-los. Era a morte certa para eles, já que nada sobreviveria na água gelada. Mas não eram dignos de pena. Tiveram sua chance de mudar de lado, anos atrás.

–You defeated us for while – disse o líder inimigo, acelerando em fuga para o norte – but this incident won't be forgotten!

Os antárticos ignoraram olimpicamente as ameaças e Caravaggio radiou:

–Bem, meninas! Viajem tranqüilas de agora em diante!

–Obrigada! – disse Mara.

–Querem escolta até a cidade?

–Não é preciso, ficaremos bem, capitão.

–Tenho certeza que sim. Boa viagem, garotas!

Os caças antárticos elevaram-se para continuar sua patrulha, enquanto o pequeno avião Martelo-1 das garotas retomava seu rumo.

–Vocês, aí atrás! – disse Mara – Já podem relaxar!

–Ainda bem! Será que toda vez que viajarmos será essa bagunça?

–Eles parecem não aprender nunca, Regina – disse Bárbara, irritada.

–Quantas mortes serão necessárias para que percebam que não fazemos parte do seu mundo? – perguntou-se Linda.

Sobre o Cabo de Hornos, aceleraram para tomar altura e ver um pouco de sol, mas as nuvens envolveram o avião quando sobrevoavam a Península de Palmer, mais conhecida como Terra de Graham. Apesar de ser princípio de fevereiro, o clima estava muito ruim. A cada ano que passava o clima mundial piorava, devido às maquinações do governo mundial, que contava assim com intimidar os países rebeldes. Mas o tiro estava saindo pela culatra, naquele ano de 2013.

O avião tinha o vento por bombordo, o que facilitaria as coisas ao aterrissar, pois assim que avistaram à esquerda os montes Pensacola, viraram naquela direção, para voar com o vento de frente à base de Cidade Antártica, situada a 300 km da Bahia de Halley, na parte da Terra da Rainha Maud que dá ao Mar de Weddell.

*******.

Foi aí que começou este relato.

O avião desceu a 100 metros.

Inge Stefansson viu à proa, os faróis de pista:

–Ali, Mara.

–Sim, já vi. Verifiquem os cintos.

Mara baixou o trem de pouso. A neve fora nivelada recentemente. O avião pousou. A ambos lados da pista erigiam-se construções. Um veículo reboque saiu do hangar e os funcionários engancharam o avião e o puxaram para dentro.

As portas externas fecharam-se e o barulho do vento e o frio ficaram do lado de fora. Uma porta menor abriu-se do lado de dentro e entrou um jovem musculoso, não muito alto; de cabelo preto e olhos castanhos, ao tempo em que Mara desembarcava antes das outras.

–Mara! Quê saudade!

–Aldo! Você está pálido, querido – disse ela beijando-o.

–Você está bem bronzeada. O Brasil lhe fez bem.

Inge aproximou-se sorridente.

–Aldo, amor!

–Você está bonita como sempre, minha Reverenda!

Beijaram-se e ela disse, olhando-o de cima abaixo:

–Mara tem razão, você está pálido demais.

–Os recém chegados sempre notam – confirmou Aldo – Aqui nos subterrâneos não temos mais sol do que o das lâmpadas solares.

–Deveriam usá-las, querido – disse Regina.

–Estamos trabalhando no projeto, querida. Não sobra tempo para descanso.

Regina beijou seu amigo, que acariciou seu cabelo loiro cortado a la garçom. Todos eles foram criados juntos desde os tempos da escola, como uma família.

–Saudades, muitas saudades, querido.

–Eu também.

As gêmeas abraçaram-no com carinho.

–Sejam bem vindas, meninas – disse ele, recompondo-se – quero mostrar em que ocupamos nosso tempo. Venham!

Passaram a um amplo túnel, onde esperava um veículo elétrico. Embarcaram e partiram, cruzando com veículos similares que circulavam velozmente, até chegarem a uma bifurcação onde havia dois letreiros em espanhol:

CIUDAD ANTÁRTICA e ASTROPUERTO.

Aldo entrou no segundo túnel. Regina disse:

–Já sei, vamos ver a nave.

–As naves, Regina – replicou ele.

–Quantas há? – perguntou Inge.

–Dez. Mas só uma está equipada.

–Foram testadas? – perguntou Mara.

–Sim. Não poderiam ser melhores.

–Quando decolaremos?

–Em vinte de março. Já começamos a contagem regressiva.

A exclamação em coro das garotas foi ofuscada pelo barulho dos freios.

–Chegamos, desçam.

Caminharam por um corredor cheio de portas, em que homens e mulheres iam e vinham atarefados. Ao final entraram num elevador.

–Subimos ou descemos? – perguntou Mara.

–Subimos.

Segundos depois, abriram-se as portas e passaram a um hangar de vinte e cinco metros de altura; setenta de largura e cem de comprimento, no qual estava sendo introduzida, puxada por um trator, vinda de um local ainda maior, a nave Antílope; de cor prata brilhante,

com quarenta e oito metros de comprimento, vinte e dois de envergadura, dezessete de altura e 5,40m de diâmetro.

–É belíssima – admirou-se Inge.

–Como podem ver tem um trem de pouso de dez rodas de dois metros de diâmetro repartidas em três jogos. Cinco motores no tubo principal, um em cada um dos seus três tubos laterais, que estão quase grudados à fuselagem para dar maior estabilidade ao conjunto quando se voa na atmosfera. Como podem ver também tem quatro motores de freio na proa e quarenta motores de manobra. O que acham?

–Fabulosa. –disseram a coro as gêmeas.

–Foi projetada para ar, água e espaço – garantiu Aldo – não poupamos aço nem vitrotitânio ligados em gravitação zero.

–Tem semelhança com a réplica da Atlantis, do museu – disse Mara – mas esta é mais cilíndrica, mais rústica, tipo avião a jato do século passado...

–Não se engane. Clássico por fora, mas por dentro... – replicou Aldo, feliz por ter finalmente as garotas em Antártica.

–Vamos vê-lo por dentro? – perguntou Regina.

–Sim, subam.

Uma escadinha flexível surgia embaixo da eclusa de entrada à bombordo da proa. As garotas subiram na frente. Uma vez dentro acenderam-se luzes violeta.

–Instalamos raios germicidas que incidem sobre quem entra ou sai. Como não estamos no espaço são de pequena intensidade. Uma vez vestidos com roupa espacial serão de cor vermelha para destruir qualquer micro-organismo letal.

–Subimos à ponte? – perguntou Mara.

–Sim – Aldo acionou um escotilhão do teto – Subam!

Na ponte, Aldo ocupou a poltrona de comando, Mara sentou na do co-piloto e as garotas repartiram-se as outras.

Havia dez poltronas. Cada uma completamente equipada, com terminais de ar e comunicações.

Através do pára-brisa de vitroplast entrava a luz do hangar, iluminando a ponte pequena e funcional, onde dez pessoas podiam trabalhar sem saírem das poltronas e se preciso fosse, levantar-se e descer pelo escotilhão para sair ao exterior ou passar às dependências interiores pela porta da parede de popa.

As garotas admiravam-se de estar numa nave que só conheceram no papel. Aldo mostrou as telas de comunicação, computador, retrovisor, pontaria...

–Pontaria?

–Sim, Mara – Aldo levantou a cobertura de um pequeno painel à sua esquerda e mostrou os controles ocultos – Estes botões disparam os torpedos nucleares. Na proa há quatro tubos. O estoque será de quarenta unidades e cem no contêiner.

–Claro, não sabemos o que vamos encontrar... – disse Regina.

–Não só por isso; há naves inimigas no espaço.

–Já estão nos esperando lá em cima, os malditos?

–O inimigo lançou a Challenger II para espionar. Quando fizemos o primeiro teste, desesperaram-se, não puderam vê-la direito; não tinham idéia de que era tão veloz. Não sabem que nada queremos deles desta vez. Nosso objetivo é outro.

–Não vamos atacá-los? – perguntou Inge.

–Não de propósito. Podemos usar os canhões laser para destruir um satélite deles, só por pirraça, para assustá-los, se for preciso, é claro.

–Além das armas, que outra novidade há? –quis saber Inge.

–O gerador de gravitação negativa, que pegamos dos alienígenas. Reduz

oitenta por cento do peso da nave; facilitando a decolagem e aceleração. Além disso, gera um escudo eletromagnético ao redor, que pode ser dirigido. Isso nos deixa quase invulneráveis. Consome muita energia, mas funciona bem.

–Quê velocidade desenvolve no espaço?

–Ainda não sabemos, Inge. O Dr. Valerión disse que atingirá até 150.000 kph. Mas a velocidade de cruzeiro ideal para a viagem deverá ser de apenas 100.000 kph.

–E o consumo de energia?

–Possui dois depósitos: o principal de sessenta e oito mil litros com o que dá para ir e voltar, e o secundário de cento trinta e seis mil litros. Mas este irá cheio de material imprescindível, assim como os dois compartimentos de carga de noventa e um metros cúbicos cada. Isso sem contar que rebocaremos um contêiner de dez metros de diâmetro por sessenta de comprimento. Para isso, precisaremos de dois foguetes auxiliares. Para um observador distante, pareceremos um shuttle do inimigo.

–Vamos ver o resto – Interrompeu Bárbara com veemência – haverá tempo para conversar na viagem! Agora estou curiosa.

–Certo, querida – sorriu Aldo, abrindo à porta de popa – entrem meninas.

Entraram uma a uma, no corredor iluminado com lâmpadas solares.

–A primeira porta de estibordo é o meu camarote com dois beliches duplos, banheiro, guarda-roupas, armário, escritório, terminal do sistema, biblioteca, etc.

–Encantador. – suspirou Inge.

–A primeira porta de bombordo é a sala de circuitos onde está o painel de controle elétrico e eletrônico da nave e o computador principal. Numa pequena repartição da mesma temos a sala de comunicações.

–Formidável – disse Regina.

–A segunda à estibordo é o banheiro principal. Na frente à bombordo a cozinha, para processar comida concentrada com o que encontrarmos por aí que seja comível e esquentar o que levamos. Além das pílulas e ração padrão; que vocês sabem que é uma droga; há comida desidratada, congelada, conservas, carne, leite, produtos não perecíveis, farinha, açúcar, arroz. Isso no contêiner. Na nave apenas pílulas que ocupam menos espaço e podem salvar nossas vidas, se der problema com o reboque.

–E as outras portas? – perguntou Regina, sempre curiosa.

–Terceiras à bombordo e estibordo: camarotes com quatro beliches duplos; armários e guarda-roupas. Quarta a estibordo: enfermaria; quarta a bombordo: arsenal de mão; pistolas, fuzis, metralhadoras e outros brinquedos igualmente letais. Estamos preparados para tudo, garotas. Ao final do corredor o depósito superior e embaixo o inferior. Cada um tem 91 metros cúbicos. Lá atrás estão os depósitos de combustível, e mais atrás as máquinas.

–Estou desejando partir – suspirou Inge – os deuses estão impacientes.

–Já falta pouco – disse Aldo.

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Continua em: TRAGÉDIA NA LUA

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O conto OS ANTÁRTICOS - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase I - Volume I, Capítulo 1; Páginas 9 a 13; e cujo inicio ilustrado pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-capitulo-i-11.html

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/10/mundos-paralelos-capitulo-i-12.html

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 27/11/2016
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