NO PASSADO DISTANTE
MUNDOS PARALELOS
O universo em que vivemos oscila em uma determinada freqüência de onda. Nos intervalos entre oscilações, existem outros universos quase iguais ao nosso.
Quando dizemos:
“–Se não tivesse acontecido isto ou aquilo; teria sido assim ou de outra forma...”; Aquele “teria sido” e aquele “de outra forma” seguiram coexistindo conosco em diferente freqüência de onda. Essa outra freqüência de onda chama-se Mundo Paralelo.
É possível que em algum deles, os 300 espartanos não detivessem os persas no Passo das Termôpilas; e, portanto, há um século XX onde se fala língua persa e as mulheres vestem-se com véus e os homens com longas túnicas.
Em outro, Jesus Cristo não foi beijado por Judas e o cristianismo não veio a existir. Talvez em outro, a mãe de Cristóvão Colombo abortou e América não foi colonizada pelos espanhóis e talvez ainda existisse o império Maia, Asteca ou Inca.
Em outra realidade o Japão não atacou Pearl Harbor, senão à União Soviética em 1941, com o que o Terceiro Reich ganhou a guerra, o comunismo desapareceu e o mundo ficou diferente, com a Lua ocupada
pelos alemães.
Tudo isso existe em algum ponto do tempo e do espaço.
Nosso universo pode ser irreal, nós podemos não existir para os que vivem numa outra freqüência de onda; assim como eles não existem para nós. Essa é a teoria.
Considerando que têm existido bilhões de pessoas; podemos imaginar a quantidade incalculável de mundos paralelos... Realidades que poderiam existir.
Já que sabemos o que é um mundo paralelo; vejamos o que aconteceu num deles; partindo do ponto em que o escritor russo Ivan Efremov parou no seu livro "Naves de Estrelas".
Efremov relata a expedição paleontológica dos professores das universidades de Moscou e Leningrado (hoje São Petersburgo), Ilya Andreievitch Davydov e Aleksei Petrovitch Satrov com um grupo de estudantes em Sibéria, na década de 50. Num local acharam fósseis com marcas impossíveis; eram perfurações de raios laser, coisa utópica naqueles anos.
Sob um crânio de dinossauro com uma perfuração que o atravessava de baixo para cima, a estudante Zenja, discípula de Satrov, encontrou um fóssil que achou fosse uma casca de tartaruga.
Limpando-o, ela comprovou que era um crânio de tamanho igual a um crânio humano. Em vez de dentes tinha um bico córneo de tartaruga. Estava perante um ser não humano.
A pesquisa prosseguiu e encontrou objetos metálicos, entre eles um disco de três polegadas de diâmetro, de metal desconhecido.
Posteriormente no laboratório de Leningrado, descobriram que o crânio não era de carbono, como os seres da Terra, porém de silício.
A limpeza do objeto trouxe nova descoberta. Olhando em determinado ângulo, aparecia a imagem tridimensional de um ser, talvez o dono do crânio em vida, calvo, olhos grandes e boca como um bico de tartaruga.
No verso do disco havia um símbolo de espirais e estrelas. Mas não era tudo; perto de um rádio ligado, o disco produzia interferência. O objeto era indestrutível, não havia como abri-lo com nada fabricado na Terra.
Ivan Efremov não dá detalhes sobre o destino do disco e do crânio do alienígena jurássico.
Ambos objetos ficaram num armário do museu da Universidade de Leningrado, esquecidos, para serem reencontrados apenas no século XXI. Como chegou aí o homem de silício?
Devemos recuar no passado, até a época do estrato do solo em que o local paleontológico foi achado: setenta milhões de anos...!
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70 milhões de anos atrás.
Pru Atol Número Um era um cientista e explorador famoso do Império de
Milkar. Um dia, o Imperador ordenou-lhe que partisse a explorar a galáxia vizinha. Pru obedeceu; despediu-se da sua família e embarcou na mais moderna nave de transdobra já construída, com grande número de tripulantes, cientistas e militares.
Naquela época os engenheiros espaciais milkaros recém tinham desenvolvido a transdobra. Ainda não a dominavam bem e não havia como saber se ao retornarem o tempo seria o mesmo ou teriam se passado milhões de anos. A nave de Pru era a primeira assim equipada e poderia acontecer qualquer coisa.
Mas os milkaros eram; e são; uma raça forte e decidida; adoram desafios e não temem a morte. São motivados pelos deuses, pelo destino da sua raça empenhada em conquistar o cosmos. Dominam parte da sua própria galáxia, e querem mais. São curiosos.
A nave, grande como uma cidade, entrou no espaço intergaláctico e decompôs a oscilação do Tempo, adiantando-o para os que ficavam. Encontrou uma anomalia espaço temporal instável que o trouxe a nossa galáxia, onde após um tempo achou um planeta azul, o terceiro de uma pequena estrela amarela com dez planetas.
Os milkaros examinaram o setor e comprovaram que não voltariam ao seu mundo no tempo que ainda tinham de vida. Mas foram práticos, conseguiram fazer os ajustes no sistema de transdobra, e quando seus descendentes conseguissem retornar, o estudo estaria completo e as próximas naves não mais se perderiam no tempo.
Sabiam que estavam sacrificando-se pelo bem da sua raça. Prosseguiram sua missão sabendo que conseguiram parte do seu objetivo e retomaram o programa original. Examinaram o sistema, começando pelo pequeno planeta azul.
E foi naquele planeta azul, numa linda manhã, que Pru deixou seus ossos, na margem pantanosa de um rio.
Um bando de enormes monstros herbívoros mastigava vegetação quando um perigoso carnívoro aproximou-se e produziu-se uma debandada. Os exploradores dispararam suas armas contra as bestas em fuga para não serem atropelados. Por azar, o carnívoro viu aqueles pequenos seres brilhantes. Pru sacou a pistola e atirou bem na cabeça do monstro, que desabou sobre ele, afundando ambos no barrento rio.
Algum tempo depois, os cadáveres dos milkaros mortos foram resgatados, mas Pru, apesar dos esforços de seus companheiros, não pôde ser encontrado.
E assim, ao ver que este planeta era perigoso, encerraram ali a aventura, antes que algo pior acontecesse e não pudessem levar a valiosa informação ao seu povo. Com a lembrança de Pru nos seus corações de silício, seus camaradas empreenderam a volta à distante galáxia, que nós conhecemos pelo nome de M31: Andrômeda.
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20.000 anos atrás...
Quando Pru Atol Numero Dois, que pertencia a uma estirpe de cosmonautas, atingiu a idade adulta, sua raça já dominava a transdobra para atravessar a fenda espacial instável, mas faltavam os dados que deveriam vir na nave do seu pai, Pru Atol Número Um.
Ele sabia que isso não seria possível enquanto vivesse e ofereceu-se a experimentar a nave equipada com o novo oscilador de transdobra, com a secreta esperança de encontrar o seu pai. Também ele tinha família, que abandonou para lançar-se ao espaço com uma grande tripulação.
Levava na bagagem um disco de comunicação e identificação igual ao do seu pai, objeto que todos os cosmonautas usavam. Ao chegar onde seu pai estivesse, os discos chamar-se-iam. Pru contava com isso para achar seu progenitor ou seus restos. Se o cálculo fosse correto, a anomalia levaria ao local em que se calculava que estivesse a nave precursora.
Cheios de confiança, Pru Dois e seus camaradas empreenderam a viagem sem perceber que entravam em dobra temporal. De novo deslocaram-se através da anomalia, chegando às imediações deste sistema solar, numa época diferente. Pru e seus camaradas aterrissaram no quinto planeta do sistema.
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O Sol do Império Raniano possui dez planetas em órbitas variadas, é amarelo e chama-se Ra.
O primeiro planeta está perto demais, é pequeno e quente.
O segundo está numa órbita mais sadia, chama-se Boral, é quente, tem abundante vegetação, alguma fauna, e está coberto de nuvens.
O terceiro, de cor azul, chama-se Xarn, tem mais água do que terra, abundante vegetação, fauna variada, os pólos congelados e uma lua próxima, que provoca marés nas massas de água.
O quarto, que possui duas pequenas luas, chama-se Gopak; seu solo é avermelhado, tem pouca água, alguma vegetação, um pouco de vida animal, e seus pólos estão congelados.
O quinto chama-se Ran, é grande e um pouco seco, mas seu clima é frio. Seu solo é marrom avermelhado, possui quatro grandes luas e dois anéis. Nele está a capital do império. Nele mora mais de um trilhão de habitantes.
O sexto é um gigante gasoso e chama-se Vurón, possui várias luas.
O sétimo também é um gigante gasoso, possuidor de diversas luas e também tem anéis.
Há mais dois gigantes gasosos e outro planeta gelado e distante.
Pru Atol Numero Dois soube que Ran era o berço da civilização e da cultura nesta região da galáxia.
Em suas memórias; muito tempo depois; nos diz:
"-Ran é um planeta habitado por inteligentes seres de carbono, meio parecidos conosco, embora seu crânio seja diferente do nosso, divididos em duas raças, Superiores e Inferiores. Os denominados Inferiores, são originários de uma estrela próxima, e se diferenciam dos Superiores por que têm cabelo curto e escuro, pele clara e olhos penetrantes. Aparentemente possuem um certo poder mental. São telepatas. Os Superiores são de configuração forte, têm dois olhos, possuem cabelo muito claro na cabeça, que raspam, e são de pele clara, como nós. Ran domina totalmente o quarto planeta, habitado por milhões de Inferiores, e outros elementos, e também domina o terceiro planeta, habitado por seres meio selvagens de pele e cabelo escuros."
Anos depois, a expedição retornou a Milkar. Quando Pru chegou à casa da família, pensou encontrar-se com seu filho Pru Três, a quem tinha deixado ainda bebê, mas descobriu que tinham passado séculos de sua partida, devido à errada manipulação da dobra temporal, o mesmo problema do seu antecessor Pru Um, com o que encontrou pessoas estranhas e um jovem astronauta desconhecido, chamado Pru Atol Numero Trinta e Cinco.
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8.386 anos antes de Cristo
Era a Idade de Ouro do vasto Império de Milkar. Mais da metade das estrelas habitáveis da galáxia de Andrômeda eram pisadas com marcial passo pelas botas da ocupação. Os legionários de silício caminhavam pelos mundos dominados, com estritas, embora não arbitrárias leis.
Pru Atol Número Quarenta e Três, aperfeiçoara a transdobra e estava decidido a prosseguir na busca de Pru Um, mais preparado do que seus antepassados.
Além do disco que seu pai deixara, tinha um relatório, infelizmente incompleto, que os descendentes da expedição original fizeram num posto de guarda fronteiriço, num insignificante mundinho periférico.
O relatório de segunda ou terceira mão foi feito verbalmente, por um burocrata fronteiriço a um ser muito alienígena que o repetiu por sua vez a um capitão de navio da Metrópole, numa muito castigada língua milkara.
Sabendo do que acontecera, resolveu procurar os restos, se os houvesse, do seu antepassado, e levá-los a Milkar Prime, onde seria feito o ritual de duplicação em que é criado um clone do defunto; com o código genético dos restos.
A informação vital para a viagem intergaláctica finalmente chegara a Milkar. Havia uma anomalia espaço temporal instável, que comunicava a cada tanto, com o quadrante da galáxia vizinha, onde Pru Um se perdera.
Embora Pru 43 não tivesse conversado com nenhum descendente da expedição original, seu antepassado morrera com honra.
Com a idéia de encontrar o disco e talvez os restos de Pru Um, passou a idéia à família e partiu.
Pru Quarenta e Três chegou à capital do Império Raniano, que compreendia uma esfera de oitocentos anos-luz com Ra no seu centro.
Chegou numa época conturbada. Não todos os estrangeiros eram bem-vindos. Afortunadamente deixou suas memórias referentes à visita ao fabuloso Império Raniano. Elas contam-nos:
"-Desembarquei na capital do Império e fui interrogado. Ao souberem da minha nacionalidade comunicaram-se com o nosso cônsul nas luas de Vurón, o planeta gigante, que lhes informaram quem era eu; e qual minha missão. Ficaram tranquilos e eu também. Pensei em achar um compatriota para guiar-me, mas eles deram um guia nativo. Por ele conheci um grande guerreiro, o príncipe Angztlán, jovem Cavaleiro do Cosmos, sobrinho-neto do Imperador Ramsés XVIII".
"-Angztlán e eu ficamos amigos. Ele disse que em vários pontos-chave, a Esfera Raniana fora invadida por uma raça de carbono, embora muito alienígena; uma raça forte de guerreiros e caçadores: o Império Alakros. Eles penetraram a esfera raniana e tomaram uma gigante vermelha muito próxima, quase a 159,51 parsecs da capital".
"-Dessa cabeça de ponte, o inimigo ocupou indefesos mundos coloniais. As legiões de ocupação ranianas eram obrigadas a retroceder perante as hordas alakranas. Mais ou menos essa era a situação quando cheguei à capital".
Pru-43, em suas memórias nos conta mais sobre o Príncipe Angztlán, que se fez seu amigo na capital de Ran:
"-O Cavaleiro do Cosmos não era bem querido pelos Treze Conselheiros do Império, apesar das suas vitórias. Parece que eles governavam o Império entre bastidores, manejando ministros e o próprio Imperador. Adoravam um deus de nome impronunciável, em detrimento dos deuses oficiais, que prezavam honra e respeito".
"-O deus dos conselheiros da espécie parasita dominion; infiltrados em pontos chave do governo; era um deus sinistro, materialista, sanguinário e vingativo, que requeria sacrifícios humanos, sendo satisfeito pelos devotos, sequestrando crianças para lhe oferendar de forma discreta que não chocasse à população inocente que nada sabia, população que considerava os seres dessa raça como pessoas de bem".
"-O imperador Ramsés XVIII homenageara o príncipe com o título de Herói do Império, o que lhe acarretara muita inveja. Além do mais, pelo que me contou; os conselheiros sabiam que ele conhecia seus sinistros propósitos. Não poderiam permitir que alguém com tanto prestígio e credibilidade, continuasse a viver, cedo ou tarde ele poderia abalar sua hegemonia".
"-Um triste dia foi publicado um documento pelo qual se anunciava que o príncipe solicitava ser congelado por mil anos. Eu não podia acreditar nisso. Segundo os conselheiros, o Príncipe, cansado de lutar, abandonara tudo o que fora seu ideal. Comentava-se na rua que uma frota de trinta milhões de belonaves alakranas e de raças-clientes, aproximava-se da Metrópole quase sem oposição, porque a frota estelar estava dividida em inúmeras frentes..."
"-O enterro de Angztlán foi memorável; a câmara hibernadora foi depositada no subsolo de uma enorme pirâmide, como correspondia a um Príncipe e Cavaleiro. Fiquei muito triste quando tudo terminou e afastei-me em direção do meu veículo enquanto assopravam maus ventos e o céu estava cinzento. Mas, quando cheguei ao meu quarto, me esperava o fiel secretário do príncipe com uma mensagem:"
"Pru; o Conselho vai lançar um sol de antimatéria contra a frota inimiga. Mas para isso vão usar toda a energia de Ran. O planeta vai explodir quase em seguida. Vá embora, meu amigo, e conte ao seu povo o que aconteceu aqui..."
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Com a carta póstuma de Angztlán na mão, Pru viu partir o autoplaneta Analgopak-Ran com algumas centenas de milhares de ranianos inferiores, que fugiam da iminente destruição. A frota inimiga fora detida graças ao sol de antimatéria, a arma total, que os destruiu junto com uma estrela e seus planetas. Mas com isso, o núcleo de Ran desestabilizou-se, devido ao grande dreno de energia usado para criar o
casulo de contenção.
Agora os terremotos eram freqüentes e os cidadãos com meios próprios de locomoção começaram a emigrar para os mundos do sistema e sistemas vizinhos, onde confiavam em sobreviver. Pru-43 reuniu sua tripulação dispersa e abasteceu a nave para partir. Solicitou permissão para decolar à mesa de controle do espaço-porto, mas havia tanta confusão e pânico por todos lados, que decolou por conta; assim que os tripulantes embarcaram.
Em suas memórias nos diz:
"-Nossa intenção era ir para Vurón, que nesse momento encontrava-se em oposição, do outro lado do sol. Quando menos o esperamos, Ran explodiu por trás de nós, dilatou-se, crescendo até ficar muitas vezes maior do que era. O tempo e o espaço convulsionaram-se à nossa volta e fomos obrigados a entrar na grossa atmosfera do terceiro planeta para proteger-nos dos destroços. Uns poucos caíram nele, e fomos testemunhas de um grande dilúvio e do afundamento de dois grandes continentes. Os nativos, avisados pelos ranianos, lutavam para sobreviver em grandes barcos de madeira, mas as principais colônias ranianas, Atlantis e Lemúria, desapareceram sob a grande massa de água, que dava aquela cor azul ao planeta..."
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A queda do Império Raniano produziu-se por todos estes fatos. Os ranianos defenderam corajosamente seu sistema ao alto preço da destruição do seu mundo-mãe.
Alakros; cuja esfera media cinqüenta mil anos-luz de diâmetro, atrás da constelação do Escorpião, perdeu trinta milhões de belonaves, o grosso da sua frota, com o que não pôde continuar controlando sua esfera.
Milkar, então, invadiu a esfera alakrana, provocando o fim da ocupação em mais de mil planetas importantes.
A notícia espalhou-se e em quase dez mil planetas estourou a revolução. Séculos depois, o Império entrou em colapso. Milkar conseguiu sitiar o próprio planeta Alakros, e este, para romper o sítio teve que chamar a todas as belonaves remanescentes espalhadas pela esfera, dando lugar a uma pavorosa batalha na qual ambos bandos sofreram perdas terríveis e totais.
A frota milkara foi destruída, mas Alakros já não conseguiu recuperar-se e não pôde contra-atacar. Então sobreveio uma paz cósmica que durou
dez mil anos. Os impérios estavam demasiado ocupados curando suas feridas, para pensar em guerras. Nesse meio tempo, os ranianos já tinham sido sufocados em suas colônias e Ran já não existia, nem como mundo, nem como Império.
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8.000 anos antes de Cristo
No quarto planeta, Gopak, o solo já estava vermelho.
Sua antes verdejante vegetação tinha adotado uma cor escura e sua agora tênue atmosfera, já não podia mais sustentar aqueles grandes animais voadores que agora se degeneravam em seres terrestres.
Os deuses tinham ido embora. Não havia nada útil para eles já, nem sequer água. Só restaram cinco vertentes importantes no planeta. Em torno delas tinham-se agrupado os gopakis.
Uma delas era Angopak, subterrânea; outra era Hariez, no meio de dois grandes lagos, permanentemente cheios graças à infiltração proveniente de um canal próximo. Mais ao sul encontra-se Darnián, na beira do mesmo canal.
Ao partir, os deuses deixaram suas máquinas, suas fábricas, seu conhecimento e muitos discípulos talentosos que reconstruirão o mundo ferido pelos restos de Ran, até um ponto no qual estancar-se-á.
Mas isto acontecerá em alguns milênios. Sua raça pacífica, embora de velhos antecedentes guerreiros, vegetará em silêncio, como um fóssil, até que seja visitada por outra raça também guerreira; uma raça proveniente do Terceiro Planeta, que ao descobrir sua existência, comunicará aos seus congêneres com estupor:
–Marte está habitado!
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Ano 1945. Época atual.
Pru Atol-7751 chegou ao Sistema Solar em perseguição dos piratas espaciais milkaros, que em sua maioria eram remanescentes de antigas escaramuças cósmicas com as naves da Suprema Confederação. Aproveitando a rivalidade entre esta e o Tri-Estado, os piratas vendiam-se ao melhor pagador por armas e energia, já que o comércio interno de ambas esferas era muito intenso.
Também nas maiores luas de Júpiter, colonizadas pelos milkaros, aconteciam atos de pirataria. Em Calisto, a maior colônia agrícola milkara, cuja concessão permanente tinha pertencido à família Atol desde a época do velho Império Raniano; era preciso proteção contra os assaltos.
Calisto e Ganímedes comerciavam entre ambos os legumes de silício e carbono e transportavam estes produtos e outros para o entreposto de abastecimento de Plutão, onde as grandes belonaves da Suprema Confederação costumavam abastecer oxigênio e água.
Mas, agora a pirataria ameaçava acabar com esse comércio.
O governador de Calisto achou que implantando uma raça guerreira nas luas, poderia acabar com a pirataria em meio prazo ou pelo menos enfrentá-la com sucesso.
E aconteceu que foi enviada uma expedição ao Quarto Planeta, onde ainda viviam os descendentes dos inferiores ranianos. Mas as coisas não seriam como o planejado.
Ao chegar, eles viram uma nave em forma de disco aproximando-se do quarto planeta, uma nave que parecia do mesmo modelo usado por Ran há milênios...
Uma nave proveniente do terceiro planeta. Uma nave cheia de seres que fugiam de uma guerra perdida; que fugiam de um mundo em que não podiam mais viver.
Uma nave chamada Haunebu-3.
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Abril de 1961 – época atual.
A década de 50 ficou para trás, junto com o descobrimento; pela estudante Zenja; discípula do professor Satrov, da Universidade de Leningrado; do crânio fóssil de Pru Atol Número Um em Sibéria.
Seu descendente Pru Atol 7751 nunca saberá que os restos mortais que procurava estão na Terra, porque quando vê, desde sua base em Júpiter, a nave de Yuri Gagarin girando em torno do planeta azul; resolve informar e alertar seus amigos terrestres já estabelecidos nas luas de Júpiter, que seus mortais inimigos conseguiram subir para o espaço, embora em forma rudimentar; mas que se preparem; porque em algum tempo, talvez duas ou três gerações; seus inimigos terão condições de alcançá-los.
Em seguida resolve retornar a Milkar Prime, para colocar um fecho de ouro na sua gestão de 56 anos no Sistema Solar. Não voltará nunca mais, porém, na entrada da fenda espacial, entregará o disco de busca ao seu filho Pru Atol 7752; jovem cadete da Frota Estelar Imperial Milkara.
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21 de julho de 1969 – época atual.
Pru Atol-7752 passou algumas dificuldades para atravessar as barreiras da Suprema Confederação; dentro de cuja esfera está nosso Sistema Solar, uma espécie de reserva indígena composta por planetas que outrora foram colônia raniana; mas permitiram-lhe passar.
Dirigiu-se para Calisto, onde por merecimento sua família possuía a concessão agrícola das luas, que eram um território milkaro encravado na esfera da Suprema Confederação. Este merecimento e outros privilégios, os milkaros possuíam devido à heroica luta de Milkar contra Alakros em defesa dos remanescentes de Ran, vários milênios atrás.
Após cumprir suas obrigações em Calisto, Pru-7752 resolveu visitar a Terra. Tinha curiosidade por conhecer o mundo que originara aquela raça notável; descendente direta dos ranianos; que morava nas luas de Vurón.
Raça esta, que em poucos anos organizara-se de maneira incrível, trabalhando sem parar, dominando o vôo espacial, construindo excelentes espaçonaves e apresentado combate aos piratas, que em vista disso diminuíram seus ataques.
Não atacavam mais as fazendas, porém limitaram-se a atacar naves de transporte. Quando Pru-7752, na sua ida à Terra passou perto da Lua, deparou-se com uma nave rudimentar, orbitando em torno da mesma.
Seus instrumentos lhe indicaram um ponto biológico de carbono dentro da pequena nave. Um exame mais detalhado da superfície da Lua lhe indicou a presença de outra pequena nave e dois pontos de vida caminhando na superfície. Isto lhe indicou que a ex-colônia raniana, embora com atraso, estava recuperando a viagem espacial.
Mas os terrestres das luas de Vurón estavam bem mais adiantados do que os seus antigos inimigos que estavam aí embaixo. Embora seus estudos sobre o planetinha azul tenham lhe indicado que a guerra terminara há tempo, ele não podia determinar a reação dos exilados ou dos seus inimigos, se por ventura chegassem um dia a Júpiter.
Pru resolveu apenas ver os seres de perto e depois ir à Terra para dar outra olhada, bem maior, para quando retornasse às luas, poder dar um relatório aos seus protegidos, nos quais confiava por merecimento; e que foram os primeiros da sua espécie em ir ao espaço. Pru não esquecia que seu pai tinha-os ajudado no passado.
Enquanto isso, na Lua, Neil Armstrong e Edwin Aldrin, chocados, apavorados, perante o enorme disco, grande como uma cidade que pairava sobre eles; não atinavam a falar nem se mover.
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Fim do século XX.
Época atual.
No ano de 1992 deste Mundo Paralelo sobreveio a fome mundial, que provocou distúrbios em todo o planeta.
Em 1995, um sistema tirânico sufocou as rebeliões por meio de um golpe de estado mundial, perpetrado por um grupo de gangsteres das Altas Finanças, autodenominados “Grupo dos Treze”; representado perante os países do Terceiro Mundo por um testa-de-ferro, o Grande Irmão, pontífice da Nova Ordem Mundial.
Os donos do mundo, sediados em Bruxelas, a nova Capital mundial, controlavam um poderoso computador com o qual a Humanidade era submetida. Para tanto, cada habitante da Terra devia ser marcado com uma tinta especial na mão direita ou, na falta desta, na testa, com um código de barras.
Sem esta marca, a pessoa não era reconhecida pelos terminais do computador, não podendo comprar ou vender. Passava à condição de paria. Quem não se submetesse, além de paria, seria considerado inimigo do Estado, sujeito a ser caçado e executado.
Alguns países do Hemisfério Sul rebelaram-se contra esta situação, facilitando e incentivando a entrada de dissidentes do Hemisfério Norte; na maioria de técnicos e cientistas, que iniciaram a construção de uma cidade-fortaleza no Continente Antártico, que passou a chamar-se Cidade Antártica.
Os homens livres da recém fundada Nação Antártica; controlavam o clima mundial desde o Pólo, e a tirânica Nova Ordem Mundial não se atreveu a atacá-los com armas nucleares, para não ocasionar o derretimento do gelo, com o que os mares se elevariam, provocando a destruição de cidades costeiras.
Optaram pela tática que vinha dando certo para submeter às nações que se consideravam livres: os bloqueios naval e aéreo, além dos embargos comerciais. Antártica era uma nação poderosa, equipada com excelente força aérea e armas nucleares, o que a tornava totalitária, aos olhos dos amos do mundo.
Apesar do impasse, a Nova Ordem Mundial esperava submeter os habitantes da Antártida, cortar de raiz as rebeliões na América do Sul, Austrália e África do Sul, todas incentivadas por Antártida, o único lugar do mundo ainda livre de poluição.
Por causa da terrível ditadura mundial, os habitantes de Antártida resolveram fugir para outros planetas, aproveitando as descobertas e inventos dos cientistas ali reunidos.
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Continua em: OS ANTÁRTICOS
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O conto NO PASSADO DISTANTE - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase I - Volume I, Capítulo 1; Páginas 1 a 8; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:
sarracena.blogspot.com
O volume 1 da saga pode ser comprado em:
clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1