Estrela dalva
Subitamente duas figuras se projetaram alguns centímetros acima do chão. lentamente os corpos vão de encontro ao solo, uma das figuras como se acordasse ofegante de um pesadelo, se joga ao chão em posição fetal e mãos no pescoço.
A segunda figura permanece de pé frente a um penhasco em uma montanha tão alta que a visão tomava queda livre sem achar fim.
- A primeira vez é sempre a pior - falou o homem de sobretudo com um sorriso irônico no rosto.
- Primeira... o que?- resmungou o jovem de calça jeans e camisa azul, levantando-se ainda grogue.
- Tome alguns minutos, irá precisar deles. Sua visão voltará com o tempo.
- Minha visão?! - percebeu que estava de olhos abertos, porém sua visão estava turva e voltando aos poucos.
- Sinto como se tivesse esticado todo meu corpo e depois encolhido ao máximo - olhou a sua volta com o pouco de visão e ainda confuso percebeu que estava em um lugar muito alto, podia sentir a brisa vir de baixo, escalando cada milímetro de um gigante de pedra, sua silhueta lembrava uma pirâmide.
- Sempre didático -sorriu satisfeito.
- Onde estamos? indagou à figura que dava-lhe as costas
- Em Odit, um planeta em uma galaxia vizinha a sua.
Ao olhar para cima , percebe que uma enorme lua, pálida-azul estavam os observando estática.
- O que você colocou no meu copo? - falou entre engasgos e soluços enquanto tentava recuperar o controle das pernas.
- Não coloquei nada, apenas te projetei em outro lugar. Aquilo que vocês chamam de teleporte.
- Vocês quem, cara-pálida?
- Vocês humanos.
- Você fala como se não fosse um- resmungou levando as mãos ao rosto.
O individuo que permanecia imóvel em direção ao horizonte virou-se para o a mutuado de pele e ossos que tentava com dificuldade se auto-sustentar, sorriu superiormente, fechou o sobretudo de couro cor de vinho e laterais bordadas de camurça com listras diagonais laranjas, e amarelo desbotado em alternância. colocou as mãos nos bolsos e respirou fundo, como alguém que retorna ao lar.
- Porque... como... me...me... me trouxe aqui?
- Você buscava respostas, não é, Airumã?
- Como sabe meu nome verdadeiro? Ei, espera ai... Eu morri? alguma coisa caiu em mim? foi algum tiroteio? ... eu sabia que iria morrer em um tiroteio, "se chover Xuxa no meu colo cai Pelé". Foi a coxinha que comi? - continuou ofegante, tagarelava e não conseguia parar, um dos efeitos colaterais da façanha que o levou até lá.
- Eu sabia que não deveria continuar comendo, mesmo o recheio tendo um gosto estranho, mas sabe como é, era o que tinha no momento.
Luis era o nome dado por seus pais adotivos ao adota-lo. Seu nome verdadeiro era Airumã, nome dado por seus pais índios de uma pequena tribo das entranhas da Amazônia. até hoje os pais adotivos de Luis não conseguiram entender como o nome dado pelos pais conseguiu chegar com ele na casa de adoção mal organizada, dado a falta de informação de sua trajetória até o orfanato.
Luis não tem nenhuma informação sobre seus pais ou a tribo de onde vieram. Quando adolescente, em muitas de suas crises existenciais buscou na internet informações que pudessem lhe dizer quem era e de onde poderia ter vindo. Tudo que encontrou são algumas fotos de restos de cerâmicas e peças extremamente trabalhadas e que ainda não foram descoberta a maneira como esculpiam em rochas e pedras preciosas e no próprio diamante e cristais com precisão a laser. O que levou ao triste fim da tribo foi lenhadores de madeireiras ilegais que destruíram toda tribo, porém não há sinal de cadáveres ou até mesmo sangue, dizem que os corpos foram escondidos e ou os sobreviventes vendidos para fazenda dos donos de madeireiras como escravos, porém nada foi provado. O que se sabe com total certeza é que não restou nenhum sobrevivente vivo, somente o Airumã, hoje, Luís. Como e quem o levou para o orfanato era desconhecido, pelo menos era o que dizia em sua fixa guardada em pastas amarelas no fundo de arquivos em um quarto que dava abrigo a baratas e ratos.
- Como Chegamos aqui?
- Já falei, nos teleportamos do banheiro do boteco.
- Que? Gustavo, não é esse seu nome?-
- Acho que já pode saber meu verdadeiro nome -virou-se por completo para o garoto pálido e assustado que olhava para todos os lados e tateava como se procurasse um véu para puxar e sair dali.- me chamo Guztaz, e sou da 4° dimensão - deu três passos em sua direção e estendeu a mão em cumprimento.
- Você esta dizendo que é de outra dimensão? - falou com um sorriso incrédulo no rosto.- não sei o que você bebeu, mas quero dos dedos disso.- disse fazendo uma pinça entreaberta com o polegar e o indicador.
- Por isso sempre gostei de você, você vibra em uma ótima frequência.
- Do que você esta falando? Ok... Jack estripador, vamos por parte, do começo, em detalhes claros e sem essa coisa de charme misterioso, sou todo ouvidos - falou já recuperando-se dos efeitos e se apoiando na parede da rasa caverna.
- Ei... porque essa rocha é tão macia? -perguntou tocando abobalhado a textura de veludo cotele com cerdas.
- Não é uma rocha, é um organismo -falou como quem da as horas.
- Organismo? estamos em... algo?...alguém? -colocou a mão na cabeça e começou a andar em pequenos círculos com as mãos entre os cabelos- Estou surtando, devo estar em coma pela coxinha que comi e estou tendo esse sonho maluco onde um cara que conheci no bar diz ser um "ser da quarta dimensão'- ironiza com as mãos na cintura - Esta na hora de acordar! - Com toda confiança possível de quem assistiu documentários sobre sonhos, corre para a beira do abismo vertical e com um grande salto, mergulha em direção a uma escuridão azulada.
Gustaz tenta segurá-lo, mas já era tarde.
Em queda livre já a alguns segundos, sente um comichão no corpo inteiro e se da conta de que ainda não acordou.
Gustaz se configura ao lado dele e se junta a queda sem fim.
- Já esta formigando o seu corpo? -
- Sim, o que é isso?-gritou até que veias saltaram de sua testa e por um momento percebeu que gustaz não havia gritado, e mais ainda parou por um segundo e deu-se conta que desde sempre Gustaz estava falando dentro da sua cabeça, desde que o havia conhecido, pensara ser pelo fato de estar bêbado.
Ainda não acordei...
- é o gás que esse organismo transpira, parte oxigênio e parte substancias que juntas afetam seu tipo de organismo como um leve antialérgico, irônico não? Pois se você ingerisse um pouco desse organismo é só se jogar em queda livre que o ar que elas transpiram é seu próprio antídoto...
- Antidoto?! -exclamou arregalando os olhos- e só agora voce me diz?
E novamente sentiu aquela sensação recentemente familiar de ter o corpo esticado e encolhido como massa de pizza.
Havia desistido de acordar...
Gustaz usa as pernas firmes e estáveis para se manter de pé, em quanto Luis se estatelava com a cara no chão. por um milésimo de segundo lembrou que caira em puro veneno e levantou-se muito rápido, um reflexo errôneo de seu corpo primata, assim que se ergueu, caiu como um corpo sem alma, sendo segurado por gustaz.
Sentando-se em flor de lotos colocou a cabela de Luis em seu colo.
- Descanse, Grande Mirrá, tenho muito a contar e você tem mais ainda a saber.
Continua...