FILHO DE GUERREIRO
20 de junho de 2020 (200620).
–Não podemos partir ainda, capitão – disse Alan – consta-me que a vimana não tem nome. Isso não é bom. 8807 não é um nome, é um número.
–Se faz tanta questão, vamos dar um nome à 8807, mestre Alan.
–"Amarna" parece-me um bom nome para nossa nave – disse Lilla Henna – em honra dos guerreiros Amarna, que vamos conhecer.
–Você é tão inteligente quanto bonita, Lilla Henna – disse Alan – que seja.
–Precisamos de uma garrafa de vinho de Auxor para batizá-la – disse Iara – eu já tinha pensado nisso e tenho uma na mochila.
–Ótimo! Você será a madrinha, querida.
–É um ritual terrestre? – perguntou Huáscar.
–Sim, muito antigo – disse Iara – mas prefiro que Lilla Henna seja a madrinha, foi ela que escolheu o nome. Aceita, Lilla Henna?
–Aceito. O que tenho que fazer?
–Lance a garrafa com força na proa, para que o vinho escorra e molhe a nave, dizendo “eu te batizo com o nome de Amarna”. Esse é o ritual.
A enorme tigresa rosnou e lançou a garrafa como uma bala, com sua força aumentada pela pouca gravitação do planeta, com o que a quebrou no lugar exato.
–Eu te batizo com o nome de Amarna! – rugiu.
–Amarna nos dará sorte – disse Iara – vamos iniciar nossa jornada nas estrelas!
–Embarcar! – ordenou o capitão Huáscar.
*******.
–Antigravitação! Acionar! – disse Huáscar.
O ventre da nave brilhou com a estática e começou a elevar-se lentamente.
–Manobradores atmosféricos! Acionar! Recolher trem de pouso!
A enorme nave pairou como se fosse um dirigível cansado em direção ao sul, acelerando aos poucos. Já sobre o mar, o capitão ordenou:
–Manobradores acima! Acionar!
A Amarna levantou a proa e tomou altura em direção às espessas nuvens que ocultavam a superfície do planeta e a protegiam do escaldante sol.
Em menos de dois minutos atravessaram as nuvens e atingiram o espaço.
–Desligar atmosféricos, propulsores um quarto, reverter antigravitação.
–Curso, capitão? – perguntou o navegador.
–Curso 003, marco 1.003 setor 001. Meia manobra, piloto.
–Curso traçado a meia manobra, senhor.
–Por quê ir tão devagar, capitão? – perguntou a imediata Lilla Henna.
–Precisamos encontrar uma estação espacial chamada Solaris, que deve estar a metade de caminho entre Boral e a Terra – disse Huáscar – Recolher asas, abrir nacelas, iniciar o núcleo!
As asas da arraia diminuíram sua superfície e a ambos lados da fuselagem abriram-se painéis, dos quais emergiram as nacelas de dobra.
–Não vamos precisar da dobra ainda, Huáscar – disse Alan.
–Precisamos plasma; estamos em força auxiliar. Antes de pousar desligamos o núcleo, ventilamos o plasma, recolhemos as nacelas e abrimos as asas; mas ficamos indefesos. Com o núcleo, geramos plasma e há energia constante em todos os sistemas quando estamos no espaço. Eu disse que era complicado.
–Entendi, capitão. Desconhecia estes procedimentos, estou costumado a pilotar a nave estelar dos meus amigos, que não desce ao solo.
Alan estava de pé, junto da cadeira do capitão e Lilla Henna junto à cadeira do cientista chefe Cóatl. Pacha pilotava e o auxiliar Kol assumiu o táctico. A ponte de comando da Amarna era similar à da Empreendimento, salvo pela disposição da mesa de pilotagem, onde o piloto acumulava a função de navegador.
Nos níveis inferiores, os alojamentos estavam reformulados. Além dos oitenta tripulantes xelianos, havia sessenta fuzileiros boralianos chefiados por Kufu e trinta soldados de infantaria xawareks, selecionados entre os melhores.
Alan não achou justo separar Lin de Iara. Lin chefiaria o departamento de alimentação e controlaria os mantimentos; ela conhecia bem os hábitos alimentares de tigres e humanos. Iara assumiria as comunicações e sensores. Uma tigresa auxiliar a treinaria. Antar Hol incorporou-se à esquadrilha de pilotos de caça.
As primeiras nove patrulheiras novas da classe AR-2, fabricadas em Zhoro, descansavam no hangar, abastecidas e armadas; junto com os caças.
A tripulação recém formada tivera apenas um mês para se preparar; 197 seres ao todo, com o capitão, os oficiais, Kufu, Iara, Alan, Lin e Antar e mais cinco casais de boralianos e xawareks, que Alan pretendia deixar no caminho, para preparar o sistema solar a aceitá-los.
O departamento médico nada deixava a desejar do hospital de Walhall. O mesmo médico boraliano que salvara a vida de Alan; o doutor De Harag Hal; estava sob as ordens da doutora Gates Henna. Ele falava alakrano fluente e Alan achou que essa qualidade seria útil no futuro.
Depois de meia hora avistaram a enorme estação, brilhando como um sol.
–Solaris à frente, capitão.
–Parada total! Preparar para ancorar!
*******.
A porta estanca do hangar abriu-se para receber a patrulheira marciana.
Logo que se restaurou o suporte de vida, Bondarchuk e auxiliares entraram no hangar para receber por segunda vez o coronel Alan Claude. Estavam curiosos pela enorme nave desconhecida ancorada a menos de um quilômetro da estação.
A porta da patrulheira C1H2 Henna abriu-se e Alan desceu.
–Permissão para abordar a estação, capitão Bondarchuk.
–Permissão concedida, coronel. Sejam bem vindos a esta estação... Mas, quê traje espacial é esse?
–Armadura de combate dos guerreiros de Sírio 4, Amaru Xel, capitão.
–Sírio? Já foi tão longe?
–Ainda não, capitão, eles vieram aqui. Quer conhecê-los?
–Seria fascinante.
–Para o senhor será – disse Alan fazendo um sinal para Iara, que estava na porta da eclusa, vestida igual.
Logo o capitão Huáscar, o doutor Cóatl e Lilla Henna desceram.
–Haalla!
–Eles estão cumprimentando, capitão. Não falam inglês nem russo. Mas Iara e eu poderemos servir de intérpretes. Viemos de Vênus para ver como vocês se saíram este último ano e fazer um relatório resumido para Antártica.
–Vênus é nosso agora, capitão – disse Iara.
Bondarchuk ficou de boca aberta.
*******.
Terra.
21 de junho de 2020 (200621)
A possante Amarna ancorou em órbita da Terra e a AR-1 separou-se dela.
Ao partir de Solaris, Alan deixou muita informação; as coordenadas dos países de Vênus e dois casais de boralianos e tigres para ensinar a língua raniana aos colonos. Também deixou uma patrulheira AR-2 com um piloto xawarek; a primeira construída em Vênus, para que eles voltassem quando for o momento. A USS Enterprise ainda estava atracada na estação. Finalmente Rodden parara de piratear.
Agora cortavam a atmosfera terrestre na altura do Brasil, onde Alan pretendia fazer a primeira parada na base de Canoas, de onde partiram 13 meses antes. A base, já avisada, esperava o pouso.
As agencias de notícias terrestres informaram que havia uma enorme nave alienígena em órbita alta, monitorada por todos os países que ainda podiam fazê-lo. A RTVV anunciara com estardalhaço que se tratava de aliens tremendamente poderosos, aliados de Antártica.
–Uma navezinha notável esta – disse Huáscar, sentado na cadeira do co-piloto.
–Foi a que me trouxe do sexto planeta – respondeu Alan, fazendo a reentrada na atmosfera terrestre – foi construída pelo meu povo no quarto planeta.
–Vejo que há muita radiação aqui – disse o siriano – tiveram uma guerra.
–Tivemos. Nós somos tão cruéis e briguentos como vocês – disse Alan – Mas vocês têm honra, coisa que nós não temos.
–Discordo, mestre Alan – interveio Lilla Henna da porta da cabine – você tem honra. Já o demonstrou muitas vezes no pouco tempo em que nos conhecemos.
–Alan é um caso aparte, Lilla – disse Iara, desde o alojamento – já lhe expliquei que nós somos antárticos.
–Antártica é um país?
–Não somente um país, Lilla – disse Alan – é um modo de pensar.
–Entendi. Uma filosofia – disse a tigresa com os olhos brilhantes.
*******.
Brasil.
Ao ver o brigadeiro em uniforme de passeio na pista; acompanhado de sua esposa e uma multidão de militares e jornalistas, Alan mandou Iara descer primeiro.
–Pai? Mãe? – disse ela ao pé da escadinha.
O brigadeiro Carlos Frederico Zenkner avançou um passo. Iara vacilou e ficou em sentido, fazendo a saudação militar.
–Permissão para desembarcar, senhor!
–Permissão concedida, tenente... Que roupa é essa? Onde está seu uniforme?
–Desculpe a indumentária, pai... Senhor. Meu uniforme ficou grande demais em mim. Esta é a armadura regulamentar de combate da tripulação da Amarna.
–Claro que ficou grande – interveio a mãe – você emagreceu demais. Não está se alimentando direito, filha?
–Vênus é uma sauna infernal, mãe. Perde-se peso o tempo todo, por mais que se coma... Posso abraçar vocês agora?
Alan desceu depois do abraço.
–Coronel Alan Claude Sarrazin se apresentando, senhor.
Antes que Zenkner abrisse a boca, Huáscar e Lilla Henna colocaram pé em terra, sendo fotografados e filmados para o mundo conhecê-los.
*******.
Antártica.
–Meus pais não ficaram muito satisfeitos de saber de nossa união – disse Iara, desde o corredor da patrulheira em vôo para Antártica – minha mãe queria que eu me casasse na igreja, de branco e tudo o mais... Imagina se soubesse das outras coisas...
–Está arrependida? – disse Alan desde a cabine.
–Não!
–É algum tipo de ritual de acasalamento? – perguntou Lilla Henna.
–Mais ou menos – disse Alan.
–Ele não me derrotou numa luta corporal honrada de acasalamento, se quer saber, Lilla – disse Iara – nossos rituais são diferentes dos vossos.
–Ouvirei com interesse quando quiser contar – disse a tigresa.
–Não é momento para isso agora – disse Alan – estamos chegando, segurem-se em algo que vou pousar.
–Gelo e neve – Huáscar estava admirado – Isto é Antártica?
–Sim. Fechem luvas e capacetes, porque este lugar mata.
*******.
O gabinete do presidente Marcos não mudara nada após um ano. Apenas o mapa mostrando a área radiativa, agora ultrapassando o equador.
–O norte do Brasil até a Bahia já está contaminado.
Lilla Henna e Huáscar estavam sentados nos sofás ao lado de Iara, que traduzia a conversa para eles em raniano.
–Evacue essa gente do sul para Antártica.
–E onde os coloco?
–Mande-os para a Lua, Marte, Júpiter, Solaris...
–Não tenho tantas naves assim, Alan. E se as tivesse, não são todos os que querem ir. Alguns têm medo de nós. Ainda há gente que pensa que somos escravistas.
–Entendo.
–Alan... Desculpe, senhor presidente – disse Iara em espanhol – mas o capitão Huáscar tem uma informação importante.
–Diga.
–Ele disse que seu povo pode descontaminar completamente a Terra da radiação com uma nave equipada com uma tecnologia que eles desenvolveram e vêm usando há séculos em planetas com o mesmo problema que nós...
–E ele pode fazer isso com a nave que está lá encima?
Iara trocou rapidamente umas palavras em raniano com Huáscar e Lilla, que deu algumas opiniões. Logo se virou para Marcos:
–A Amarna não está equipada para isso, mas no planeta dele há várias naves orbitais equipadas para essa função, e nós podemos trazê-las.
–E eles fariam isso por nós?
Iara traduziu a pergunta. Huáscar respondeu e ela disse em espanhol:
–Sim, ele deu sua palavra, senhor presidente.
–De palavras estou cheio – disse Marcos, azedo, tomando um comprimido.
–Eles não falam espanhol, ainda, Marcos – disse Alan – senão você estaria morto neste instante. Desculpo-lhe porque vejo que você passa o dia todo encerrado nesta sala. Não lhe invejo, Antártica está acabando com você. Ainda assim, tenha certeza que eles cumprirão sua palavra.
*******.
Marte.
A Amarna ancorou no setor militar da doca orbital de Phobos, cinqüenta minutos depois de sair da órbita da Terra em impulso máximo. Alan falou com Elvis pelo sistema, para que autorizasse o carregamento das armas adicionais.
–Estou com pressa, governador, autorize-me, quero começar agora. Depois de deixar tudo encaminhado vou aí embaixo para lhe fazer uma visita... Quero saber se vocês já conseguiram fazer uma cerveja marciana que preste, desta vez.
–Um experto como você, pode dar uma opinião autorizada, coronel.
–Posso começar a carregar?
–A autorização deve estar entrando agora mesmo no sistema da doca orbital, coronel. Agora venha aqui para beber.
–Meia hora, Elvis. Preciso orientar meu pessoal. Posso levar uns convidados?
–Eles bebem?
–Não sei, mas posso perguntar.
–Faça isso. Ponto de Apoio desliga.
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–Vamos começar a carregar armamento marciano e terrestre. Marcianos e terrestres virão a bordo para treiná-los no manejo e ajudar na instalação dos canhões de energia dirigida, lasers de grosso calibre e lançadores de torpedos atômicos de alta potencia. São armas tão terríveis como as armas padrão. Vocês todos falam raniano e não será difícil prestar atenção às instruções. Os auxiliares Katzh e Kol vão treinar os boralianos Huno Anahuan e Rumo Ber Hal como artilheiros tácticos, não só das novas armas, senão também das armas padrão, de acordo?
–Será uma honra, mestre Alan – disse Kol.
–Quero que peguem pessoal xawarek de combate para ajudar no trabalho. Já falei com eles. Vamos zarpar em 24 horas padrão, é tempo suficiente. Façam um bom trabalho, porque nossas vidas podem depender dele mais adiante. Entenderam?
–Como o senhor mandar, mestre Alan – disse Katzh.
–O capitão Huáscar e Lilla Henna vão descer comigo, para entrevistar-se com o governador. Quando eu voltar vou inspecionar tudo. Haalla!
–Haalla, mestre Alan.
–Pacha, a ponte é sua – disse Huáscar entrando no elevador.
–Estou honrado – disse o piloto, sentando na cadeira do capitão.
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–O que acharam? – perguntou Elvis em raniano – sejam sinceros, por favor.
–Fraca – disse Iara.
–Parece suco de gronka – disse Huáscar, fazendo Iara ruborizar.
–Concordo com o capitão – disse Lilla Henna, fazendo cara de nojo.
–Uma porcaria – disse Alan – vocês não dão isso aos marcianos, espero.
–Eles detestaram. A outra que fizemos antes, com cevada russa crescida no solo terrestre da estufa, é muito popular em Nova Chile – disse Elvis – Quê remédio Alan; pare de fazer mistério! Abra essa caixa; estou ansioso! De onde é? Da Antártica, do Brasil ou de Uruguai?
–Da Antártica, fabricada no Brasil para nós. Tem até nossa ave nacional na etiqueta; dois pinguins. Bebam! – disse Alan colocando cinco latas sobre a mesa.
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22 de junho de 2020 (200622).
–Coloquem luvas e capacetes. Não podemos respirar aqui – disse Alan.
A instalação do novo armamento e a estocagem de munição e mantimentos adicionais demorou um dia padrão. Para aproveitar o tempo Alan levou os amigos em um auto-N para conhecer o Ponto de Apoio e a fábrica INDEVAL Motores. Depois foram em aerocoester a Nova Chile para conhecer a maior colônia terrestre.
Por último os levou na AR-1 a Darnián para conhecer os gopakis marcianos nativos. Iara estava encantada com as maravilhas. Depois de viver um ano em Vênus, onde Tíber e Walhall eram cidades bem parecidas com as da Terra; agora podia entender como se vivia realmente nas colônias terrestres nos planetas.
–Não vi tua ex-namorada em Nova Chile – disse ela.
–Mas garanto que ela nos viu – retrucou ele.
–Saudades?
–Depois de viver com você um ano inteiro? Não. Sinto pena dela. Não seja ciumenta, Iara, que você não é disso.
–Ela não me preocupa, querido. Minhas preocupações são outras.
–Quais, por exemplo?
–Uma tigresa grande e poderosa.
–Você disse que não teria ciúmes da Henna.
–Não daquela Henna, senão desta Henna que está com Huáscar observando a pista de pouso dos darnianos enquanto olha discretamente para nós.
–Impossível. Ela é mulher do Huáscar. Você que fala com ela devia saber, se já não sabe. Eu teria que desafiar o capitão numa luta para tirá-lhe a mulher; como manda a tradição. Se eu ganhasse ainda deveria desafiar a tigresa e dar-lhe uma surra de socos e pontapés até deixá-la desmaiada no chão para que aceitasse copular comigo. Estou com quarenta anos, querida. Não aguento outro casamento xawarek.
–Ela é linda, não é?
–É sim, uma bela tigresa... Ah, não, querida...! A boraliana não é suficiente?
–Só comentei.
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Júpiter.
Após completar o carregamento e atualizar o armamento, a Amarna zarpou da doca, saudada pelas naves terrestres, marcianas e lunares, entre elas a belíssima Patagônia, do capitão Lino Duarte; e retomou sua jornada.
–Curso, mestre Alan? – perguntou o capitão.
–Curso 008, marco 1.008-1.011 setor 0.01. Meio impulso, Huáscar.
–Já ouviu, mestre Pacha. Acionar!
–Curso 008, marco 1.008-1.011 setor 0.01. Meio impulso, acionado, capitão.
–Por quê ir tão devagar? – perguntou Lilla Henna.
–Há asteroides à frente – disse Alan – Júpiter está a 50 graus e vamos fazer um curso diagonal de cinco horas padrão. É um lugar perigoso, já passei por aí duas vezes. Será melhor nos preparar para imprevistos.
–Levantar escudos! – disse Huáscar.
–Escudos levantados; senhor – disse o piloto Pacha.
–Vou vistoriar a nave e a tripulação, Huáscar. Quero ver o armamento novo.
–Vou com você. A ponte é sua, Lilla Henna.
*******.
Depois de vistoriar as salas de torpedos e bancos de energia, Alan e Huáscar saíram do elevador no convés de moradia e foram aos dormitórios da infantaria.
–Capitão no alojamento! – os xawareks ficaram em posição de sentido.
Depois de uma rápida vistoria, Alan disse:
–Parabéns a todos pelo trabalho. Agora somos um arsenal voador e podemos partir para grandes caçadas.
Depois que os rugidos diminuíram, Huáscar acrescentou:
–Vejo que todos se adaptaram à nave. É bem melhor partir numa caçada do que ficar naquele planeta sufocante, patrulhando na chuva, odiados por todos.
Depois dos rugidos, Alan disse:
–Isso é passado; senhores. Os boralianos colocaram uma pedra encima do ódio e os guerreiros que ficaram lá vão ajudar a construir um mundo novo.
–Não quero lutas a bordo – disse o capitão – só treinos sem armas. Fui claro?
–Sim, senhor.
A visita aos dormitórios dos tripulantes de serviço xelianos, foi espelho da anterior. Os tripulantes estavam felizes por partir numa caçada, depois de tanto tempo no solo. Depois o terrestre e o siriano foram aos alojamentos dos fuzileiros boralianos, todos eles veteranos da luta pela liberdade. Alan entrou primeiro.
–Comandante no alojamento! – disse Kufu.
Logo entrou Huáscar.
–Capitão no alojamento! – disse Alan.
Todos estavam felizes pela perspectiva de novas aventuras e o ódio pelos sirianos era coisa do passado. Kufu pediu permissão para falar:
–Falarei por todos, capitão Huáscar, estamos honrados por estar nesta nave e queremos que saiba que acataremos seu comando com dedicação.
Se os tigres se emocionavam, Huáscar estava emocionado, apesar do seu rosto impassível. Na revista olhou-os nos olhos um a um.
–Vocês são grandes guerreiros – disse por fim.
A vistoria dos alojamentos dos pilotos, onde encontraram tudo em ordem e o piloto Antar à vontade com os sirianos; foi a última, logo da qual entraram no elevador para voltar à ponte. Alan ligou o comunicador:
–Alan para Iara! Onde estás?
–Na enfermaria; querido. Vem.
–A caminho.
O elevador parou no nível da enfermaria.
–Prossiga sem mim, Huáscar.
–Mantenha-me informado – disse o siriano.
Alan saiu do elevador e dirigiu-se a sala da doutora Gates Henna. Iara estava na mesa de exame. Lin estava com ela.
–O quê houve com minha mulher?
–Calma, querido – disse Iara – Lembra o dia da vitória? Você voltou a bordo após dois meses prisioneiro dos alakranos; retalhado, ferido... Lembra que eu te dei banho e algo mais? Lembra que você estava tão feliz de me ver que me agarrou por trás no chuveiro e quase me partiu ao meio com o tamanho de sua enorme felicidade?
–Sim – disse ele, alarmado.
–Aquele dia eu não tinha tomado precauções, papai.
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Filho de guerreiro.
Aos quarenta anos, Alan Claude não pensara que algum dia seria pai, mas, Iara, fogosa e fértil, tinha 26 anos, uma boa idade. A notícia provocou redemoinhos de idéias na sua mente: um filho. A notícia era boa demais.
–Se for verdade é a melhor coisa que poderia acontecer.
–O scanner médico não mente – disse a doutora – Foi gerado há 71 dias padrão. Será macho. Parabéns, mestre de clã Alan, Baharnum de Xel Amarna.
–Pelos meus cálculos vai nascer em janeiro – disse Iara – Está feliz, querido?
–Estou. Havia sete crianças na Cidadela quando parti.
–Nenhuma sua, espero – disse ela, sardônica.
–Admirava Aldo, que tinha quatro na época.
–Um dia chegamos lá – disse ela.
–Não precisamos tantos – disse ele beijando-a.
Lin, emocionada, os abraçou.
–Amo muito vocês dois – disse com a voz trêmula.
–Você está tremendo, Lin – disse Iara alarmada.
–Estou com frio – disse a jovem boraliana.
–O espaço é frio – disse ele.
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Continua em: A ÚLTIMA BATALHA DA HÉRCULES
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O conto FILHO DE GUERREIRO - forma parte integrante da saga inédita
Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume IV, Capítulo 33; Páginas 115 a 123, e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:
sarracena.blogspot.com
O volume 1 da saga pode ser comprado em:
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