GÊNESIS: NOVOS DEUSES

Finalmente o dia chegara. Estava sendo ensaiado há mais de trezentos anos e já fora adiado inúmeras vezes. Ninguém queria que ele chegasse na verdade. Era o plano original desde que a Gênesis saiu do Sistema Solar, e por ele haviam morrido milhares de pessoas. Mas esses eram novos seres humanos, mais de trinta gerações distantes dos pioneiros, criados de outra forma. Não lhes agradava em nada se transformarem de, agentes de mudanças planetárias, para simples espectadores. Cada vez que o assunto era discutido colocava-se um novo empecilho: a atmosfera ainda não estava adequada; ainda não havia população animal suficiente, não havia um número de gerações ideal nascidas no planeta; não se conhecia todo o potencial geológico e biológico do novo mundo. Gaia, o computador principal da naveta que havia se desligado da Gênesis, pôs fim as procrastinações e deu a ordem final. Era hora de deixar essa nova humanidade andar com suas próprias pernas.

Sentado no alto de uma montanha, onde podia ver a nave, preparava-se mentalmente para a sua nova missão. Deveria ficar em solo e monitorar um grupamento humano de cerca de 400 pessoas. Já os estudava e interagia com eles há trinta anos. Possuíam uma agricultura rudimentar e sabiam manejar o fogo e produzir alguns instrumentos. Tinham grande potencial para ser o núcleo de uma nova civilização. Assim como outras cento e cinquenta espalhadas pelos vinte por cento de terra firme do globo. Era obrigado a agradecer a quem quer que fosse por ter sido colocado em um clima semi-tropical. Seus colegas que foram para os pólos ou para regiões desérticas passavam por dificuldades muito maiores. E que não iam diminuir com a ida da base para o espaço. Além do fato dela ser a primeira a ser criada, praticamente do lado da nave. Os avós da comunidade eram os tataranetos das primeiras cobaias. Já possuíam até uma linguagem e uma religião relativamente estruturadas. Deu risada sozinho pensando nas lendas eles criariam para assimilar a subida da nave para o espaço.

De repente sentiu o chão tremer e viu o alaranjado das chamas das turbinas dela a impulsionando para o céu. Seguiu-a com o olhar até que desaparecesse. Entrou em sua caverna, despiu-se das suas roupas de tecido sintético e colocou outras de couro de animais. Retirou de uma caixa vários talos de mandioca, algumas agulhas de ossos e algumas sementes de plantas medicinais. Chegara a hora daquele estranho viajante, que aparecia de tempos em tempos, assumir seu lugar como o profeta dos deuses que subiram aos céus. Teria as mulheres que quisesse e seria o fundador da primeira dinastia dessa civilização. Desceu a montanha em direção ao pequeno vilarejo. Cantarolava uma canção religiosa que tinha inventado na língua simples deles. O futuro prometia...

Aristoteles da Silva
Enviado por Aristoteles da Silva em 02/11/2016
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