XEQUE MATE

15 de novembro de 2019 (191115).

Ao terceiro mês, os rebeldes estavam mais fortes e melhor armados. Todos os postos policiais de Tíber e cidades vizinhas foram assaltados para suprir de armas o movimento.

As notícias do surgimento da guerrilha espalhou-se por todo o planeta, e o Livro Negro de Instruções que Alan editou para orientar os rebeldes, deu a volta ao mundo em navios e através de rádios clandestinas.

Svant Zik foi solto, para que o pegassem e o executassem. Quando a notícia de sua prisão foi divulgada, Alan mandou parar com as ações por um tempo.

–Vamos ficar quietos para que pensem que era ele que estava por trás do movimento – disse Alan – depois que saibamos que o executaram, vamos continuar.

–Com isso a repressão vai relaxar enquanto ele estiver vivo – disse Xufu, já transformado num verdadeiro revolucionário.

–Exatamente – disse Alan.

Nesse meio tempo foram incorporados ao movimento soldados e policiais

nativos que não estavam a fim de servir alienígenas. Os recrutadores entravam em contato com descontentes, mas não conheciam mais que um integrante de grupo, para não terem o que revelar se caíssem prisioneiros.

O mesmo esquema foi usado para recrutar delinquentes comuns em lugar secreto, porém descartável, que depois seriam mandados como bucha de canhão a cometer tudo tipo de tropelias contra os tigres por toda a ilha, soltando presos políticos e comuns das prisões para enganchá-los no movimento.

Svant Zik foi executado em 1 de dezembro de 2019.

Depois disso os rebeldes criaram audácia e coragem, empregando meios de propaganda, sequestrando figurões, colaboracionistas e traidores da espécie.

Por fim, o governo central, no continente norte, decidiu intervir.

*******.

15 de dezembro de 2019 (191215).

O governador alakrano Djekal Baharnum Atholph, mandou uma belonave marítima para controlar a situação. Ele achava que o desaparecimento do seu principal informante na ilha, tempos atrás, estava relacionado com o movimento rebelde.

Apesar do boato falso de que Svant Zik era uma das cabeças do movimento, o governador mandou xawareks. Para piorar a situação, na ilha agora se espalhava um novo boato; que os tigres queriam o planeta para eles e não para os amos alakranos.

Era um golpe baixo. Falsas ordens de peludos incitavam-nos a unir-se à causa rebelde, dizendo que os alakranos os eliminariam quando não mais precisassem deles, como tinham feito com outros povos da galáxia.

Era outro golpe baixo e Djekal deduziu corretamente que uma mente diabólica controlava os rebeldes.

*******.

–E quê mente essa!

–Não deve ser um nativo – disse Hung Baharnum Kalan, seu imediato.

–Mas não foi detectada nenhuma nave nos últimos duzentos períodos.

–E se fosse uma nave indetectável?

–Quer dizer uma nave de cabotagem?

–Uma nave sem gerador Askasi passa desapercebida pelos nossos satélites.

–Mas quem não usa geradores Askasi?

–Os ranianos do terceiro planeta.

–Não tinham destruído seu habitáculo com uma guerra civil?

–Estiveram perto disso, Djekal. Não são puros, são descendentes. Segundo os últimos informes estão se espalhando no sistema. Querem expandir-se de novo e a expansão já começou; estão nas luas dos gigantes gasosos.

–Então não virão aqui, Hung. Não tão perto do sol.

–Nós já pegamos nove sondas deles e as modificamos, para que pensem...

–Devolvemos informação falsa? Então fique tranqüilo. Conheço os ranianos, sempre vão para fora e não para dentro.

–Opino que devemos investigar mais. Ou mandar alguém ao mundo deles para ver o que fazem. Essa mente diabólica que o senhor mencionou... Tem que ser um agitador deles. Só eles foram capazes de criar caos em nossas colônias no passado.

–Você está vendo fantasmas, Hung! Eles nunca viriam aqui. Nós já nos certificamos disso. As nuvens naturais ocultam a superfície e se, como você disse, as sondas deles foram programadas para fornecer informação falsa, devem ter descartado este planeta para colonização.

–E se fosse um agente confederado?

–Não! Eles nem suspeitam que estamos aqui.

–Não sabemos.

–Não poderiam chegar ao sistema. Teríamos detectado uma nave Askasi.

–A nave Askasi poderia ter lançado uma nave menor, de cabotagem, com um agente descartável, que viesse em impulso desde o confim do sistema. Nossos satélites não detectam nada além do último planeta.

–Mas para isso eles deveriam suspeitar que estamos aqui, Hung.

–E se por acaso suspeitarem?... Senhor governador; permito-me lembrar-lhe que estamos longe demais da metrópole para pedir reforços.

–Não seja pessimista, Hung!

*******.

31 de janeiro de 2020 (200131).

Por fim chegou o momento em que já não era possível controlar os rebeldes a partir da ilha, porque nas outras regiões do planeta o exemplo já tinha sido seguido.

O governador Djekal não sabia de fato que seu informador da ilha Greena tinha sido morto em confronto com os rebeldes, mas o suspeitava; e sabia que a revolução começara na ilha.

Preocupou-se, porque um alakrano é quase invulnerável para estes nativos. Então, podia ser verdade a teoria de Hung?

Hung apresentou-se ao chamado do governador.

–Hung, fica nomeado interventor de Greena.

–Fico honrado, senhor.

–Vá pessoalmente à ilha rebelde e me mantenha informado.

–Sim, senhor governador. E pegarei o agente confederado.

*******.

15 de fevereiro de 2020 (200215).

Hung chegou à ilha no fim do verão. Agora as chuvas freqüentes eram mais frias e arrepiantes. Se houvesse um agente confederado ele o descobriria.

Os xawareks patrulhavam as ruas sob a chuva, em grupos de seis, com seus pelos molhados pingando água, grunhindo resmungos e maldições, no meio da noite; irritados com nova situação que os obrigava a caçar rebeldes em lugar de ficar nos quartéis ou nos bares, bebendo e jogando dados.

Como de costume, Alan atravessou o rio na última barca, depois de terminar seu trabalho de chefe da revolução no porão do aviário, antevendo mais uma noite de amor e sexo com Iara, a mulher maravilhosa que ele veio a amar de verdade e tinha feito diminuir aquela saudade pela tigresa Tikal Henna.

Após descer da barca, encaminhou-se com passos rápidos em direção á pousada, e numa esquina se encontrou com os xawareks. Não tinha intenção de fugir deles, porém os tigres acharam que sim.

–Pare, humano! – gritou um deles.

Alan obedeceu. Mas estava armado. Seria revistado e não tinha explicação para dar. Seria acusado de subversão e não tinha escape. Então fez o menos indicado, porém o único que se lhe ocorreu para demorar o momento da captura: correu.

–Pare, humano!

O coronel correu dando grandes pulos pelos becos e ruelas que agora conhecia muito bem, com o bando de tigres atrás. Ganhou distância no inicio, mas eles davam pulos maiores, seu planeta era mais pesado; e eram mais rápidos e fortes do que ele.

Confiava em poder esconder-se sem necessidade de mostrar suas armas, mas não contou com a persistência xawarek.

–Pare, humano!

Eles não atiravam, a ordem era pegar vivos todos os rebeldes que pudessem para ser interrogados.

Alan errou uma esquina e entrou num beco sem saída. Tentou pular o muro, mas era alto demais até para ele. Não havia onde se esconder, nem uma porta, uma lata de lixo, nada que o salvasse...

–Pare, humano!

Os tigres pararam na entrada do beco, cortando sua saída. O coronel estava encurralado como um rato.

–Pare, humano!

–Venham me pegar! – gritou Alan, sacando as pistolas.

Os tigres perceberam o perigo tarde demais. Os olhos dos sirianos, costumados ao seu sol branco da classe A1, não enxergavam bem na escuridão. Alan disparou seis vezes, todas certeiras.

Um cheiro de pelos de gato e carne queimada misturou-se com o da terra molhada, e os corpos dos felinos ficaram imóveis no meio da calçada de terra e pedras.

Por momentos, só o barulho da chuva encheu o silêncio. Depois foi o

das sirenes dos patrulheiros.

–Fiz bobagem. Chegaram a pedir reforço – pensou, irritado.

Alan passou por cima dos cadáveres, levantou o capuz, embrulhou-se na capa e apertou o passo pela calçada escura. Antes das viaturas chegarem, ele já tinha sumindo de vista num beco conhecido. Pulou um muro e saiu para uma rua mais transitada apesar da chuva. Estava longe da pousada, mas não se considerava a salvo, devia comprovar se não estava sendo seguido e fez um amplo rodeio para chegar.

–Foi por pouco – pensou com raiva contra si mesmo.

A cidade estava agitada demais. Alan procurou caminhar normalmente, para não chamar a atenção. Estava decidido a pegar suas coisas e partir com Iara nas aves à terra dos oxmecas para pegar sua nave.

Com ela poderia fazer mais pela causa, do que a pé. Resolveu que esta etapa na cidade já estava concluída.

Mas não era para ser assim. A pousada estava cercada pela polícia nativa, que estava detendo todos os hóspedes para interrogatório. Alan não conseguiu enxergar sua mulher entre eles. Pensou o pior; Iara não passaria no exame deles e muito menos suportaria um interrogatório.

Convencido do perigo de chegar perto, o coronel ficou na chuva, misturado com os curiosos que olhavam o pessoal sendo levado embora. Os funcionários da pousada estavam na rua observando a movimentação.

Alan viu a garçonete e chegou perto dela.

–Lin! Não sabe se Iara foi levada?

–Senhor? – seus enormes olhos azuis brilharam ao reconhecê-lo – Não senhor; vi o perigo e escondi a linda senhora no porão da cozinha.

–Como poderei lhe agradecer?

–Não me agradeça. Sei quem o senhor é – sorriu ela.

Alan empalideceu na hora. O quê esta moça sabia?

–Ao final venceremos!

Ela dissera a frase que ele mesmo ensinara aos mensageiros da rebelião. Então era ela que colocava as mensagens dos camaradas por baixo da porta do quarto!

–Escute, Lin, preciso um favor. Como vê, não posso entrar. Diga a minha esposa para pegar nossas coisas e atravessar o rio. Diga a ela que pegue as aves, que deixe uma para mim e parta urgente para o sul. Entendeu?

–Sim senhor. O quê o senhor vai fazer agora?

–Vou procurar um lugar para dormir. Entregue meu pentacorder a ela.

–Entregarei, sim, meu senhor – disse ela, levantando a saia e enfiando o

aparelho na calcinha – Tenha cuidado, há patrulhas de peludos por todo lado.

–Obrigado Lin. Agora preciso ir.

–Ao final venceremos; meu senhor.

Alan foi direto ao cais, não podia ir ao aviário porque não havia mais barcas a essa hora. Estava mortalmente cansado, com fome, e seus reflexos falhavam. Achou um lugar sossegado na parede de um depósito de couros, e protegido por caixas vazias de carne seca, enrolou-se na capa, tentando dormir.

Por volta das três e meia, o sono venceu.

*******.

16 de fevereiro de 2020 (200216).

O tenente Tron Xanner Ya, Baharnum de Xawarek Amaru; tinha ficado

amedrontado pela inesperada presença do novo interventor Hung.

E não era só pelo uniforme preto e aqueles óculos impenetráveis. Nunca pensou que as coisas chegassem ao extremo do governo mandar um alakrano para ocupar o cargo vago do Svant Zik.

–Não me interessa a hora, tenente. Quero uma investigação imediata!

–Mas os soldados estão cansados...

–Descansam o dia todo.

–Sim, senhor.

–Esses soldados foram mortos com armas diferentes; uma de luz concentrada e outra de energia dirigida. Significa sem dúvida que os assassinos são dois e devem ser agentes interplanetários deste sistema, ou pior; talvez sejam agentes interestelares da Suprema Confederação.

–Sim, senhor.

–Portanto, imagino que você sabe usar um simples detector de radiação.

–Sei, sim, senhor.

–Então? Será que esses sujeitos não deviam estar aqui, amarrados ou mortos?

–Sim, senhor.

–Pare de repetir “sim, senhor” e mexa-se!

O tigre bateu continência e saiu aos trumbiques. Aquela voz profunda não dava para aguentar.

Seus antepassados matariam o alakrano antes de serem escorraçados dessa maneira; pensou amargurado. Mas ele, vergonhosamente, indignamente, não tivera coragem para tanto.

Onde estava a Honra Xawarek?

*******.

Alan dormia placidamente, embora ao relento, enrolado na capa; seu sono era profundo, como profundo era seu cansaço. Nesses meses todos; apesar da excelente alimentação ele e Iara emagreceram bastante pelo calor de sauna do planeta.

O dia anterior ele o havia passado treinando rebeldes no uso de armas de fogo e depois tinha sido perseguido por varias ruas. Seu sentido de alerta não funcionara. Por isso não se acordou quando os xawareks chegaram ao cais, seguido o espectro radiativo das pistolas.

Agora os tigres sabiam com quem estavam lidando. Não era um simples

nativo boraliano, era um agente interestelar...

–Aí está um deles – disse o tenente Tron – acorde, humano!

Alan foi acordado aos empurrões. Deparou-se com uma patrulha de seis tigres que o apontavam com lasers.

–Tirem a arma dele; rápido! – disse Tron.

O laser passou às zarpas dos tigres e o coronel foi empurrado à viatura e atirado na parte de trás. A porta foi trancada e os tigres embarcaram na frente.

–Lá no departamento vai dizer onde está o outro agente! – disse Tron.

–Outro? Quê outro?– Alan não sabia que eles procuravam dois agentes, mas não seria levado ao quartel.

Os tigres não o revistaram corretamente. Quando acharam seu laser o jogaram logo no veículo. Ainda tinha a pistola marciana embaixo do braço esquerdo, que os tigres não procuraram. Talvez por preguiça?

–Por preguiça vão perder este planeta! – disse Alan, sacando a pistola de energia e atirando na porta da viatura, que se desfez.

*******.

Alan saltou do veículo e caiu rodopiando na rua de paralelepípedos molhados, empreendendo logo uma louca corrida de volta ao cais.

A viatura virou em redondo, quase tombando, e os tigres dispararam com tudo o que tinham.

Os disparos já passavam perto de sua cabeça e viu que não poderia correr mais com eles atrás. Então parou e virou-se.

–Tomem, peludos! – Alan disparou neles, que desviaram o carro e bateram na parede de um galpão.

Logo correu até beira do cais. Agora percebia seu erro. Não devia ter dormido esperando que amanhecesse e as barcas começassem a circular. Devia ter atravessado o rio a nado, pegado os pakakhes e recolhido Iara na pousada no meio da noite.

Ele fez uma jogada errada e agora os tigres estavam prestes a dar o xeque mate.

Os poucos moradores da rua do cais, acordaram curiosos, no meio do tiroteio. Alan correu até a borda do cais e entrincheirou-se por trás de uns tonéis, com o rio nas costas. Os tigres recuperaram-se, e protegidos pela viatura voltaram e pararam a mais de trinta metros, sem parar de atirar.

Alan regulou a dispersão mínima e acertou um deles na cabeça, que se desintegrou. Essa distração lhe permitiu mudar de lugar e foi até o muro de contenção de pedra, porque os tonéis estavam enchendo-se de buracos.

Mais dois tigres caíram mortos e ouviram-se as sirenes do reforço. Tron recuperou a confiança, agora o rebelde estava perdido:

–Vocês, pela esquerda! – gritou Tron aos tigres da primeira viatura.

Quando chegou a segunda, ele já acariciava o triunfo.

–Vocês, pela direita! Não parem de atirar, avancem!

Alan disparou mais duas vezes e a pistola engasgou. Procurou outro carregador no cinto e trocou a carga.

–Ele está sem munição! – gritou Tron.

O grito serviu para Alan localizar os atiradores, que assim foram eliminados. O tiroteio recrudesceu, chegando a um ponto em que os tigres não podiam avançar mais sem serem mortos, nem Alan recuar mais sem cair no rio.

A terra de ninguém agora era a calçada de circulação de veículos de carga e dos guinchos, que corria paralela ao cais. Se Alan recuasse três metros cairia na água. Os três grupos de atiradores não podiam avançar nem trocar de lugar sem serem atingidos. De onde estava, Alan podia

avistar as três viaturas.

–Entregue-se humano e será poupada sua vida! – gritou Tron.

–Venha me buscar! – gritou Alan atirando ao lugar onde saíra a voz.

Tron foi obrigado a se abaixar.

–Han, peça mais reforços.

–Sim, senhor.

–Algum voluntário para pegá-lo?

Os tigres rosnaram para seu chefe como se fossem pular todos encima dele.

Logo se ouviu mais barulho de sirenes. Alan descarregou seu segundo

carregador nas posições dos tigres, matando quatro e ferindo dois. Mas não adiantava. Muita munição para pouco resultado e estavam vindo mais deles, as sirenes soavam mais perto. Isto pareceu animar os tigres, que começaram a atirar com renovada fúria, e um disparo pegou de raspão no ombro direito do terrestre, queimando a roupa e parte da pele. Quase soltou a pistola, atordoado pela dor, mas atirou novamente e correu em direção ao rio. Outro disparo acertou no cano da sua arma esquentando-a e ele a atirou no rio, mergulhando atrás dela, sob uma chuva de disparos.

*******.

Iara e Lin chegaram ao amanhecer ao embarcadouro e viram varias lanchas de patrulha dos tigres e da polícia nativa, dragando o rio com aparelhos de localização. No embarcadouro havia soldados revistando quem fosse atravessar o rio.

Apesar do estrito controle, os tigres deixaram passar aquelas duas fêmeas humanas que portavam mochilas de couro.

No meio do rio, Lin perguntou discretamente ao barqueiro o que acontecera.

–Parece que um rebelde afogou-se no rio. Acharam só a capa dele.

Chegaram ao outro lado sem problemas e foram direto ao aviário.

–Ainda bem que estão aqui – disse Runo – estou ficando preocupado com o comandante Alan. Ele já devia ter chegado.

–Alan mandou que partisse, não posso dizer onde – disse Iara – o dono da pousada é colaboracionista, queria me entregar. Lin me salvou e vai comigo.

–Esse traidor será executado ao seu devido tempo – disse Runo, passando significativamente o dedo no pescoço.

Deixando um pakakhe para Alan, Iara e Lin bateram asas, rio acima, levando uma ave a reboque com material e pertences.

*******.

O coronel mergulhou bem fundo e achou a pistola marciana. Enfiou-a no cinto de utilidades e nadou por baixo da água afastando-se do local onde os tigres faziam a água ferver com seus disparos.Devia aproveitar as horas de escuridão em que eles não enxergavam direito.

Nadou a favor da correnteza até que se considerou a salvo para assomar a cabeça e respirar.

O aviário ficava do outro lado do rio, mas em direção contraria à correnteza. Deveria nadar até o outro lado e depois caminhar um bocado por entre os matos da margem pantanosa. Aproveitou a escuridão para fazer a travessia.

O dia começava a clarear e logo procurariam por ele rio abaixo. Quando conseguiu chegar ao outro lado, escondeu-se no mato, cansado e ferido. Embora duas horas na água fria tivessem acalmado a dor da sua ferida, a queimadura era grave.

O laser não tocara a pele do seu ombro, senão que passara a milímetros da roupa, desintegrando o ar e queimando sua camisa. Se o disparo tivesse tocado no braço, o teria desintegrado.

Mas ele precisava chegar ao aviário, arrastando-se pelo mato do pântano.

*******.

–Comandante! Você está ferido! – Runo acabara de selar a ave de Alan quando este apareceu, molhado, embarrado e sangrando.

–Estou. Iara já foi?

–Já, sim. Lin foi com ela. Deixe ver essa ferida.

–Não, não quero lhe comprometer. Vou pegar minha ave e sair daqui.

Logo se ouviu uma sirene.

–Os peludos estão aqui!

–Desculpe, Runo, mas o que vou fazer é para seu bem – disse Alan.

–O quê vai fazer?

–Isto! Desculpe.

Alan deu um soco em Runo derrubando-o e logo o amarrou. Depois correu e pegou seu pakakhe, levantando vôo na hora em que os tigres entraram no aviário e se encontraram com Runo amarrado no chão, fingindo que estava desmaiado.

De cima, Alan atirou na viatura, que explodiu matando quatro tigres.

Outros dois atiraram varias vezes, errando. O terrestre devolveu o fogo,

matando-os. Depois tomou rumo sul, tomando a maior altura possível. Olhando à frente, conseguiu divisar, já a boa distância, as três aves de Iara e Lin voando direto ás montanhas, para atravessar o deserto. Ficou quase feliz; pelo menos ela estava a salvo.

Iara sabia pilotar e uma vez que chegasse à nave, estaria protegida.

O coronel olhou para trás e viu que dois helicópteros vinham em perseguição enquanto embaixo duas lanchas remontavam o rio.

Na margem direita; várias viaturas corriam pela na estrada que margeava o rio.

–Xeque – Alan considerou-se perdido. Todos estavam atrás dele.

O terrestre atirou num helicóptero, que se desintegrou no ar, caindo os pedaços em fogo sobre o rio, pequeno lá embaixo. O segundo helicóptero chegou mais perto e um dos tripulantes disparou e atingiu de raspão sua coxa esquerda. Alan devolveu o fogo e o helicóptero explodiu e caiu.

Quando procurava morfina no cinto de utilidades para acalmar a dor da perna, notou o cheiro de penas queimadas e percebeu apavorado que estava derivando à esquerda e perdendo altura.

Foi então que percebeu que o disparo que atingira sua perna volatilizara parte da cabeça do seu pakakhe...

O nobre pássaro tinha morrido em silêncio com as asas abertas, descendo em voo livre em direção á margem direita do rio, onde as viaturas dos tigres esperavam.

Alan trocou o carregador usado e o regulou para explodir em sobrecarga, atirando-o para abaixo, assim que esteve baixo o suficiente como para não errar. Destruiu duas viaturas, matando vários tigres, e depois regulou seu último carregador para potencia máxima.

Atiraria sem parar até que chegasse ao solo. Estava derrotado, mas morreria matando e entraria no Walhalla com honra.

Descarregou a arma neles antes de bater no chão.

Quando perdia o sentido, no meio de terríveis dores, ouviu o tenente Tron:

–Até que em fim! Se não está morto, logo vai estar.

Xeque mate.

*******. Continua em: "COMA"

*******.

O conto XEQUE MATE forma parte integrante da saga inédita

Mundos Paralelos ® – Fase 2 - Volume IV, Capítulo 31 Páginas 78 a 85;

e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados, sarracena.blogspot.com

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

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