CAÇA MONSTRO

 

I

 

            As nuvens escuras de chuva grossa se aproximaram cobrindo a lua escondendo o seu brilho pálido, e a poeira logo se tornou lama na estrada sinuosa de terra, as nuvens de chuva chegaram sinistras cobrindo as sete colinas, e a colina ao norte era a mais alta, e foi ali que meu tataravô havia a quase um século construído aquele casarão.

            Aquela construção deveria estar agora coberta por musgos e escurecida por várias espécies de fungos odiosos, entretanto ela ainda estava de pé.

A caminhonete com tração quatro por quatro entrou na estrada lateral, a estrada íngreme mais parecia uma trilha cheia de curvas ia circundando o inclinado morro e levava em direção da antiga casa abandonada.

Certa vez pessoas habitaram aquele lugar ermo, mas isso foi há muito tempo, quanto à época, só lembro que algum tempo depois que meu tataravô havia sumido, a casa fora alugada para um casal de estrangeiros excêntricos. Um homem de tez avermelhada que pendia para um tom laranja, principalmente quando o sol era refletido na sua testa enorme e protuberante, ele era um sujeito alto como um coqueiro, tinha os olhos azuis esverdeados e cabelos loiros com pontas avermelhadas.

            Estranhamente havia uma mulher acompanhando o tal gigante, aquela loira parecendo ser de etnia nórdica, era bela e jovem, e na pior das hipóteses deveria ter idade para ser filha do estranho homem, no entanto a mulher atarracada parecendo passar alguns centímetros da cintura do sujeito esguio talvez fosse sua mulher, apesar de baixa a mulher não passava por anã devido à estatura daquele homem ser extrema e fora do comum.

            Nenhum vizinho para perturbar é o que disseram, gostavam da solidão e do silêncio.

 Sinto como se voltasse no tempo todas as vezes que venho até este lugar, apesar de tudo, lembro a primeira vez que vi o estranho casal, principalmente quando vi o homem saindo da casa, ele tinha que abaixar a cabeçorra para passar na porta, não que a porta fosse baixa, é que o homem parecia um alienígena, coisa que já desconfiava há bastante tempo, e tudo levava para este lado obscuro da história quando um jornal local publicou uma manchete sobre o tal casal, morador da propriedade de meu sumido tataravô.

            A manchete que estampava a primeira página do jornal local escancarava uma notícia sobre seres de outro planeta, moradores da mansão do velho jeremia.

            A notícia, claro que era sensacionalista, no entanto eu tive certeza dessas histórias quando resolvi investigar os hábitos noturnos daqueles estranhos moradores, coisa que faz meu sangue gelar, mesmo sabendo que já faz tanto tempo que isto tudo aconteceu.

            A casa de quase um século se erguia na encosta esquecida da colina ao norte e estava abandonada agora, mas cada vez que venho até este local eu me lembro de que já faz vinte anos, quando vi os excêntricos moradores pela última vez.

            Eram entre dez e onze da noite, havia deixado a caminhonete um pouco afastada escondida no meio da mata, e resolvi investigar caminhando até as proximidades do casarão, havia levado um binóculo e uma pequena lanterna. Acomodei-me próximo a alguns arbustos para observar, e naquele instante foi quando vi o homem sair porta afora, com uma estranha tocha azulada nas mãos apontando o foco dela em todas as direções, e uma espécie de rifle, parecendo que ia caçar.

            Notei também na porta da antiga casa a silhueta da mulher iluminada por um tipo de castiçal com três velas azuladas, que o vento noturno tentava em vão apagar com seu assobio gelado. Ela fechou a porta logo que ouviu o primeiro tiro, que ecoou pela mata chegando até meus ouvidos, nunca tinha ouvido algo fazer tanto barulho, parecia que um trovão enfurecido havia despencado do céu.

            O que aquele gigante estava caçando aguçou minha curiosidade, de algum modo e com extrema cautela fui me aproximando da casa onde o sujeito rodeava armado e iluminando com aquela luz azul, que parecia ser de outro mundo.

            Escondi-me entre os arbustos e fiquei agachado esperando para ver o que o homem caçava, logo percebi que ele certamente estava apenas protegendo o local onde morava, aquilo me intrigou, protegendo a casa do que? Observei os movimentos do sujeito por alguns minutos, e vi que ele apenas circundava a casa olhando com uma espécie de óculos tridimensional. De repente eu me assustei quando com passadas largas veio em minha direção, apontando aquela espécie de arma de cano curto, com certeza ele tinha me visto!

            Meus olhos arregalaram quando fui surpreendido por aquele solavanco, alguma coisa me puxou violentamente pelos pés, foi então que percebi a enrascada que havia me metido. O bicho que havia me agarrado pelas pernas era extremamente alto e peludo com pernas e braços com garras enormes e de aparência horrível, tinha apenas um olho que nunca piscava. A boca parecia com a de uma planta carnívora que abria em espiral mostrando dentes pavorosos por todo o seu interior, e de certo modo estava pronto para devorar a presa.

            Eu já me considerava morto quando ouvi o som estridente de um trovão e fui banhado por aquela gosma esverdeada, me cobrindo da cabeça aos pés, e cai como um boneco rolando por alguns metros todo lambuzado com uma espécie de gosma que mais parecia um lodo esverdeado e fedorento, e   acabei parando diante do homem avermelhado segurando a arma estranha iluminado por aquela misteriosa e ofuscante luz azulada.

 O fato mais estranho foi que ele me estendeu a mão enrugada e laranja com verrugas cobrindo alguns dedos, me convidando para passar a noite no casarão, afirmando que já era muito tarde para visitas, e a noite estava muito perigosa para alguém ficar ao relento, resolvi apesar de o medo aceitei o convite.

            Caminhamos sob a luz da lua refletindo as nossas figuras desproporcionais, e apressamos o passo na direção do casarão centenário, eu parecia um anão perto daquele sujeito, quase não acreditei quando estávamos muito perto da casa e um rugido ecoou em meus ouvidos, e vi mais uma daquelas criaturas horríveis vindo em nossa direção, era uma espécie de ciclope misturado com urso alienígena, só que bem mais alto e largo, não vou negar, fiquei apavorado naquele momento.

            Em seguida, de certo modo aquela cena me deixou  boquiaberto, então foi quando vi o homem de pele avermelhada e de alta estatura ao meu lado, ele, apesar dos gritos enfurecidos do monstro ficou tranquilo, talvez esperando o momento certo, eu quase sentia o bafo fétido do bicho quando ele atirou com aquele estranho rifle explodindo a criatura, provocando um ruído estridente espalhando a gosma esverdeada por alguns metros, e um pouco daquele estrume esverdeado e grudento chegou a atingir a minha testa, ecoando como um chicote nos meus ouvidos.

            Depois daquilo resolvemos apressar ainda mais os passos e nos abrigar na casa, aquele lugar parecia infestado por aqueles bichos famintos. Antes de adentrarmos a enorme casa de dois andares o homem alto de pele laranja grunhiu um código, que mais pareceu um latido misturado com um guincho na frente da casa, ao ouvir aquele som grotesco a mulher loira de cabelos longos abriu a porta.

            Foi depois que adentramos na casa que fiquei sabendo mais sobre os estranhos moradores do casarão de meu tataravô, muito mais espantado eu fiquei quanto descobri que eles eram conhecidos de longa data pelo velho jeremia. Todavia não assumiram serem os responsáveis pelo sumiço do velho, apenas disseram que o homem de livre e espontânea vontade resolveu ir embora do mundo.

De algum modo não explicado a mulher loira tinha uma aparecia humana normal, era como os habitantes da Escandinávia, no entanto era mais alongada e o rosto bem mais belo. A mulher falava meu idioma e explicou-me da invasão que estava acontecendo, aqueles bichos foram soltos por uma raça de seres bem mais evoluídos, e pretendiam segundo ela estabelecer uma colônia em nosso mundo. Apesar de tudo eles estavam do meu lado, certamente eu fiquei um pouco doido com toda aquela informação entrando na minha cabeça.

De uma hora para outra descobri que os moradores do casarão eram alienígenas que estavam ali para nos proteger, imediatamente me convocaram para lutar com eles.

            Também  lembro de que em uma só noite em meio aquele mato acompanhado apenas da luz da lanterna e do rifle detonamos uns quinze Zardorianos, como eram conhecidos aqueles bichos de um olho só, que mais pareciam ursos ferozes.

Foi uma caçada e tanto naquela noite, apesar do perigo, era tudo que procurava para sair da monotonia dos meus vinte e três anos.

No entanto já se passaram vinte anos que estes fatos ocorreram, não lembro como acabamos com todos os monstros, mas, só sei que aqueles alienígenas, os que estavam plantando os monstros no nosso mundo desistiram e foram embora. O gigante de tez laranja alertou se por acaso eu visse ele de novo, com certeza haveria muito trabalho a fazer. E disse para eu ficar sempre alerta, pois o universo é bem mais vivo e povoado do que eu imaginava, cada vez que visito o casarão de meu sumido tataravô jeremia eu me lembro dessa história, e isto já faz vinte anos.

FIM

FernandoCreed
Enviado por FernandoCreed em 16/06/2016
Reeditado em 26/02/2018
Código do texto: T5668813
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