ERROS DE CÁLCULOS

 
Um  cientista, renomado e reconhecido no mundo inteiro como gênio que, ao longo de sua trajetória colecionou uma série de prêmios muito importantes; no final da vida, quando as coisas chegam num estágio em que não importam mais nem os pequenos, nem os grandes pecados, nem os mais íntimos segredos, abriu o verbo para a imprensa, sobre um suposto fato  extraordinário ocorrido na flor de sua juventude.

Uns ficaram céticos, outros acreditaram, muitos atribuíram a uma espécie de delírio ocasionado pelos muitos medicamentos utilizados  para o controle de sua saúde, pois era um homem centenário e os outros protagonistas da fantástica história, já não existiam mais e nem foram encontrados em seus registros nada sobre o assunto, talvez pelo medo de ter suas reputações manchadas, na possibilidade da perda de credibilidade no exercício das profissões, pois eram intelectuais respeitados. Poderiam ser tachados de loucos. E seus trabalhos desenvolvidos por anos a fio, poderiam ficar sujeitos à discriminação. Ou, nada ser verdade mesmo.

" Caros senhores, muito obrigado pela consideração de ouvir importante e relevante relato de um velho cientista. Bem, isto já faz oitenta anos, quando eu ainda era um jovem alegre, cheio de ilusões e esperança no futuro, como qualquer um da minha idade, dei para não acreditar mais em Deus. Eu e outros cientistas nos empenhávamos em desenvolver cálculos para explicar o mundo através dos números, de fórmulas. Em dado momento, estávamos todos nós com nossa prepotência e arrogância das elites acadêmicas à flor da pele, debochando e rindo dos imperfeitos semelhantes, do imperfeito universo, da arquitetura troglodita e desordenada das cidades.

Foi aí, no auge de todos aqueles sentimentos nada nobres, que todos nós, subitamente,  fomos raptados, arrebatados para uma espécie de limbo, uma espécie de kamaloka, por uma força desconhecida, paramos num "quarto branco semelhante à luz neon", com pranchetas de desenho, canetas, papéis, lápis, lapiseiras, borrachas, calculadoras, compassos, réguas e até computadores semelhantes aos atuais. Não ouvimos voz, nem ordem nenhuma, porque sabíamos o que teríamos que fazer: desenvolver cálculos para criar um novo mundo, o mundo ideal para que toda a humanidade, fauna e flora, pudessem habitar e usufruir.

Não sei quanto tempo ficamos naquele ambiente, mas pareceu-me uma eternidade e já estávamos começando a ficar desesperados, os cálculos que fazíamos, apareciam na nossa frente, gigantes, como holografia e eram imediatamente transformados em objetos e criaturas, por mais que nos empenhássemos, as criaturas, os objetos todos, quando a força os tornava reais, saiam todos tortos, todos capengas, quase nada definitivamente dava certo. nos juntamos apavorados ( já estávamos querendo sair daquele claustro), para discutir o que faríamos e desenvolvemos, como gênios,  juntos, uma infinidade de projetos a maioria falhos.

Então  chegamos à absoluta conclusão: o criador construiu um mundo inteligente, onde tudo se equilibra e interage, nós fazemos parte desta criação, por esta razão não podemos negá-lo. Neste momento, voltamos às nossas vidas normais, mas depois dessa inacreditável experiência, nunca mais fomos os mesmos e todos demos sempre o melhor de nós do episódio em diante, trabalhando com seriedade para melhorar a realidade à volta, resultando nas dezenas de prêmios importantes recebidos.

Podem ficar incrédulos, achar que tudo isto é esclerose, invencionice, delírio ou mesmo ter sido fruto de uma histeria coletiva provocada pelo excesso de estudos e trabalho... Não vou ligar, afinal tenho prestígio, tenho nome, não preciso provar nada para ninguém e já estou na reta final, aguardando o meu chamado definitivo.

Façam o juízo que quiserem! Muito obrigado pela preciosa atenção e peço desculpas por tomar seu precioso tempo! Deus os abençoe!"
LYGIA VICTORIA
Enviado por LYGIA VICTORIA em 11/06/2016
Reeditado em 12/06/2016
Código do texto: T5664438
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