Mais um dia esperando o fim
“Já se passaram 132 anos, crianças, e ainda convivemos com os efeitos, pior do que isso, a cada dia fica mais difícil sobreviver.” Expliquei para a classe, que diminuía a cada ano (agora com apenas 6 crianças). “Alguém sabe quando e como começou a Guerra Nuclear?”. Natália, como sempre, ergueu a mão e respondeu: “Começou na Guerra Fria e tinha alguma coisa a ver com Cuba...” a classe completou com muitas vozes: “Os mísseis! Os mísseis!”. Estavam certos, a infame Crise dos Mísseis de Cuba, o inicio do fim da pouca humanidade restante em nossa raça, que nos transformou em semisselvagens. Respondi com orgulho: “Parabéns classe, certíssimos, dizem que um espião americano acidentalmente disparou os mísseis que devia desativar. O que gerou um embate de repercussão global, que, infelizmente matou nosso planeta”. Pâmela, a caçula da turma, perguntou um pouco acanhada: ”E tem como fazer ele sarar professor ?” (sempre odiei perguntas assim, porque as respostas sempre quebram os corações, ainda mais dos pequenos), me abaixei, segurei a mão dela e procurando um tom reconfortante falei:”Desculpa, lindinha, mas não tem, o planeta já morreu...”. Ela começou a chorar e os colegas se entreolharam tristes. Depois disso, ninguém mais tinha ânimo para aula. Então, dispensei classe e voltei para casa pensando em quanto tempo ainda sobreviveríamos (não muito, com certeza), a água e a comida iriam acabar cedo ou tarde, animais selvagens e saqueadores estão sempre à espreita e a cada nova geração de crianças, elas nascem mais e mais doentes pela radiação. Por fim, deitei no chão e comecei a chorar.
Tentando forçar um sorriso perguntei: ”E você amor, como foi seu dia?”.