Soco Seco (parte1)

Eu caído no chão em um sujo e fedido onde duas ratazanas gordas brigam por um pedaço de comida que pela cor amarronzada torço que seja chocolate e não outra coisa, encostado em uma parede cheia de pichações algumas já sobre outras, e encardido com sujeira, meu nariz está quebrado, tenho um dente faltando na boca, os óculos de mergulho com lentes customizadas vermelho vinho tem uma lente faltando deixando exposto meu olho roxo quase fechado, minha camisa branca de mangas longas, ou melhor, o que sobrou dela, cheia de manchas vermelhas misturadas com marrom minha simplesmente estou sentado no chão, com calças jeans desbotadas e desgastadas e um apenas o tênis branco no pé direito o outro só deus sabe onde foi parar, deixando minha meia xadrez exposta, mas acredite se acha que arquejo em dor, estão enganado, neste beco escuro próximo a duas latas de lixo preta enferrujadas entupidas de sacos plásticos cheios de lixo, o que me incomoda e o mau cheiro, mas não sinto dor alguma, nunca senti, e acho que nunca sentirei sou um homem de borracha sou um boneco de plástico, mas para você entender minha história seria interessante eu começar do principio.

Sou Amaro de Lima Santos, de uma família pobre da cidade de Água Branca, minha mãe dona Maria de Lurdes de Lima tinha já quatro filhos e eu seria o quinto da prole, meu pai, homem forte de pescoço grosso Pedro Santos da Silva conheceu minha mãe na época que trabalhava como motorista de transportadora passava sempre pela pequena cidade. La havia uma população minúscula, mas de grande religiosidade, divididos entre católicos e evangélicos, os evangélicos se dividem entre assembleianos e presbiterianos, a economia vem do comercio e no período do carnaval sendo um dos melhores, não pela vontade dos evangélicos, mas isso não importa vamos focar, meu pai ao conhecer minha mãe, logo casaram tiveram o primeiro filho, José depois veio Edison, depois Maria das Graças e Maria de Fatima e por ultimo eu, mas tanto Maria e eu nascemos bem longe da cidade de minha mãe na cidade grande, São Paulo, minha mãe contou para mim que quando estava gravida de mim já no oitavo mês de gravidez, andava pela Rua do Braz levando Fatima que estava muito contente porque minha mãe iria lhe comprar doces, é crianças daquela época ficavam felizes com um simples chiclete, hoje no mínimo ficavam felizes com um ipad novo ou tablete quando foi parada por uma jovem cigana, que insistia em ler sua mão por alguns cruzeiros, minha mãe tentava se livrar dela de toda forma, dizendo “desculpe tenho muita pressa!”, a cigana carregava consigo um pequeno menino de dois anos de idade pele morena, cabelos escuros com dois olhos que pareciam sementes de melancia de tão negros, ela tentando sensibilizar minha mãe disse: - Más mãezinha veja, também tenho o meu para criar! Me de uma ajuda! – Minha mãe tinha apenas alguns cruzeiros que ela estava levando para comprar uns doces para Fatima que choramingava pedindo já a mais de uma semana então minha mãe se desculpando disse: - Sinto muito, más não posso ajuda-la. – A cigana fechou a cara e disse enquanto saia esbarrando no ombro de minha mãe: - Sentir é algo que a criança que você carrega no ventre não ira! – minha mãe gravou essa frase da cigana para o resto de sua vida, quando nasci em um parto normal, na sala da casa de meus pais, saindo do útero de minha mãe para vendo sobre mim telhas vermelhas sobre velhas ripas, e paredes de verde cana já desbotadas e com uma pequena mancha de infiltração, para só depois observar os olhos e lábios sorridentes de quem me segurava que na época eu não sabia, mas era minha mãe, depois o rosto firme, mas sereno de meu pai que sorria para seu filho, depois o rosto endiabrado e danado de minha irmã Fatima, o rosto de Margarida a parteira uma velha de bochechas rosadas e cabelos brancos que estavam presos deixando sua grande testa reluzir para por ultimo ver os rostos de meus outros três irmãos, até aquele momento eu era visto como uma criança normal minha pele branca e cabeça careca e redonda me fazia parecer uma nova fofolete, exclusiva, eu era uma criança aparentemente saudável, mas só aparentemente, como todo bebe me machucava com facilidade, um galo, um dedo machucado, mas o que minha mãe estranhava era eu nunca chorar, gritar, nem de dor nem de fome ou sede, meu pai dizia “Esse menino e duro! Puxou os Santos!”, mas não eu não era duro, quando estava com os dentes nascendo, minha mãe me pegou comendo minha própria língua, ela ficou apavorada, me levou para o posto de saúde, ficou ela sozinha comigo em um corredor, pois meu pai trabalhava de servente em uma construção, Fatima estava na escola como Maria das Graças e Edison, José estava no meio do mundo, ele dizia que havia começado a trabalhar, mas não dizia de que nem pra quem, sentada sobre um banco de cimento comigo no braço, esperava atendimento, enquanto via mulheres com crianças de colo, ou crianças maiores que já corriam, pulando entre os bancos e tentando entrar em salas e consultórios, sendo repreendidos por suas mães que muitas também não passavam de crianças.

Quando foi chamada pelo médico, um clínico geral, esse não soube dizer ou explicar o que poderia haver de errado comigo, ele me encaminhou para outro medico um neurologista especialista em cuidar de crianças, fez isso por ter se compadecido de minha mão e admirado os seios grandes dela. Meu pai achava exagero e perca de tempo, dizia que não havia nada de errado comigo, que eu era um criança saudável e etc., mas mãe é mãe e ela sentia que havia algo errado comigo. E se confirmou no dia fatídico ao me levar para um luxuoso consultório na zona sul, um prédio alto todo lapidado com uma fonte interna e portas e mesas de vidro, o medico que nos atendeu era o Doutor Arruda Sampaio de Melo homem maduro de cabelos grisalhos penteados para trás e seguros por gel, de pele branca com alguns sinais no pescoço, usava calça de tecido fino assim como uma camisa social e, sobretudo, perfumado unhas bem cortadas bigode e barba bem feitas, e anéis nos dedos com unhas brilhantes por base. Ele pediu que minha mãe se sentasse e relatasse os meus sintomas, minha mãe lhe contou tudo, ele fez alguns exames para ver meus reflexos, examinou meu coração pupilas passou alguns exames caros de mais para se pagar, mas que ele disse não cobrar nada, no final de tudo fui diagnosticado com síndrome de riley day ou síndrome de proteu nome sofisticado para uma doença onde o sujeito nasce com os neurônios sensórias seriamente comprometidos, ou seja, não sente nada. Na cabeça de minha mãe ela ouvia o eco que se propagava repetidamente da cigana “Sentir é algo que a criança que você carrega no ventre não ira!” o médico dava algumas explicações, falava sobre um tratamento experimental, mas com poucas chances de sucesso minha mãe mal entendia o que ele dizia às vezes ficava até na duvida se ele ainda estava falando português ou alguma língua estrangeira. Após isso ele lhe deu um cartão disse que ela ligasse assim que decidisse se gostaria ou não de arriscar. Minha mãe não tinha coragem de tomar decisões sem meu pai, após uma conversa com ele, e outra ida ao doutor, onde ele explicou os possíveis sintomas que eu teria, entre eles se destaca meu possível crescimento lento, falta de apetite impossibilidade de chorar insônia e uma grande e arriscada possibilidade de morte, já que eu não sentia dor isso não impedia de eu me machucar só que sem o botãozinho de alerta sináptico necessário para alertar. Meu pai no começo achou que o médico fosse um charlatão, más quando certa manha de domingo enquanto sentado em uma cadeira de balanço no quintal de nossa casa olhando para o muro de tijolos cruz e o entulho no canto do quintal quase dormindo foi acordado pelo grito de minha mãe: - O menino! Pedro! – Meu pai acordou de supetão para ver meus dedos de bebe presos na cadeira de balanço quase esmagados e sem eu ter dado um ai, finalmente ele percebeu a gravidade da situação, encabulado, pois lembrava muito bem das palavras que bravejou contra o médico as várias acusações, e agora retroceder, reconhecer o erro era agora difícil para muitas pessoas e para meu pai era um ato titânico. O médico não pareceu sentir-se magoado ele até se ofereceu para ir a minha casa me examinar, chegando a nossa casa humilde bateu de leve na porta de madeira velha com pintura já descascando branca com preto pelos caminhos de cupim, quem atendeu foi minha irmã das Graças ela levou o doutor Arruda até meu quarto onde minha mãe e meu pai o esperava comigo deitado em uma rede quadriculada branca com vermelho minha mão enfaixada parecia um cotonete gigante, Fátima ficava pulando para tentar me ver na rede, minha mãe a afastou para o médico me examinar, ele me pegou com seus dedos cumpridos e disse: - Bem a senhora já sabe, eu já disse o que seu filho tem! Não tem mais nenhum exame a se fazer! – Mas doutor o que posso fazer? – Indagou minha mãe o médico me colocando novamente na rede disse: - Bem a senhora pode horar para o seu deus, e eu bem eu posso usar o que sei para dar mais qualidade de vida ao seu filho, más para isso preciso que você e seu marido permitam. – Meu pai olhou desconfiado para minha mãe, ele não sabia se confiava no médico se me entregava como um ratinho de laboratório. Após uma noite mal dormida, virando para um lado e para o outro na pequena cama de solteiro olhando para as telhas os dois decidiram, eles entraram em contato com o consultório do doutor Arruda, sendo a secretária que atendeu: - Bom dia, consultório do Doutor Arruda em que posso ajuda-lo? – Diga a ele que aceito! Que sou o seu Pedro pai do Amaro ele vai entender! – E desligou. Bem para resumir a história o medico disse está desenvolvendo uma vacina que evitaria os danos mais sérios que a doença causaria em mim, e de fato cumpriu eu passei equivalente a sete anos de minha vida indo ao doutor recebendo doses de injeção com um liquido grosso como óleo que corria por minhas, veias de fato tive um crescimento saudável, nenhum problema respiratório ou insônia, mas não fez com que eu sentisse isso não eu nem sentia nem chorava, mas não foi tão ruim, não quis ser uma vítima eu não era uma vítima e não agiria como uma, entrei para a equipe de boxe da escola, treinávamos em um galpão velho em um ringue empoeirado, eu e outros garotos magricelos, nosso técnico um velho calvo, caolho, surdo do ouvido direito e barrigudo, tinha sido campeão dos galos, ele dizia que o boxe era que nem mulher no inicio lhe dava tudo, mas também tirava tudo. Eu fui o melhor talvez por não sentir dor, eles me socavam davam todo o gás, mas era como socar um manequim de loja, nada acontecia comigo eu nem balançava, meu soco era forte, e certeiro um garoto certa vez a levar um cruzado de direita meu disse, quando caiu no chão: - O bichim do soco seco! – Eu me senti orgulhoso de mim mesmo, fazia horas de treinamento pesado, batendo no saco de areia desgastado que já um dia foi vermelho vinho e hoje estava desbotado, até ficar tendo vertigens e quase desmaiar por esquecer que precisava comer, às vezes pior esquecia até de beber água. Não tinha muitos amigos, quando não estava no ringue era um aluno mediano, não tinha também entrosamento com meus irmãos já que José e Edison me excluíam de suas festas, minha irmão das Graças já havia casado, e Fatima só pensava em garotos, meu refugio veio de um presente que minha mãe me deu uma revistinha em quadrinho que ela havia comprado quando fora ao centro, ela não conhecia nada de super-heróis ou coisa do tipo, era de um carinha voando com capa e cueca em cima da calça, eu me apaixonei, ao abrir, ver todas aquelas cores, lutas, viagens para mundos desconhecidos, todo dinheiro que eu conseguia eu comprava quadrinhos, na adolescência enquanto os garotos paravam nas bancas para ficar olhando capas de revistas play boy, eu ficava comprando e olhando revistinhas ainda no formatinho que podia ser guardado no bolso, Marvel, DC, Dark Horse e Bonelli não havia preferência para mim. Mas crescemos e o tempo não se importa de arrombar a porta e gritar nos nossos ouvidos “você cresceu, acabou!” não fiz faculdade assim que terminei o colégio comecei a trabalhar, exatamente em algo que minha mãe tinha pânico, em uma metalúrgica, teria lugar mais perigoso para alguém como eu, porem eu queria trabalhar em um lugar assim eu não queria ser vítima eu tinha metido isso em minha cabeça. Meus dois irmãos mais velhos haviam morrido, finalmente descobrimos as “festas” que eles frequentavam, haviam se envolvido com crime, assalto a mão armada, mas tiveram o azar de roubar no território de um traficante o SOMA, não o conhecia, mas sabia que ele era barra pesada, minha irmã mais velha não falava comigo, Graças tinha um marido violento que batia nela, um dia eu presenciei ele levantando uma faca para ela, eu intervi, ele tentou me furar, mas eu segurei a lamina com a mão esquerda, ele se surpreendeu com meu sangue pingando pela lamina e minha cara firme, com a outra mão enchi ele de soco, ele caiu no chão, contudo não parei, ele quase morreu de tanta pancada, minha irmã deixou de falar comigo desde então. A única que falava comigo era Fatima que não tinha marido, sim vários: - Você não tem vergonha dessa vida que leva, mesmo depois de mamãe e papai terem se sacrificado tanto por você te dado educação uma formação moral! – Perguntei certa vez que ela chegou ao meu pequeno apartamento meio bêbada usando um vestido curto preto com grande decote e segurando na mão um par de sapatos de salto enorme. Ela respondeu sorrindo enquanto caia no meu sofá: - Vergonha? Sou uma sobrevivente, essa cidade é uma mão que o filho chora e ela não ver, só sobrevive quem está disposto a agir! Tenho meus amantes que me sustentam com tudo, melhor que nossa irmã que coitada só arrumou um e nem esse “um” deu algo que preste a ela! – Más apesar de eu não aprovar minha irmã, não queria inimizade com ela.

Morava em uma cidade violenta, sabe o estranho do ser humano é que ele parece conseguir se adaptar ou achar natural o absurdo do absurdo, basta se exposto diariamente a isso, pessoas baleadas em uma calçada, enquanto outras passam como não fosse nada, crianças se prostituindo, trafico nas escolas tudo se torna natural, e isso não era natural para mim, não por eu ser diferente sensível, mas por eu ter feito uma promessa a mim mesmo, que jamais deixaria essas coisas naturais para mim sempre faria um exercício mental todas as manhãs para não naturalizar o absurdo em minha vida. Mas acredito que devo ir ao ponto o que mudou minha vida, o que fez eu está agora neste beco todo fodido. Perto de onde eu morava uma grande quantidade de terreno, em período de especulação imobiliária havia sido comprado, para construir condomínios residenciais, aqueles sabe de paredes amarelas, uma micro varanda e quartos que parecem mais gaiolas de preás do que de fato cômodos de uma casa, entretanto a empreiteira responsável foi descoberta envolvida em lavagem de dinheiro e outras falcatruas sendo assim antes de qualquer parede ser levantada o lugar foi abandonado, não por muito tempo os sem tetos logo começaram a construir barracos no vasto terreno. Comerciantes da proximidade não gostavam da companhia, e esse não “gostar” foi levado ao extremo na noite de 23 de fevereiro de 2016 e exatamente o marco que mudaria minha. Eu voltava do trabalho um pouco tarde, tinha ficado algumas horas organizando e tabelando algumas coisas, depois fiz hora tomando banho e me trocando, acabei saindo tarde, já pegando quase o último ônibus, estava vago, tirando o trocador e o motorista, tinha apenas um velho careca de terno dormindo em uma das poltronas uma garota com grandes fones de ouvido rosa, e uma camisa com o nome de alguma faculdade privada que estava sentada em uma cadeira individual abraçada com sua mochila, fora isso o ônibus era um grande corredor vazio de cadeiras iluminadas pela forte luz azul das lâmpadas fluorescentes, me sentei próximo da porta de desembarque, as ruas oscilavam em partes silenciosas e escuras com quase nenhuma alma viva e outras barulhentas com bares abertos ou boates, quando estava me aproximando de minha parada vi de longe uma grande nuvem de fumaça preta que subia em forma espiralada: - Que é isso? - Perguntei para mim mesmo, mas o motorista respondeu: - Hora, é o acampamento dos sem tetos, mais sedo ou mais tarde aqueles comerciantes ali perto iam mandar tocar fogo! – Não saberia dizer o que me fez motivar a descer do ônibus tão longe da minha parada e em plena quase meia noite, talvez a figurinha de chiclete do super-homem grudada no vidro da janela do ônibus, talvez por eu ter visto pela manhã quando ia para o trabalho uma mulher pobre e despenteada com um garotinho buchudo de calção indo em direção dos barracos, só lembro-me de apertar o sinal e descer indo em direção da fumaça, cada vez pior ficava de respirar, tirei um lenço verde do meu bolso e amarrei em volta da minha boca e nariz fazendo uma mascara improvisada, quando me aproximava vi, um grupo motoqueiros virem na direção contraria em alta velocidade, me desviei das motos e prossegui, chegando lá vi mulheres chorando, alguns homens no chão muito feridos pareciam ter levado uma baita surra, se aproximei de uma das mulheres que chorava muito e indaguei: - O que ouve aqui senhora! Quem machucou vocês! – A mulher chorando disse: - Eu não sei, meu deus chegaram de moto de repente, atirando na gente e jogando umas garrafas de vidro com pano dentro, depois incendiaram tudo, e forçaram os homens a entrarem no galpão principal onde fazíamos reunião e tocaram fogo estão todos lá dentro! – Apontou ela para um galpão com um portão de ferro preto trancado com uma corrente e cadeado, estava em chamas via labaredas de fogo sendo cuspidos pelas janelas ninguém conseguia se aproximar, eu olhei para o local e vi uma barra de ferro, peguei e me aproximei, comecei a bater com ele violentamente contra, mas não adiantou, então percebi uma coisa a corrente era resistente sim, mas o trinco do portão que estava preso pela corrente os parafusos assim como a estrutura já estava bem enferrujada, então com as mão nuas peguei a corrente senti um som de pele queimando, mas não me impediu e puxei com todas as minhas forças, até que arranquei o trinco o portão abriu homens saíram correndo, alguns se arrastando para fora, depois que saíram os que sobreviveram, já que vários morreram não foi nem queimado, mas asfixiados pela fumaça. Depois fui ajudar a apagar o resto dos focos de fogo, alguns lugares foi impossível de se salvar, quando terminei estava com algumas queimaduras leves menos nas mãos que realmente queimei feio estava com bolhas e a pele destroçada, todos se assombraram por eu não dar um pio “você e muito forte!”, “você é incrível!”, “como conseguiu fazer aquilo” más a que mais me seduziu foi “você é um herói!”, eu voltei para casa me sentindo completo, Sabe quando algumas horas de sua vida, você sente que fizeram valer todo o resto, que você teve um proposito, foi como me senti.

Fui ao posto de saúde, onde minhas mãos foram enfaixadas isso já no dia seguinte fui antes para casa e passei pasta de dente nas queimaduras, quando voltava do hospital passei em uma banca de revista e comprei um exemplar de uma revistinha, na capa tinha um herói de vermelho correndo se desviando de bumerangues eu sei parece meio ridículo, mas e legal, em casa passei a semana pensando no que fiz, nos riscos que passei como poderia ter morrido carbonizado, com um bloco de papel na mão rabiscava um uniforme de herói, fantasia minha, me imaginei saindo nas ruas vestido de herói, ia provavelmente ser motivo de riso, nas revistinhas o cara não sabe nada de costura, não tem dinheiro, mas de repente esta usando um traje todo estilizado que parece ter recebido patrocínio da WB, após alguns desenhos fui a minha mesinha, liguei o computador e dei uma navegada na web, procurei no mercado livre, OLX e outros sites de vendas, vi um casaco branco com dois traços vermelhos nos ombros, achei muito bonito, também um par de óculos de mergulho de lentes vermelhas vinho, e um par de tênis branco da adidas usado, encomendei tudo que saiu até em conta, não sabia por que fazia aquilo e de fato não sei ainda o por que. Virei à noite olhando sites de lenda, aplicativos que diziam rastrear o rádio da polícia, já era tarde eu cocei minha cabeça raspada, olhei para o relógio quadrado de ponteiro preso a parede e vi que já ia da mais de duas da madrugada, soltei um bocejo desligando o computador e me preparando para dormir. A minha encomenda só chegou quase um mês depois já estava achando que tinha sido enrolado, abri as caixas vesti experimentei a camisa que ficou boa em mim, os óculos também, sabe hoje me pergunto qual motivo de eu tomar aquela decisão será que sou maluco? Eu estava já a mais de uma semana treinando novamente, levantando peso, brigando com minha sombra, treinando velhos golpes de boxe, e assistindo aulas de defesa pessoal no you tube, naquela noite ao voltar do trabalho eu leva em minha mochila minha “farda”, eu não ia para casa. Minhas pesquisas não se resumiram somente a vídeos do youtube e exercícios físicos, colhi informações rastreie os autores do incêndio, descobri que se tratava de matadores de aluguel, que vendiam serviços dos mais vergonhosos e desonrosos, assassinatos de moradores de rua, extorsão era só a ponta, o líder deles era por ironia do destino o SOMA, o mesmo homem que matou meus irmãos, eu mentiria para vocês se disse-se que estava agindo movido por vingança a “LA BATMAN”, mas eu sentia que era a história perfeita, ou seja, digna de um roteiro do Jack Kirby, eu sabia onde se reuniam não foi difícil descobrir, já que a polícia fazia pouco cabo, sobre, era um antigo bar e churrascaria, eu os segui discretamente por algumas semanas, mas hoje eu não seria discreto, peguei o ônibus e desci nas proximidades em um beco vesti meu uniforme rápido para não ser pego com as calças nas mãos, subi no telhado de uma das casas, com cuidado, não é tão fácil como parece quebrei algumas telhas ao pisar em falso, até conseguir chegar ao telhado da churrascaria, contei o numero de criminosos, era uns oito eu acho, e pensei que não dava para simplesmente entrar pela porta ou pular em cima deles sem ser transformado em uma peneira de balas, então fui ate o gerador de energia e cortei, o lugar ficou no escuro, ouve alguns palavrões alguns clientes saíram correndo outros não, ai sim fiz algo que sinceramente não sei se foi das ideias mais inteligentes que já tive, embora, estou vestido como o Patati, não sei se tenho tido ideias muito inteligentes, eu pulei do telhado gritando; - PAREM EM NOME DA LEI! – Admito faltou muita criatividade da minha parte, não foi nenhuma frase de efeito, o que fez os bandidos meterem bala, eu cai sobre um o desacordando, outro golpeei no queixo duas vezes o deixando desacordado, senti molhado meu corpo, mas não parei, voei para cima de um que ainda tentava distinguir na bagunça em quem atirar um chute forte nos testículos foi o suficiente para ele gritar como uma soprano e cair no chão ouvi uma voz: - Filho de uma puta! Tá maluco seu merda! – quando olhei só deu tempo de eu colocar meus punhos na frente protegendo meu rosto, de uma cadeirada, que se espatifou nos meus braços, ele olhou assustado eu dei um sorriso confiante, mas não estava confiante só achei que seria interessante, e o soquei no nariz o lançando longe: - matem a porra desse maluco! – Um dos caras gritaram, enquanto recebia uma garrafada na boca que eu lancei, seus dentes foram arrancados em meio a sangue. Ele caiu colocando a mão na boca, eu percebi que o “molhado” era minha panturrilha da perna esquerda que estava com um buraco em forma de circulo perfeito que atravessou lateralmente dando para ver através dele o outro lado, isso não me parou, a peleja durou pouco, acho que a surpresa, os companheiro arrebentados no chão e aparente insanidade que eu apresentava os fez perder o equilíbrio atiravam, tentando me acertar e acabando por acertar o companheiro, no final só haviam sobrado dois que correram para fora da churrascaria pelas portas do fundo, eu os segui, caindo sobre os dois na hora que montavam em uma moto Honda vermelha, quando arrancavam, meu corpo os fez perderem o equilíbrio caindo da moto inconsciente o garupeiro, e o outro sentiu meu punho no estomago, caindo também duro, estranho dizer más eu estava feliz que dizer não é por bater em pessoas, más por fazer justiça, ingênua de uma criança, mas justiça, talvez isso nem seja real, talvez seja as páginas de um gibi de alguma criança não sei, mas dane-se. Eu respirava fundo quando ouvi um grito vindo da boate, eu entrei e vi uma mulher chorando segurando em seus braços um homem de camisa polo com a cabeça estourada, ela olhou para mim com seus olhos verdes claro borrados de maquiagem, e lagrimas e disse em fúria: - Seu filho da puta! Você fez isso! você o matou! – Eu olhava sem respostas eu tentei falar em meio a gagueja: - Eu... eu não queria... eu... – Ela gritou: - Saí daqui! Seu maldito! Sai! – eu sai correndo do local, voltei para casa, com muito a refletir, ao ligar a televisão vi os bandidos que espanquei dando entrevista para o jornal, falando de como foram espancados brutalmente por um maluco, eu voltei a mim e vi que o mundo era bem mais complexo que nas revistinhas.