Star Trek Unlimited - Ciclos (Excertos)

Não parecia haver nenhum tipo de som naquele lugar, onde tudo parecia estar calmo e tranquilo. Mas, por um breve momento, um trepidar entre as paredes encharcadas por uma chuva que caíra a pouco tempo fizera com que todo o local deixasse de parecer em paz.

Era uma noite nublada, quase entrando numa madrugada e, ali, no local, a escuridão era predominante. Veio, então, uma faísca, no meio do nada, como se fosse uma aparição sendo evocada para estar ali presente naquele momento e, após isto, nada.

As paredes deixaram de trepidar e tudo parecia ter voltado a normalidade. Pesadas gotas de chuva começaram a cair novamente no vácuo escuro do local e era apenas isto que poderia ser ouvido, as gotas batendo no chão e nas paredes do lugar. Veio então outras faíscas, agora estas mais fortes e consistentes e não pararam mais, sendo as mesmas cada vez mais e mais crescentes.

A escuridão percebera que estava perdendo forças para com aquelas faíscas, mas, ainda assim, fizera questão de persistir, de estar ali, tentando esconder o evento único e sem igual que ali crescia. Quanto mais faíscas apareciam no meio do nada, mais a escuridão tentava recair no local, mas parecia uma luta em vão.

Foi então que das faíscas, uma enorme bolha avermelhada crescera de uma forma bastante uniforme, preenchendo um espaço equivalente a uma pequena tenda de campo e ficara ali, gritando energia e cuspindo luz para todos os lados, a escuridão perdera finalmente.

A cor avermelhada, antes fraca e quase transparente, se tornara cada vez mais opaca e forte, era como se o espaço, e o tempo, estivessem sangrando sem ao menos alguém cortá-lo, toda a região tremia ante aquela aparição e se as paredes ao redor pudessem pensar, talvez, estivessem se perguntando o que diabos era aquilo.

A bolha persistia em sua consistência, em sua força, em seu brilho e se tornara quase sólida, quase uma parte daquele local e foi então que, quando as paredes já estavam se acostumando com aquele novo vizinho, o ser que estaria ali para sempre para acompanha-las em sua jornada sempre em luta com a escuridão da noite, a bolha explodira em milhares de pedaços e, ali, havia a figura de um homem e uma mulher, dois que poderiam mudar para sempre a história daquele lugar.

(...)

- As Doutrinas tem de ser levadas em alta conta. – Disse Ginny Lennox, uma biomédica com os seus cabelos ruivos observando um projeto do cérebro biopositronico que havia elaborado juntamente com Isaac Clarke. – Sem elas, os Reploides não terão controle algum sobre si mesmos.

- O androide não tinha nenhuma Lei, apenas Moral e nunca fizera nenhum tipo de mal em todo o tempo de sua existência. – Observou Clarke, que era formado em engenharia e programação.

- Ele é um caso a parte. – Retrucou Ginny. – Ele ficara em volta de muitos seres humanoides por toda a sua existência e sua programação permitira que pudesse compreender o certo e o errado, mas estes reploides não teriam tais condições. Eles serão construídos e serão lançados diretamente para servir a população, se não houver algum tipo de controle, algo poderá dar errado.

- Existe esta possibilidade, mas com o cérebro biopositronico eles poderão aprender os conceitos de certo e errado muito mais rápido do que qualquer criança Alteriana. – Ele passava a mão num dos diagramas e o mesmo dera um zoom mostrando os neurônios artificiais que foram desenhos por eles a dois anos e, desde então, evoluíram de uma maneira fenomenal a indústria de processadores de Alteria. – Com os próprios tecnorônios, a chance de dar algo errado é pequena. Eles tem chaveamento de 0’s e 1’s que impossibilitam o desvio de julgamento que...

- Ainda assim, você sabe muito bem que qualquer projeto perfeito, existem imperfeições, o irmão do androide fizera um estrago sem igual num passado distante se unindo aos nossos inimigos.

- Não devemos culpar um belo projeto por um erro de construção do antiquado cérebro positronico. – Disse Clarke. – Com os anos que passamos aqui aprendemos muito sobre a tecnologia Alteriana e de como modificar o projeto original de Sung para os nossos propósitos.

- Mas você sabe que isto só faz remeter a Tempestade Temporal não? Ao ciclo de eventos que deverão acontecer e que precisam acontecer...

- Claro, eu sei que a Doutrina precisa ser estabelecida para ser corrompida, mas estava pensando em...

- Nada disso meu amigo, se mudarmos quaisquer eventos que estão previamente....

- Quais eventos? Além daqueles descritos por Terra, Serah e Aya? Como podemos confiar tanto assim nestas biolóides?

- Se não confiarmos, estaremos mudando o curso da história, de uma forma ou de outra. – Disse Lennox. – A primeira geração de Reploides precisa ser criada, com as Disciplinas embutidas no cérebro biopositronico deles para que em seguida ocorra a Guerra Replicada e, assim, possam produzir salvaguardas que são as Leis.

- É de imaginar que um dos grandes erros dos Alterianos foi produzida não por eles mesmos, isto só torna as coisas ainda mais inacreditáveis...

- Se fosse só você pensando nisso. Imaginar que existe todo um ciclo vicioso temporal e que estamos envolvidos neste grande esquema, é de estourar o meu cérebro. Eu, Geneviere Lennox, nunca pensei que iria sair da Kangae para fazer a história, mesmo que de forma errada.

Os dois estavam a frente dos diagramas ainda. Uma máquina ao fundo estava produzindo o primeiro protótipo do cérebro biopositronico de forma calma e tranquila, um trabalho autômato e simples. Desde que chegaram a Alteria, a cerca de 10 anos, de uma forma completamente inusitada, Ginny e Isaac tentaram se esconder da sociedade local, sabiam que estando ali poderiam mudar de uma forma irreversível eventos que estariam por vir e, assim, destruir toda uma linha temporal.

Mesmo um trabalhando como mecânico de uma loja de ferragens e a outra como enfermeira, após fazer um curso de enfermagem técnica no planeta e passando quase que com louvor, eles acabaram dentro de uma universidade e centro de pesquisas. Fora o acaso que Clarke consertara o carro flutuante de um renomado professor da Universidade de Bromas e, sem hesitar – ou até mesmo esquecendo de não fazê-lo – mostrara o seu conhecimento a par, ou mais avançado, que muitos ali tinham em engenharia de computadores e nanoengenharia.

Clarke então lembrara que a época donde estavam, de acordo com Aya, a última Bioloíde, ali iria surgir a Guerra Replicada, várias semanas haviam se passado e nenhuma noticia acerca da criação de cérebros biopositronicos, faltando um pouco mais de cinco anos para a guerra acontecer Isaac não vira outra solução, ele mesmo “pesquisara” e lançara para o mercado mundial os ditos cérebros.

- Conhecimento... – Disse ele para Ginny um dia. – Que eu adquiri quando encontramos Aya depois da missão em Helicion-II! Ela era a ponte entre os Reploides e a sua segunda geração, os Bioloides. Ela, de alguma forma, sabia que iria ser encontrada pela gente e que ela ajudaria na criação de si mesma. Como eu pude ser tão obtuso, ela me deixou examiná-la de cabo a rabo e você realizou exames no cérebro biopositronico dela. As marcas são indeléveis que ela foi a base para a segunda geração e que acabaria com o caos inerente de tudo, não antes da guerra surgir!

Ginny só colocara a mão a sua cabeça e dissera: - Odeio viagens temporais.

(...)

Anos se passaram e a Guerra Replicada estava chegando ao seu fim e, dali, havia algo que deveria ser feito. Clarke estava trabalhando no Projeto Saikuru, os Alterianos não entenderam a palavra usada, mas para ele e Ginny era algo bem claro, significando Ciclos.

E, dali, Aya aparecera. A primeira bioloide da próxima geração. A criação dos Alterianos sem ser dos alterianos, ligando ainda mais os humanos com o seu destino.

- A Doutrina foi realmente um fracasso, mas as Leis também não garantirão muita coisa. – Disse Ginny.

- Bom, os Alterianos queriam algo diferente da Doutrina e as Leis servirão como bom substituto.

- Será que a Aya conseguirá fazer o seu intento? – Perguntou a médica que olhava para o tubo na qual crescia uma criança em ritmo acelerado.

- Sim. Irá. Todos os dados que eu tenho sobre ela usou para a sua programação-base e esta mesma programação será usada pelos Alterianos, instrução por instrução. – Respondeu Clarke. – De acordo com Aya, eles temem repetir os seus erros, ou os nossos, e se certificarão com a Aya ao longo dos anos, sendo que ela não terá nenhum defeito que os Reploides apresentaram ao longo do anos.

- E agora? – Ela estava tocando no tanque e suspirara. Foram longos anos ali, cerca de vinte, e já considerara alteria a sua casa, apesar de que, como humana, aquele nunca fora o seu lugar.

- Os Alterianos nos receberam muito bem, mas não somos daqui, precisamos voltar ao nosso tempo...

- Como? Viagens temporais são proibidas pelo Ministro da Ciências. Eles sabem que qualquer viagem temporal pode criar uma nova linha do tempo ou destruir diversas outras. – Ao terminar de falar, sentira uma lufada de vento em suas costas e o tecido do tempo-espaço fora rasgado mais uma vez. Ali ela pudera ver aos dois sendo sugados por uma máquina a cerca de 20 anos.

- É a gente. – Disse Clarke. – Quem quer que tenha ligado aquela máquina infernal, quer a gente de volta.

- Eu não acredito nisso. – Falou Ginny quase chorosa. – Nos abandonam aqui a 20 anos e agora nos querem de volta? E a minha vida aqui? E tudo que eu conquistei aqui? Como eu posso voltar 20 anos mais velha para a Kangae? Como posso olhar para a Aya sem que ela não seja uma filha para mim?

- Calma Ginny, é a nossa chance de voltar...

- Voltar, voltar... após...

- Ah, pelos profetas. – E agarrou Ginny com toda a força e a jogou contra o buraco no tecido do espaço.

- Ayaaaaaaaaaaaaaaaa...

E o buraco se fechara. Os aparelhos eram a única companhia para a “filha” de Ginny Lennox e Isaac Clarke, que não se lembraria deles.