Existe vida inteligente?
Quase simultaneamente, o asteroide foi observado em monte Palomar e no observatório de Atacama, no Chile. Antes que a notícia fosse divulgada, dezenas de observatórios pelo mundo já o evidenciaram. Embora não fosse dos maiores já observados, o asteroide dirigia-se em grande velocidade diretamente para a terra, a rota de colisão era evidente. A notícia circulou inicialmente em revistas especializadas de circulação restrita a cientistas e estudiosos da área. Os artigos escritos pelos astrônomos mais conceituados do planeta detalhavam exaustivamente o assunto. Tiveram interesse público na primeira semana sendo logo substituído por um escândalo entre um senador e uma senhorita de vida nem tão fácil. As estimativas previam a colisão para daqui a vinte e sete anos. Com suas sessenta e seis antenas conectadas e num dia de extrema visibilidade, veio de Atacama mais uma preocupante notícia. O tamanho do corpo celeste era muito menor do que avaliado inicialmente, não era um asteroide, mas um grande meteoro e pelos novos cálculos atingiria a terra em 17 dias. Agora o assunto tomou a pauta internacional. E no décimo dia pode-se evidenciar que não era uma massa, mas três que viajavam quase unidas. Cálculos projetavam o impacto para o oceano atlântico, no hemisfério sul, com possibilidade de um cataclismo capaz de eliminar toda vida no planeta. Especulações surgiam a cada minuto. Os governos estudavam ações para desviar o bólido celeste. No dia D menos um, o meteoro reduziu sua velocidade e dividiu-se em três. Somente então com ajuda do telescópio Hubble foi possível compreender que não eram rochas, mas três naves estelares de aproximadamente oitocentos metros de comprimento cada uma.
As três naves chegaram juntas. O povo do planeta exultava, então realmente existiam outras civilizações. Nunca um assunto foi tão comentado, era o único tópico nas barbearias, nos salões de beleza; manicures e barbeiros tornaram-se expert em vida extra terrestre. Como seriam, o que desejavam? Cada qual tinha sua teoria própria, que iam desde a invasão da terra até a vinda dos extraterrestres para convidar-nos a fazer parte de um consorcio galáctico. O aspecto era outro tema discutido a exaustão. A grande maioria esperava um ET longilíneo, humanoide, com corpo esguio e uma grande cabeça, lembrando os filmes de ficção cientifica.
Finalmente o primeiro contato a tanto esperado aconteceu. Uma nave pousou no Central Park, em New York, a segunda nos arredores de Nairóbi, Quenia e a terceira no aterro do flamengo no Rio de Janeiro. A primeira nave abriu suas portas no Central Park e desceram os primeiros alienígenas, com o aspecto de grandes galinhas, duas pernas finas, o corpo arredondado como um barril e coberto de penas, um grande pescoço encimado por uma minúscula cabeça. Desceram pela plataforma com um passo bamboleante e assim que pisaram na verde grama os representantes da comunidade galáctica foram atingidos por projeteis rudimentares (segundo sua avaliação) porém eficazes, de uma gang de rua. O chefe da gang, um garoto de 17 anos, orgulhosamente exibe a cabeça decapitada dos alienígenas exclamando: - ninguém, ninguém desce na nossa parada sem autorização.
Ao abrir-se a porta da segunda nave, que desceu na África, estava cercada pelos habitantes da favela de Kibera, a maior do mundo, que circunda Nairóbi, e os tripulantes foram estraçalhados pela turba que buscava qualquer coisa, desde uma lata que pudesse ser vendida a um bocado de comida. No Brasil, sem tempo para planejamento, vieram ao Flamengo algumas escolas de samba, e recepcionaram os aliens com suas cabrochas sambando nuas, os repórteres cercavam os atônitos visitantes estelares e sem tempo para que respondessem os crivavam de relevantes perguntas: vocês tem sexos? Quantos? Como vocês se procriam? Ficaram excitados vendo nossas beldades? O governador, o prefeito e alguns vereadores em um trio elétrico falam ao povo do enorme esforço para encontrar raças inteligentes na galáxia e dos acordos comerciais que certamente virão, pois aterrissarem no Rio de Janeiro não foi uma casualidade e seria certamente exigido um percentual de qualquer acordo que fosse feito com nações estrangeiras. E quando desciam do trio para recepcionar os ilustres visitantes, foram surpreendidos com a nave que se elevava voltando para onde viera.
- Muito mal educados esses Ets, não achou Sr. Governador? – disse seu assessor.
- Sem dúvida, sem dúvida, deveriam passar um tempo aqui para adquirirem um polimento social. Mas certamente voltarão e pensando nisso, vamos programar a construção do projeto “casa do alienígena”. Mande abrir concorrência. (Se possível com a escolha de nosso velhos amigos para a construção). Quero isso para ontem. Nada de economia, quero algo grandioso, vamos mostrar ao mundo como o Brasil recepciona seus alienígenas.
No dia seguinte as principais manchetes do país falavam da acachapante vitória do Corinthians que praticamente sagrou-se campeão do campeonato brasileiro.