Deuses x o Amor

Estamos no ano 66 da era pós-humana, e a humanidade, ou o que restou dela, vive em cidades subterrâneas. Na superfície vivem os supra-humanos, seres dotados de uma capacidade cognitiva capaz de nos fazer sentir orangotangos, com a diferença de que eles, orangotangos podem viver na superfície e nós não. Lembro-me como se fosse hoje, estávamos no meio da aula de física quântica, quando eles chegaram cheios de aparatos tecnológicos que reduziram a nossa singularidade em frios números. Recebíamos em nossos microchips a informação da descoberta do gene de Deus, e a manchete dizia: Deus não está morto, e sim multiplicado.

Os supra-humanos são seres altamente racionais, característica que se torna mais marcante a cada nova geração, como maquinas, calculam todos os passos. Não existe para eles o impasse da dicotomia bem e mal, como em um jogo de xadrez só existe a melhor jogada. Em seus dicionários a palavra amor é descrita como sentimento que impede o homem de se tornar Deus. Sem o amor o que mantém a ordem social é a razão. O individuo calcula todas as probabilidades e descobri por si só que o melhor caminho é o da manutenção da ordem reinante. Os casamentos também se dão da mesma forma. Tudo é puramente racional. Porém o amor não é tão fácil de ser combatido, todo ser humano ou supra-humano possui uma capacidade inata para amar, é parte de nossa natureza. Para suprimir o amor, os supra-humanos utilizam de mecanismos de doutrinação, métodos behavioristas além de medicamentos que inibem a oxitocina, conhecida como o hormônio do amor. Para eles o amor é o inimigo numero um da civilização.

Diante desta realidade vivemos como baratas, escondidos em “boieiros”, sobrevivendo com os restos, somos considerados a maior praga da face da terra, a única capaz de por em risco o sonho eugênico da raça dominante. Nos últimos anos fomos agraciados com a esperança. Vinte anos atrás nascia uma criança, que em pouco tempo se mostrou a mais inteligente entre os supra-humanos, porém possuía também uma capacidade imensa de amar, o que era visto como uma intrigante ameaça aos supra-humanos. Buscaram de todas as formas aniquilar tal sentimento, tudo inútil. Não podendo suprimir o amor, resolveram mata-lo. Hoje já crescida ela vive entre nós, e é a nossa maior esperança na luta incessante pela sobrevivência e pela reintegração do amor. O nome dela é Sofia.

Ernane Everton
Enviado por Ernane Everton em 20/12/2015
Reeditado em 24/03/2024
Código do texto: T5486276
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.