Viví em Marte
Esta noite tive um sonho diferente mas muito vívido, eu vivia em Marte o planeta vermelho de hoje, só que não era vermelho no meu sonho, ele era bem verde, cheio de grama, altas e baixas, planícies intermináveis, daquelas que a vista não alcança, um tapete verde por onde muitas crianças brincavam.
Nesse planeta diferente daquele que conhecemos hoje, além das crianças que pululavam por todos os lugares, existíamos nós, os cuidadores dessas crianças. A paisagem era verde e florida, canteiros e mais canteiros de flores. Uma brisa suave soprava os nossos cabelos e a grama se dobrava pra lá e pra cá e em rodamoínhos de vento. Havia um mar e as crianças queriam molhar os pés naquelas ondas curtinhas, as ondas não eram como as nossas, eram curtas, mais parecidas com as ondas de um lago, só que aquele lago era salgado e eu sabia mesmo sem provar, aquele ambiente era meu conhecido de longa data.
Quando as crianças se aproximaram dessa praia, meu coração encheu-se de pânico, minhas pernas não eram longas o bastante para alcançá-las e protege-las do que viria a seguir. Crianças são tão inocentes, correm, pulam, cantam, se abaixam para pegar conchinhas na areia, desconhecem os perigos de viver, acreditam nos pais que as protegem, precisam ser ensinadas e entendem muito bem todas as nossas explicações.
As crianças ainda não haviam sido ensinadas sobre os perigos e ameaças que rondavam aquelas águas. Da elevação onde eu estava pude ver a água se agitar enquanto elas corriam desajeitadas como as crianças são, o desespero tomou conta de mim e comecei a gritar para que elas se afastassem daquelas pequenas ondas, mas algo saiu daquela água, sonhos quando são ruins não tem medida do horror que são capazes de criar, daquela água agitada, saiu uma enguia gigante que não era uma enguia normal, ela era faíscante, era elétrica e cheia de dentes e fúria, antes que eu chegasse a maldita abocanhou as crianças e as arrastou para as profundezas. Meu coração ficou despedaçado, gritei e chorei por horas e jurei que ía dar um fim naquele monstro que espreitava tudo que se movesse naquelas praias, os mares daquele Marte enverdecido, definitivamente não era um lugar para se nadar ou brincar.
Acordei com o coração apertado, com aquela sensação de impotência que enche o nosso peito quando não conseguimos realizar o nosso trabalho a contento. Esse foi um sonho, como tantos outros, daqueles que nos transformam, mesmo não sendo alegres e controláveis, aliás, sonhos são incontroláveis.