894-A GRANDE CATÁSTROFE-cap. 9- O Exilado de Kaplan

Relação dos contos desta série –

1º. Cap. – # 747 – Viajantes do Universo

2º. Cap. – # 889 – As Pirâmides de Zagan

3º. Cap. - # 890. –A civilização de Al-tlan

4º. Cap. - # 751 – Zênia e o Infiniedro

5º. Cap. - # 891 – Desistindo do Amor

6º. Cap. - # 753 – Vórtice Trans-espacial

7º. Cap. - # 892 – A Civilização de Sah-har

8º. Cap. - # 760 – Outras Terras, outros Povos

9º. Cap. - # 894 – A Grande Catástrofe.

Permaneci grande parte do tempo entre as civilizações de povos de raça amarela, com os quais convivi prazerosamente. Eram pessoas afáveis, organizadas, inteligentes e com elevados padrões de sociabilidade, imbuídos de ética e moral bastante diferentes dos outros povos com os quais havia convivido.

Receberam e desenvolveram o conhecimento que lhes passei, todos de acordo com seu estágio de civilização, a fim de não quebrar a harmonia de sua evolução cultural ou social. Por exemplo, o uso de uma substância explosiva usada para quebrar pedreiras e obter material para as construções e que eles aplicaram diligentemente na confecção de fogos de artifício; ou o uso de caracteres móveis representando palavras ou ideogramas (de acordo com seu alfabeto e sua escrita) que lhes permitiram imprimir textos em lâminas de seda, que já teciam com perícia.

Para além das margens daquela grande extensão de terra, se estendia um mar imenso, no qual muitas ilhas abrigavam povos de uma diversidade imensa, cujas culturas estavam bem mais atrasadas do que os povos amarelos das terras contínuas.

Na minha ânsia de conhecer novos povos, minha atenção foi focada numa pequena ilha, isolada no imenso mar, muito distante de qualquer porção de terra continua.

A pequena ilha estava sendo colonizada por habitantes de outras ilhas que viajavam em precárias embarcações durante vinte, trinta dias para chegar até a remota ilhota. Era de origem vulcânica e a maior elevação era justamente o topo do vulcão, que não mais dava sinal de atividade.

Quando ali cheguei, dando um salto quântico através do espaço e do tempo com minha preciosa máquina Infiniedro, os primeiros habitantes lutavam bravamente para sobreviver, pois a ilha era desolada, com vegetação constituída de pequenos bosques nas partes mais baixas e campos de vegetação baixa nas encostas do vulcão.

Acompanhei sem interferir os esforços dos homens e mulheres. Eram pacíficos e quando apareci entre eles, fui aceito de forma tranqüila. Devo esclarecer que eu sempre procurei usar trajes e modos dos povos que visitei, a fim de não causar estranheza ou repulsa. Para guardar meus pertences e roupas originais, usava escondê-los em lugares de difícil localização e protegidos por uma cúpula de energia que impedia o acesso de quem quer que fosse aos meus objetos pessoais.

Assisti, pois, o estabelecimento na remota ilha daquele povo pacífico e tranqüilo que se chamava de Rapa-Nui.

Muito tempo se passou até que, vencidas as dificuldades e havendo certa abundância de alimentação, as vilas organizadas e os ritos religiosos passaram a ter importância extraordinária nas pequenas comunidades.

Representavam seu deus através de pequenas esculturas de pedra, a que chamavam moais. Estas esculturas apresentavam uma fisionomia indecifrável, repleta de enigmas e segredos para os seus adoradores. As imagens misteriosas que procuravam reproduzir a idéia que faziam de seu deus eram esculturas simples: uma cabeça longa, testa curta, orelhas grandes coladas à cabeça, olhos fundos e sobrancelhas em arco único, de um lado ao outro da testa. Narizes grandes, aquilinos uns, achatados outros e as bocas cerradas, num rictus de seriedade absoluta.

Algumas estátuas tinham sobre a cabeça estranhos objetos que tanto poderiam ser chapéu como capacetes estilizados. As cabeças estavam apoiadas sobre troncos dos quais sobressaiam braços finos e curtos braços, em desproporção evidente ao resto do corpo.

Cada grupo familiar esculpia seu ídolo, e guardadas as formas gerais, não havia duas dessas esculturas idênticas. Cada qual se diferenciava em tamanhos e pequenos detalhes.

Os ilhéus não tinham um local para reuniões em oração. Aliás, os sentimentos de espiritualidade eram quase ausentes neles.

Com o passar do tempo, aconteceu uma disputa inexplicável para ver qual grupo ou vila (havia na ilha dezenas de povoamentos) conseguia esculpir um moai maior. O material era farto e a lava vulcânica era fácil de trabalhar.

A idéia foi grandiosa desde o começo. O trabalho de esculpir as grandes estátuas contagiou todos os habitantes e as esculturas começaram a atingir tamanhos cada vez maiores. Ajudei-os no que pude, facilitado o corte das rochas e por vezes até na própria escultura, sem, entretanto, interferir no acabamento, que era dado pelos escultores de cada vila.

O trabalho de esculpir as estátuas passou de geração em geração e assisti durante muito tempo essa atividade. A ilha ficou povoada de estátuas, colocadas aleatoriamente ou em grupos, fileiras e alas.

Gostei de conviver com esse povo. Mas então observei em meu aparelho mega-dimensional que uma grande catástrofe era eminente na ilha dos At-Lans. Tele-transportei-me a tempo de ver as grandes ondas arremessando-se sobre s praias com força imensurável, geradas que eram por forças naturais do planeta.

Todo o planeta foi varrido por tremores de terra, maremotos, imensos tsunamis e poderosas tempestades vindas do céu. O grande mar interno do Sah-ar foi soterrado por uma camada de areia que elevou a altitude do solo, e secou o mar. Uma região povoada por inúmeras cidades portuárias desapareceu para sempre e tornou-se um grande deserto de areia.

Nada pude fazer para salvar meus amigos de At-Lan. O conjunto de ilhas foi submerso em poucas horas, tamanha era a força das ondas, das águas que desciam dos céus e dos maremotos.

Através do Infinedro, observei que o cataclismo ocorreu sobre todo o planeta. A ilhota dos Maoris foi também varrida pelas águas, mas não ficou submersa. As estatuas foram enterradas umas, quebradas muitas. A ilha ficou desabitada e assim ficaria por muito tempo à frente.

Tal catástrofe ficou na memória de muitos povos, e seria transmitida por gerações. Sob a forma de lendas e mitos como Atlântida, Dilúvio e outros.

Nada havia a fazer com relação aos Maoris e sua pequena ilha de estátuas gigantescas. Resolvi viajar para um futuro distante e conhecer como as civilizações que eu já visitara haviam evoluído. Coloquei os dispositivos de meu Infiniedro para me transportar para alguns milhares de séculos no futuro.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 3 de abril de 2015.

Conto # 894 da SÉRIE 1.OOO HISTÓRIAS.

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 23/10/2015
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