Um pequeno passo para um homem...

O major Greenwood chegou à base soviética subterrânea como quem adentra território inimigo: com cautela. Mas depois que ele e seus acompanhantes entraram no complexo, após retirar os trajes espaciais na câmara de descompressão, percebeu que era inútil qualquer intenção hostil da sua parte: havia gente demais ali, circulando pelos corredores.

- O seu contingente aqui é maior do que o da nossa base na Antártida! - Comentou Greenwood para Vasya Larionovich, enquanto dirigiam-se para o que o russo chamara de "centro de convivência".

- Viemos para ficar, major Greenwood - respondeu calmamente Vasya Larionovich. - Mas há espaço para todos.

O "centro de convivência" era um grande salão retangular, medindo talvez 200 m² e seis metros de altura, iluminado profusamente por lâmpadas que simulavam a luz do sol. Um jardim rochoso ocupava boa parte da área central, onde haviam sido plantadas sálvia da Rússia, com folhas verde-acinzentadas e flores roxas, saxífragas, prímulas, verônicas e azedinhas. Ao redor do jardim havia alguns bancos de plástico e postes de alumínio com placas de sinalização em alfabeto cirílico; nada que fizesse muito sentido ali (como "proibido estacionar" ou "mão única"), apenas um lembrete saudoso da Terra distante.

Ao vê-los entrar, um homem de barba branca rente trajando um macacão azul da S.K.A., ergueu-se do banco onde estivera sentado e caminhou ao encontro deles.

- Bem-vindo ao Complexo Subterrâneo Dao Vallis, major Greenwood! - Disse o homem em inglês, estendendo a mão. - Eu sou o comandante Arkadiy Leonidovich Selidov! Fez boa viagem?

- No seu veículo 4X4? Sim, excelente, comandante Selidov - respondeu o americano, apertando a mão que lhe era estendida. - E não posso me queixar dos seis meses que levei para chegar até aqui. Temos boas acomodações na Ares.

- Certamente, major Greenwood! - Aduziu o comandante russo. - Mas nada como pisar novamente em rocha sólida, não é mesmo?

- Sim, devo concordar...

- Organizamos uma pequena cerimônia de boas-vindas para comemorar a sua chegada. Se puder me acompanhar...

Greenwood ergueu as sobrancelhas, surpreso.

- Cerimônia de boas-vindas?

Ia acrescentar que a gentileza não era necessária, mas lembrou-se que os russos não apreciavam muito esse tipo de comentário.

- Claro, como não! - Acrescentou diplomaticamente.

* * *

No dia seguinte, logo de manhã cedo, bilhões de telespectadores na Terra viram o major Greenwood desembarcar do módulo de descida da Ares-IV, pisar em solo marciano e desfraldar a bandeira dos Estados Unidos da América. Os passos trôpegos dados por ele na superfície, foram atribuídos à fraca gravidade do planeta, cerca de três vezes menor que a da Terra.

- Tenho muito orgulho em ser o primeiro americano a pisar em Marte... - disse com voz pastosa, encarando uma das câmeras externas do módulo de descida.

Inspirou profundamente, antes de prosseguir:

- ...e também o primeiro americano a entrar em contato com marcianos.

Concluiu, em tom enfático:

- Os quais, aliás, produzem uma vodka de primeiríssima qualidade!

[09-10-2015]