A mãe ao telefone

Radiotelefone colado à orelha esquerda, pousou a xícara de chá verde no pires ao ouvir o primeiro toque no outro lado da linha, 3.000 km distante. No segundo toque, alguém tirou o fone do gancho.

- Mãe? - Perguntou, sem aguardar que alguém se identificasse. E a voz dela ecoou cálida em seu ouvido.

- Dima! Quando voltou à Terra?

- Cheguei faz... quatro horas. Tive que me desvencilhar da burocracia primeiro. Liguei cedo demais?

- Não! Estava me preparando para ir ao Instituto. E você, onde está?

- Le Bourget.

Olga Borodina suspirou.

- Por quê não veio direto para Moscou?

Dmitry Alekseev ergueu os olhos da mesinha redonda do café do cosmódromo para a bruma matinal que se erguia sobre o Parque Georges Valbon. O dia estava amanhecendo bonito; um perfeito dia de verão em Paris.

- Tenho assuntos pendentes para resolver, mãe...

- Assuntos... - ecoou ela em tom de mofa. - Como era mesmo o nome da garota? Evangeline?

Dmitry Alekseev sorriu.

- Evangeline faz MUITO tempo, mãe. Já deve estar casada, nestas alturas do campeonato.

- Bom, sempre há alguma garota, não é mesmo, Dima? E parece que todas elas têm uma predileção especial por Paris.

O sorriso no rosto do Pioneiro ampliou-se.

- Paris é um lugar especial, mãe. Lembre-se que foi daqui que parti para minha primeira viagem de exploração!

A voz de Olga Borodina lhe soou melancólica.

- Como poderia eu esquecer, Dima? E como um imã, todas as vezes em que volta à Terra, ela o atrai para si. Quando vai dar uma chance às garotas de Moscou?

Dmitry Alekseev mudou o radiotelefone de mãos.

- As garotas de Moscou sempre me pareceram muito sérias, mãe.

- E tudo o que você quer nesta vida é diversão, Dima?

Dmitry Alekseev calou-se por um momento. Sua mãe tocara num ponto sensível; e não exatamente em relação à sua atitude para com as mulheres em geral.

- Eu não pretendo ser Pioneiro para sempre, mãe - disse por fim.

- Boas falas, Dima. Talvez esteja na hora de sossegar por uns tempos na Terra - ou, pelo menos, arranjar um emprego que tenha uma escala de serviço decente e onde possamos vê-lo... digamos... umas duas vezes ao ano!

- E aí você irá me apresentar à algumas das filhas de seus colegas do Instituto, suponho? - Indagou ele em tom divertido.

- Isso pode ser arrumado, Dima - respondeu ela. E depois, como alguém que tenta a todo custo controlar as próprias emoções:

- Filho, você não sabe a falta que me faz!

Dmitry Alekseev surpreendeu-se com o tom apaixonado da mãe. Logo ela, sempre tão serena e comedida...

- Mãe, eu também sinto a sua falta...

Do outro lado da linha, ouviu-a dizer, enfaticamente:

- Então prove isso, Dima. Venha me ver! Só vou descansar quando o tiver novamente nos meus braços.

Dmitry Alekseev ia dizer que não era mais um bebê e que ela não poderia mais pegá-lo no colo, mas conteve-se, invadido por um vago sentimento de desassossego. No momento, quem parecia precisar de colo era Olga Borodina.

- Você me espera para o almoço, mãe? - Indagou ele, olhando para o relógio de pulso.

- Vou fazer pelmenis! - Respondeu ela, com indisfarçável alegria.

[04-09-2015]