UPEO -
Dias e mais dias de trabalho estafante! Parecia programado para viver daquele jeito! E, como se fosse também um programa, decidiu visitar a Terra.
De volta à Terra. Missavalaf estava a 4 anos fora e não sentia tanta saudade assim de casa. Estava acostumado a sempre ver edifícios, céu, clima e a órbita de júpiter misturando tudo em uma realidade plástica e desestimulante. Olhou através de seu retroext e viu apenas nuvens cinzentas e construções. Uma plantação infinita de colunas e outras formas tortas o suficientes para desafiar a gravidade e a própria noção de impossível. Tudo do lado de fora da nave era mais opressor que na colônia espacial onde vivia: ele não via o tamanho da cidade, nem dos prédios e, perto do interporto, a localização do "chão" era indistinguível.
Queria estar lá de verdade e tinha se cansado de viagens extracorporais. A agência que oferecia as formigas sempre o colocava em corpo de mulher. E não era a mesma coisa de estar lá de verdade. Um boneco não é como a sua própria carne.
Desembarcou no portão 54nm6k do Interporto do Sistema Infoneural Sarmig. A região era o centro de informações da Área Oeste-Sul-Leste Terrestre. Uma breve conexão com os satélites lhe informou o local, a quantia e o tempo gasto até a casa dela. Chegou na área de transporte, entrou em um casulo e partiu por entre as enormes construções que se perdiam no céu e que faziam qualuqer pessoa se sentir a mais pífia criatura do mundo, visto que nunca o Sol era visível e as sombras das construções deixavam a cidade em uma noite eterna.
- Parece que não faz muito tempo que estive aqui - pensou.
Depois de descer uns níveis e passear bastante, desceu em uma área de livre acesso. Uma área projetada para se sentir minúsculo por dentre a noite arcopolar. Era um espaço amplo, um círculo, de onde era possível ver que não era possível ver o céu, o fundo do poço e o outro lado. A chuva que começava a cair tornava tudo ainda mais claustrofóbico. A imensidão do lugar o aprisionava a seu EU somente, e ele não gostava.
Desceu vários níveis e chegou na porta. Ela se abriu sem fazer barulho. Olhou lá dentro, ouvia sons. Andou devagar, a unidade tinha bastante espaço. Olhou por entre uma divisória transparente pra quem vê do lado de fora. Ela estava com várias outras mulheres. estavam todas se divertindo. Ela estava na sua brincadeira preferida: as argolas. Várias argolas estavam fixadas por todo seu corpo: dedos, braços, seios, vagina, ânus, boca, pálpebras e pés. Por entre essas argonas um fio fino e fluorescente juntava todas as argolas, costuranto o corpo da mulher, e juntado-a com todas as outras que também tinham as argolas. A sensação de se mexer e estimular todo o seu corpo com dor e excitação a deixava eufórica o bastante para se esquecer de seus problemas por algumas horas. Todas estavam desfrutando da multisensação sinestésica que as drogas induziam. Sexo, cheiro, tato, luzes, paladar, suor, música, tudo misturado, um era outro e tudo era prazer.
Entrou na sala depois de uns minutos. As outras mulheres se afastaram, o semblante dela ficou sério. O fio azul-fluorescente sumiu instantaneamente. Ele se despiu, os dois transaram. As mulheres olhavam, esperando tudo voltar ao normal. Ela gozou, triste e complascente. Ele gozou, sério e rotineiro. Cada um virou para um lado.
Uns minutos se passaram, ele se vestiu e saiu. As mulheres viram o homem partindo. Ela viu o demônio, com chifres e pele vermelha. "Tudo isso é inevitável", pensou. "Por que não fiz nada antes? Por que aceitei? Estou cansada dessa rotina...vida...deles." procurou mais uma dose de estimulantes e o fio azul-fluorescente reapareceu. As mulheres se amontoaram novamente.
Ele foi embora pensando em tudo. Sabia que, de alguma forma, ele era diferente. Não sabia o porque, achava até que o impediam de pensar sobre isso. Alguma coisa em seu cérebro tinha sido projetada para fazer essa barreira. Estava além doa sua mente, em seus genes, talvez mais fundo!
Andando por um tempo, acabou se sentindo mais relaxado. Faziam 4 anos que não via a sua mãe. Ela nunca mudava, estava sempre daquele jeito. Ele sentia ódio e tensão sexual. "Acho que meu cérebro foi projetado por alguma criança arfando seu animal de estimação", pensou.
Na volta, tudo normal. Achou engraçado ver outra pessoa igual a ele. Não era a primeira vez e ele sabia, sem razão, que não seria a última. Não questionava, apenas parecia normal. Ele não sabia que não era.