Numa Jazida de Diamantes, em Marte.
Era de fato um diamante grande, aliás, gigantesco. Tinha cerca de dois metros de altura por oitenta centímetros de largura e brilhava bastante, apesar da pouca iluminação do local. Gonzales o descobriu escavando próximo de uma fonte de água salobra que corria dentro dos túneis de mineração administrados pela Corporação ZETA 800, que também era proprietária da Colônia Arizona, localizada no polo sul do planeta Marte. Era o ano de 2053 e naquele momento ela comandava tudo ali, até o ar que os mineradores respiravam dentro dos túneis. Utilizavam tecnologia de ponta nesse empreendimento, os túneis eram totalmente isolados do árido ambiente externo da superfície do planeta vermelho e passavam por um processo de resfriamento, além de receberem o oxigênio necessário à manutenção da vida humana. Todo o perímetro era monitorado por robôs sentinelas, que fiscalizavam o trabalho dos operários. Eram 155 pessoas trabalhando no interior do complexo de túneis. Os trabalhadores eram divididos em três turnos de 24 horas. Ou seja, cada grupo trabalhava um dia inteiro e folgava dois dias. O trabalho era desgastante, contudo, era bem renumerado. Afinal, a corporação obtinha lucros monstruosos com aquela mineradora. E os diamantes extraídos em Marte eram muito mais puros e tinham maiores dimensões do que os encontrados na Terra.
Discretamente, Gonzales chamou Manuelito para mostrar o que tinha descoberto. Ambos eram mexicanos e amigos de infância. Saíram de uma favela onde moravam para tentar a sorte em Marte. Estavam trabalhando ali haviam quase sete anos e sabiam que não podiam mais voltar para a Terra, de acordo com o contrato que assinaram. Ou teriam que trabalhar na jazida pelo resto da vida ou teriam que arranjar outro emprego na Colônia Arizona. Parte do dinheiro que recebiam era enviado para as suas famílias, na cidade do México. Depois de alguns anos de gordas transferências bancárias, as respectivas esposas e filhos se mudaram para um bairro nobre da capital mexicana, a fim de morarem em casas grandes e elegantes. O que eles não sabiam era se as suas companheiras ainda lhes eram fiéis ou não. Gonzales perguntou a Manuelito se conseguiriam esconder aquele diamante gigante dos robôs sentinelas e também dos robôs transportadores, que levavam as pedras preciosas até a superfície de Marte a fim de serem encaminhadas às naves. Manuelito riu, e afirmou ao velho amigo que isso era algo impossível de ser feito. Preocupado em achar uma solução, Gonzales pediu a Manuelito que chamasse Friederich, um colono alemão que era amigo de bebedeira de ambos e que deixou seu emprego de engenheiro civil na Terra a fim de ganhar um pouco mais do que o dobro do salário trabalhando na jazida de diamantes. Friederich chegou rapidamente ao local e espantou-se com o tamanho da pedra preciosa. Disse alguns palavrões em alemão e depois ficou paralisado com a cena que contemplava.
Gonzales então estalou os dedos no rosto do europeu a fim de acordá-lo daquele transe. “Eu queria ficar com esse, seria a minha aposentadoria desses túneis, o que devo fazer Friederich...” O alemão começou a andar de um lado para o outro, com a mão no queixo, tentando achar uma solução acerca desse problema. E, depois de alguns minutos de reflexão, Friederich disse: “Cubra-o de lama e ache uma maneira de tirá-lo daqui.” De fato, a lama prejudicava a vistoria dos robos sentinela e, dessa forma, várias pedras de pequeno porte já haviam sido roubadas da jazida. Então, na Colônia Arizona, os mineradores as vendiam para alguns colonos mais endinheirados e com pouco caráter. Gonzales pediu ajuda aos dois amigos a fim de que pudesse cobrir o gigantesco diamante antes do horário costumeiro de revista dos robôs sentinelas. O que foi prontamente feito. Depois disso, todos voltaram ao trabalho de extração mineral. Após cerca de dez minutos, surgiu no túnel onde Gonzales estava duas sentinelas fazendo as suas revistas digitais nos operários e observando a produção dos mesmos. Analisavam um por um os operários: biometria, imagem, odor do corpo, batimento cardíaco e etc. Gonzales aguardava a sua vez quando viu que a parte superior do gigantesco diamante havia surgido do meio da cobertura da lama. Tentou desesperadamente corrigir o erro, mas não conseguiu a tempo.
A sentinela RXZ11, aproximou-se, cheirou-o, fotografou-o, e quando ia tirar a sua biometria percebeu a enorme pedra preciosa atrás do colono.
Então com uma voz digital disse: “Operário Gonzales Sierra, por favor, afaste-se pois um dos robôs coletores recolherá essa pedra imediatamente.” “Não, ela é minha, sua máquina estúpida, eu a achei.” Disse o colono, desesperado, enquanto era observado pelos seus colegas de trabalho, que transpareciam semblantes de surpresa. “Operário Gonzales Sierra, o senhor está desrespeitando as normas da corporação e pode ser punido.” “Então me puna, não sairei daqui, afaste-se, ela é minha.” Nisso, o robô disparou uma arma tranquilizante no mexicano, o que o fez desmaiar instantanemente. Depois o colocou no seu compartimento de carga, que ficava localizado nas suas costas. Então um dos robôs coletores se aproximou da gigantesca pedra preciosa, limpou-a e a depositou na mesa de carga conectada ao seu corpo. Na sequência, levou-a a uma das naves que estavam pousadas próximas da jazida, para que pudesse ser transportada diretamente à Terra. Dias depois do ocorrido, Manuelito e Friederich souberam que Gonzales foi para uma das poucas detenções de Marte, a fim de cumprir uma pena de cinco anos por tentativa de roubo e desobediência às normas da corporação a qual era subordinado.