O Herói de Cassiopeia

Capitulo 1

No conglomerado de Cassiopeia, um dos inúmeros sois é circulado por quatro planetas. O primeiro planeta é inabitado por ser muito próximo do sol. Sua temperatura media aproxima-se de 85 graus centigrados. O ultimo também é inabitado pelo motivo inverso, extremamente distante do sol, sua temperatura media é de menos 72 graus centigrados. Os dois planetas de orbita média são habitados por humanóides bípedes. Provavelmente tiveram a mesma origem, pois são bastante semelhantes fisicamente. O segundo planeta (da órbita do sol) chama-se Tartarinmeckr, habitado por um povo belicoso, tem uma hierarquia militar rígida. Orgulham-se de suas habilidades marciais e vivem pelo prazer da guerra. O terceiro planeta, Ovar, é habitado por um povo extremamente sagaz. Grandes negociantes, vivem pelo lucro e por ele justificam quaisquer atitudes. A órbita dos dois planetas é muito parecida, e em posições opostas com relação ao sol, porem a cada quatro anos, sua órbita os leva bastante próximos e nessa época a lua alterna de um para outro planeta. Ou seja, a cada quatro anos a lua, riquíssima em minérios, orbita um dos planetas. Nesse período, o planeta tem pela proximidade a facilidade da extração mineral. Nem um nem outro planeta nunca levou em consideração a existência de uma civilização nessa lua. Um povo pouco desenvolvido e que aceita a extração mineral pelos dois planetas. Tanto os ovarianos como os tartarinmeckrianos usufruem da lua e procuram fazer alguns benefícios, que não custem muito, buscando com isso a aceitação e mão de obra barata dos lunáticos nas minas. Estes, de pouca inteligência aceitam prazerosamente esses auxílios. Pouco habituados ao trabalho, pouco realizam e pouco recebem.

Aqui começa a historia de nosso herói, um lunático chamado Graviol. Desde cedo acostumado a uma vida de dificuldades, satisfazendo-se com as migalhas ofertadas pelos planetários. Na adolescência começou a trabalhar nas minas e por infelicidade num desabamento onde milhares morreram, ele perdeu uma orelha. Conforme a cultura Lunática, um homem sem orelha jamais trabalhará como um homem completo. A partir dessa data, sua auto estima ficou extremamente baixa, tinha vergonha de estar entre seus amigos lunáticos mineiros. Foi uma época muito difícil quando a única alegria de Graviol era a bebida. Certa feita, um casal vizinho, precisando trabalhar pede a Graviol, em troca de alguma remuneração, que cuide dos seus filhos pequenos enquanto vão ao trabalho. Graviol aceita a função e passa a receber seu rendimento apenas ficando sentado, sem nada fazer durante o dia inteiro. As crianças felizes chafurdavam na lama enquanto Graviol as olhava. Esse período é de grande ebulição mental para nosso jovem herói. “Se posso receber sem nada fazer, se muito mais nada eu fizer, muito mais eu receberei. Basta escolher que muito nada irei fazer”.

Nessa noite, bebendo com seus amigos, escuta suas reclamações. Um diz que as bolachas que recebe como parte do pagamento estavam quebradas, isso é inadmissível. Outro reclama sempre receberam leite de Tartar (uma espécie de cabra) nas refeições e agora estão recebendo leite de Varcidus (uma espécie de cabra muito semelhante à tartar), embora o gosto seja exatamente igual, não foi isso que trataram. Vendo todas as queixas, Graviol exclama: - não sei se vocês sabem, mas depois que perdi minha orelha os planetários me tratam com muita deferência, e aceitam qualquer coisa que eu peça.

Todos ficam muito felizes: - Então Graviol, peça esses benefícios para nós. Converse com os planetários. Faça isso pelo seu povo.

- Claro que terei o maior prazer em ajudá-los. Afinal, nós lunáticos somos como uma grande família. Mas... Só tem um problema...

O desanimo toma conta de todos. – Eu sabia, era bom demais para ser verdade, diz um. – somos muito desafortunados mesmo, completa outro.

- Mas talvez possamos solucionar esse problema, - fala Graviol.

Todos se animam novamente. – Viva Graviol. Nosso Herói. - E o carregam nos ombros pela vila miserável.

- Vocês não querem saber qual é o problema? - pergunta Graviol.

Todos param e o cercam para ouvir. – Sim, digamos qual o problema.

- Como não poderei trabalhar para lutar pelos seus direitos, não receberei nada, então preciso que cada um de vocês tire parte do seu salário e o repasse para mim, assim, sem me preocupar com rendimentos, terei todo tempo disponível pela nossa luta. Cada um de vocês deverá deixar dez por cento de seus rendimentos para mim, a mesma quantia que vocês deixam para a Igreja, não acham justo? Relacionando todos da vila, duzentos trabalhadores, com dez por cento de cada um, terei uma remuneração justa.

E todos o aclamam. – Viva Graviol, nosso herói.

Passa o primeiro mês e quando os mineiros vem reclamar que nada mudou, exceto o dinheiro que foi debitado para Graviol, este explica. - Estamos no mês do cão que tosse, qualquer negociação feita nessa época será evidentemente prejudicial a vocês.

- Claro, disseram todos, sorte nossa que você esta aqui para pensar nessas coisas.

No mês seguinte, tudo continuava igual e quando novamente o interpelaram, Graviol disse: - então, você não sabem que estamos em lua minguante? Qualquer negocio nessa lua será minguante.

- Ufa, exclamaram todos, sorte nossa ter você como nosso representante.

No terceiro mês quando os mineiros lunáticos voltaram, Graviol explicou como quem explica a crianças. Daqui a dois meses teremos a mudança de orbita, não adianta um acerto com os ovarianos se logo quem estará aqui são os tartarinmeckrianos.

O tempo foi passando e ao final de dois anos recebendo dos mineiros sem nada fazer e com alguma pressão dos lunáticos, Graviol resolveu conversar com os planetários, os atuais, que são os tartarinmeckrianos. Em conversa com os gerentes das minas, Graviol, pergunta: - vocês não acham que as minas rendem pouco? Estive olhando e acho que podemos melhorar em pelo menos dez por cento a produtividade.

Isso interessou muito aos planetários e logo quiseram saber como aumentar o rendimento. - Antes, meus caros planetários, precisamos conversar sobre minha participação e obvio, meu pagamento. Com tudo acertado, Graviol marcou uma grande reunião com todos o mineiros. E com muito contentamento que informou que conseguiu com muita luta, discussões, argumentações, convencer os planetários a voltar a usar leite de Tartar, e cuidar para que as bolachas não sejam entregues quebradas, e para isso, só precisariam um pequeno aumento no horário de trabalho, apenas dez por cento, uma coisa ridícula diante do beneficio obtido.

Graviol foi carregado pela turba que gritava seu nome em jubilo.

Em pouco tempo, embora seus concidadãos estivessem trabalhando mais, Graviol estava com a vida arrumada, morando na melhor casa da vila lunar e ocasionalmente fazia viagens para Ovar e Tartarinmeckr. - Viajo para melhorar as condições dos trabalhadores, estou me matando por vocês, dando meu sangue. - E era ovacionado pelo populacho.

Capitulo 2

Como o tempo ocioso que lhe sobrava, Graviol pensava em como ganhar mais fazendo menos. Certamente estava no caminho certo, mas ele queria muito, muito mais. Foi quando lhe ocorreu a grande ideia. Assim que a ideia amadureceu, ele convocou uma nova reunião.

- Meu povo, estamos sendo extorquidos. Os planetários são uma elite e nos oprimem. Precisamos ter liberdade. “As minas são nossas”. Esse virou o bordão. A cada novo argumento de Graviol, a multidão delirava.

- Temos que forçar, encurralar os planetários.

- Mas como, - perguntou a multidão?

- Fazendo greve, mostrando como "nós" trabalhadores somos importantes.

Seguindo essa linha, depois de alguma discussão, os planetários foram expulsos. Os lunáticos passaram a controlar as minas. E a vender o produto aos planetários. O que acabou sendo ótimo para os planetários, pois com essa mudança pagavam muito menos pelos produtos do que quando o extraiam. Os lunáticos nomearam Graviol o Grande Libertador, Ditador e Imperador Vitalício. E uma nova era de progresso atingiu a lua daquele pequeno sistema planetário de Cassiopeia.

Graviol, agora morando no palácio imperial, aparecia ocasionalmente na varanda para ser saudado pelos lunáticos.

- Meu povo, agora atingimos nossa liberdade, claro que tudo tem seu preço, precisamos trabalhar muito para equilibrar nossas economias. – E o povo vibrava ouvindo suas verdades. Dos produtos vendidos a Ovar e Tartarinmeckr oitenta por cento ficava para a manutenção do palácio imperial, da família e dos amigos, gastos com viagem, pagamento da policia política recém criada porque começaram a ocorrer focos de reclamações, e vinte por cento eram usados para o pagamento dos mineiros.

- Não quero ser ingrato, mas agora que somos livres, não está parecendo que trabalhamos muito mais e recebemos muito menos? – Disse um mineiro na saída das minas, já quase de noite.

No dia seguinte.

- Onde esta aquele camarada que reclamou ontem? – pergunta um lunático.

- Não sei, parece que a policia política o visitou. Sumiu. Acho que foi promovido. – responde outro.

Nilo Paraná
Enviado por Nilo Paraná em 10/05/2015
Reeditado em 31/05/2015
Código do texto: T5236890
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