A invasão
A morte dos cientistas foi precedida por alguns minutos de glória. Finalmente descobriram um planeta habitado. Essa descoberta criou uma grande comoção entre os dirigentes. Isso levava a um repensar sobre a existência de outras vidas inteligentes e de não estarem sozinhos no universo. Bons cientistas foram executados pois o sigilo era da máxima importância.
A ausência de criatividade entre os militares facilitou a escolha de um nome para o planeta recém descoberto: planeta X.
O rígido regime militar franqueava poucas informações para a população. Reuniões sucediam reuniões. O alto comando estava em alvoroço. A grande questão era: "se os descobrimos, o inverso pode acontecer". Rapidamente passaram ao grande projeto. A invasão. Apenas a existência do planeta já justificava sua invasão. A grata surpresa foi quando perceberam uma fabulosa riqueza mineral, tão carente no planeta Urr. Seria a recompensa pela ação militar, a prova que a ação era válida. Muito tempo passaram com o planejamento. A palavra-código era APOIO. Com frequência o alto comando questionava seus subordinados: quanto tempo para o apoio ao planeta X? Perguntas sem respostas exatas e acompanhadas de suor profuso dos encarregados que eram extremamente pressionados para encurtar a data. Uma só nave estava sendo construída. Uma nave como nunca antes houve. Enorme. Gigantesca. Dividida em castas conforme acontecia no planeta. A prioridade em tecnologia e luxo era para o comando militar, ocupava quase três quartos da nave. Alojamentos de luxo, áreas de lazer e até uma pequena floresta foi criada. Os técnicos das mais diversas áreas eram a classe mais baixa, ficavam em cubículos junto à área de carga. Na zona intermediária, ocupando quase os três quartos restantes, estavam os soldados. Geneticamente modificados, dão apoio absoluto e incontestável ao sistema. Pouca massa encefálica contrastava com a enorme massa muscular. Já a centenas de anos os soldados gigantes são o sustentáculo do regime. Tem o dobro da altura de uma pessoa normal e o triplo da força. Apesar de seu aspecto pesado, são extremamente ágeis e a musculatura alterada de sua perna permite que pulem quase dez vezes sua altura. Seu único ponto fraco fica atrás da cabeça, um pequeno buraco na duríssima e ridiculamente pequena caixa craniana, motivo pelo qual jamais tiram seus capacetes. Um exército colossal foi preparado para o “apoio”. O comando acreditava em uma ação ultra rápida e o domínio total do planeta em apenas vinte e quatro horas. O desembarque e demonstrações das poderosíssimas armas da armada de Urr, causaria o efeito psicológico de intimidação, desmoralizando e desmotivando os nativos. O exército dos gigantes, vestido em seu uniforme negro, avançando como uma onda de destruição, seria uma visão apavorante, quase dava pena de seus oponentes.
A nave mãe era esférica e tinha o tamanho de uma pequena cidade. Teve que ser construída numa estação espacial pois gastaria uma quantidade exorbitante de combustível para elevá-la do solo. No alto, como uma lua prateada, ofuscava os olhos com o reflexo do sol. Desenhadas no casco brilhante, três colossais estrelas negras sobrepunham-se ao nome da astronave “Morte”. Seu ventre aberto recebia ininterruptamente naves com os ferozes gigantes, mal desembarcava um batalhão e voltavam à terra para novo contingente subir. Outras naves levavam carros blindados, armamentos e explosivos. Carregaria o suficiente para uma guerra, porém era esperado que utilizassem apenas um por cento do seu poder bélico.
No planeta Urr, hinos e desfiles precederam o inicio da viagem intergaláctica. Primeiramente a nave pareceu mover-se em câmara lenta até que tomou distancia da plataforma espacial e como por mágica, num segundo desapareceu no hiper espaço. Numa fração de tempo estavam na orbita do planeta X, entrando em sua atmosfera. A invasão se concretizaria.
No campinho de futebol, crianças jogavam bete ombro. Toninho acertou com o taco a bola que vinha em sua direção. Todos riram quando a bola de bete derrubou sua casinha. Ele havia batido em uma bola metálica que aparecera do nada e deixara desprotegida a casinha. Totalmente amassada a bola prateada jazia no gramado a poucos pés de distância. Todos o chamavam de volta para o jogo enquanto ele examinava a bola prateada, que depois de um fogo súbito envolvê-la tornara-se apenas um metal retorcido e enegrecido, onde mal podia-se ver três minúsculas estrelas negras desenhadas sobre um nome: Morte.
Toninho perdeu o interesse na massa disforme e correu de volta para o jogo.