O Ápice da Teoria
Mais um uísque não irá fazer diferença. Já tomei uns quatro ou cinco - isso se não errei as contas. Vejo o líquido subir até a borda de meu copo, se não fosse pela gravidade, não precisaria alcançar a bebida até meus lábios. Ela viria quase que automaticamente até a mim, flutuando até minha boca.
Uma mera pessoa acharia isso estranho, algo sem sentido, ainda mais se tratando de pessoas que insistem em acreditam em um Deus inexistente. Mas são umas tolas! Não entendem as leis da física, nem ao menos leram algum livro de Newton ou Galileu. Para elas, o mundo é somente um lugar de moradia, onde viverão suas vidas iludidas num senso comum; nascendo, crescendo, se reproduzindo e morrendo.
E pensar que fui comparado a essas inúteis criaturas, que nada contribuem para o descobrimento desse planeta. Fui ofendido! Comparado a um tolo qualquer. Mas os tolos são eles, que não entendem de nada. A minha teoria estava perfeita! Era o trabalho de minha vida, dei tudo por ela. Para no fim, ser rejeitada e descartada como um lixo. Não errei em nenhum cálculo sequer... Porém, os céticos apontam falhas em tudo. Criam erros que não existem, baseados em verdades não confirmadas.
Mas um dia, eles descobrirão a verdade. Verão que por trás da lei gravitacional, existem camadas atmosféricas que regulamentam a vida na terra. E é graças a esse campo magnético, que nos mantemos na superfície terrestre ao invés de sermos projetados para o espaço sideral.
Mesmo sendo capaz de perceber tudo isso, tendo uma carreira brilhante, acabei vindo parar nesse lugar. Um bar fedido, lotado de bêbados que não têm futuro algum e só lhe restam um copo de pinga. Alguns, até parecem felizes, enquanto escutam músicas alegres em seus radinhos de pilha. Mal sabem, ou nem mesmo imaginam, que as frequências e ondas sonoras recebidas pelo aparelho são devidas ao magnetismo contido na ionosfera. Será mesmo que meu lugar é ao lado deles?
Pensarei mais nisso, depois de mais um copo de uísque.
Como se esnobasse minha teoria, a música do rádio, na mesa ao lado, se transformou em um chiado agonizante. Aquilo me incomodou profundamente. Quase pedi para o homem desligar aquele som, mas em vez disso, levantei de minha cadeira e sai, a fim de tomar um ar.
Agora não era só o rádio que chiava, mas também as televisões da loja que ficavam em frente do bar. Suas imagens estavam distorcidas e trêmulas. Não entendia porque aquilo acontecia, fiquei estupefato com aquela cena. Todos zombavam de mim, até mesmo, os aparelhos eletrônicos.
Ao invés de conseguir o ar que buscava, minha respiração falhava, como se faltasse oxigênio na atmosfera. Olhei para o céu, e vi as nuvens se dissipando como se fossem sugadas por um buraco negro.
O avião, que passava em meio à Estratosfera, de repente despencou lá do alto. Dentro de minha mente, podia escutar o grito das pessoas que estavam a bordo, e em meus ouvidos, escutava a gritaria que acontecia aqui fora.
Raios! Sim... este era o último elemento que faltava, a incidência de descargas elétricas causadas pelos ventos solares. Acertavam as pessoas e as transformavam em churrasquinho, e provocando incêndios em todos os pontos da cidade. Tudo estava em chamas. E eu ali, observando.
Tudo aquilo que estava acontecendo, faz parte de minhas teorias. O mundo ficaria dessa forma na falta das linhas magnéticas que saem do norte e vão para o sul. Eu estava certo! Sempre soube disso! Não acreditavam, agora todos morrerão sabendo que eu falava a verdade!
Um clarão surge em meus olhos. Não enxergava mais nada, havia ficado completamente cego. Aquela era minha morte, eu sabia que ela havia chegado. Morreria sem ser reconhecido, como um nada que viveu para nada.
De repente, a luz se afasta de meus olhos. Vejo um homem de vestes brancas. Aquele seria o Deus que todo esse tempo não acreditei? Estaria vindo arrastar minha alma para um outro mundo?
Os lábios do homem se mexeram, e disseram: "Você precisa pagar a conta, senhor".