COMO É O BRASIL EM UM UNIVERSO PARALELO (Pt. III)

Para todo lado que Pascoal olhava dentro de seu escritório ele via o semblante humanoide concentrado de um ser transcendental muito bem informado sobre os assuntos que eram naturais do país que Pascoal vivia. O professor havia perguntado para o visitante interdimensional sobre manipulação social, como era feito isso em seu mundo.

– Eles usam várias táticas, professor Pascoal. Há a tática da distração, por exemplo. Ela consiste em dar à população o que fazer para preencher seu tempo. Ocupam a mente das pessoas enquanto eles, os regentes da sociedade, desfrutam da boa vida que têm sem serem incomodados, às vezes consumindo coisas ilegais que rendem problemas para a maioria, ou a articular planos de contenção de desvios de comportamento ou que têm a intenção de preparar populações para novas e necessárias realidades. Por lá, às vezes acontecem motins e eles precisam contê-los, pois ameaçam o estabelecimento, e às vezes acontecem fenômenos de esgotamento de gestão econômica ou social de outra natureza e precisam distrair a atenção da população para conseguirem por em prática um plano que atenta esta jamais concederia a execução. Entende? Aumentos abusivos em tarifas públicas, desvio de verbas destinadas a programas essenciais para outros desimportantes, demissões em massa de funcionários com estabilidade, emendas na Constituição Confederal que favorecem os imperialistas, muitas vezes dando permissão para exploração da sociedade com métodos e produtos que prejudicam o indivíduo ou o planeta. Como o uso de agrotóxicos ou de sementes transgênicas na agricultura, é provado que a substância química e a modificação genética de plantas são cancerígenas e fazem mal inclusive para o meio ambiente. Ou como a fluoretação da água.

– E como eles partem para essa distração da sociedade por lá?

– Desde que apareceu a televisão ela é o principal meio. As pessoas foram engenhadas a assistirem os programas de tevê. E o mais comum é apresentar para elas só o que é inútil ou o que corrompe a mente de alguma forma. São programas humorísticos que as fazem desenvolver um senso crítico tal qual o que eles esperam, sem criticar coisas importantes ou debochando daquilo que o sistema quer se ver livre, como se fosse o fato debochado realmente digno de sê-lo justamente por quem debocha. Tiro no pé, sabe, eles moldam a sociedade a dar tiro no próprio pé por meio desses programas.

Tem também os filmes, seriados, telenovelas que apresentam histórias fictícias e prendem a atenção por acompanhá-las. As temáticas introduzidas em cada meio desses forma o pensamento de quem se expõe a elas. Ora assimilando que existe verdadeiramente a tal situação exposta e moldando a sua opinião quanto ao o que fazer se tiver que vivê-la às alternativas de comportamento despejadas no enredo e dentre os argumentos falados por protagonistas e coadjuvantes da encenação.

O romantismo que abordam às vezes transforma a audiência em seres emotivos, masoquistas, reverentes, melancólicos, iludidos com o que é o amor, completamente equivocados sentimentais. Frágeis. Sensíveis e esperançosos de viver o amor propagandizado, que não é deveras possível de se viver fora da tela. Às vezes entram com questões como a da sexualidade e recrutam pessoas para aderirem certa orientação sexual ou a ser tolerante com o portador dela. Parecem bonzinhos, a quererem diminuir diferenças, mas implicitamente eles agem levianamente, cuidando da transformação de uma sociedade ou da limpeza do caminho para que eles operem. Às vezes aproveitam dos que eles transformam como um avatar para sublimar indivíduos de setores da sociedade, às vezes para condensar indivíduos e às vezes para ampliar consumidores e alavancar mercados. O mercado consumidor de produtos pra homossexuais por exemplo. É pura engenharia social que desrespeita os próprios representantes naturais do grupo exposto: negros, religiosos, homossexuais.

Acontece a alienação da mente. Principalmente quando há o conteúdo fantástico, como os da ficção científica, que criam no imaginário do telespectador a ideia de haver seres de outros planetas a invadir Rater ou raterianos que sofreram mutações genéticas e ganharam poderes, a mente do indivíduo fica perturbada, aprendendo a conviver, sem oferecer resistência, como se o ilusório fosse real, e a desenvolver reações diversas que expressam na realidade a influência que sofrera pela exposição ao tema, por vezes tentando voar ou eliminar possíveis invasores. Ou como os que exploram o sobrenatural. Bruxas, gênios, feiticeiras ou pessoas com poderes paranormais povoam boa parte do teleteatro em Rater. E a propaganda diz que qualquer rateriano consegue realizar mágica. E quem vê fica tentando realizar. Se distrai com isso em vez de se atentar ao que é próprio da realidade, vital às vezes, e que precisa de grande atenção.

As comédias, de costumes ou não, os desenhos animados destinados ao público infantil, espalham o non sense. Muitos acham que dar uma martelada na cabeça do outro não causa problemas ou que se uma bigorna cair em cima de si, acontecerá apenas arranhões e que se advir a morte é despreocupante, pois se pensa que somos imortais, indestrutíveis ou que temos outras vidas para gastar.

Os programas de auditório criam a esperança no telespectador de que ele pode virar uma celebridade, de que ele ganha prêmios, consegue voltar para a sua terra, consegue resolver um problema de paternidade. Há muito sadismo, muito usufruto do participante de um programa desses como objeto de chacota. Dá audiência isso. O telejornalismo não foge das atividades que exercem os shows que entretêm com variedades sarcáticas. Até mesmo os reality show de toda sorte têm o mesmo índice baixo de realismo que possuem as notícias dadas nos telejornais.

E o rádio tem lá seus programas entretecedores que corrompem a mente de suas audiências. Os jornais têm seus cadernos. As revistas e os quadrinhos se vendem mais por oferecerem entretenimento do que informação. O que é aqui a internet tem os seus sites e suas redes sociais, que espalham coisas bobas, spans, hoaks, que são os embustes ou as notícias falsas para serem espalhadas e criar crença em uma imaginação ou distorcer uma verdade. Têm os memes, que fazem do idiotismo uma ideologia aceitável e querida. A internet de lá tem se mostrado o melhor local para se ser distraído e desinformado. Tem atrapalhado consideravelmente a audiência do rádio e da tevê. Essa é a parte boa. Mas até o mais experiente usuário pode cair em ciladas e se vir em perigo por conta do que propaga ou acessa.

Tem o esporte, que faz esse trabalho de distração. Deveria entreter como opção de competição entre grupos ou indivíduos. Como coisa séria e que vale a pena gastar a atenção para saber quem é realmente o melhor em uma disputa ou se ficamos satisfeitos por escolher uma facção e torcer por ela. Mas só corresponde ao quesito distração. Teatralizam quando precisam e tornam a competição algo artificial, cujos resultados seguem algum propósito que explora a opinião pública. Veja, se colocar-se o Flamengo, equipe de futebol deste seu país, como o campeão brasileiro de um dos campeonatos nacionais deste ano e isso favorecer o voto em algum candidato, a aceitação de uma ideia proposta por políticos, um golpe militar, a compra de um produto ou simplesmente distraia a população do Rio de Janeiro quanto a um aumento abusivo da passagem de ônibus ou da tarifa pelo fornecimento de energia elétrica, eles o põem campeão sem nenhum medo de sensos críticos. Eles derrubaram, em anos de doutrinação, psicologicamente a capacidade de se perceber a manipulação e de se desenvolver o real senso crítico do brasileiro. Não é assim?

O professor Pascoal ouviu de Coalpas outros tipos de distração que imperam em Rater. Ele mencionou os eventos comemorativos, os shows musicais e espetáculos culturais, as casas de recreação, a instituição da moda, as igrejas, os clubes, e percebeu que a técnica da distração do público por meio midiático ou por reunião em grupos em Rater não difere da utilizada na Terra.

E acrescentou ele para seu hóspede que o homem só precisa de alimento, água, ar de boa qualidade, talvez uma moradia, e companhia para sexo e momentos afetivos. Recreação pode ser que ele precise, ao longo do tempo pode se dizer que ele foi condicionado a ter um tipo de lazer para suportar a vida, ainda mais tendo que trabalhar formalmente, coisa que inicialmente ele não precisava fazer mais do que o essencial de caçar para comer, talvez agrar ou tratar de animais, mas que o tipo de lazer que ele precisa não se limita a ser os tipos que a sociedade industrializada oferece como opções insubstituíveis. Opções que na verdade apenas o distrai e o faz consumir. Não o diverte plenamente. Quantos torcedores saem do estádio enraivecidos ou quantos dos que assistem telenovelas não se irritam com o vilão? Se adoece, até, com essas relações. É outra coisa que buscam com isso: emocionar o público com as emoções que querem provocar e explorá-las devidamente. Causar adoecimentos, perturbação da paz da ordem, aumento da violência, tudo isso é vantajoso para os administradores do sistema.

Logo, o rateriano falaria de outras formas de manipulação social praticada pela elite controladora de seu mundo. A próxima seria: Arrumar um problema para a nação, arrancar do público uma reação emocionalmente forte, como a de rancor ou a de medo, e oferecer a ele a solução e esperar que ele a adira. isso lembrou para o professor a fórmula: Contaminação por um vírus diabólico, pânico da população, autorização para o governo gastar com vacina o que gastaria com reais necessidades do setor de saúde e com isso enriquecer ainda mais fundações como a Rockfeller e os laboratórios farmcêuticos.

Acompanhe a próxima parte deste conto!