O homem da Somália
Mogadíscio, Somália. Era o dia 22 de fevereiro de 2037 e os drones e satélites americanos vasculhavam o céu da cidade, bem como de todo resto do mundo. Eram muito mais poderosos do que aqueles primeiros que apareceram no começo do século. Tinham lentes poderosíssimas e o incrível sistema de leitura inteligente. Analisavam temperatura, reflexos, correntes de vento e praticamente o interior das construções. Analisava expressões das pessoas, seus movimentos e, depois de rápida interpretação, era capaz de “adivinhar” seus próximos passos.
Nada disso, porém, foi suficiente para definir o que tinha sido aquele clarão nos arredores da cidade. Não era vermelho, nem azul ou verde. Era uma claridade que nem sequer cabia dentro do diagrama do software que analisava tipos de luz e suas características. Mais estranho ainda, era contido a uma área de no máximo três metros. Logo depois, apareceu deitado no chão o corpo de um homem. Vestido com uma espécie de macacão prata até o pescoço. O sistema tentou, em vão, definir a identidade do cidadão. Na verdade, nem suas características étnicas puderam ser identificadas. O sistema imediatamente alertou a Inteligência Americana. Esta, enviou prontamente uma equipe com base na Europa, junto com três técnicos do DARPA, para o local.
Um dos drones ainda conseguiu captar o momento em que uns garotos se aproximaram do corpo e lhe arrancaram das mãos uma espécie de tabuleta de acrílico, entrando depois numa das casas próximos. Desta vez, conseguiram a identidade de dois deles, cujos pais estavam no seu gigantesco banco de dados. Alguns minutos depois uma viatura policial aproximou-se. Depois de examinar rapidamente o corpo, colocaram-no no banco de trás e partiram. No posto policial, o homem já tinha se recuperado. O chefe de polícia, que sabia falar inglês muito bem, tentou falar com ele nessa língua. E deu certo, em parte. No entanto, embora a língua fosse decididamente Inglês, o sotaque era muito estranho e boa parte das palavras que ele falava eram completamente desconhecidas. Estava óbvio que aquele ser estava confuso. Estava claro também que algo de muito errado havia ocorrido. Repetia muito uma palavra que soava como “meinstag” ou “mystag” ou qualquer coisa assim. Foi então que um dos policiais disse ter visto uns garotos correrem com uma espécie de retângulo de vidro na mão. O chefe de polícia, furioso, mandou que eles voltassem lá e recuperassem aquilo, seja lá o que fosse, imediatamente. Ele sabia que os Americanos já deveriam estar chegando. Não demoraria mais de meia hora. Pelo acordo entre os dois países, eles teriam acesso a tudo e a todos imediatamente.
O “viajante”, por assim dizer, foi colocado numa cela. Obviamente não conseguiriam saber nada através dele.
Nesse ínterim, os policiais interrogavam os garotos, mas foi um senhor que viu tudo que explicou o ocorrido. Disse que o objeto era uma espécie de prancheta transparente, de um material parecido com acrílico. No entanto, era maleável como borracha e, às vezes, dependendo da maneira como você o tocasse, ficava absolutamente rígido. Dentro dele havia caracteres que mudavam a uma velocidade fantástica e em várias cores. Emitia, às vezes, um som baixo, que não era comparável a nada conhecido. Só com a aproximação dos dedos, começava a funcionar e, às vezes, o fazia sem ninguém estar muito próximo. Onde estava? O pai de um dos meninos, o havia “confiscado”. Certamente estava pensando em vendê-lo. Sempre há gente que compra essas coisas, ele comentou.
Na estação policial, o chefe estava examinando o estranho homem na cela. Ele estava parado agora, como se estivesse em meditação. Tocou seu “macacão” e percebeu que ele era de um material desconhecido. Também percebeu que ele era grudado na pele em algumas partes do corpo, como se fosse um só elemento. O homem tinha aspecto típico de alguém da Escandinávia ou algo assim. Deixou-o por uns instantes. Precisava relatar o incidente oficialmente. Não estava certo do que escreveria, entretanto. Foi então que um de seus subordinados lhe avisou que a equipe americana estava chegando. Tinham descido do avião e estavam a quinze minutos do local. Assim que o veículo estacionou na frente do prédio, ele saiu para receber os “visitantes”. Foi nesse momento que ele percebeu que um barulho surdo e um clarão vieram da cela. Não teve tempo de voltar. Os americanos já estavam avançando para o interior do prédio.
Algo inesperado havia acontecido. A cela estava trancada, mas o “prisioneiro” não estava lá. Tinha desaparecido completamente. A equipe ordenou a imediata evacuação do prédio, sob protestos do chefe de polícia.
A essa altura um drone que havia sido especialmente desviado para o “caso” acabava de detectar o mesmo tipo de explosão a alguns quilômetros dali. Exatamente na casa do homem que havia surrupiado aquela espécie de “tablet”. Parte da equipe partiu para lá. Mesma situação. O estranho objeto havia sumido. Neste caso, porém, sumiram também o pai e seus dois filhos. Estavam tentando “entender” o estranho objeto. Nenhum sinal deles. A mãe, que estava fora, estava assustada e chorando. Descreveu a mesma cena que havia ocorrido na estação de polícia e no local onde o homem havia aparecido inicialmente. A casa foi isolada e a mulher removida para a casa de um parente.
Foi recolhido material dos três locais. O resultado foi o mesmo, Traços de titânio, e de um tipo desconhecido de cristal de diamante, E mais um elemento, também desconhecido, certamente não terrestre.
Quem quer que tenha mandado o “viajante”, tinha resgatado o mesmo, após algo ter dado errado no processo. Para o DARPA estava claro. Só havia duas hipóteses. Ou alguém tinha viajado do futuro, ou de algum planeta distante, através de algum modo desconhecido por humanos. Não daria para saber, apesar do imenso avanço da Ciência nos últimos 50 anos. No último caso, era difícil entender o porquê da forma humana do visitante
Alguém da equipe comentou com o coordenador que, quem quer que fosse, tinha cometido uma falha, apesar de tanto avanço tecnológico.
O doutor Stevenson, um homem muito inteligente, colocou uma dúvida, porém. Eles levaram três seres humanos com eles. Talvez não tenha sido um acidente. Talvez tenha sido “missão cumprida”, através de uma espécie de armadilha. “Algum cientista do futuro, ou de outro planeta, pode estar agora com três “espécimes” humanos. Três somalis talvez estejam agora em uma sala de observação do século 31 ou em alguma galáxia distante”, ele comentou.
Apesar do absurdo da situação, tudo fazia sentido...
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