O ano de Mona
Monalisa riscou o dia que acabara na folhinha do calendário. Empilhou os papéis à sua esquerda na mesa, descansou sua caneta negra e reluzente num copo de metal que soou como um sino. Olhou com certo desprezo um pacote de presente pardo num aparador colado a parede. "Eliza deve ter me mandado mais um daqueles bolos cafonas" este foi o seu único pensamento infeliz do dia inteiro, mesmo exausta trabalhara com um grande sorriso no rosto, que ela exibia apenas em ocasiões especiais, como quando exibia aos amigos a sua neta que tocava violino perfeitamente "aprendeu aos 7 anos de idade" sempre acrescentava aos elogios recebidos pela neta no lugar de um normal "obrigada".
Fogos podiam ser ouvidos trás de si pelas janelas, isto fez que em algum lugar da memória Mona buscasse um ano novo que não houvesse trabalhado, e lembrara dos dias quando era mais jovem e casada. Todos os seus familiares, amigos e colegas de trabalho apenas lhe convidavam por educação, hábito, mas sabiam que Mona nunca aceitaria realmente um convite para uma festa nesta data.
A mulher retirou da gaveta inferior da sua mesa uma pequena caixa prateada, sem perceber, ela alisou a sua superfície em seu colo, depois de poucos segundos, sendo que não havia mais nada para decidir, abriu a caixa revelando um painel numérico. 8554156 foram os números digitados pelos seus dedos compridos.
Mona acordou num pequeno chalé numa praia. Não sabia como havia chegado ali, mas sabia que isto fazia parte do pacote. O presente que havia comprado e que dera a si própria fora uma vida no passado. Não o seu Passado onde fizera apenas as escolhas convencionais e padrões. Mona nunca havia aproveitado as suas viagens antes, nem quando fora a Saturno ela se entusiasmou de verdade, apenas foi para satisfazer a vontade da filha. Mas vivera com um desejo secreto, e que agora realizara, queria conhecer um homem que trabalhará tanto quanto ela julgava ter trabalhando também em vida, já havia lido todos os livros possíveis, que não eram muitos, a humanidade nunca prestou atenção em tal figura, ele sempre foi despercebido, seus rascunhos ignorados e nenhuma grande obra assinada. Mas Mona sempre sonhara e acreditara nele, ela tinha apenas um ano para encontrá-lo e absorve-lo em si, conhece-lo e também lhe despertar. Ele era Michelangelo. E ela atravessara 3000 anos de volta em sua busca.