Vá atrás das minhas fezes
VÁ ATRÁS DAS MINHAS FEZES
Miguel Carqueija
E aqui estamos nós há várias semanas, nesta miniatura do inferno.
Às vezes eu penso que deveria haver um meio de limitar a autoridade de um homem que possui poder demais. Como esse general que nos mandou aqui para baixo, nesta escuridão repleta de imundície, só para preparar o seu anel de casamento. Um anel que ele engoliu porque deixou cair na macarronada, e que depois expeliu pelas vias normais, sendo levado pela rede de esgoto até o grande Interceptor Oceânico. E aí ele selecionou a nossa equipe, colocou a mim no comando (oh, que imensa honra!) e nos mandou reduzir juntamente com o submarino. E lá fomos nós, como naquelas viagens fantásticas e insólitas do cinema, só que não dentro do corpo humano mas pela rede de esgotos e, depois, no fundo lodacento da mais fétida plataforma continental do mundo. Mas é pior do que procurar agulha no palheiro. O maldito anel tinha umas características que o distinguiam de todos os outros do universo. O general não aceitará substituições; se aceitasse, compraria um em ourives. Tem que ser aquele, e nós não podemos voltar sem ele. O f.d.p. nos condenou à morte, portanto. Se retornarmos sem o anel ele não nos restituirá os nossos tamanhos e talvez até nos dê uma chinelada. E vamos ficando por aqui, esmiuçando as fezes de milhões de seres humanos e animais, na esperança de um milagre impossível. O anel já pode estar até no estômago de um peixe, a mil quilômetros daqui, e nem quero pensar nisso.
E o ambiente aqui já está completamente deteriorado. Estão todos revoltados, e eu tenho medo que, por estar o verdadeiro culpado fora do alcance, eles me peguem para bode expiatório e me joguem nas “trevas exteriores”. Mesmo que isso não aconteça, nossa morte é quase inevitável. A estrutura do submarino, submetida a enorme pressão, já denota sinais de desgaste e as infiltrações já começaram a ocorrer, infiltrações daquilo mesmo. Que maneira vil de terminar! Isso é que é ser mandado à merda!
VÁ ATRÁS DAS MINHAS FEZES
Miguel Carqueija
E aqui estamos nós há várias semanas, nesta miniatura do inferno.
Às vezes eu penso que deveria haver um meio de limitar a autoridade de um homem que possui poder demais. Como esse general que nos mandou aqui para baixo, nesta escuridão repleta de imundície, só para preparar o seu anel de casamento. Um anel que ele engoliu porque deixou cair na macarronada, e que depois expeliu pelas vias normais, sendo levado pela rede de esgoto até o grande Interceptor Oceânico. E aí ele selecionou a nossa equipe, colocou a mim no comando (oh, que imensa honra!) e nos mandou reduzir juntamente com o submarino. E lá fomos nós, como naquelas viagens fantásticas e insólitas do cinema, só que não dentro do corpo humano mas pela rede de esgotos e, depois, no fundo lodacento da mais fétida plataforma continental do mundo. Mas é pior do que procurar agulha no palheiro. O maldito anel tinha umas características que o distinguiam de todos os outros do universo. O general não aceitará substituições; se aceitasse, compraria um em ourives. Tem que ser aquele, e nós não podemos voltar sem ele. O f.d.p. nos condenou à morte, portanto. Se retornarmos sem o anel ele não nos restituirá os nossos tamanhos e talvez até nos dê uma chinelada. E vamos ficando por aqui, esmiuçando as fezes de milhões de seres humanos e animais, na esperança de um milagre impossível. O anel já pode estar até no estômago de um peixe, a mil quilômetros daqui, e nem quero pensar nisso.
E o ambiente aqui já está completamente deteriorado. Estão todos revoltados, e eu tenho medo que, por estar o verdadeiro culpado fora do alcance, eles me peguem para bode expiatório e me joguem nas “trevas exteriores”. Mesmo que isso não aconteça, nossa morte é quase inevitável. A estrutura do submarino, submetida a enorme pressão, já denota sinais de desgaste e as infiltrações já começaram a ocorrer, infiltrações daquilo mesmo. Que maneira vil de terminar! Isso é que é ser mandado à merda!