MAD MAX 2

Paulo Sergio Larios

1 – O Profeta no caminho do deserto

O Jipão ficou sem combustível e Max o abandonou dentro de uma caverna, com a ideia de buscá-lo, assim que pudesse. Na verdade o mundo agora era um deserto, com raras exceções. Já faziam dois meses que ele não encontrava nenhuma pessoa viva, por onde quer que passasse, o que dava-lhe a impressão de que estava só no mundo. O cataclismo que se abatera sobre a Terra antes dele nascer fez aparecer multidões de ruinas e escombros, que o tempo estava fazendo o favor de cobrir de pó, como que apagando a menção daquela civilização que criou tantas guerras e bombas. A civilização mais avançada na tecnologia, foi a mais destruidora também.

O mundo se refazia dos desastres, o ciclo da vida corria e Max viu alguns cavalos bravios, uma raposa e aves, além de coelhos, todos saudáveis e sem mutação genética. Claramente os dias iam ficando bons e o céu ia se desanuviando, perdendo a cor de cobre e adquirindo uma cor azulada, que ele mesmo nunca tinha visto. Max encontrou um rio límpido, em algum lugar e ali ficou durante alguns dias. Mas ele procurava alguém e jurara que o encontraria, de qualquer jeito. A única motivação que Max tinha no coração era o de vingança, pelo homem que matara sua esposa e seu filho. Só havia um lugar onde ele poderia ter ido se esconder e Max decidiu seguir essa auto-estrada que levava à Zona Proibida. Praticamente ninguém voltava da Zona Proibida e por isso muitas fantasias corriam como sendo a verdade, sobre aquele lugar.

A alguns meses atrás ele encontrara com um grupo que lhe comentou, depois de tentar roubá-lo, pois tudo era escasso agora, que existia um profeta no deserto vermelho e que talvez ele o ajudasse, de alguma forma.

Max não pensava, ou procurava não pensar, não lembrar de Madeleine e de Wil, mas invariavelmente sonhava com eles... e com a forma que eles morreram. Seus pés, durante muitos dias simplesmente se moviam, um na frente do outro e assim seguiam o dia inteiro e por vezes a noite inteira. Ele nem sabia se estava indo na direção certa, ou se afastando dela, mas como não havia mais nenhuma outra alternativa, quando não existe nenhuma, o melhor a fazer é seguir o que se tem à mão.

A água tinha se acabado a mais de doze horas e a comida sintética duraria só mais um ou dois dias, isso racionando ao máximo, quando ele ouviu um barulho vindo de algum lugar à sua frente, além dos morros e escombros e da areia, que invadia todo canto. Com a boca ressecada, exausto e com fome e sede, Max viu de cima de um morro, um homem martelando algum tipo de metal, que depois notou ser uma espada. O homem usava uma roupa que lhe chegava até os pés e o capuz não deixava ver o seu rosto. Ele estava debaixo de uma cabana improvisada, onde alguns móveis velhos e alguns tonéis misturavam-se à pobreza brega reinante de todo o local. A noite chegava e Max ousou se mostrar agora, pois talvez se ele aparecesse mais tarde, no escuro, levasse um tiro. Pensando nisso pegou o seu rifle de longo alcance e engatilhou, enquanto gritava, se apresentando ao homem.

Olá, você é o que chamam de Profeta? - disse com a arma apontada para o peito do homem. Mesmo com a lente de longo alcance ele ainda assim, não conseguia ver o rosto do homem.

O que você deseja com o Profeta? - Pela lente Max notou que o homem pegara uma arma que estava bem próximo a ele, em cima da mesa.

Eu preciso da sua ajuda, para encontrar alguém.

Um silêncio longo seguiu-se, até que o homem acenou para que ele descesse. Naquela noite Max dormiu na casa do Profeta, cuja entrada se fazia por muitos escombros das bombas. De manhã Max tinha um rumo a seguir, havia agora uma direção, uma meta, Max deveria seguir para a cidade de Eleannor, onde teria noticias de quem perseguia. De Eleannor ele deveria seguir para outro lugar, não ficaria lá, mas uma vez em Eleannor, ele correria risco de morte durante quase todos os dias e quase todas as noites. Max estava cego de ódio, com o coração cheio de vingança, mas as profecias que ouvira naquela noite, iam muito além de somente perseguir a quem procurava, outros percalços e situações ele encontraria. Mas ele não estava prestando atenção e logo cedo, despediu-se do homem, que lhe dera mais água e alimentos.

2 – Negros

Mad Max, o louco Max, como ficou conhecido a muitos anos, quando entrou na Zona Proibida, com o sangue nos olhos, como diziam, ou seja: louco de ira contra os que mataram sua família e destruiram a sua vida; e que agora eram a sua única razão de viver. Max só tinha um sentimento no peito: vingança.

O Profeta lhe dissera que Eleannor estava além das montanhas, seguindo rumo Norte. A paisagem mudava conforme ele andava. Grandes canions apareciam à frente e mostravam a beleza de um mundo que teimava em ser restaurado. Do alto de uma montanha, comendo frutas que o Profeta lhe dera, ao lado de uma fogueira, absolutamente só, num mundo vazio, ele vira o mais lindo pôr-do-Sol, que a Terra não tinha em muitas décadas. Max dormiu ali aquela noite, mas ainda de madrugada ele seguiu seu caminho. Seus pés precisavam encontrar o homem que tinha os olhos, cada um de uma cor. Três dias depois Max estava andando numa floresta nova, com árvores espassadas, quando ouviu próximo uma voz de mulher. Ela cantava uma musica antiga de uma banda que não existia mais. Max conhecia bem aquela musica, pois Madeleine a cantava sempre: Reasons de Earth Wind e Fire. Ele seguiu a musica e mais à frente, viu do alto, uma moça, de aparência muito humilde, passando numa antiga e destruida estrada. Ele lembrou-se de uma noite de verão na Australia, onde Madeleine cantou essa mesma musica para Will, enquanto ele ainda era um bebezinho. Ele deixou a moça ir embora, sem incomodá-la.

Durante mais um dia ele andou em direção ao Norte, sem saber o que esperar do lugar aonde ia, lembrando-se apenas das palavras do Profeta. Ele estava num local, agora, com a paisagem cheia de pedras enormes. Max não ouviu, mas quando se virou, um “Negro”, estava calmamente olhando pra ele. Durante um instante ele parou de respirar. Os Negros eram enormes cachorros que apareceram como mutação genética devido às enormes dosagens de radiação. Com um olhar feroz, e dentes afiados, os Negros eram assassinos que matavam qualquer coisa que se mexesse. Geralmente eles andavam em bandos. A mão de Max tentou lentamente descer até o coldre, mas ele notou como os olhos do cachorro estavam atentos. De repente o cachorro foi tomando posição de pulo, ao mesmo tempo começou a rosnar temerosamente. Max foi mais rápido e conseguiu matar esse Negro, mas apareceu outro e mais outro e ele notou que mais quatro outros Negros pulavam em cima de si. Os dentes dos Negros rasgavam a pele de Max que pulou, rolou e tentou se desvencilhar dos cães, ao mesmo tempo em que atirava sem parar. Durante quinze minutos Max resistiu e conseguiu matar três animais. Desfalecendo, com a arma longe de si, um ultimo cão parou, por um instante para avaliar a situação. Muito ferido ele levantou o braço, para se proteger do Negro que pulava sobre si. O som de um tiro, porém, jogou o cachorro para longe. Desmaiando, a ultima coisa que viu foi uma menina, de uns onze anos, sobre uma pedra, com uma arma nas mãos.

3

Max foi acordando lentamente. Aos poucos foi identificando onde estava. Era uma casebre bastante pobre. Alguém conversava no outro comodo. Parecia ser uma mulher e uma menina. Ele tentou levantar, mas acabou derrubando algo ao lado da cama, que fazendo barulho trouxe as duas para o quarto. Ele reconheceu que era a moça que viu naquela rua e a menina que o salvou do Negro.

Oi. Tudo bem! Eu sou Estela e essa é a minha filha Gabrieli.

A quanto tempo estou aqui?

A quatro dias. - Max ficou bastante surpreso.

Gabrieli pegue uma sopa para o nosso amigo...

Me chame apenas de Max.

Sabendo que Max ia à cidade de Eleannor, a procura de alguém, Estela confessou que precisava ir também, para comprar mantimentos para elas e resolveram irem juntos, assim que ele ficasse um pouco melhor. Era perigoso andarem sozinhas durantes tantos dias, mas sua despensa estava fazia e ela precisava ir a Eleannor.

Com elas a viagem foi mais rápida, pois elas conheciam os atalhos e todas as estradas. Foi bom para Max, depois de tantos anos, sem o carinho de ninguém, ter pessoas perto de si. As duas eram faladoras, mas se abriram com ele. Gabrieli contou chorando a ausência que o pai lhe fazia. Estela lembrou-se do marido e de como o conhecera numa aldeia.

Estela falou muito com Max de como era a cidade e o jogo politico que ocorria lá. Não existindo democracia, os homens se autodenominavam reis. Esta era a terceira geração de reinados, onde constantemente alguém estava sempre tentando tramar contra o outro.

4- Na sala do Profeta

Meu nome é Max. - O Profeta estendeu a sua mão e deu para Max suco de laranja. Fazia tempo que ele não provava nada natural. Estava gostoso. Uma luz que teimava em ficar piscando brilhava perto deles.

Quem é você, que chamam de Profeta? - perguntou curioso.

Antes do cataclismo que engolfou o mundo todo, eu era um simples motorista de caminhão, mas aqui virei um soldado e com o tempo achei um grupo de profetas que me ensinaram a arte e fiquei sendo um deles, o menor deles.

Eles estavam debaixo do chão, no que restara de um prédio caído. Max notou que era uma sala ampla, podia ser o saguão de um hotel. Um computador velho funcionava numa mesa. Havia um rádio preto, com uma antena enorme e algumas armas e munições.

Eu vim aqui para que você me pudesse falar sobre alguém. Me disseram que você é bom.

Eu sei quem você procura, mas não sei o nome dele. Assim que você apareceu no morro, eu tenho visto coisas a seu respeito. Você perdeu sua família e depois disso um rastro de sangue o persegue. Você procura a vingança a qualquer custo. Eu vi nas suas mãos uma arma da policia. Você é policial?

Sou um dos poucos que sobraram na minha comunidade. As pessoas tem medo de ser policia, pois são muitos os saques e grupos que surgem diariamente.

Max, você está num lugar que regrediu no tempo e tenta se adaptar ao caos. A sua jornada será muito longa e vai demorar demais até você encontrar com quem procura. Eu quero te dizer que não foi você que me encontrou, mas eu sabia que você passaria por aqui e vim ao seu encontro. De alguma maneira você vai nos ajudar muito ainda. O seu futuro está ligado com o futuro de toda a humanidade. Você precisa ir para uma cidade chamada Eleannor. Ali você vai encontrar a pista de quem procura. Mas a noite ainda vai vir, antes que o dia apareça. Eu vou dizer algo surpreendente para você, que vai faze-lo duvidar de mim: você ainda vai se apaixonar perdidamente por alguém.

Na mesma hora Max fez uma careta, como não acreditando. Ele estava há anos perseguindo alguém que era um completo mistério, mas que ia trazendo um rastro de sangue por onde passava; alguém que matara sem piedade a sua família, por causa dele. Como ele poderia se apaixonar por alguém? Que loucura era essa agora?

Uma mulher vai amá-lo perdidamente, desde o primeiro momento em que o vir. De todos os inimigos que você encontrar na Zona Proibida, ela será um dos mais perigosos. Eu vou encontrá-lo mais algumas vezes, até acontecer o que precisa.

E o que é que precisa acontecer?

Eu já disse, que você ainda vai ajudar a humanidade. Mas para que isso aconteça, você não pode saber ainda como isso vai ocorrer, senão é perigoso você atrapalhar, com a idéia de ajudar. O que você precisa entender é que seu caminho, nesse instante está atrelado ao destino de Eleannor. Antes de entrar em Eleannor, você vai salvar um homem e uma porta vai se abrir e um riso feliz você vai ouvir. Esse é o começo do fim.

De tudo o que o Profeta disse, uma dos fatos mais surpreendentes foi:

Antes que o fim venha e a esperança renasça, você ainda vai ser um profeta, o maior deles e para que isso aconteça, você vai ter que me matar.

Continua...

pslarios
Enviado por pslarios em 12/05/2014
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